Pietro Pollo, Luanne Caires, Marcelo Petratti Pansonato & Neliton Ricardo Freitas Lara

Documentos relacionados
Condições desfavoráveis à planta hospedeira influenciam a infestação por galhas e o desempenho de larvas galhadoras?

Condições desfavoráveis à planta hospedeira não influenciam a infestação por galhas e o desempenho de larvas galhadoras INTRODUÇÃO.

Andrés Rojas, Camila R. Barreto, Karina C. T. Dufner & Murillo F. Rodrigues

Adrian David González Chaves, Bruno Sano, Carolina de Almeida Caetano & Gabriela de Lima Marin

BI63B - ECOSSISTEMAS. Profa. Patrícia C. Lobo Faria

BI63B - ECOSSISTEMAS. Profa. Patrícia C. Lobo Faria

Projetos Intervales. Modificado de:

Projetos Intervales. Modificado de:

FORMIGAS ASSOCIADAS A MEMBRACÍDEOS (INSECTA: HOMOPTERA) PROTEGEM AS PLANTAS CONTRA HERBÍVORIA?

Projetos Intervales. Modificado de:

CONCEITOS DE ECOLOGIA. É a história natural científica que se relaciona à sociologia e economia dos animais (Elton,1937)

Anatomia vegetal: como é uma folha por dentro? Luiz Felipe Souza Pinheiro*; Rosana Marta Kolb

Efeito de estratégias de manejo em plantio de eucalipto sobre a ocorrência de aves. Camila Cristiane Isabella

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Influência da disponibilidade de alimento e do tamanho corporal sobre a atividade de forrageio

PROGRAMA ANALÍTICO E EMENTA DE DISCIPLINA DA PÓS GRADUAÇÃO

Astrocaryum aculeatissimum (Arecaceae) como um filtro ecológico: influência na densidade de plântulas. Liliam Patricia Pinto

Biodiversidade e prosperidade económica

Estrutura populacional e distribuição espacial de Qualea grandiflora Mart., em área de transição no Piauí

Fatores limitantes. Fatores limitantes: a interferência do ambiente na sobrevivência dos organismos

Comunidades. Quais são as relações entre diferentes populações num determinado local? Atividades na população

Renan Parmigiani, Maria Gabriela Kiss, Neliton Ricardo Freitas Lara & Karina Campos Tisovec Dufner

Cópia autorizada. II

Dinâmica de Populações. Capítulo - 48

BIE-212: Ecologia Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental. Condições e recursos

BIE-212: Ecologia Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental. Condições e recursos

MODELOS MECÂNICOS DE FLUXO DE NUTRIENTES EXPLICAM A DISTRIBUIÇÃO DE GALHAS SOBRE A SUPERFÍCIE FOLIAR DE Dalbergia ecastophyllum (FABACEAE)?

A susceptibilidade da planta a danos foliares varia de acordo com a disponibilidade de recursos no solo. Karina Campos Tisovec Dufner

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE BOTUCATU FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS PLANO DE ENSINO

ECOSSISTEMA : = = UNIDADE DE ESTUDO DA ECOLOGIA SISTEMA DE RELAÇÕES ENTRE SERES VIVOS E FATORES FÍSICOS E QUÍMICOS DO MEIO

Aula 7 PRODUTIVIDADE DOS ECOSSISTEMAS

Alocação de recursos para suporte e defesa em Rhizophora mangle (Rhizophoraceae): uma demanda conflitante?

Fragmentação. Umberto Kubota Laboratório de Interações Inseto Planta Dep. Zoologia IB Unicamp

INFESTAÇÃO POR GALHAS FOLIARES EM Manihot esculenta CRANTZ (EUPHORBIACEAE): AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS NA ARQUITETURA E PRODUTIVIDADE DA PLANTA HOSPEDEIRA

Temperatura DE ACORDO COM A CAPACIDADE DE REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL: POIQUILOTÉRMICOS

importância dos fatores ambientais sobre as características fenológicas das espécies arbóreas

Fatores ecológicos. Qualquer elemento do meio que pode atuar diretamente sobre os organismos

