A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS POR DADOR VIVO



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Transcrição:

Ética e Deontologia Médica Prof. Doutor Miguel Oliveira da Silva A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS POR DADOR VIVO 27 Abril 2010 Ângela Carmo Pinheiro, Luís André Oliveira, Sara Vaz Rodrigues

Introdução A transplantação de Órgãos é capaz de satisfazer os principais objectivos da Medicina Preservar a Vida Aliviar o Sofrimento Curar a Doença Restituir a Função Contudo, a medicina também tem como princípio não maleficência, respeitar a autonomia e tratar todos os que necessitam Ética e transplantação de Órgãos a partir de Dador Vivo

O Dador Vivo Quem pode doar órgãos em vida? Lei nº 12/1993, de 22 de Abril prevê a doação de órgãos entre familiares até ao 3.º grau. Lei n.º 22/2007, de 29 de Junho permite que qualquer pessoa seja dador de órgãos em vida, independentemente de haver relação de consanguinidade. A colheita de órgãos e tecidos de uma pessoa viva só pode ser feita no interesse terapêutico do receptor e desde que não esteja disponível qualquer órgão ou tecido adequado colhido de dador post mortem e não exista outro método terapêutico alternativo de eficácia comparável.

O Dador Vivo Colheita de Órgãos em 2009

O Dador Vivo Risco/Benefício Risco Anestésico Complicações Intra-Operatórias Complicações Pós-Operatório Mutilação

O Dador Vivo Risco/Benefício Benefício Psicológico do Dador Benefício do Receptor Tendo em conta os riscos da doação e a certeza de mutilação, no contexto do que se irá alcançar, retirar um orgão a um dador vivo será a melhor opção?

Aceitar O Dador Vivo é crucial considerar Seriedade da Necessidade do Receptor Probabilidade de Causar Complicações Graves no Dador Qualidade do Consentimento e Privacidade do Dador Abuso da integridade física do dador Respeito pela Privacidade, Autonomia e Cooperação com a decisão Autónoma

Aceitar O Dador Vivo Dador não autónomo: feto anencefálico, crianças, mentalmente incapacitados Questionar Autonomia de possíveis dadores: adolescentes, pressão por familiares, etc São sempre proibidas a dádiva e a colheita de órgãos ou de tecidos não regeneráveis quando envolvam menores ou outros incapazes. A dádiva e a colheita de órgãos, de tecidos ou de células regeneráveis que envolvam menores ou outros incapazes só podem ser efectuadas quando se verifiquem os seguintes requisitos cumulativos: a) Inexistência de dador capaz compatível; b) O receptor ser irmão ou irmã do dador; c) A dádiva ser necessária à preservação da vida do receptor.

Mercado de Órgãos Sendo que são necessários cada vez mais órgãos para transplante, para salvar e/ou melhorar vidas, é permissível deixar que o mercado aja no sentido de aumentar o stock?

Argumentos Contra Mercado de Órgãos Sendo que são necessários cada vez mais órgãos para transplante, para salvar e/ou melhorar vidas, é permissível deixar que o mercado aja no sentido de aumentar o stock? Injustiça na Distribuição Ricos vs Pobres Órgãos são para doar e não vender Incentivos monetários impedem actos generosos Recompensa monetária pela doação é maior ofensa que incentivo Dinheiro como coacção junto dos pobres

Mercado de Órgãos A Realidade Portuguesa Sendo que são necessários cada vez mais órgãos para transplante, para salvar e/ou melhorar vidas, é permissível deixar que o mercado aja no sentido de aumentar o stock? Lei n.º 22/2007, de 29 de Junho A dádiva de órgãos, tecidos e células, para fins terapêuticos ou de transplante, não pode, em nenhuma circunstância, ser remunerada, sendo proibida a sua comercialização. Os agentes dos actos referidos no nº 1 do artigo 1º e os estabelecimentos autorizados a realizar transplantes de órgãos, tecidos e células podem receber uma remuneração, única e exclusivamente pelo serviço prestado, não podendo o cálculo desta remuneração atribuir qualquer valor aos órgãos, tecidos ou células colhidos ou transplantados.

Argumentos a Favor Mercado de Órgãos Sendo que são necessários cada vez mais órgãos para transplante, para salvar e/ou melhorar vidas, é permissível deixar que o mercado aja no sentido de aumentar o stock? Recusar a venda de órgãos ao dador é desrespeitar a sua Autonomia Atitutes inconsistentes ex. permite-se tomar riscos maiores dando recompensas financeiras (boxe) tal como se permite e se aplaude os que tomam o mesmo risco sem compensação talvez tornando a recompensa monetária pela doação de uma pessoa pobre suficientemente significante para a sua vida, torne a venda mais aceitável?

Distribuição de Órgãos uma Escolha? Doação dirigida a um ente querido ou amigo Doação não dirigida Centro de Transplantação Doação dirigida a desconhecido

Distribuição de Órgãos uma Escolha? Pressão Familiar Negligência dos Riscos

Distribuição de Órgãos uma Escolha? Centro de Transplantação Motivações Psicológicas Suspeitas Avaliação do Dador pela Equipa de Transplantação

Distribuição de Órgãos uma Escolha? Publicidade Injusto? Objecto de compra e venda? Escolha por raça ou religião

Argumentos a Favor Argumentos Contra Distribuição de Órgãos uma Escolha? Judeu nova iorquino teve conhecimento de criança judia em Los Angeles que esperava um transplante renal e decidiu doar-lhe um rim...mas negava-se a doar um rim a uma criança não judia. As crianças abaixo subiriam 1 lugar na lista Benefício da criança Descriminação As crianças acima nunca receberiam o órgão Mercado de Órgãos

A Doação de Órgãos por Dador Vivo Despacho do Ministro da Saúde nº 26951/2007 de 26 de Novembro de 2007 Entidade de Verificação de Admissibilidade de Colheita para Transplante emissão de parecer vinculativo em caso de dádiva e colheita em vida Salvaguarda a conformidade de todos os procedimento técnicos e éticos para a aceitação e efectivação da dádiva

A Doação de Órgãos por Dador Vivo Tendo em conta os riscos da doação e a certeza de mutilação, no contexto do que se irá alcançar, retirar um orgão a um dador vivo será a melhor opção? Quando é que uma doação de dador vivo é aceitável? Deve permitir-se que as pessoas vendam os seus próprios órgãos? Será aceitável ao dador escolher o receptor?

Bibliografia Kushe, Helga and Singer, Peter; A Companion to Bioethics; Oxford, Blackwell Publishers, 2001. Reich, WT; Encyclopedia of Bioethics; 2nd ed.; New York; MacMillan, 1995. Truog, Robert D., M.D.; The Ethics of Organ Donation by Living Donors; The New England Journal of Medicine; N Engl J Med 353:444, August 4, 2005 Perspective. Parecer sobre a Proposta de Lei n.º 65/x ; Parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida; 50/CNECV/06 ; Dezembro 2006. Lei n.º 22/2007, de 29 de Junho; 2007 Diário da República, 1ª série-nº 124-29 de Junho de Estatística da Actividade de Transplantação de Órgãos 2009; Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação; http://www.asst.min-saude.pt/ Despacho do Ministro da Saúde nº 26951/2007 de 26 de Novembro de 2007

Aceitar o Dador Vivo