INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA INTERPASSE NAS PROPRIEDADES DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX DURANTE A SOLDAGEM PELO PROCESSO A ARCO SUBMERSO

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Transcrição:

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA INTERPASSE NAS PROPRIEDADES DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX DURANTE A SOLDAGEM PELO PROCESSO A ARCO SUBMERSO Guttemberg Chagas de Souza, guttemberg.souza@uol.com.br 1,2 Ismael Cardote Filho, ismael.cardote@utc.com.br 2 Tatiana Resende Alvarez, tatianaralvarez@yahoo.com.br 1 Marjorie Rosemback Correia Pavarino, marjoriepavarino@hotmail.com 1 Juan Manuel Pardal, juanpardal@vm.uff.br 1 Sérgio Souto Maior Tavares, ssmtavares@terra.com.br 1 Miguel Luiz Ribeiro Ferreira, temmlrf@vm.uff.br 1 1 UFF Universidade Federal Fluminense/Departamento de Engenharia Mecânica/PGMEC Rua Passo da Pátria 156, CEP 24210-240, São Domingos, Niterói - RJ, Brasil. 2 UTC Engenharia S/A, Avenida Alfredo Egídio de Souza Aranha 384, CEP 04726-170, Chácara Santo Antônio, São Paulo SP, Brasil. Trabalho a ser apresentado durante a Rio Welding 2014 As informações e opiniões contidas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade dos autores. INTRODUÇÃO Os aços inoxidáveis duplex (AID) são ligas ferrosas contendo proporções similares de fases austenita e ferrita. Estas ligas são extensamente utilizadas principalmente em indústrias offshore, produto da elevada resistência mecânica com altos valores do índice equivalente de resistência ao pite (PRE) se comparado com outras designações de aços inoxidáveis austeníticos convencionais [1], [2]. Um dos desafios atuais durante a soldagem destes aços se sustenta na utilização de processos que visam o aumento da produtividade, mantendo-se a proporção de austenita precipitada entre 30 e 70%, além de evitar a formação de fases terciárias como chi (χ) e sigma (σ) na microestrutura [3], [4]. Recentemente foi utilizado em empreendimentos de construção e montagem de tubulações de paredes espessas, o processo de soldagem a arco submerso (SAW) nos passes de enchimento e acabamento, dando lugar a um notório aumento da produtividade na fabricação dos spools das linhas de injeção de água salgada [4]. No entanto, o tempo total de soldagem é elevado a realização dos passes de solda, em virtude da máxima temperatura interpasse exigida nos documentos contratuais ser igual ou inferior a 150ºC.