Morfologia e distribuição espacial das galhas foliares de Caryocar brasiliense (Caryocaraceae)

LISTA RECUPERAÇÃO FINAL - BIOLOGIA 3ª SÉRIE (fisiologia vegetal e hormônios vegetais) PROFESSOR: WELLINGTON

Lygia Del Matto, Luanne Caires, Andrés Rojas & Adriana Acero

ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA 2379EE2

EXERCÍCIOS FÍSICA 10. e problemas Exames Testes intermédios Professor Luís Gonçalves

Ecologia BIE210. A energia nos ecossistemas. A radiação solar.

FFA Aula 3. Fatores ambientais. Vânia R. Pivello Depto. de Ecologia, IB-USP

Termos para indexação: Cerrado, herbivoria, entomologia, abundancia de galhas, interação herbívoro-planta

VARIAÇÕES ANATÔMICAS FOLIARES DAS CULTIVARES DE CAFEEIRO DA EPAMIG EM FUNÇÃO DO AMBIENTE

2º RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DO PROJETO PLANTE BONITO

SILVICULTURA. Enga Agra Clélia Maria Mardegan

ESPECTRO BIOLÓGICO DA VEGETAÇÃO DE DUNAS E DE RESTINGA DA ILHA DO CARDOSO, SP

MANUAL DE CLASSIFICAÇÃO VISUAL

AGRICULTURA I Téc. Agroecologia

Amendoeira nas regiões de clima mediterrânico

Estimativa do risco. Medidas indirectas Meios directos Profilácticos Curativos

História de vida. História de vida. Estratégia r vs. estratégia K. História de vida 06/09/2013. Investimento reprodutivo vs. sobrevivência de adultos

FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA

MODELOS MECÂNICOS DE FLUXO DE NUTRIENTES EXPLICAM A DISTRIBUIÇÃO DE GALHAS SOBRE A SUPERFÍCIE FOLIAR DE DALBERGIA ECASTOPHYLLUM (FABACEAE)?

Existe uma relação entre abundância de plantas na restinga e suas taxas de herbivoria? INTRODUÇÃO. Juliana Correia

Análise de dados. Mathias M Pires BE180

Planeta Terra 8.º ano

Palavras-chave: caruncho-do-feijão, longevidade, condições ambientais adversas.

INFRA ESTRUTURA URBANA VEGETAÇÃO URBANA

Competição, filtros ambientais ou acaso? Estruturação de uma comunidade de plantas na Amazônia Central

TRABALHO DE CAMPO DE BIOGEOGRAFIA

Unidade: S. Bernardo - Ensino Fundamental. AT. Geografia 2º Trimestre Gabarito. Prof. Sueli Onofre

Ecologia O mundo físico Clima Clima regional

BIOLOGIA E FISIOLOGIA DE PLANTAS FORRAGEIRAS

SELEÇÃO DE MESTRADO 2016 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E EVOLUÇÃO INSTITUTO DE BIOLOGIA ROBERTO ALCANTARA GOMES/UERJ

Programa Analítico de Disciplina BIO131 Ecologia Básica

AGRICULTURA I Téc. Agronegócios

DOENÇA. Fenômeno de natureza complexa, que não tem definição precisa, mas que possui características básicas, essenciais

Questão 1. I. A luz solar consiste em uma onda eletromagnética transversal, não polarizada e policromática.

Fitogeografia de São Paulo

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DA FOLHA EM FUNÇÃO DA ALTURA DA ÁRVORE EM Pouteria cladantha sandwith, ESPÉCIE FLORESTAL DA AMAZÔNIA

CONFORTO AMBIENTAL Aula 2

IV Workshop sobre Tecnologia em Agroindústrias de tuberosas tropicais MANDIOCA COMO FONTE DE CARBOIDRATO

1 Clima. Silvando Carlos da Silva

COMUNIDADE ARBÓREA SOBRE UM SAMBAQUI E A VEGETAÇÃO DE RESTINGA ADJACENTE NO PARQUE ESTADUAL DA ILHA DO CARDOSO. Edison Rodrigues

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

introdução Danilo Pereira Mori

GET GESTÃO DE ENERGIA TÉRMICA Lda.

