EDUCAÇÃO PARA O LAZER: ENSAIOS DE UMA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR



Documentos relacionados
OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

em partilhar sentido. [Gutierrez e Prieto, 1994] A EAD pode envolver estudos presenciais, mas para atingir seus objetivos necessita

PROGRAMA ULBRASOL. Palavras-chave: assistência social, extensão, trabalho comunitário.

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO DIRETORIA DE ENSINO MÉDIO E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COORDENAÇÃO DE ENSINO MÉDIO

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

II. Atividades de Extensão

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

Bacharelado em Humanidades

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

Currículo e tecnologias digitais da informação e comunicação: um diálogo necessário para a escola atual

EL APRENDIZAJE CRÍTICO

Com-Vida. Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida

O Currículo das Séries Iniciais e a Educação para a Saúde

Por uma pedagogia da juventude

Educação para a Cidadania linhas orientadoras

DEMOCRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO

CHAMADA DE ARTIGOS do SUPLEMENTO TEMÁTICO A EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

VAMOS CUIDAR DO BRASIL COM AS ESCOLAS FORMANDO COM-VIDA CONSTRUINDO AGENDA 21AMBIENTAL NA ESCOLA

2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

PROJETO BRINQUEDOTECA: BRINCANDO E APRENDENDO

Curso: Diagnóstico Comunitário Participativo.

Comemoração da 1ª semana de Meio Ambiente do Município de Chuvisca/RS

INVESTIMENTO SOCIAL. Agosto de 2014

OBJETOS DE APRENDIZAGEM EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONHEÇA O AMBIENTE ATRAVÉS DO WIKI Rosane Aragón de Nevado 1 ; Janaína Oppermann 2

COMPETÊNCIAS E SABERES EM ENFERMAGEM

OFICINAS CORPORAIS, JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS - UMA INTERVENÇÃO COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

II TEXTO ORIENTADOR 1. APRESENTAÇÃO

Oi FUTURO ABRE INSCRIÇÕES PARA EDITAL DO PROGRAMA Oi NOVOS BRASIS 2012

COORDENADORA: Profa. Herica Maria Castro dos Santos Paixão. Mestre em Letras (Literatura, Artes e Cultura Regional)

tido, articula a Cartografia, entendida como linguagem, com outra linguagem, a literatura infantil, que, sem dúvida, auxiliará as crianças a lerem e

e construção do conhecimento em educação popular e o processo de participação em ações coletivas, tendo a cidadania como objetivo principal.

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

VIII JORNADA DE ESTÁGIO DE SERVIÇO SOCIAL

Pedagogia. Objetivos deste tema. 3 Sub-temas compõem a aula. Tecnologias da informação e mídias digitais na educação. Prof. Marcos Munhoz da Costa

11 de maio de Análise do uso dos Resultados _ Proposta Técnica

FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

COLEGIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE SECRETARIA ESTADUAL DO ESPÍRITO SANTO ELEIÇÕES, BIÊNIO CARTA PROGRAMA

PERSPECTIVAS CURRICULARES NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

PLANTANDO NOVAS SEMENTES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

introdução Trecho final da Carta da Terra 1. O projeto contou com a colaboração da Rede Nossa São Paulo e Instituto de Fomento à Tecnologia do

ESTÁGIO DOCENTE DICIONÁRIO

O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

VICE-DIREÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO REGIMENTO INTERNO DA COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO

POLÍTICAS DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS APRESENTAÇÃO

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

A AÇÃO COMUNITÁRIA NO PROJOVEM. Síntese da proposta de Ação Comunitária de seus desafios 2007

Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas Curso: Sistemas de Informação NORMAS DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES DO CURSO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA OS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES

EDUCAÇÃO AMBIENTAL & SAÚDE: ABORDANDO O TEMA RECICLAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR

Por que Projetos Sociais?

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

Projeto Político-Pedagógico Estudo técnico de seus pressupostos, paradigma e propostas

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE BIBLIOTECAS ESCOLARES NA CIDADE DE GOIÂNIA

PROJETO DAS FACULDADES MAGSUL 2013

CASTILHO, Grazielle (Acadêmica); Curso de graduação da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG).

