LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA ANUROFAUNA EM UMA ÁREA DE CERRADO ENTRE DIAMANTINA E AUGUSTO DE LIMA, MINAS GERAIS, BRASIL. Siqueira, R.C.; Teieira, T.M.; Oliveira Júnior, P.R.; Guedes, E.A.; Sousa, V.M.; Melo, R.S.; Silveira, V. C. Resumo: Em Minas Gerais o cerrado abrange mais da metade do estado, estando presente em quase toda a bacia do Rio São Francisco e boa parte das bacias do Rio Paranaíba e do Rio Grande, espalhando-se principalmente pelas regiões Norte, Centro, Sul e Triângulo. A anurofauna dos cerrados brasileiros é ainda pouco conhecida. Os poucos estudos recentes tem revelado um ecossistema rico em espécies e endemismos, sendo que etensas áreas ainda não foram adequadamente amostradas. O objetivo deste trabalho é fornecer uma listagem de espécies de anuros da região, bem como analisar o status de conservação dos mesmos para que. O principal modo de obtenção de informações foi a procura visual (busca ativa) de anfíbios e répteis em atividade ou em abrigo, tanto durante o dia como à noite, em geral a pé, com alguns poucos registros feitos durante deslocamentos curtos até os pontos de amostragem definitivos (em carro). Os estudos apontam para a área vinte e seis espécies de anfíbios distribuídas em seis famílias. A família Hylidae foi a mais significativa entre os anfíbios amostrados, com dez espécies. Palavras-chave: anfíbios; busca ativa e conservação Introdução: O Brasil é o país com a maior biodiversidade de anfíbios do planeta (FEIO et al., 1998). Hoje no Brasil são conhecidas 875 espécies de anfíbios, sendo 847 Anuros, 1 Caudata e 27 Gymnophionas (SBH, 2010). Os anuros são animais popularmente conhecidos como sapos, rãs e pererecas, uma característica marcante na vida desses animais é a presença de uma fase larval aquática (na forma de girino) e uma terrestre (na forma jovem e adulta) (MACHADO & BERNARDE, 2006). O alagamento de parte da paisagem, bem como a drenagem de outra, altera os ambientes naturais, implicando em impactos sobre as espécies de anfíbios que podem ser evitados ou minimizados através dos monitoramentos ambientais. Os anfíbios são especialmente suscetíveis a alterações ambientais, pois sua pele tipicamente desnuda e permeável os torna altamente vulneráveis a contaminantes químicos e radiação. Alem disso o estilo de vida de muitas espécies eige a manutenção de habitats aquáticos e terrestres em condições satisfatórias (SEGALLA, et al., 2004). Embora muitas espécies de anuros tropicais possam se reproduzir ao longo do ano, a chuva parece ser o fator etrínseco primário no controle dos padrões reprodutivos dessas espécies. A maioria das espécies depende do meio hídrico, pelo menos na fase larval. Por isso, os anfíbios são altamente sensíveis tanto a alterações na qualidade da água, quanto a mudanças hidrológicas que afetam a umidade de seus habitats. Pesquisas em diferentes locais do Brasil revelaram ainda que algumas espécies também sejam suscetíveis a mudanças na estrutura da vegetação próima aos corpos d água. Os objetivos principais deste trabalho é realizar um inventário e posterior diagnóstico da área de estudo para que se tenha noção do real impacto das transformações ambientais sobre esse grupo faunístico e, acima de tudo, para que sejam tomadas as medidas mitigadoras necessárias visando à preservação das espécies envolvidas.
Metodologia: Os estudos foram realizados em duas áreas de cerrado entre os municípios de Diamantina e Augusto de Lima. Foram realizadas duas campanhas de seis dias cada, sendo uma no período seco (setembro de 2008), e outra no período chuvoso (janeiro de 2009). A área 1 (coordenadas 23 K 596118 7985390) está localizada na fazenda Canabrava zona rural do município de Augusto de Lima, já a área 2 (coordenadas 23 K 610203 7989919) no município de Diamantina. O principal modo de obtenção de informações sobre a herpetofauna foi a procura visual (busca ativa) de anfíbios em atividade ou em abrigo, tanto durante o dia como à noite, em geral a pé, com o auílio de lanterna, como sugerida por CORN & BURY (1990). Alguns poucos registros foram feitos durante deslocamentos curtos até os pontos de amostragem definitivos (em carro). A maioria dos registros ocorreu com base na observação direta ou por meio de vocalizações (no caso de espécies de anuros, já conhecidas em outras localidades). Todo animal avistado ou ouvido foi anotado em caderneta de campo. Como recurso auiliar, foram tiradas fotografias das espécies menos comuns, para posterior identificação. Resultados e Discussão: Os estudos apontam para as áreas vinte e seis espécies de anfíbios distribuídas em seis famílias (Tabela 01). Nenhuma das espécies inventariadas é considerada como ameaçada segundo as listas, Nacional e Estadual da Fauna Brasileira Ameaçada de Etinção. Apenas sete espécies inventariadas na área I foram encontradas também na área II, (Rhinella Schneideri, Physalaemus cf albifrons, Dendropsophus minuta, Dendropsophus rubucundulus, Dendropsophus nanus, Scina fuscomarginatus e Leptodactylus fuscus. A família Hylidae foi a mais significativa