Relação entre área específica da folha (SLA) e herbivoria em clareira e sub-bosque em uma floresta de terra firme na Amazônia Central Introdução

Estratégias de uso de água em sobreiros adultos relevância para a gestão. Teresa Soares David INIAV

Nicho Ecológico. Elton (1927) O nicho de um animal é o local no ambiente biótico, suas relações com o alimento e inimigos.

Disciplina: Biologia

Prof. Dr. Roberto M. Shimizu. Prof. Dr. Sergio Rosso.

EFEITO DO PRODUTO COMET(PYRACLOSTROBINA) NA TEMPERATURA FOLIAR DO CAFEEIRO. Matiello e Carvalho

SELEÇÃO DE MESTRADO 2013 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E EVOLUÇÃO INSTITUTO DE BIOLOGIA ROBERTO ALCANTARA GOMES/UERJ

VARIAÇÃO ESPACIAL DA ABERTURA DE DOSSEL EM FLORESTA E PLANTIO DE CACAU NA RPPN DA SERRA DO TEIMOSO, BA

Biologia. Rubens Oda (Julio Junior) Ecologia

Disciplina: BI63 B ECOSSISTEMAS

Ecossistemas PROF. ROBERTH FAGUNDES DEBIO/UFOP ENGENHARIA AMBIENTAL

Componentes do Ambiente. Leonardo Rodrigues EEEFM GRAÇA ARANHA

Programa Analítico de Disciplina BIO334 Ecologia de Populações

ECOSSISTEMA. inseparavelmente ligados. Organismos vivos + Ambiente (abiótico) interagem entre si

PAINEL INTERGOVERNAMENTAL DE QUARTO RELATÓRIO RIO DE AVALIAÇÃO (AR 4)

Biomas Terrestres. Prof. Bosco Ribeiro

Fatores climáticos importantes, Climas e vegetações da América Latina:

3º TESTE DE AVALIAÇÃO SUMATIVA CIÊNCIAS NATURAIS 6 Páginas. 8º ANO DE ESCOLARIDADE DURAÇÃO DA PROVA: 90 minutos. Grupo I

Transcrição:

Efeito da exposição solar sobre a estrutura de galhas de um cecidomiídeo em uma planta de manguezal Pietro Pollo, Luanne Caires, Marcelo Petratti Pansonato & Neliton Ricardo Freitas Lara RESUMO: Modificações de hábitat são uma das estratégias empregadas pelos organismos para lidar com condições abióticas adversas. Galhas são modificações sujeitas a diferentes condições locais, como a radiação solar, que pode interferir na temperatura e umidade. Assim, a estrutura das galhas provavelmente é regulada por essas diferenças abióticas. Diante disso, investigamos como a variação na exposição à luz solar afeta o tamanho e o formato de galhas. Para tanto, comparamos a espessura e um índice de formato dessas estruturas em folhas do estrato externo e interno de Avicennia schaueriana. Não houve diferenças relacionadas à localização da galha na planta, tanto do formato quanto do tamanho, indicando que esse não é o processo pelo qual galhas regulam sua temperatura e disponibilidade de água. Modificações na permeabilidade dos tecidos internos da galha e seleção de habitat de oviposição podem ser mecanismos alternativos na proteção à dessecação dessas estruturas. PALAVRAS-CHAVE: Avicennia schaueriana, estresse abiótico, formato, insetos galhadores, tamanho. INTRODUÇÃO As condições abióticas de um hábitat podem influenciar a abundância e o desempenho dos organismos que ocorrem nele. Um fator limitante, por exemplo, é a temperatura, visto que todos os seres vivos apresentam uma temperatura ótima na qual seus metabolismos funcionam idealmente e um limite de tolerância a variações deste ótimo (Begon et al., 2006). Quando a temperatura do ambiente ultrapassa os limites de tolerância, vários processos biológicos são comprometidos, tanto por efeitos diretos, como a perda da função de proteínas desnaturadas, até efeitos indiretos, como a perda excessiva de água (Begon et al., 2006). Portanto, os organismos adotam diferentes estratégias para lidar com condições abióticas adversas. Essas estratégias podem ser comportamentais, fisiológicas ou envolver a modificação do ambiente, como a escavação de tocas (Danks, 2002), que acrescenta uma barreira física entre o ambiente desfavorável e o organismo. A modificação do ambiente pode envolver a interação entre dois organismos, como é o caso de algumas interações parasita-hospedeiro. Muitos insetos em estágio larval utilizam-se dessa interação com plantas como forma de alterar o ambiente em seu entorno, induzindo a formação de galhas. As galhas são estruturas resultantes da proliferação, do aumento de tamanho e da diferenciação de células parenquimáticas de tecidos vegetais, induzidas pela expressão gênica do inseto, por meio de complexas interações químicas entre estes organismos e a maquinaria biológica das plantas hospedeiras (Shorthouse & Rohfritsch, 1992; Williams, 1994; Schick & Dahlsten, 2003). Além de representar maior oferta de alimento e proteção contra inimigos naturais, a galha representa uma barreira física que mantém condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da larva galhadora, protegendo-a de dessecação e de altas temperaturas (Stone & Schonrogge, 2003). Quanto maior a barreira física entre o organismo e o ambiente, especialmente no caso da galha, mais eficiente seria a proteção contra condições adversas. Além do tamanho, o formato da galha pode ser relevante, pois galhas mais esféricas apresentam menor relação superfície-volume e, consequentemente, menor troca de calor com o ambiente. Como galhas são sésseis, o estresse abiótico no entorno da galha varia com o local onde ela se encontra. Galhadores em folhas mais expostas à radiação solar estão mais sujeitos ao estresse térmico e à dessecação e podem modificar estruturalmente as galhas para que confiram maior proteção contra estes fatores. Diante disso, nosso objetivo foi investigar como a variação na exposição à luz solar altera o tamanho e o formato de galhas, usando como modelo um cecidomiídeo parasita de uma planta de mangue. Nossa primeira hipótese é que quanto maior a exposição ao sol, maior será o tamanho da galha. Ademais, também hipotetizamos que quanto maior a exposição ao sol, mais 1