PRÁTICA PROFISSIONAL INTEGRADA: Uma estratégia de integração curricular

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

O trabalho voluntário é uma atitude, e esta, numa visão transdisciplinar é:

O ORIENTADOR FRENTE À INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA NA ESCOLA REGULAR DE ENSINO

PROJETO interação FAMÍLIA x ESCOLA: UMA relação necessária

PÚBLICO-ALVO Assistentes sociais que trabalham na área da educação e estudantes do curso de Serviço Social.

Política de Sustentabilidade das empresas Eletrobras

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

BANCO DE AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA

Curso de Engenharia de Produção NORMAS DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES

NÚCLEO TÉCNICO FEDERAL

CURSO DE EDUCAÇÃO FISICA ATIVIDADES EXTRA CURRICULARES

Utopias e educação libertadora: possíveis fazeres na prática escolar participativa

EDUCAÇÃO E PROGRESSO: A EVOLUÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA ESTADUAL ELOY PEREIRA NAS COMEMORAÇÕES DO SEU JUBILEU

Palavras-chave: Educação Física. Ensino Fundamental. Prática Pedagógica.

Pedagogia Estácio FAMAP

A INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DO JUDÔ NO BENEFÍCIO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Organização dos Estados Ibero-americanos Para a Educação, a Ciência e a Cultura MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO

Situando o uso da mídia em contextos educacionais

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PSICOLOGIA DA FACULDADE ANGLO-AMERICANO

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

DIREITOS HUMANOS, JUVENTUDE E SEGURANÇA HUMANA

O POTENCIAL DE CONTRIBUIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA ASSESSORIA AOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA LUTA PELA SAÚDE

ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇO FÍSICO NA CRECHE ( os cantinhos ), que possibilitou entender o espaço como aliado do trabalho pedagógico, ou seja, aquele que

Ambientes Não Formais de Aprendizagem

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

Área de conhecimento: Economia Doméstica Eixo Temático: Administração, Habitação e Relações Humanas;

PROJETO CONVIVÊNCIA E VALORES

MANUAL PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS SOCIAIS. Junho, 2006 Anglo American Brasil

MAPEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DOS PROGRAMAS E PROJETOS DE EXTENSÃO PARA A CONSTRUÇÃO DO CATÁLOGO DE EXTENSÃO DA FURG

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

AS NOVAS DIRETRIZES PARA O ENSINO MÉDIO E SUA RELAÇÃO COM O CURRÍCULO E COM O ENEM

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE SETEMBRO DE 2012 EREM LUIZ DELGADO

Katia Luciana Sales Ribeiro Keila de Souza Almeida José Nailton Silveira de Pinho. Resenha: Marx (Um Toque de Clássicos)

1.3. Planejamento: concepções

Transporte compartilhado (a carona solidária)

PENSE NISSO: Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um é capaz de começar agora e fazer um novo fim.

ESTUDAR E BRINCAR OU BRINCAR E ESTUDAR? ESTUDAR E BRINCAR OU BRINCAR E ESTUDAR?

PROJETO INTELECTUAL INTERDISCIPLINAR HISTÓRIA E GEOGRAFIA 7º ANO A ESCRAVIDÃO EM UBERABA: PASSADO E PRESENTE

EMPREENDEDORISMO SOCIAL: economia solidária da teoria a prática a experiência UFRB/INCUBA e sociedade Danilo Souza de Oliveira i

Plano Integrado de Capacitação de Recursos Humanos para a Área da Assistência Social PAPÉIS COMPETÊNCIAS

Transcrição:

EDUCAÇÃO PARA O LAZER: ENSAIOS DE UMA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR Introdução Amanda Ferreira Furtado Rocha 1, Leonardo Machado Da Silva 2, Luar Lucia Fonseca De Araujo 3, Lúcia Cristina Novaes 4 Mauro Sérgio Da Silva 5 Este trabalho tem como finalidade apresentar os esforços iniciais para sistematização de uma proposta de intervenção da Secretaria de Educação de Vitória voltada à formação para o lazer. Inicialmente essa proposta visa orientar as intervenções em dois equipamentos públicos (o parque Mata da Praia e Praça dos Namorados) e um clube localizado no bairro Ilha do Boi. Nosso objetivo principal com essa proposta é oportunizar aos estudantes inseridos no Programa Educação em Tempo Integral 6 mais um espaço-tempo de desenvolvimento que vise à formação da cidadania plena por meio de práticas relacionadas à cultura corporal de movimento, com vistas à fruição de forma crítica e criadora dos espaços-tempos de lazer disponíveis no município de Vitória. Para dar inteligibilidade à proposta o texto está organizado da seguinte forma: busca inicialmente refletir sobre conceito de cultura e suas implicações para a educação escolar; sinaliza para a relação estabelecida entre cultura, educação e lazer; por traz alguns elementos de como está perspectivada a realização de uma proposta de formação audaciosa, qual seja, a formação para o lazer. Reflexões iniciais: alguns elementos conceituais sobre cultura e suas implicações para a educação escolar Como conceituar cultura pensando na complexidade do termo e, ainda, considerando que este tem sido debatido em diferentes campos? Para iniciar o diálogo nos reportamos aos dizeres de Taylor (apud GÓMEZ, 2001, p.13) que define cultura como aquele todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, leis, moral, costumes e qualquer outra capacidade e quaisquer outros hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade. Essa definição de cultura a apresenta como herança social e não biológica, além disso, vem se aligeirando os processos sociais que provocam a ressignificação desse termo, sendo debatido por diversas áreas de conhecimento. Na esteira de Guattari e Rolnik (2007, p.15), pode-se identificar que o conceito de cultura apresenta um caráter reacionário, por ser uma maneira de separar atividades em esferas às quais somos remetidos, [...] tais atividades, assim isoladas, são padronizadas, instituídas potencial ou realmente e capitalizadas para o modo de semiotização dominante, 1 Acadêmica do curso de Educação Física. Faculdade Salesiana Católica do Espírito Santo. 2 Acadêmico do curso de Educação Física. Universidade Federal do Espírito Santo. 3 Acadêmica do curso de Educação Física. Centro Universitário de Vila Velha. 4 Prof. ª Esp. em Educação Física Escolar e Educação Comunitária. Secretaria de Educação de Vitória Coordenação de Desporto Escolar. 5 Prof. Ms. em Educação Física. Secretaria de Educação de Vitória Coordenação de Desporto Escolar. 6 Esse programa consiste numa ação articulada entre as diferentes secretarias municipais de Vitória e instituições parceiras, tem como finalidade ampliar as possibilidades de formação de estudantes da educação infantil e ensino fundamental com ações no contra-turno.

ou seja, simplesmente cortadas de suas realidades políticas. Entende-se que talvez a questão aqui, não seja só conceituar cultura, mas interpretála, entendê-la como um fenômeno social através do qual os sujeitos interagem, refletem, compartilham, criam e recriam símbolos e significados. São esses significados que possibilitam as trocas, as associações, o estabelecimento de redes entre grupos sociais num determinado tempo e espaço. Vale ressaltar que só existe cultura entre humanos. Para Arendt (apud FORQUIN, 1993), ao nascer, as crianças não recebem somente a vida, mas são introduzidas num mundo que preexiste, portanto recebem, a partir do nascimento, educação e também a responsabilidade de substituir seus antepassados, preservando e dando continuidade de forma a perpetuar a experiência humana. Nesse sentido, pode-se sinalizar que a cultura se materializa a partir das relações, nas trocas estabelecidas entre os diferentes parceiros de interação, consistindo num processo de construção permanente. Portanto, as noções de cultura serão sempre parciais e provisórias, estando em constante transformação, condição que favorece o estabelecimento de novos significados, inclusive no que diz respeito à apropriação dos bens culturais relacionados à cultura corporal de movimento. Desse modo, a cultura representa uma construção social, sendo assim, não deve ser pensada como uma entidade isolada, livre das influências e dos anseios de consumo da sociedade capitalista, mas sim, percebê-la como integrante da dinâmica dos conflitos sociais. Corroborando com Forquin (1993, p. 10) quando assevera que há uma relação íntima e orgânica entre educação e cultura. A instituição escolar tem sido considerada, desde a sua criação, como a responsável pela educação no sentido de socialização e formação dos indivíduos, sendo que somente a ela foi atribuída à tarefa de transmissão de conhecimentos, competências, técnicas, valores, hábitos, como o conteúdo da educação (FORQUIN, 1993, p. 14). Desta forma, o papel da escola, enquanto instituição social é a transmissão cultural, partindo do pressuposto que a cultura é o conteúdo substancial da educação sua fonte e sua justificação última [...]. Compreendendo que a função da escola não se resume somente à função de transmissão cultural e, também, que não cabe apenas a ela essa tarefa, pode-se considerar a escola como um dos espaços sociais de acesso, troca, ampliação e produção de cultura, ou de culturas, pensando que no interior da mesma, como afirma Gomez (2007), existem culturas que se entrecruzam, possibilitando intercâmbios que vão permitir a construção de significados individuais e coletivos. A escola tem a função educativa de oferecer aos estudantes a possibilidade de entender os elementos da cultura com os quais tem contato no seu interior e fora dela, compreender as tensões e conflitos que esses elementos estabelecem com os outros espaços da sociedade e contribuir para sua participação na sociedade como sujeito autônomo, emancipado. Nesse bojo, fomentar processos formativos que oportunizem o desenvolvimento de uma cidadania plena, assume grande relevância no atual contexto educacional, e, é nesse ponto que ganha fôlego uma proposta de formação para o lazer que aperfeiçoe o usufruto dos equipamentos públicos disponíveis na cidade, bem como dos clubes que possuem isenção de impostos. Além disso, oferecendo horizontes para a elaboração de críticas e cobranças no nível do desenvolvimento de políticas públicas que garantam os direitos de acesso ao lazer como bem cultural a todos os cidadãos. Cultura, educação e lazer: como fica o corpo nessa relação? No modelo de sociedade vigente onde as informações são passadas de forma

