Período de Referência:

Documentos relacionados
Plano de Energia e Mudanças Climáticas de Minas Gerais: Fundação Estadual do Meio Ambiente

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 03/2017

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 05/2019

COP-21 em Pauta A indc Brasileira 28/9/2015

ANEXO-UNDER 2 ESTADO DE MATO GROSSO

Plano de Energia e Mudanças Climáticas de Minas Gerais: 3 Seminário de Rotas Tecnológicas 21/09/2015

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 62167/2018 C.I. 24/2018

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 06/2019

Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa Relacionadas à Queima de Biomassa no III Inventário Nacional: avanços e desafios

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 37/2017_REPUBLICAÇÃO

RECUPERAÇÃO E PROTEÇÃO DOS SERVIÇOS DE CLIMA E BIODIVERSIDADE DO CORREDOR SUDESTE DA MATA ATLÂNTICA BRASILEIRA (BR-G1003)

Nota Metodológica Setor Mudança de Uso do Solo e Florestas

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 02/2019

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 04/2019

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 04/2018 REPETIÇÃO C.I. 03/2018

O QUE É ILPF ILP IPF. A ILPF pode ser utilizada em diferentes configurações, combinando-se dois ou três componentes em um sistema produtivo:

Implicações do PL 1876/99 nas áreas de Reserva Legal

Prof. Raoni Rajão. XIII SIGA e V SIGA Ciência - ESALQ-USP, 20/08/16. O Desmatamento Histórico, Metas climáticas e o Futuro do Cerrado

Metodologia adotada pelas iniciativas de monitoramento do Atlas da Mata Atlântica e do MapBiomas

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 02/2018

SIRENE Sistema de Registro Nacional de Emissões

Nota Metodológica SEEG 6 Setor Mudança de Uso do Solo e Florestas

Desmatamento e Outros Impactos Ambientais - Expansão da Cana-de-Açúcar

Projeto de Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Satélite

Figura 1 - Distribuição espacial dos quatro módulos fiscais por município.

Plano de Energia e Mudanças Climáticas de Minas Gerais

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 06/2018

Nota Metodológica Setor Mudança de Uso do Solo e Florestas

Seminário Internacional Relacionando Mudança do Clima e Contas Nacionais

Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estuda

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 07/2018

Conciliando Produção Agrícola com Conservação e Restauração de Florestas

Desenvolvimento de Sistemas de Prevenção de Incêndios Florestais e Monitoramento da Cobertura Vegetal do Cerrado Brasileiro

Projeto - Desenvolvimento de Sistemas de Prevenção de Incêndios Florestais e Monitoramento da Cobertura Vegetal no Cerrado Brasileiro

ANÁLISE TEMPORAL DAS ÁREAS DE EXPANSÃO DE REFLORESTAMENTO NA REGIÃO DO CAMPO DAS VERTENTES-MG

Google Earth Engine Aplicado. Leandro Parente & Vinícius Mesquita

BRASIL: POTÊNCIA AGROAMBIENTAL

Departamento de Alterações Climáticas (DCLIMA)

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 08/2019 PEDIDO

Trabalho realizado como parte das exigências da disciplina Introdução ao Geoprocessamento do curso de Mestrado em Sensoriamento Remoto

Nota Metodológica SEEG Monitor Elétrico

TERMO DE REFERÊNCIA C.I. Nº 11/2019 PEDIDO REPETIÇÃO C.I. 09/2019

Observação da influência do uso de séries temporais no mapeamento de formações campestres nativas e pastagens cultivadas no Cerrado brasileiro

Reunião Banco do Brasil

Plano de Energia e Mudanças Climáticas de Minas Gerais

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 42/2017

EXPANSÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO NO CERRADO GOIANO: CENÁRIOS POSSÍVEIS E DESEJADOS

1º Workshop sobre o projeto FIP FM Cerrado MCTIC/INPE

Agenda Positiva da Mudança do Clima

Soc o i c o i - o B - io i d o i d v i e v r e si s da d de do Brasil

Agenda de P&D da Embrapa Cerrados

Mapeamento espaço-temporal da ocupação das áreas de manguezais no município de Aracaju-SE

WORKSHOP MODELAGEM CLIMÁTICA E A TERCEIRA COMUNICAÇÃO NACIONAL. Experiências de Estudos de Impactos das Mudanças de Clima nas Energias Renováveis

SUMÁRIO EXECUTIVO. em 182 UNT e o impacto em 19 UNT, valorados em R$ 1,2 milhão/ano e R$ 717 mil/ano, respectivamente.