esférico será o formato da galha. MATERIAL & MÉTODOS Sistema de estudo Realizamos o estudo em uma área de manguezal associada à zona estuarina do rio Guaraú, localizada no município de Peruíbe, litoral sudeste do estado de São Paulo (24 36 90 S, 47 01 92 O). As espécies arbóreas na área de manguezal estudada possuem alturas semelhantes e formam um dossel contínuo, o que significa que a parte externa superior da copa das árvores (daqui em diante estrato externo, Figura 1) recebe mais exposição solar que a parte interna inferior da copa (daqui em diante estrato interno, Figura 1). Uma dessas espécies arbóreas é Avicennia schaueriana (Acanthaceae), conhecida popularmente como mangue-vermelho, que atinge de 3 a 6 m de altura (Lorenzi, 2009). Folhas de A. schaueriana são frequentemente parasitadas por insetos galhadores da família Cecidomyiidae (Diptera) (Gillott, 2005). As galhas estão distribuídas nos estratos externo e interno da copa da árvores, o que torna essa espécie ideal para investigar o efeito da radiação solar sobre a estrutura de galhas. Coleta de dados Coletamos folhas de 15 indivíduos de A. schaueriana dentro de duas parcelas localizadas ao longo da passarela do Balça, uma de 80 m² e outra de 450 m². Para coleta de galhas do estrato interno, coletamos todas as folhas com galhas do ramo mais basal desde que estivesse na região interna de cada indivíduo. Para coleta de galhas do estrato externo, sorteamos um ponto ao longo da copa da árvore voltada para a passarela. Em cada ponto sorteado, projetamos uma área de 400 cm² em direção às folhas mais apicais e coletamos todas as folhas com galhas dentro dessa área. Para padronizar as galhas quanto ao seu nível de desenvolvimento, excluímos galhas jovens e galhas senescentes. Definimos como galhas jovens aquelas cuja estrutura se projetava apenas em direção à face adaxial da folha e como galhas senescentes aquelas que apresentavam sinais de evasão da larva, associados à necrose dos tecidos da folha. De cada estrato de cada indivíduo, sorteamos uma folha com galhas. Caso houvesse mais de uma galha na folha sorteada, apenas uma das galhas foi sorteada para análise. Cortamos, transversalmente à lâmina foliar, as galhas sorteadas e as fotografamos. Em seguida, medimos a espessura da galha, considerando a distância do ponto central da galha até o ponto mais externo da face adaxial da folha (i.e., o raio transversal da galha em milímetros; Figura 2a) e a distância do ponto central até a extremidade da galha ao longo do eixo longitudinal da folha (i.e., raio longitudinal). Para calcular o índice de formato, usamos a razão do raio longitudinal pelo raio transversal da galha (Figura 2b). Isso significa que galhas com valores de índice de formato mais próximo de 1 são mais esféricas. Galhas com valores do índice de formato maiores que 1 são mais achatadas paralelamente à lâmina foliar e galhas com valores do índice de formato menores que 1 são mais achatadas transversalmente à lâmina foliar. As medidas foram feitas usando o programa ImageJ (US National Institutes of Health, Bethesda, MD, http://imagej.nih.gov/ij). Figura 2. (a) Corte transversal à lâmina foliar de uma galha amostrada e (b) possíveis formatos de galha, com índices de formato correspondentes. IF: índice de formato, lf: lâmina foliar, rl: raio longitudinal, rt: raio transversal. Análises dos dados Figura 1. Divisão dos estratos interno e externo nos indivíduos de Avicennia schaueriana. Formulamos duas previsões: (i) galhas do estrato exterior serão mais espessas do que galhas do 2

