III HIGIENIZAÇÃO DE LODO ANAERÓBIO SUBMETIDO À CALEAÇÃO

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Transcrição:

III-359 - HIGIENIZAÇÃO DE LODO ANAERÓBIO SUBMETIDO À CALEAÇÃO Carlos Henrique Gomes Mendonça (1) Graduando em Engenheira Química pela Universidade Maurício de Nassau - Uninassau. Estagiário em Engenharia da COMPESA. Joseílda Oliveira de Almeida (2) Geógrafa pela FUNESO. Técnica Operacional em Saneamento na COMPESA. Valderice Pereira Alves Baydum (3) Engenheira Ambiental pela UNICAP. Química Industrial pela UFPE. Mestre em Eng. Química pela UFPE. Doutora em Eng. Química pela UFPE. Professora Assistente na UNICAP. Analista de Saneamento na COMPESA. Endereço (1) : Rua Dois Irmãos, 1012 Dois Irmãos Recife - PE - CEP: 52071-440 - Brasil - Tel: (81) 34129977 - e-mail: henrique_mendonca@hotmail.com RESUMO O lodo de reatores biológicos que trata esgotos domésticos, contém elevadas concentrações de contaminantes, por isso, torna-se importante submetê-los ao desaguamento e à higienização antes do seu destino final, evitando a adição direta de patógenos diversos e substâncias químicas não desejadas no solo agriculturável. O lodo de esgoto doméstico, após ter sido higienizado com a adição de cal, pode ter aproveitamento agrícola efetuado como corretivo de acidez e de fertilidade como a reciclagem da matéria orgânica e o aporte de nutrientes no solo, melhorando suas propriedades físicas, químicas e biológicas e a produtividade agrícola. Objetivou-se, com a realização deste trabalho, definir as doses de cal para higienização de um lodo gerado no tratamento secundário de esgoto doméstico, apresentar suas características químicas, após executada a caleação. O lodo analisado foi coletado no leito de secagem da ETE Dancing Days, Recife, PE, onde foi obtida a sua curva de incubação, adicionando-se diferentes doses (0, 15, 30 e 45 %) de cal hidratada, Ca(OH) 2. Para se manter o ph ligeiramente superior a 12, por mais de 2 h após ter sido realizada a mistura, a dose de cal a ser aplicada deve ser de 45%. Sendo assim, o presente trabalho vem relatar um estudo realizado em nível de bancada em uma estação de tratamento de esgoto projetada para a vazão nominal de 289 L/s. Os estudos realizados nessa estação possibilitarão a destinação e aproveitamento agrícola do lodo gerado. PALAVRAS-CHAVE: Lodo anaeróbio, estabilização alcalina, desaguamento. INTRODUÇÃO Muitas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) tem se deparado com um volume grandioso de lodo gerado em suas estações e procurado dispor de forma correta e aproveitando o potencial de seus resíduos com possibilidade de destinação agrícola. A partir de tal constatação, decidiu-se investigar em laboratório o uso de Cal Hidratada de como meio de higienização do lodo para estes fins. O presente trabalho contém estudos realizados no laboratório de qualidade da COMPESA com o lodo proveniente da estação de tratamento de esgotos de Dancing Days, em Recife/PE. Para melhor entendimento da importância deste trabalho é preciso que se conscientize de que a reciclagem agrícola tem proporcionado inúmeros benefícios tanto para o homem quanto para a natureza. Logo, a reciclagem transforma um simples resíduo em um importante insumo agrícola, que fornece nutriente e matéria orgânica ao solo. Grandes vantagens foram percebidas com a utilização do lodo na agricultura, a saber, redução da emissão de CO 2 causada pela incineração, necessidade de adição de fertilizantes químicos em menor quantidade e aumento do teor de matéria orgânica do solo (FEITOSA, 2009). O lodo quando é aplicado na agricultura promove benefícios para as propriedades físicas do solo, como por exemplo, a formação de agregados das partículas do solo, que por sua vez aumentam o tamanho dos espaços vazios, trazendo conseqüências diretas na melhoria de infiltração e retenção de água; permitindo também uma maior capacidade de aeração. 1

