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Graça radical: justiça para o pobre e marginalizado a visão de Carlos Wesley Radical grace. Justice for the poor and marginalized Charles Wesley s views Gracia radical: la justicia para los pobres y marginados la visión de Charles Wesley Helmut Renders * Resumo Resenha do livro de Stephen T. KIMBROUGH JR. Graça radical: justiça para o pobre e marginalizado a visão de Carlos Wesley para o século XXI. Prefácio de Stanley Hauerwas. Tradução de Glória Hefzibá. Maceió: Editora Sal Cultural, 2015, 125p. ISBN: 978-85- 67383-03-3. Palavras-chave: Carlos Wesley; doutrina social; pobreza; liturgia. Abstract Book review of Stephen T. Kimbrough Jr. Graça radical: justiça para o pobre e marginalizado a visão de Carlos Wesley para o século XXI. Prefácio de Stanley Hauerwas. Tradução de: Glória Hefzibá. Maceió: Editora Sal Cultural, 2015. 125p. ISBN: 978-85-67383-03-3. [Translation of the title: Radical grace. Justice for the poor and marginalized Charles Wesley s views for the twenty-first century]. Keywords: Charles Wesley; social doctrine; poverty; liturgy. Resumen Reseña del libro Stephen T. Kimbrough Jr. Graça radical: justiça para o pobre e marginalizado a visão de Carlos Wesley para o século XXI. Prefácio de Stanley Hauerwas. Tradução: de Glória Hefzibá. Maceió: Editora Sal Cultural, 2015. 125p. ISBN: 978-85- 67383-03-3 [Traducción del título: Gracia radical: la justicia para los pobres y marginados - la visión de Charles Wesley para el siglo XXI]. Palabras clave: Carlos Wesley; doctrina social; la pobreza; liturgia. Introdução Apresentamos o livro Graça radical, escrito Stephen T. Kimbrough, Jr., em 2013, e traduzido para o português em 2015. O estudo chamou imediatamente nossa atenção pelo seu tema e pelo seu foco. O estudo de Kimbrough junta-se ao esforço contínuo de departamentos como o Centro de * Docente e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Revista Caminhando v. 21, n. 2, p. 327-321, jul./dez. 2016 317

Estudos Wesleyanos CEW, da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, e sua produção de textos que unem critérios acadêmicos com perspectivas pastorais e missionárias. Estrutura da obra O livro é acompanhado por uma apresentação brasileira de Stephen M. Heap, missionário estadunidense da Igreja Metodista Livre, vivendo no país há 40 anos. Interessantemente, faz uma leitura mais pneumática de um texto que constrói seu argumento basicamente entre a descrição da doutrina e práxis social de um autor e a cristologia da sua época e do seu contexto. Já o prefácio norte-americano, escrito por Stanley Hauerwas, colega de Stephen Kimbrough Jr. na Universidade Duke 1, é especialmente estimulante pela sua valorização e caracterização do movimento wesleyano em escala maior, a partir do grau de proximidade das diversas igrejas metodistas dos movimentos sociais, em especial do movimento dos trabalhadores e trabalhadoras. Hauerwas destaca as limitações de ação de igrejas de classe média em suas atuações junto às camadas mais humildes da sociedade: A imaginação de uma igreja de classe média com relação ao pobre é limitada pela suposição de que a tarefa da igreja é fazer com que o pobre se torne abastado o suficiente para se tornar classe média (p. 9). Em tudo, os textos iniciais mostram uma abertura para o tema das igrejas junto aos pobres e às pobres na sociedade civil de setores eclesiais mais conservadores. Isso é muito promissor, mesmo que seja ainda não muito consequente, em termos eclesiásticos. E é disso, de fato, que o livro de Kimbrough trata: discutir a relação entre grupos religiosos, comunidades e igrejas como um todo e o pobre e marginalizado, nos séculos XVIII e XXI. A obra é organizada em cinco capítulos. Os três primeiros são baseados na obra de Charles Wesley (1707-1788) irmão de John Wesley (1703-1791), spiritus rector do movimento metodista na Inglaterra no século XVIII. Os dois últimos são direcionados às comunidades cristãs do século XXI. Na primeira parte, Kimbrough consulta, de forma ampla, sermões, o diário e os textos poéticos de Charles Wesley para, depois, propor uma teologia da graça radical (p. 95ss) e os passos para implementá-la (p. 101ss). Finalmente, apresenta três liturgias: Um convite à santidade social (p. 110s); Um convite à mordomia dos recursos (p. 114ss); e Um convite aos atos de misericórdia (p. 118ss). Uma das riquezas desse texto é, então, seu caráter interdisciplinar: ele transita entre o estudo histórico, a reflexão teológica e a aplicação pastoral. 1 De fato, Hauerwas é Gilbert T. Rowe Professor Emeritus of Divinity and Law da Duke University e Kimbrough research fellow, pesquisador associado, da Escola de Teologia. 318 Graça radical: justiça para o pobre e marginalizado a visão de Carlos Wesley: Helmut Renders