estrato interior, e (ii) galhas do estrato exterior terão índice de formato mais próximo de 1 do que galhas do estrato interior. Utilizamos pares de galhas situadas no mesmo indivíduo para testarmos essas previsões, evitando assim efeitos de variação ambiental e genética das árvores. Para testar nossas previsões, realizamos um teste de significância por permutação no qual os valores de espessura entre os estratos ou o índice de formato foram permutados 5.000 vezes dentro de cada indivíduo. Assim, obtivemos uma distribuição nula de diferenças de espessura de galhas e de diferenças dos índices de formato entre o estratos da copa para cada indivíduo. Por fim, calculamos a probabilidade de a diferença média observada para as duas medidas ocorrer. Para a espessura, a diferença média observada só seria considerada diferente do cenário nulo se valores iguais ou menores do que o observado ocorressem com probabilidade igual ou inferior a 5%. Para o índice de formato, a diferença média observada só seria considerada diferente do cenário nulo se valores iguais ou menores do que o observado ocorressem com probabilidade igual ou inferior a 2,5% e se valores iguais ou maiores ocorressem com probabilidade igual ou superior a 2,5%. RESULTADOS A espessura média das galhas foi 1,324 ± 0,377 mm (média ± desvio padrão) no estrato externo da copa e de 1,505 ± 0,344 mm no estrato interno. Houve muita variação entre a espessura das galhas nos dois estratos da copa, com valores de 0,520 mm a 1,749 mm no estrato externo e 0,781 mm a 2,216 mm no estrato interno. Galhas situadas em folhas do estrato externo não foram mais espessas do que as situadas em folhas do estrato interno (p = 0,898), sendo a diferença média dos pares de galhas do estrato externo e do estrato interno igual a 0,184 ± 0,539 mm (Figura 3a). Em relação ao índice de formato, a média foi de 1,712 ± 0,813 no estrato externo da copa e de 1,526 ± 0,495 no estrato interno. Os valores do índice de formato variaram muito nos dois estratos da copa, com valores de 0,886 a 3,55 no estrato externo e de 0,941 a 2,847 no estrato interno. Galhas situadas em folhas do estrato externo não diferiram em formato das galhas situadas em folhas do estrato interno (p = 0,202), sendo a diferença média dos pares de galhas do estrato externo e do estrato interno igual a 0,093 ± 0,657 (Figura 3b). Figura 3. (a) Espessura das galhas e (b) índice de forma das galhas nos diferentes estratos de Avicennia schaueriana. As linhas ligam valores de espessura e índice de forma em galhas situadas no mesmo indivíduo. DISCUSSÃO A intensidade de luz solar recebida pelas folhas de uma planta tem um grande potencial como agente modulador da estrutura de galhas (Danks, 2002). Entretanto, não encontramos evidências de que o aumento da exposição à luz solar leva ao aumento do tamanho ou altere o formato de galhas de cecidomiídeos em A. schaueriana. É possível que o grau de exposição ao sol não influencie a estrutura da galha de cecidomiídeos durante o estágio larval e que o controle térmico e hídrico esteja associado a uma etapa anterior à indução da galha, como a seleção de sítios de oviposição por fêmeas adultas. Em um estudo realizado com a mesma espécie e na mesma área que o presente trabalho, Rojas et al. (2016) mostraram que, em folhas do estrato interno, onde a temperatura é menor, fêmeas ovipositam preferencialmente nas proximidades da nervura central da folha. Já no estrato externo, onde a temperatura é maior, fêmeas preferem ovipositar nas bordas das folhas, onde o calor é dissipado mais eficientemente (Bernays & Chapman, 1994). Considerando que a variação na intensidade da radiação solar é maior entre estratos da copa do que entre regiões de uma mesma folha, ovipositar em estratos de menor exposição ao sol pode ser determinante para um maior sucesso da prole. A temperatura foliar em espécies de mangue varia de 20 C a 40 C, sendo maior nas folhas externas devido à maior exposição à radiação solar (Ball et al., 1988). Para a maioria dos insetos, a exposição a temperaturas entre 35 C a 40 C já é suficiente para reduzir a taxa de desenvolvimento, descontinuá-lo ou até mesmo levar o indivíduo à morte (Sehnal et al., 2003). Portanto, larvas galhadoras 3