O trabalho foi planejado em duas etapas. Na primeira, realizou-se em laboratório uma investigação experimental utilizando-se cal hidratada como alcalinizante em diferentes concentrações. Na segunda etapa, baseando-se nos resultados obtidos na primeira, pretende-se aplicar na estação de tratamento de esgotos a dosagem ótima de Cal estudada, levando-se em conta os parâmetros físicos e químicos investigados em laboratório. Dos estudos realizados em laboratório concluiu-se que a escolha adequada da concentração de Cal hidratada pode proporcionar não só a possibilidade de tratamento do lodo da ETE, como também a reciclagem agrícola do lodo de esgotos. O desenvolvimento desse trabalho contou com o apoio e a participação da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA). MATERIAIS E MÉTODOS A ETE Dancing Days está localizada na área de Sítio Grande, no bairro da Imbiribeira e próxima a comunidade Dancing Days no município de Recife/PE. Possui uma vazão de 289 L/s que chega através de dez elevatórias de esgoto e atende aos bairros de Lagoa de Araçá, Imbiribeira, Ipsep, Vila Pinheiro, e as comunidades de Sítio Grande e Dancing Days. O princípio de tratamento de esgotos utilizados nesta ETE é o tratamento preliminar e primário simples (1) seguido de tratamento secundário por quatro reatores UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket Reactor) (2) e quatro Filtros Biológicos (3) (Figura 1). 3 2 4 1 Figura 1 Etapas de tratamento da ETE Dancing Days. Fonte: Adaptado do Google Earth, 2016 O lodo de esgoto gerado na fase secundária é desaguado em leito de secagem (4) (Figura 1), são 14 unidades com 5 m de largura e 12 m projetadas para receber 1.788 m 2. O lodo em estudo foi coletado no leito de secagem da ETE Dancing Days, sendo que o material, na ocasião da coleta, encontrava-se em secagem há 15 dias (Figura 2). 2

Figura 2 (a) Leito de secagem pronto para receber o lodo, (b) sendo descarregado e (c) com o lodo seco após 15 dias. O presente estudo foi dividido em duas etapas, sendo a primeira etapa a definição das doses de lodo caleado para correção do ph dos solos em estudo e a segunda etapa as análises de caracterização do lodo caleado. Para a primeira etapa as amostras compostas foram coletadas e as variáveis avaliadas foram: sólidos totais e ph, conforme mostra Tabela 1. Tabela 1 Caracterização lodo ETE PARÂMETROS BRUTA Umidade (%) 7,54 Sólidos Totais (%) 92,46 Sólidos Voláteis (%) 36,17 Sólidos Fixos (%) 56,29 Densidade (Kg/m³) 0,48 ph 4,55 As amostras coletadas foram acondicionadas em sacos plásticos, homogeneizadas e preservadas para análises físico químicas. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Esgotos da Gerência de Qualidade da Companhia de Saneamento de Pernambuco (COMPESA). As metodologias utilizadas foram: Determinação de ph: potenciometria Determinação do teor de sólidos e umidade: gravimetria em determinador de umidade A curva de incubação do lodo com Cal Hidratada (Ca(OH) 2) foi realizada na área externa da Gerência de Qualidade da COMPESA (Figura 3), sendo obtida com a aplicação de diferentes concentrações de cal hidratada: 15, 30 e 45 % em relação ao peso do material seco. Após 2 h, 24 h e 15 dias, de efetuada a mistura, o ph do material e demais parâmetros foram medidos. 3

Figura 3 - Etapas de preparação do lodo e caleação. Fonte: COMPESA, 2016. RESULTADOS O lodo analisado apresentou massa específica igual a 1,52 Kg/m 3 e os resultados de medição do ph em média 4,55 no lodo seco, este ph baixo, segundo pesquisa desenvolvida por Barros et al. (2005), pode ter sido reduzido com o desaguamento. Os autores sugerem que isto pode estar relacionado com fatores ambientais relativos à exposição dos lodos nos leitos de secagem, que causam perda de água. Os mesmos autores relatam que, no processo de secagem, ocorre a decomposição da matéria orgânica, sendo formados os ácidos orgânicos e liberados os cátions (K, Ca, Na, Mg e OH), que dão um caráter básico ao lodo e são lixiviados com a água, contribuindo assim para o decaimento do ph do lodo seco. Esta estabilização adicional da matéria orgânica é favorecida quando a permanência no leito de secagem se dá por período prolongado em temperaturas ambientes de até 36 C. O ph também foi medido após os tempos propostos em função das diferentes doses de cal hidratada aplicadas em função do teor de sólidos do lodo e estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1 Valores do ph do lodo após incubação com Cal hidratada LODO (g) Cal (g) Cal (%) ph 0 2h 24h 15d 69 15 7,8 8,0 8,5 8,0 500 139 30 8,2 10,0 8,0 8,0 208 45 10,0 12,0 12,0 9,0 Os resultados são confirmatórios de que a dose de cal deva aumentar com o tempo de reação, tendo em vista que deverá neutralizar a acidez gerada no processo de degradação biológica (Moreira et al.,2006) ph = -0,001C 2 +0,234C+4,622 Figura 1 (a) Comportamento do lodo de esgoto com cal hidratada, (b) Curva de elevação do ph com incubação e medição do ph após 2 horas de realização da mistura 4