INDICATIVOS DE DESMATAMENTOS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COM BASE EM DADOS ORBITAIS: UMA ANÁLISE TEMPORAL ( ) PARA O CERRADO GOIANO Manuel

Mudanças Climáticas e Modelagem Ambiental

¹ Estudante de Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estagiária na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP).

Emissões do Brasil caem 2,3% em 2017

Planejamento Sistemático da Conservação e Restauração da Biodiversidade e dos Serviços Ambientais dos Biomas de Minas Gerais

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 11/2018 TERMO DE REFERÊNCIA PARA CONTRATAÇÃO DE UM DESENVOLVEDOR NÍVEL SÊNIOR NO ÂMBITO DO PROJETO FIP-MCTIC

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 01/2018

EMISSÕES DO SETOR DE MUDANÇA DE USO DA TERRA

MAPBIOMAS E USO E COBERTURA DOS SOLOS DO MUNICÍPIO DE BREJINHO, PERNAMBUCO RESUMO ABSTRACT

EMISSÕES DO SETOR DE MUDANÇA DE USO DA TERRA

ECONOMIA DE BAIXO CARBONO SUSTENTABILIDADE PARA O SETOR DE MINERAÇÃO: CASO DA SIDERURGIA NO BRASIL

ENREDD+ RESUMO-EXECUTIVO ESTRATÉGIA NACIONAL PARA REDD+ florestal sejam reconhecidos internacionalmente e devidamente recompensados.

EXPERIÊNCIA DE CABO VERDE ELABORAÇÃO DE INVENTÁRIOS NACIONAIS DE EMISSÕES E REMOÇÕES DE GASES DE EFEITO DE ESTUFA

GESTÃO EXECUTIVA E MONITORAMENTO ECOLÓGICO DE PROJETOS DE RESTAURAÇÃO SIR E BANCO DE DADOS PACTO JULIO R. C. TYMUS TNC

Meio Ambiente, Sociedade e Economia.

INDICADORES ECONÔMICOS

Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)

USO E COBERTURA DA TERRA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Interações e Sinergias com Projeto FIP-Paisagem. Taiguara Alencar GIZ

OPORTUNIDADES DECORRENTES DO PROTOCOLO DE KYOTO PARA PESQUISA EM PRODUTOS FLORESTAIS

Fórum sobre Sustentabilidade ABINEE

Prêmio MapBiomas. Se você tem um estudo que possibilita entender as relações entre mudanças de uso da terra e infraestrutura no Brasil, participe!

Sistemas de Monitoramento do Desmatamento

ANÁLISE DO CONSUMO ENERGÉTICO E DA EMISSÃO CO 2 e DA VALLOUREC TUBOS DO BRASIL S.A NO PERÍODO DE 2008 À 2013

CONTRIBUIÇÃO DO MCTIC PARA A ELABORAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO NACIONALMENTE DETERMINADA DO BRASIL AO ACORDO DE PARIS

MAPEAMENTO E ANÁLISE DOS DESMATAMENTOS NO BIOMA CERRADO PARA O PERÍODO

Notícias Online. Veja nesta edição. 24 de Dezembro de Tributário. Meio Ambiente

Consolidação do Sistema de Unidades de Conservação de Mato Grosso. Instituto Centro de Vida ICV. Brasil

ILPF EM NÚM3R05. REGIÃO 2 MT, GO e DF

Avaliação de métodos de classificação para o mapeamento de remanescentes florestais a partir de imagens HRC/CBERS