situadas no estrato externo da copa podem crescer e se desenvolver com menor taxa do que larvas em galhas do estrato interno. Estudos futuros podem investigar o efeito do estresse abiótico sobre o desempenho de galhadores relacionando seleção de sítios de oviposição pelas fêmeas a taxas de sobrevivência e crescimento das larvas galhadoras. Assim, um dos mecanismos que pode determinar adaptações das galhas em locais expostos a diferentes temperaturas seria elucidado e possivelmente associaria sítio de oviposição à sobrevivência e ao crescimento das larvas. Além disso, estratégias alternativas a mudanças na estrutura da galha podem ser mais relevantes para proteção ao calor e dessecação. Insetos galhadores podem mudar a permeabilidade dos tecidos vegetais que formam a galha, impermeabilizando o tecido por meio de ceras e resinas (Stone & Schonrogge, 2003). Tecidos mais impermeáveis, como o esclerênquima, também podem aumentar em proporção na galha, sem que a espessura total do conjunto de tecidos seja alterada (Schick & Dahlsten, 2003). Como consequência, pode haver um trade-off entre a energia alocada para promover modificações teciduais e a energia necessária ao desenvolvimento da larva, o que acarretaria na diminuição do desenvolvimento larval caso ocorresse um maior investimento em tais modificações. O grau de exposição ao sol também pode ser relevante para a estrutura da galha, mas com um efeito condicionado a outros fatores. Um fator a ser considerado é a sazonalidade: no verão, a insolação pode representar um perigo maior à larva galhadora do que no inverno (Gillot, 2005), aumentando as diferenças estruturais entre galhas expostas a diferentes graus de radiação solar. Como o aumento do tamanho da galha envolve custos energéticos, larvas galhadoras situadas em estratos distintos da copa teriam investimento diferencial em processos de proteção e desenvolvimento. Ao realizar mudanças estruturais envolvidas na proteção contra condições adversas, larvas de galhas do estrato externo da copa alocariam uma menor parte de sua energia para o desenvolvimento em comparação com larvas de galhas do estrato inferior. Esse processo pode resultar em diferenças de desenvolvimento entre larvas dos dois estratos, como o retardo da emergência, com impacto no valor adaptativo dos indivíduos na fase adulta. Nesse sentido, amostragens em diferentes estações do ano podem indicar o efeito da variação sazonal sobre a estrutura das galhas e o valor adaptativo dos adultos emergentes. É possível que o grau de exposição ao sol também interaja com a pressão de parasitoidismo, especialmente em galhas que não apresentam mecanismos evidentes de defesa (e.g., defesas mecânicas ou nectários que atraem formigas defensoras), como é o caso do sistema que investigamos. Galhas menores possuem menor proteção estrutural conferida pela espessura da parede e, portanto, são mais suscetíveis ao parasitoidismo (Stone & Schonrogge, 2003). Assim, é esperado que sob alta pressão de parasitoides a relação entre estrutura da galha e exposição à luz solar seja mascarada. Isso porque o grande tamanho das galhas situadas em regiões expostas ao sol conferiria proteção aos galhadores contra a dessecação e a infecção por parasitoides, simultaneamente. Já galhas em regiões sombreadas da copa também seriam grandes, não por proteção contra condições abióticas adversas, mas sim como forma de reduzir a taxa de parasitoidismo. Dessa forma, diferenças de espessura entre galhas expostas a diferentes níveis de radiação solar só seriam detectáveis sob baixa pressão de parasitoidismo. Isso pode significar que, em condições de baixo parasitoidismo, as diferenças de investimento energético na estrutura da galha seriam menores entre larvas situadas sob maior e menor exposição ao sol, acarretando diferenças de valor adaptativo dos indivíduos quando adultos seriam menores. Nossos resultados não corroboraram a hipótese de que o aumento da exposição solar leva a modificações no tamanho e no formato de galhas de cecidomiídeos. No entanto o efeito da exposição ao sol sob a estrutura de galhas pode ser complexa, havendo interação com outros fatores abióticos e bióticos, como sazonalidade e parasitoidismo. Essas interações podem resultar em diferenças no desenvolvimento das larvas galhadoras e, consequentemente, na aptidão dos indivíduos quando atingirem a fase adulta. REFERÊNCIAS Ball, M.C.; I.R. Cowan & G.D. Farquhar. 1988. Maintenance of leaf temperature and the optimisation of carbon gain in relation to water loss in a tropical mangrove forest. Functional Plant Biology, 15:263-276. Begon, M.; C.R. Townsend & J.L. Harper. 2006. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. Editora Artmed, Porto Alegre. Bernays, E.A. & R.F. Chapman. 1994. Host-plant selection by phytophagous insects. Chapman & Hall, New York. Danks, H.V. 2002. Modification of adverse conditions by insects. Oikos, 99:10 24. 4

Figueiredo, A.; D. Mori; G. Marin & L. Novara. 2005. Seleção de sítios de oviposição por insetos galhadores em folhas de plantas halófitas de manguezal. Em: Livro do curso de Campo Ecologia da Mata Atlântica (G. Machado, P.I.K.L. Prado & A.M.Z. Martini, eds.). Gillot, C. 2005. Entomology. Springer, Amsterdam. Lorenzi, H. 2011. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Instituto Plantarum, Nova Odessa, SP. Shorthouse, J.D. & O. Rohfritsch. 1992. Biology of insect-induced galls. Oxford University Press, Oxford. Schick, K.N. & D.L. Dahlsten. 2003. Gall making and insects, pp. 464-465. Em: Encyclopedia of insects (V.H. Resh & R.T. Cardé, eds.). Elsevier Science, Orlando. Stone, G.N. & K. Schonrogge. 2003. The adaptive significance of insect gall morphology. Trends in Ecology and Evolution, 18:512-522. Williams, M.A.J. 1994. Plant galls: organisms, interactions, populations. Princeton University Press, Princeton. Orientação: Cristiane H. Millán 5