A bibliografia do livro é basicamente estadunidense, e apenas a parte histórica faz alguma referência a autores ingleses, especialmente, quando se trata das leis inglesas referentes aos pobres ingleses (poor laws) nos séculos XVII e XVIII. Ainda são mencionados Elsa Tamez e Manfred Marquardt, ambos na base de textos traduzidos para o inglês, e uma publicação do CMI. Dessa forma, o livro não escapa ao que se nota, em termos gerais, em relação à literatura dos estudos wesleyanos no âmbito da Igreja Metodista Unida: uma ampla ausência das contribuições da igreja global, inclusive dos países da América Latina. De fato, pelo tema, esperava-se, no mínimo, autores como Miguéz-Bonino. Isso é um alerta para o leitor e a leitora do texto: ele foi escrito para um contexto não-brasileiro. Isso também fica evidente no prefácio de Hauerwas: as igrejas metodistas norte-americanas com raízes mais radicais não são radicais no Brasil. Conteúdo do estudo Capítulos 1 a 3: Estudo histórico (p. 18-90) Estes capítulos ocupam mais de dois terços do livro. E isso é muito bem-vindo, devido ao fato de trazerem a voz original. Com tanta falta de textos originais, constituem-se numa contribuição muito importante. Pela organização, fica evidente a transversalidade do assunto movimento metodista inglês o pobre e marginalizado na vida e obra de Charles Wesley. Entendemos que, a partir desse estudo, sua contribuição para um cristianismo missionário e militante deve ser revista e atualizada. Não é mais possível dar continuidade a leituras apolíticas e descontextualizadas a respeito das lideranças do metodismo primitivo inglês. Metodologicamente, teria sido pertinente incluir uma breve biografia de Charles Wesley talvez em forma de linha do tempo para ler os textos a partir de seu contexto histórico (somente de uma forma muito pontual, as referências bibliográficas nos rodapés trazem o ano da criação do texto). Apesar das afirmações e conclusões não serem errôneas, elas se tornam mais generalistas e adquirem um caráter quase de princípios. Por conseguinte, perde-se uma maior noção da relação entre compromisso e cotidiano, e a construção contínua de uma práxis e teologia a partir dos desafios concretos da vida. Capítulo 4: Estudo teológico-pastoral (p. 91-109) Construir uma teologia em 15 páginas, com dois subcapítulos e 14 itens demonstra ser mais um rascunho do que um estudo plenamente desenvolvido. Mesmo assim, esta seção aponta assuntos essenciais. Porém, mais no senti- Revista Caminhando v. 21, n. 2, p. 327-321, jul./dez. 2016 319

do de um plano de ação do que como fundamentação teológica (para isso seria necessário, depois de discutir a posição de Charles Wesley no contexto da teologia da sua época, fazer o mesmo no contexto da teologia da nossa época). Não há referências a terceiros, trata-se mais de um resumo e de uma aplicação do anteriormente dito. Interessante são o destaque na hospitalidade eucarística ou a mesa aberta e a afirmação de práticas e técnicas inclusivas. O retorno do conceito da amizade (p. 104) muito querido a John e Charles Wesley é muito interessante, mas pouco explorado teologicamente. Trata-se de um conceito-chave da soteriologia, vinculado a uma teologia da reconciliação a cruz como sinal da superação da inimizade humana pela amizade divina em Cristo que desafia sistemas meritocráticos e sacrificiais. Esta linha rendeu a famosa frase: Metodistas são amigos de todos e inimigos de ninguém. Este lema não é a defesa de uma teologia burguesa tipo em cima do muro, mas expressão de uma teologia radical, que comunica a graça radical justamente a partir da ênfase na teoria da expiação, que se perdeu no tempo e no espaço e não somente no estudo de Kimbrough. 