Início e Estruturação

Visão de longo prazo e adequação ambiental para o setor agropecuário

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

Departamento de Alterações Climáticas (DCLIMA)

Biodiversidade em Minas Gerais

TEMA INTEGRADOR Emissão de gases do efeito Estufa

Versão preliminar do Observatório PETRA

Departamento de Alterações Climáticas (DCLIMA)

MONITORAMENTO DA COBERTURA FLORESTAL DA AMAZÔNIA BRASILEIRA POR SATÉLITES

MONITORAMENTO DA COBERTURA FLORESTAL DA AMAZÔNIA POR SATÉLITES AVALIAÇÃO DETER JUNHO DE 2009 INPE COORDENAÇÃO GERAL DE OBSERVAÇÃO DA TERRA

Indústria Brasileira de Árvores (IbÁ)

Rumo ao REDD+ Jurisdicional:

Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica. Iniciativa Internacional de Proteção ao Clima (IKI/BMU)

Fragilidade Ambiental Método auxílio multicritério à tomada de decisão

Segundo Seminário do Núcleo Lusófono da Parceria para Transparência Palácio Itamaraty, 09 e 10 de outubro de 2018

Transcrição:

Fundação Estadual do Meio Ambiente Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Estado de Minas Gerais: Setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas Período de Referência: 2005-2014 Belo Horizonte, Minas Gerais Janeiro de 2018

APRESENTAÇÃO Este relatório integra as Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Estado de Minas Gerais ano base 2014 publicado pela Fundação Estadual do Meio Ambiente em 2016 (disponível em http://www.feam.br/mudancasclimaticas/inventario-gee). O trabalho aborda especificamente as emissões e remoções do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas (LULUCF, na sigla em inglês), a partir de uma perspectiva histórica, e permite, agora, a contabilização das emissões de todos os setores conforme orientação metodológica do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). As emissões setoriais aqui disponibilizadas foram integradas aos demais setores Energia, Agropecuária, Processos Industriais e Uso de Produtos (IPPU) e Tratamento de Resíduos para possibilitar uma avaliação integrada do perfil de emissões de gases de efeito estufa ao longo do tempo, incluindo a identificação de tendências e padrões. INTRODUÇÃO A dificuldade de se obter dados geoespacializados oficiais referentes ao setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas o que possibilita estimar as emissões e remoções de gases de efeito estufa (GEE) territorialmente impediu a inclusão do setor nos últimos inventários de GEE do estado de Minas Gerais elaborados pela Fundação Estadual do Meio Ambiente FEAM (anos base 2010 e 2014). É importante ressaltar que o setor apresenta peculiaridades adicionais com relação aos demais. As estimativas devem ser obtidas por meio de matrizes de transição de uso da terra, sendo possível quantificar e identificar as áreas onde ocorreram alterações de uso (i.e., áreas florestadas para pastagens). Tendo em vista a grande variedade de usos possíveis (culturas, pastagens, áreas urbanas, florestas, áreas em recuperação, campos, etc.) e a grande extensão do território mineiro, o levantamento destes dados torna-se uma tarefa complexa. 3

Geralmente, a obtenção dos dados de entrada para o cálculo de emissões é realizada por meio de técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, sendo o território de análise classificado de acordo com classes definidas conforme a necessidade do trabalho. Dessa forma, os dados coletados são referenciados por coordenadas geográficas, o que permite atribuir a cada área amostrada os índices de emissão e remoção de GEE anuais, os quais podem variar significativamente entre os diferentes biomas e regiões de Minas Gerais. Na esfera federal, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás destacam-se pelo monitoramento histórico e sistemático de áreas desflorestadas de biomas brasileiros principal fonte de emissão de GEE do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas, sendo que o INPE se dedica ao bioma Mata Atlântica e o LAPIG ao bioma Cerrado. Adicionalmente, na esfera estadual, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Minas Gerais possui um sistema de detecção de desmatamento dos biomas do estado (Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga), contudo, tal sistema não permite a elaboração de matrizes de transição precisas para contabilização das emissões de GEE até o presente momento. Outras iniciativas têm se dedicado a monitorar especificamente as alterações de uso da terra no Brasil principal fonte de dados e incertezas nas emissões do setor, como é o caso do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo do Brasil Projeto MapBiomas. Trata-se de uma rede colaborativa de especialistas em biomas brasileiros, usos da terra, sensoriamento remoto, Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e ciência da computação, que utiliza processamento em nuvem e classificadores automatizados, desenvolvidos e operados a partir da plataforma Google Earth Engine (http://mapbiomas.org/). O projeto visa disponibilizar uma série histórica de mapas anuais de cobertura e uso da terra para todo o Brasil, sendo atualmente a principal iniciativa não governamental para classificação do uso do solo nacionalmente, considerando todos os biomas. Contudo, como os próprios integrantes do projeto alertam: Os mapas apresentados ainda possuem uma série de imperfeições entre as quais destacam-se possíveis inconsistências espaciais nas