entre os anfíbios amostrados (gráfico 01), sem dúvida por ser esta a mais rica dentre todas. As espécies dessa família possuem adaptações aos mais variados tipos de ambientes e a presença de discos adesivos permitem que eplorem mais amplamente o etrato arbóreo vertical do ambiente (CARDOSO et al., 1989). Os hilídeos eibem uma grande variedade de modos reprodutivos principalmente quanto ao microhábitat de oviposição. A maioria das espécies desse grupo deposita ovos diretamente na água, porém, algumas desovam em folhas suspensas sobre a água ou em câmaras subterrâneas (HADDAD & PRADO, 2005). Mesmo entre as espécies que desovam na água eistem diferenças quanto ao micro-ambiente no qual os ovos são postos; algumas espécies aderem ovos à vegetação subaquática enquanto que outras depositam ovos flutuantes em bacias escavadas no lodo (HADDAD & PRADO, 2005). Tabela 01. Lista de espécies de anfíbios registrados nas campanhas por, ordem, família, espécie, nomes populares das espécies, área do registro (AI, AII), registro que permitiu identificá-las (AV = avistamento, VC = vocalização, e ENT = entrevista) e status. Classificação Nome Popular AI AII Registro Status Anura Bufonidae Rhinella rubescens Sapo-cururu AV/VC Rhinella schneideri Sapo-cururu-grande AV/VC Cycloramphidae Hylidae Thoropa megatympanum Rã AV
Leiuperidae Trachycephalus mesophaeus Perereca-grudenta AV Dendropsophus minuta Pererequinha-do-brejo AV/VC Dendropsophus rubucundulus Pererequinha-do-brejo AV/VC Dendropsophus nanus Pererequinha-do-brejo VC Phyllomedusa hypochondrialis Perereca-das-folhagens AV/VC Hypsiboas albopunctatus Perereca-cabrinha AV/VC Hypsiboas crepitans Perereca AV Hypsiboas lundii Perereca VC Scina fuscomarginatus Pererequinha-do-brejo AV/VC Scina fuscovarius Perereca-de-banheiro AV/VC Physalaemus cf albifrons AV/VC Physalaemus centralis AV/VC Physalaemus cuvieri Rã-cachorro AV/VC Physalaemus marmoratus AV/VC Pseudopaludicola sp2. Rãzinha AV Pseudopaludicola sp1. Rãzinha AV Leptodactylidae Microhylidae Deficiente de dados Deficiente de dados Leptodactylus chaquensis Rã AV/VC Leptodactylus fuscus Rã-assobiadora AV/VC Leptodactylus labyrinthicus Rã-pimenta AV Leptodactylus mystaceus Rã-marrom AV/VC Leptodactylus ocellatus Rã-manteiga AV Dermatonotus muelleri AV/VC Elachistocleis ovalis AV Gráfico 01 Distribuição das espécies de anfíbios inventariadas por família. 4% 8% 8% 23% 19% 38% Hylidae Leptodactylidae Bufonidae Microhylidae Cycloramphidae Leiuperidae
Dendropsophus minuta Dendropsophusnanus Dendropsophus rubucundulus Hypsiboas crepitans Hypsiboas albopunctatus Scina fuscomarginatus Scina fuscovarius Dermatonotus muelleri Phyllomedusa hypochondrialis Trachycephalus mesophaeus Leptodactylus fuscus Leptodactylus mystaceus Leptodactylus chaquensis Leptodactylus l labyrinthicus Rhinella schneideri Rhinella rubescens Physalaemus marmoratus Physalaemus cuvieri Thoropa megatympanum Figura 01 Amostra das espécies coletadas. Physalaemus cf albifrons Conclusão: As espécies, Dendropsophus nanus e Scina fuscovarius foram observadas vocalizando tanto na estação seca quanto na estação chuvosa, o que nos possibilita inferir que esses animais apresentem atividade reprodutiva o ano todo. As espécies Hypsiboas albopunctatus, Hypsiboas crepitans, e Trachycephalus mesophaeus, foram observadas em atividades apenas na campanha da estação seca (área I). Já a família Leiuperidae apresentou cinco novas espécies que não foram observadas no período seco, Physalaemus cf albifrons, Physalaemus marmoratus, Physalaemus centralis, Physalaemus cuvieri e Pseudopaludicola sp. 2. Isso mostra que a atividade reprodutiva desses animais está diretamente ligada a sazonalidade da região. Agradecimentos: Agradeço a Deus por estar sempre presente em minha vida e aos meus colegas de trabalho da Vert Ambiental Consultoria e Projetos pelo apoio recebido.
Referências: CARDOSO, A. J. et al. Distribuição espacial em comunidades de anfíbios (Anura) no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Biologia. 49 (1): 241-249p. 1989. CORN P. S. et al. Sampling methods for terrestrial amphibians and reptiles. Portland, OR: USDA Forest Service Pacific Northwest Research Station. General Technical Report PNW-GTR-256. 34 p. 1990. HADDAD, C. F. B. et al. Reproductive modes in frogs and their unepected diversity in the Atlantic Forest of Brazil. BioScience 55 (3): 207-217p. 2005. FEIO, R. N. et al. Anfíbios do Parque Estadual do Rio Doce (Minas Gerais). Universidade Federal de Viçosa, Instituto Estadual de Florestas, MG, 32p. 1998. MACHADO, R. A. & BERNARDE, P. S. Anfíbios Anuros do Parque Estadual Mata dos Godoy. Ecologia do Parque Estadual Mata dos Godoy. J. M. D. Torezan. (Org.). Londrina. Itedes. 05-113p. 2006. SBH, Sociedade Brasileira de Herpetologia. Brazilian Reptiles and Amphibians List of species. Disponível em http://www.sbherpetologia.org.br. Acessado em 15 de agosto de 2010. SEGALLA, M. V. et al. Anfibios. Livro vermelho da fauna ameaçada no estado do Paraná. Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Curitiba, Brasil pp. 539-577p. 2004.