Este valor é estabelecido afim de não produzir um baixo valor da velocidade de resfriamento que possa conduzir a um elevado teor de austenita precipitada podendo ainda conter fases deletérias chi (χ) e sigma (σ), causando a queda da resistência à corrosão e da resistência mecânica. Por este motivo, é importante, na soldagem destas ligas, controlar a velocidade de resfriamento através do controle do aporte de calor na faixa de 0,5 kj/mm a 2,5 kj/mm [5] e das temperaturas de interpasses, sendo parâmetros determinantes para um correto balanço microestrutural dos AID. Portanto, este trabalho apresenta os resultados da caracterização e da avaliação da resistência à corrosão de uma junta soldada, permitindo avaliar a influência da temperatura interpasse entre 150 e 290ºC nas propriedades da junta em decorrência de um aumento da produtividade na soldagem de uma tubulação de aço inoxidável duplex (AID) UNS S31803 de 21,4 mm de espessura de parede, soldada pelos processos de soldagens GMAW, na raiz, e arco submerso (SAW), no enchimento e acabamento. A soldagem pelo processo SAW utilizou uma fonte de corrente alternada com onda quadrada (CA) permitindo uma maior taxa de deposição e, consequentemente, a realização da junta em um menor número de passes se comparado com o trabalho apresentado por [4]. Os resultados da caracterização da tenacidade ao impacto, microestrutura, teor de nitrogênio e resistência à corrosão em diversas regiões da junta soldada foram comparadas com os obtidos para o metal de base, assim como com os valores mínimos exigidos pelas normas de projeto. MATERIAIS E MÉTODOS O material da tubulação é uma liga correspondente à designação UNS S31803, fabricada conforme a especificação ASTM A 928 classe 1 [6], na forma de um tubo com costura, de 273,05 mm de diâmetro externo e 21,4 mm de espessura de parede, fornecido no estado solubilizado. Na Tabela 1 são apresentadas as composições químicas do material de base e dos consumíveis empregados, correspondentes à classificação dos aços inoxidáveis duplex. Tabela 1 - Composição química dos materiais utilizados. Material/ Composição química (% em peso) (Fe) balanço. Classificação Processo Cr Ni Mo Mn Si N Cu C P S Tubo UNS S31803 22,889 5,334 2,837 1,825 0,320 0,162-0,015 0,029 0,004 GMAW ER 2209 22,810 8,730 3,150 1,840 0,420 0,150 0,120 0,016 0,018 0,001 SAW ER 2209 22,940 8,630 3,070 1,540 0,480 0,150 0,140 0,008 0,017 0,001 Os arames utilizados foram de classificação AWS ER 2209, com diâmetros de 1,2 e 2,4 mm para os processos GMAW e SAW, respectivamente. Na soldagem pelo processo SAW foi utilizado fluxo básico com índice de basicidade igual a 2,4. A geometria e dimensões do bisel empregado na soldagem estão conforme a norma [7], onde a abertura da junta utilizada foi de 5,0 mm. Os processos de soldagem realizados foram GMAW na raiz e seu reforço, assim como SAW no enchimento e acabamento. O gás de proteção utilizado no processo GMAW foi uma mistura contendo 98% argônio (Ar) + 2% oxigênio (O) e o nitrogênio (N) 100% foi o gás utilizado para a proteção da raiz, com vazões de 15 e 20 litros/minuto, respectivamente. A proteção na raiz foi avaliada quanto ao teor de oxigênio, através de um oxímetro, de maneira que o teor de oxigênio não excedesse a 0,5% em peso. A Tabela 2 exibe os diversos valores dos parâmetros dos processos de soldagens empregados, assim como a temperatura de interpasse (Ti) durante a soldagem da tubulação. A polaridade empregada foi a corrente contínua inversa (CC+) para o processo GMAW.

O passe de raiz foi realizado utilizando transferência por curto-circuito controlado e os demais passes do processo GMAW foram soldados com transferência pulsada. Para o processo de soldagem SAW, a polaridade empregada foi a corrente contínua inversa (CC+) e a corrente alternada (CA) de onda quadrada (SW). Durante as soldagens efetuadas, a distância do bico de contacto à peça (DBCP) foi de 12mm e 20mm, para os processos GMAW e SAW, respectivamente. A medição da temperatura interpasse foi realizada por meio do termômetro digital de contato. Esta junta foi executada com um menor número de passes se comparada em forma relativa à junta soldada de AID realizada com o processo de soldagem SAW com polaridade CC+ [4]. Este fato é atribuído principalmente à utilização de corrente alternada com formato de onda quadrada (SW) que proporciona um maior balanceamento na transferência de calor durante o processo, podendo deste modo, operar fundamentalmente com maiores valores de corrente de soldagem decorrendo em uma elevada taxa de transferência do metal depositado e, porém, em uma maior velocidade de alimentação de arame (Vaa). Os valores da freqüência, offset e balanço empregados, relativos ao formato da onda, assim como a taxa de deposição na soldagem desta junta são mostrados na Tabela 3. Tabela 2 - Valores das variáveis do processo de soldagem para cada passe efetuado. Passe Nº Camada Nº Processo Tensão média (V) Amperagem (A) Velocidade (cm/min) Vaa (mm/s ) Energia de Soldagem (kj/mm) 1 1 15 110 10,00 63,50 0,79 26 2 2 GMAW 13 120 13,00 67,73 0,58 86 3 (CC+) 13 120 13,00 67,73 0,58 101 3 4 13 120 13,00 67,73 0,58 105 5 4 SAW 1,17 30 300 41,41 (CC+) 38,95 33 6 30 300 48,21 50,80 1,01 160 5 7 SAW 30 430 48,38 76,20 1,44 240 8 (CA SW) 30 335 45,48 55,88 1,20 240 6 9 30 400 45,00 76,20 1,44 290 Tabela 3 - Valores da freqüência, offset e balanço empregados, assim como a taxa de deposição para cada passe. Passe Camada Freqüência Offset Balanço Taxa de Deposição Processo Nº Nº (Hz) (%) (%) (kg/mm) 6 60-15 +30 6,30 5 7 SAW 80-25 +25 9,50 8 (CA SW) 60-15 +40 7,02 6 9 80-25 +25 9,57 Para a realização do ensaio de impacto foi utilizado um pêndulo universal Charpy. Todos os ensaios foram realizados à temperatura de -46ºC. Foram ensaiados 24 corpos de prova (cps) de tamanho padronizado, 55x10x10mm, com entalhe tipo V conforme norma [8]. Os cps foram retirados transversalmente à junta soldada a 2,0 mm da superfície da raiz e do enchimento. O entalhe foi realizado no centro do metal de solda (CS), na zona de ligação ou linha de fusão (LF) e a 2,0 e 5,0mm da LF na direção da ZAC, totalizando 3 corpos de prova em cada condição, tal como especificado pela norma [9]. Foi efetuada uma análise macrográfica da junta soldada, com posterior ataque eletrolítico através de solução aquosa de ácido oxálico a 10% com aplicação de 3 volts durante 3 minutos com a amostra no anodo. Ti (ºC)