A partir dos valores de ph como função da dose de cal, foram obtidas as curvas e a equação apresentadas na Figura 1. A análise de tais equações e gráficos indica que, para se manter o ph ligeiramente superior a 12, por 2 h após realizada a mistura, a dose de cal a ser aplicada no lodo deve ser de 45%, estando de acordo com o que preconiza o CONAMA 357/06 para estabilização com cal, mediante adição de quantidade suficiente para que o ph seja elevado até pelo menos 12, por um período mínimo de duas horas e permanecendo acima de 11,5 por mais 22 horas, sem que seja feita uma aplicação adicional de álcali. (BRASIL, 2006). Observou-se que após 15 dias o processo de degradação da matéria orgânica causou redução deste parâmetro. Foi proposta na Figura 1b a curva de elevação do ph nas condições estudadas. CONCLUSÕES Com base no trabalho realizado, concluiu-se que: As três concentrações testadas apresentaram elevação do ph com o aumento das doses de cal no lodo de Esgoto. Na caleação do lodo de esgoto doméstico produzido na ETE Dancing Days, Recife/PE, a dose de cal hidratada deve ser de 45%, considerando-se um tempo de reação de 2 h. Em relação à Resolução CONAMA 375/2006: O art. 7, 6 (estabilidade) Relação SV/ST < 0,7, neste caso a relação SV/ST = 0,39 que indica boa estabilidade do lodo. A aplicação única e exclusiva do lodo de esgoto caleado, estabelecida como corretivo de acidez do solo, melhora a fertilidade dos solos com vários macro e micronutrientes, embora possa não ser suficiente para atender as necessidades de K e P das culturas. Dando seguimento a pesquisa, em uma segunda etapa, faz-se necessária caracterização microbiológica do lodo caleado nos diferentes tempos estudados para avaliar a eficiência de higienização da caleação e quanto à presença de patógenos, para que seja liberada a aplicação em áreas de uso agrícola, com densidade de coliformes termotolerantes abaixo de 10 3 NMP/g ST (Número Mais Provável por grama de Sólidos Totais) considerado lodos classe A pela USEPA. As análises laboratoriais de ovos viáveis de helmintos deverão ser realizadas, cujos resultados de ovos viáveis e inviáveis de Helmintos garantirão mais segurança e informação sobre as características microbiológicas do lodo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. APHA, AWWA, WPCF. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 21ª ed. Washington: American Public Health Association, 2005. 2. ANDREOLI, C.V. (Coord.) Resíduos sólidos do saneamento: Processamento, reciclagem e disposição final. Rio de Janeiro: Rima, ABES, 2001. 282p. 3. BARROS, K.K. Florêncio, L.; Kato, M.T.0; Gavazza, S.. Desaguamento e estabilização alcalina de lodo anaeróbio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 23, 2005, Campo Grande. Anais Eletrônicos: Abes/MS, 2005, CD-ROM. 4. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 375. Define critérios e procedimentos, para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, n. 167, 30 ago 2006, p. 141-146. 5. JORDÃO, E. P.; PESSOA, C. A. Tratamento de Esgotos Domésticos. ABES 4ª edição, Rio de Janeiro 2005. 6. FEITOSA, M.C.A. (2009). Lodo de esgoto: algumas aplicações em engenharia. Monografia (Especialização em Engenharia Civil) - Universidade Católica de Pernambuco. Recife. Pernambuco. Brasil. 7. SANEPAR. 2001. 484p. (Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. 5

8. MOREIRA D.A.; FARAGE, J. A. P., CHAGAS, R. C.; LIMA, C. R. C. MATOS, A. T. Curva de incubação do lodo primário de esgoto doméstico. Simpósio Mineiro de Engenharia Ambiental, Viçosa, 2006. Anais, Viçosa, 2006 (CD-Rom) 9. PINTO, M.T. Higienização de lodos. In: ANDREOLI, C.V.; VON SPERLING, M.; FERNANDES, F. Lodo de esgotos: tratamento e disposição final. Belo Horizonte: DESA/UFMG. 6