2 Além de lamentar a ausência desse desdobramento, é preciso reconhecer também que este acento da soteriologia radical de John e Charles Wesley se alia à contribuição de Kimbrough perfeitamente, e poderia ser acrescido em outro momento. Capítulo 5: Recursos pastorais (p. 110-121) As três liturgias propostas neste capítulo Um convite à santidade social (p. 110s); Um convite à mordomia dos recursos (p. 114ss); e Um convite aos atos de misericórdia (p. 118ss) contêm hinos traduzidos, que são traduções práticas para o dia a dia do trabalho pastoral. Concordamos com a intuição e a convicção subjacentes, segundo as quais não se muda nada no grupo social se não passar pelos ritos e celebrações. Para se inscrever nos passos necessários à ação, com corpo e alma, requerem-se liturgias. Em termos práticos, o livro, inicialmente, trouxe um recurso muito apropriado para facilitar este processo: um CD, com as canções, as letras e as músicas traduzidas. Infelizmente, houve um problema com os direitos autorais das letras e a distribuição do CD foi cancelada. Sugiro resolver este problema e lançar as músicas via Internet. O reconhecimento implícito de que falta, nas igrejas wesleyanas brasileiras, uma hinologia que dá conta da sua impressionante herança social ou do seu propósito social original, poderia levar também para outras ações, como a criação dessa hinologia. É importante lembrar que há uma tradição forte disso na América Latina. É uma pena, portanto, que 2 Atualmente, Joerg Rieger talvez seja o teólogo metodista estadunidense que mais avança nesta direção. 320 Graça radical: justiça para o pobre e marginalizado a visão de Carlos Wesley: Helmut Renders

Kimbrough não mencione este movimento, sendo uma das suas representantes a metodista Simei Ferreira de Barros Monteiro 3, uma das colaboradoras diretas em diversos projetos (Global praise, por exemplo). Questões de edição brasileira Não tinha como comparar o texto com o original inglês, mas a tradução parece ser boa. Infelizmente, a edição perde por um número considerável de descuidos editorais. Às vezes, não há espaços entre palavras (p. 29 e 81 e muitos rodapés) e encontram-se diversos problemas na formatação das referências bibliográficas. As notas de rodapé aparecem, às vezes, com a indicação do ano; e outras muitas vezes, sem indicação do ano. Há, igualmente, erros em relação aos nomes dos autores, e não se seguem as regras da ABNT. Considerações finais As igrejas que desejarem se informar sobre a herança social da Igreja Metodista, desde as suas origens, e reintegrar esta herança em sua práxis cristã encontram neste livro recursos amplos. O acadêmico que quer ser conduzido às fontes e origens da soteriologia radical correspondente à graça radical em Charles Wesley encontra acesso nunca compartilhado no Brasil, em língua portuguesa. O estudo se juntou ao trabalho feito pelo Centro de Estudos Wesleyanos CEW, da Faculdade de Teologia, desde 2003, inclusive com publicações sobre Charles Wesley (RAMOS, 2008). Recomendamos a sua literatura e esperamos que haja mais vivência da graça radical nas igrejas de tradição wesleyana mais à frente. Referências bibliográficas RAMOS, Luiz Carlos (Org.). Mil vozes para celebrar: tricentenário do nascimento de Charles Wesley. São Bernardo do Campo: Editeo, 2008. 236 p. Submetida em: 02-2-2016 Aceita em: 2-8-2016 3 Desde a década de 1980, Simei de Barros Monteiro vem contribuindo com músicas e letras neste sentido. Cf. seu Blog: http://www.hinologia.org/?page_id=1117# com muitos recursos. A hinologia dos movimentos sociais religiosos dessa década, à qual ela pertence, foi antecipada pela hinologia do evangelho social, outro recurso desconhecido no país (Hauerwas chama o movimento do evangelho social de burguês. De fato, houve um ramo conservador movimento de temperança e proibição; um ramo reformista e eventualmente burguês; e um ramo radical. Este último era uma expressão minoritária, mas, certamente, não burguês). Revista Caminhando v. 21, n. 2, p. 327-321, jul./dez. 2016 321