classificações temáticas, na linha temporal e entre classes temáticas e temas transversais (ex: agricultura e pastagem). Apesar das dificuldades relacionadas à obtenção de uma base de dados de uso da terra única e robusta para o cálculo das emissões do setor, o Ministério de Ciências, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC) estima uma emissão de 20,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (MtCO 2 e) em Minas Gerais no ano de 2014. Entretanto, outras iniciativas voltadas ao cálculo das emissões de GEE nacionalmente e por estado da federação realizadas por agentes nãogovernamentais, como o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) indicam divergências acentuadas. O SEEG atribuiu ao setor LULUCF de Minas Gerais a emissão de 73,6 MtCO 2 e em 2014 (SEEG, 2017) valor 3,5 vezes superior à estimativa estadual do MCTIC. Assim, nota-se a necessidade de uma metodologia customizada para quantificar as emissões líquidas oriundas do uso e mudança de uso da terra na esfera estadual a fim de lidar com as faixas de variação encontradas na literatura. A partir desta constatação este trabalho visa contribuir para preencher esta lacuna considerando a metodologia desenvolvida abaixo. METODOLOGIA Após análise de consistência e acurácia das bases georreferenciadas e matrizes de transição das fontes citadas acima foram utilizadas os dados geoespacializados produzidos pelo INPE, LAPIG e IEF para contabilização das estimativas estaduais de GEE presentes neste relatório. Tendo em vista a limitação de informações espaciais para os anos de 2005 a 2009, as emissões foram estimadas apenas para o subsetor Florestas no período de 2010 a 2014. Assim, para calcular as emissões oriundas das transições de áreas florestadas ou de vegetação nativa para outros usos antrópicos, foram levantados dados de alerta de desmatamento nos três biomas do território mineiro, conforme a seguir: 5

Bioma Mata Atlântica: dados anuais georreferenciados de monitoramento do desmatamento fornecidos pelo INPE; Bioma Cerrado: dados anuais georreferenciados de monitoramento do desmatamento disponibilizados pelo LAPIG 1 ; Bioma Caatinga: dados anuais de detecção (sem georreferenciamento) de áreas de desmatamento fornecidos pelo IEF. Na Figura 1 é apresentado as principais etapas utilizadas para se estimar as emissões do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas em Minas Gerais. Destacase a construção de base de dados georreferenciados de desmatamento a partir de dados de biomassa, taxas de remoção, identificação de áreas de desmatamento e áreas de unidades de conservação (para cálculo das remoções de carbono). Figura 1: Etapas realizadas para se estimar as emissões do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas em Minas Gerais Com o intuito de quantificar o total de dióxido de carbono (CO 2 ) emitido pelo desmatamento, cruzou-se os dados referentes aos biomas Mata Atlântica e Cerrado, por meio de técnicas de álgebra de mapas, com o mapa de biomassa fornecido pelo Centro de Sensoriamento Remoto CSR/UFMG (Figura 2). Como os dados de 1 https://www.lapig.iesa.ufg.br/lapig/index.php/produtos/dados-geograficos