A caracterização micrográfica foi realizada mediante uso de um microscópio estéreo convencional e para as análises metalográficas e da resistência à corrosão foram retiradas cinco amostras, duas na raiz, uma no metal de base, uma no centro do enchimento do metal de solda e uma no acabamento. As amostras indicadas foram caracterizadas em um microscópio óptico (MO) pelo procedimento metalográfico convencional através do emprego dos diferentes ataques descritos na Tabela 4. Após a realização dos ensaios de impacto, a face lateral do cp Charpy do centro de solda na raiz foi também caracterizada empregando a mesma metodologia. Entretanto, também foi cuidadosamente lixada e polida a face da superfície de fratura do cp mencionado. Deste modo, após aplicação dos reagentes indicados, podem ser observadas, simultaneamente, a microestrutura e a superfície de fratura de cada cp com o intuito de exibir os locais preferenciais de propagação de trincas. Tabela 4 - Reagentes utilizados para revelar características microestruturais da junta soldada [10]. Ataque Composição Objetivo Beraha Solução aquecida, composta de: 20ml de HCl em 100ml H 2 O destilada + 0,3 a 0,6g de metabissulfito de potássio. Temperatura do banho entre 40 e 80ºC. regiões da junta. KOH Modificado 5g de KOH em 100ml de H 2 O destilada. Ataque eletrolítico: Amostra no anodo, aplicação de 3V durante 12s. Caracterizar as mudanças microestruturais na soldagem da tubulação. Revelar as fases ferrita (δ) e austenita (γ) das diversas Caracterizar as mudanças microestruturais na soldagem da tubulação. Revelar fases deletérias. As quantificações das fases ferrita (δ) e austenita (γ), nas diferentes regiões da junta soldada, foram realizadas pelo programa Image Tools [11]. Esta análise foi realizada tomando como média em torno de 12 imagens por região da junta, com aumentos de 240X, 475X, 950X e 1900X. O teor de nitrogênio foi avaliado por combustão através da retirada de 1g de cavaco, no metal de base (MB), na raiz (GMAW RAIZ), na região central do metal de solda (SAW ENCH CENTRAL) e na região do metal solda próxima do acabamento (SAW ACAB). As análises eletroquímicas por estimativa da temperatura crítica de pites (CPT) de cada região da junta soldada foram efetuadas se baseando na utilização da norma [12]. Para realização dos ensaios foram utilizados um computador, um termômetro digital, um potenciostato galvanostato μ Autolab Type III e uma célula eletroquímica, em banho-maria, contendo um eletrodo de trabalho a ser ensaiado, um becker com uma solução de 1M NaCl sem desaeração prévia, um contra eletrodo de platina e um eletrodo de referência de calomelano saturado. Foram realizados três ensaios para cada amostra avaliada e calculada uma média do valor de temperatura crítica de pites. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizadas análises metalográficas da seção transversal da junta analisada e não foram observadas descontinuidades, através de macrografias. Em relação às micrografias foram realizadas análises na raiz e no enchimento, bem como no metal de solda (MS), zona afetada pelo calor (ZAC), linha de fusão (LF) e no metal de base (MB). Estas micrografias apresentaram um forte refino microestrutural das fases precipitadas na raiz em relação aos