desmatamento da Caatinga não apresentavam referência geográfica, estimou-se as emissões utilizando a biomassa média do bioma, igual a 105,41 tc/ha. Figura 2: Mapa de biomassa viva para o estado de Minas Gerais. Fonte: CSR/UFMG Para estimar as remoções de CO 2 promovidas por áreas florestais, considerouse apenas florestas manejadas, ou seja, apenas Unidades de Conservação (UC), excluindo-se as Reservas Particulares do Patrimônio Natural RPPN. Os dados georreferenciados das UC, foram cruzados com taxas de incremento anual de biomassa viva (acima e abaixo do solo) para florestas manejadas, utilizados na Terceira Comunicação Nacional (MCTI, 2015), conforme segue: Mata Atlântica: 0,32 tc/ha; Cerrado: 0,20 tc/ha; Caatinga: 0,10 tc/ha. A álgebra de mapas realizada para os dados de desmatamento com os dados de biomassa, bem como a multiplicação entre os mapas de UC com as taxas de incremento de biomassa, foram realizados por meio do software Dinamica EGO, 7

desenvolvido e disponibilizado gratuitamente pelo CSR/UFMG (Soares-Filho et al 2013). RESULTADOS E DISCUSSÃO O setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas (LULUCF) apresentou, no período 2010-2014, um pico de emissões no ano de 2011 (58,9 MtCO 2 e) com queda acentuada até atingir 29,1 MtCO 2 e em 2014 (Tabela 1 e Figura 3). As UC federais, estaduais e municipais apresentaram remoções totais de 2,8 MtCO 2 e/ano e um estoque total de 2,3 bilhões de CO 2 e. O pico de 2011 se deve principalmente ao desmatamento no bioma Cerrado. Neste ano, cerca de 120 mil hectares (ha) foram detectados como desmatamento, ocorrendo uma redução nos anos seguintes, atingindo 45 mil ha em 2014 (Tabela 2). O desmatamento para os biomas Mata Atlântica e Caatinga apresentou um padrão mais constante, com média anual de 7,4 mil ha e 1,5 mil ha, respectivamente (Figura 4). Tabela 1: Emissões por desmatamento e remoções do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas em Minas Gerais Emissões de Carbono (MtCO 2 e) Ano Cerrado Mata Atlântica Caatinga Total 2010 13,5 6,8 0,6 20,9 2011 51,4 6,6 0,9 58,9 2012 42,1 11,7 0,2 54,0 2013 16,7 9,1 0,5 26,3 2014 22,3 6,1 0,7 29,1 2015 7,6 8,5 0,5 16,6 2016 8,1 7,8 0,3 16,2 Total 161,7 56,5 3,8 221,9 Média 23,1 8,1 0,5 31,7 Estoque UC's (MtCO 2 e) 2.351 Remoções UC's (MtCO 2 e/ano) 2,8

Figura 3: Emissões de GEE de desmatamento por bioma no período de 2010 a 2014 em Minas Gerais Figura 4: Desmatamento estimado por bioma no período de 2010 a 2014 em Minas Gerais 9

Ao se acrescentar as emissões líquidas contabilizadas neste trabalho às emissões dos demais setores (FEAM, 2016), observa-se um aumento de 13% das emissões estaduais entre 2010 e 2014, totalizando cerca de 150 MtCO 2 e nesse último ano (Figura 5). Os dados dos demais setores (Tabela 2 e Figura 6) foram retirados do terceiro relatório de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Estado de Minas Gerais - Ano base 2014 (FEAM, 2016). Figura 5: Estimativas de emissões estaduais de GEE no período 2005 a 2014 para Minas Gerais 2 Após a integralização de todos os setores recomendados pelo IPCC, observa-se que, exceto para os anos de 2011 e 2012, o setor Agropecuária tem sido responsável 2 pela maior parte das emissões estaduais, seguido do setor Energia, respondendo por 32% e 31% das emissões totais em 2014, respectivamente (Figura 5). Entretanto, para os anos 2011 e 2012, o setor Mudança de Uso da Terra e Florestas (LULUCF) foi o maior contribuinte para as emissões estaduais, responsável por aproximadamente 32% e 29% das emissões, no referido período. Tabela 3: Emissões estaduais de GEE para o período 2005-2014 considerando todos os setores recomendados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas 2 Emissões para o setor LULUCF estimadas a partir de 2010.