passes de enchimento e não foram encontradas descontinuidades nas regiões da junta soldada. A Tabela 5 apresenta os percentuais médios de ferrita e austenita encontrados nas diversas regiões da junta soldada. Salienta-se que todos os valores se encontram dentro do escopo da norma [3]. Deste modo, denota-se que a influência dos sucessivos ciclos térmicos e da temperatura interpasse elevada não afetou significativamente na proporção de fases na região da raiz da solda. Tabela 5 - Percentuais médios de ferrita e austenita obtidos em diferentes regiões da junta soldada. Amostra Região Ferrita (%) Austenita (%) GMAW RAIZ 1 MS 49,94 ± 2,41 50,06 ± 2,41 ZAC 61,02 ± 1,95 38,98 ± 1,95 GMAW RAIZ 2 MS 46,67 ± 1,72 53,33 ± 1,72 ZAC 55,29 ± 2,13 44,71 ± 2,13 SAW ENCH. CENTRAL MS 53,73 ± 2,81 46,27 ± 2,81 ZAC 61,52 ± 2,73 38,38 ± 2,73 SAW ZAC MB MS 51,62 ± 1,79 48,38 ± 1,79 MB MB 58,90 ± 1,82 41,10 ± 1,82 Pode ser observado que a amostra GMAW Raiz 1 MS e a amostra GMAW Raiz 2 - MS apresentaram um percentual levemente maior de austenita (fase clara) em relação às demais regiões da junta. Em relação ao MB isso pode ser atribuído ao fato do consumível de AID possuir teores mais elevados de Ni (em torno de 3,4% a mais) e proporções de N perto de seu limite de solubilidade, estabilizando a austenita (γ), o que geralmente favorece as propriedades da junta [5]. Na amostra SAW- ENCH. CENTRAL também se utilizou um consumível semelhante ao da raiz e, obteve-se um percentual menor de γ com relação às amostras GMAW Raiz 1 MS e GMAW Raiz 2 - MS. Essa pequena diferença pode ser atribuída à influência dos ciclos de reaquecimento no MS da raiz auxiliada pela elevada temperatura interpasse nos passes de enchimento. Em relação aos valores de proporção de fases obtidos na ZAC da junta, conforme observado na Tabela 5, as proporções de ferrita estão próximas ao do MB, em todos os casos, salientando-se que não houve influência da temperatura interpasse na proporção de fases nesta região e baseado na norma [3], as amostras devem possuir, para aceitação, percentual entre 30% e 70% de ferrita. Pode-se observar que os percentuais encontrados e apresentados na Tabela 5 atendem a esta especificação, além de apresentarem valores equilibrados, especialmente na amostra GMAW RAIZ 1 - MS, que costuma ser a região mais crítica da junta em virtude desta ser reaquecida sucessivamente. O MB foi atacado pelo reagente de KOH modificado e não foram observadas fases deletérias, no entanto, na raiz, foram observadas regiões suscetíveis de serem atacadas pelo reagente aplicado podendo corresponder a fases deletérias tais como chi (χ) e sigma (σ) em estágios iniciais de precipitação. No entanto, este fato deve ser confirmado através do uso de um MEV a ser realizado nestas amostras no modo de elétrons retroespalhados (BSE) sem ataque prévio [10]. Na análise da superfície de fratura do centro do metal de solda na raiz, onde os defeitos gerados pelo ensaio de impacto se concentraram preponderantemente na região ferrítica. Este fenômeno pode ser atribuído às fases deletérias precipitadas, pois é na fase ferrítica que estas fases, tal como sigma e chi, precipitam-se.

Os resultados dos ensaios de impacto podem ser visualizados na figura 1: Figura 1 - Tenacidade ao longo da junta na raiz (R) e no enchimento (E). Os valores das temperaturas críticas de pites (CPT) encontrados para as amostras SAW ZAC MB, GMAW RAIZ 1, GMAW RAIZ 2, SAW ENCH. CENTRO e MB são apresentados na Tabela 6. Tabela 6 - Resultados dos ensaios de temperatura crítica de pites. CPT ( C) Localização 1º 2º 3º Ensaio Ensaio Ensaio Média SAW ZTA MB 41,80 36,20 35,01 37,67±3,63 GMAW RAIZ 2 45,70 54,39 49,30 49,80±4,37 MB 53,90 57,00 49,30 53,40±3,87 GMAW RAIZ 1 37,04 42,65 39,61 39,77±2,81 SAW ENCH. CENTRO 52,87 52,40 49,79 51,69±1,66 A Tabela 7 exibe o teor de nitrogênio (N) medido pelo método de combustão, destacando-se que a raiz possui um teor 31% inferior ao do metal de base, indicando que houve uma perda deste elemento em virtude dos sucessivos reaquecimentos. Tabela 7 - Resultados obtidos por espectrometria por combustão do nitrogênio contido na liga. Região da Junta N (%) GMAW Raiz 0,097 SAW Enchimento 0,130 SAW Acabamento 0,117 SAW MB 0,141

CONCLUSÕES O presente trabalho possibilita concluir para as condições de soldagem do AID estudado que: Os sucessivos ciclos térmicos com temperaturas de interpasses superiores a 150 C não afetaram significativamente a proporção de fases na região da raiz da solda em comparação com o limite estabelecido pela norma [3]. O reagente KOH modificado foi aplicado com sucesso, possibilitando distinguir a presença provável, em estágios iniciais de precipitação, de fases deletérias, principalmente na raiz do MS. A taxa de deposição no processo de soldagem SAW, utilizando CA SW foi superior àquela realizada por CC+, permitindo maior produtividade. Os valores de tenacidade ao impacto são menores quanto mais próximos do centro da solda estiver o entalhe. Na raiz estes valores foram inferiores aos do enchimento, que são atribuídos à influência dos sucessivos ciclos térmicos e das altas temperaturas de interpasse na soldagem da junta. O valor da CPT na raiz (GMAW - Raiz 1) é bem menor em relação ao MB em função da influência dos passes de solda com temperaturas de interpasse elevadas, sendo mais susceptível à corrosão. A condição SAW ZAC MB teve um valor médio de CPT comparável à raiz em função da temperatura de interpasse atingir valores de aproximadamente 290ºC. O teor de nitrogênio medido na raiz possui um teor 31% inferior ao do metal de base indicando que houve uma perda deste elemento em virtude dos sucessivos reaquecimentos, indicando a necessidade de proteção adicional interna durante a soldagem nestas condições com gases balanceados com Nitrogênio. Finalmente, pode-se concluir que o emprego de temperaturas de interpasses entre 150 e 290ºC na soldagem teve como conseqüência, na região da raiz do centro da solda, valores médios de tenacidade de 23,81J, encontrando-se abaixo daquele permitido pela norma [3]. Esse fato também refletiu na CPT da raiz da solda, sendo este parâmetro muito importante nesta região, pois é nesta que o fluido de processo fica em contato com a tubulação. Desta forma, a realização de soldagens com temperaturas de interpasses acima de 150 C [3], [9] não são adequadas, podendo ser utilizada CA SW, no entanto o controle da temperatura deverá ser o estabelecido pela literatura [3], [9]. Sugere-se ainda a continuidade dos estudos avaliando a manutenção da proteção gasosa no interior da tubulação em temperaturas superiores a 150ºC. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Reick, W.; Pohl, M.; Padilha, A.F. O desenvolvimento dos aços inoxidáveis ferríticosausteníticos com microestrutura duplex. In: CONGRESSO ANUAL DA ABM, 47. 1992, Belo Horizonte. Anais: ABM, 1992. Vol 48, Nº409. [2] Gunn, R.N. Duplex stainless steels. Microstructure, properties and applications. Cambridge - England: Abington Publishing, 2003. 204 p. [3] NORSOK STANDARD M-601: Welding and Inspection of Piping. Rev. 4, July 2004. [4] Pardal, J.M., Souza, G.C., Tavares, S.S.M., Cindra Fonseca, M.P., Ferreira, M.L.R., Martins, L.M., Samra Filho, O.A. Caracterização e Avaliação da Resistência à Corrosão na Soldagem de Tubulação de Aço Inoxidável Duplex UNS S31803 pelo Processo a Arco Submerso. Soldagem e Inspeção. 2011; Vol. 16 Nº4: 310-321. [5] IMOA - INTERNATIONAL MOLYBDENIUM ASSOCIATION. Practical guidelines for the fabrication of duplex stainless steels. London - England, 2009. 63 p. Disponível em:<

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