Setor Estimativas de Emissões Atualizadas (MtCO 2 e) 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Agropecuária 42,90 46,70 44,60 44,00 44,40 45,51 48,37 48,72 48,92 48,83 Energia 34,05 34,28 36,7 38,19 35,32 40,03 42,88 44,28 45,36 46,05 LULUCF - - - - - 18,09 56,04 51,19 23,48 26,25 IPPU 19,39 19,75 20,87 21,90 18,21 22,08 22,07 22,32 22,30 20,53 Resíduos 3,79 3,74 3,83 5,73 6,04 6,84 7,07 7,65 8,23 8,41 Total 100,13 104,46 106,00 109,82 103,97 132,55 176,43 174,15 148,28 150,08 Figura 6: Participação dos setores nas emissões de GEE estaduais em Minas Gerais para os anos 2005, 2010 e 2014 Considerando a população mineira no período 2010-2014, as emissões per capita no foram de 6,6 tco 2 e/habitante em 2010, sofrendo um aumento de 32% em 2011, quando atingiu o valor de 8,7 tco 2 e/habitante. A partir de então, as emissões per capita sofreram uma redução de 17%, chegando a 7,2 tco 2 e/habitante em 2014 (Figura 7). A mesma análise aplicada ao Produto Interno Bruto (PIB) estadual, revela que em 2010 foram emitidos 0,38 tco 2 e para cada R$ 1.000 produzidos. Entre 2010 e 2012 ocorreu aumento expressivo, atingindo o pico de 0,46 tco 2 e/r$ 1.000 em 2011, e voltando a reduzir nos anos seguintes, até atingir o valor de 0,29 tco 2 e/r$ 1.000 em 2014, cerca de 36% inferior ao ano de 2011 (Figura 7). 11

Figura 7: Indicadores de intensidade de emissões em emissões per capita e emissões por PIB para o período 2010-2014 em Minas Gerais CONCLUSÕES A contabilização das emissões e remoções do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas (LULUCF) e sua integração aos demais setores permite agora uma análise do perfil de emissões do estado de Minas Gerais ao longo dos últimos anos. Por exemplo, as estimativas indicam que o setor LULUCF foi o principal contribuinte de emissões de GEE nos anos de 2011 e 2012. Para os demais anos, apresentou emissões inferiores aos setores de Energia e Agropecuária, e até mesmo do setor de Processos Industriais e Uso de Produtos (IPPU) em 2010. Estas estimativas demonstram como a dinâmica do desmatamento influencia significativamente o padrão de emissões de GEE no território mineiro. Por outro lado, demonstram também a importância das Unidades de Conservação para o balanço de carbono no território 2,8 MtCO 2 e sequestradas por ano e um estoque total de 2.351 MtCO 2 e. A partir dos resultados obtidos neste trabalho, ainda não é possível identificar claramente uma tendência para as emissões do setor de Mudança de uso da terra e Florestas em Minas Gerais, sendo necessária uma série histórica mais extensa para realização de projeções de cenários futuros. Entretanto, fica evidente o papel do setor para a mitigação das emissões de GEE no território mineiro no curto e médio prazo.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEAM, 2016. Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Estado de Minas Gerais. Período de Referência: 2005-2014. Governo do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, Brasil (disponível em http://www.feam.br/images/stories/inventario/estimativas_gee_2005_2014_mg_fea M_v02-1.pdf) Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações MCTIC, 2016. Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil 3º edição. Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento SEPED (disponível em http://www.mcti.gov.br) Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa- SEEG, 2017. Emissões por Estado: Mapas e Fichas (disponível em http://plataforma.seeg.eco.br/total_emission) Soares-Filho B S, Rodrigues H and Follador M, 2013. A hybrid analytical-heuristic method for calibrating land-use change models. Environ. Modell Software 2013 43 80 87 13