galopante, questiona-se a existência da clareza de como essas informações refletem sobre o comportamento e os corpos dos indivíduos. Há de certa forma um desconhecimento de si mesmo, da sua história, da sua identidade, das suas particularidades, do seu corpo. Determinados grupos estão ficando padronizados e, de certa forma, se todos têm o mesmo padrão (corpos, cabelos, roupas, aparelhos eletrônicos, etc.) se tornam idênticos, não questionam, ou seja, estão na mesma fôrma. Nessa perspectiva o ser humano se torna um produto, a ênfase é dada à desempenho, ao resultado, à aparência e o corpo fica submetido ao mercado. Entretanto, muitos corpos subvertem a essa lógica de mercado, criando estratégias de desobediência a padrões estabelecidos. Submeter-se ou fugir ao padrão predominante está diretamente relacionado à forma como as pessoas se relacionam com a cultura e com os espaços de acesso, ampliação e ressignificação da mesma (escola, praça, teatro, parque, rua, museu entre outros). Hodiernamente, busca-se relacionar o prazer e o lazer ao consumo, vende-se constantemente a ideia de conhecimento/consumo, poder/consumo, beleza/consumo, felicidade/consumo, sucesso/consumo. Essas relações se dão também no campo do trabalho. Sendo consumidos, expostos e aproveitados como instrumentos e imagens no tempo e espaço do lazer, como ir a determinados lugares. O tempo e o espaço do lazer também são utilizados para meios de manutenção de um modelo corporal (ROSA, 2003). O que a educação e a escola têm a ver com isso? Como é tratado pela escola o corpo e os conflitos da sua relação com o modelo de sociedade capitalista? Qual a relação que existe entre corpo, cultura, educação, lazer e consumo? A escola educa para o lazer? Refletindo sobre a interpretação do termo cultura que foi trabalhado anteriormente, pode-se afirmar que o lazer é um direito social, um espaço de produção cultural, portanto, deve ser garantido a todos/as. Entretanto, somente aqueles/as que pertencem às classes sociais mais privilegiadas economicamente, usufruem do seu tempo livre com liberdade. O que diferencia a garantia do direito de acesso ao lazer e as possibilidades de escolha nas diferentes classes sociais, possui íntima relação com o acesso à informação, ao conhecimento e ao poder de consumo. A intenção é refletir sobre as possibilidades e estratégias que o corpo utiliza para não se submeter ao processo de mercantilização e como isso pode se dar a partir do papel da escola na perspectiva de educar também para o lazer. Para isso a necessidade de repensar a forma como a escola organiza seu currículo, os tempos e espaços escolares de troca de conhecimentos, a seleção do que deve ou não ser ensinado, da relação que a escola estabelece com outros espaços sociais como espaços potencialmente educativos. O lazer tem caráter interdisciplinar ligado à educação, saúde, habitação, transporte e serviço social, sendo necessária a interação entre os diferentes setores da sociedade, a fim de estabelecer ações concretas para o desenvolvimento de uma política de lazer consistente, para tanto, há a necessidade de entender e discutir novas formas de organização da sociedade (NELSON, 2001). Os espaços ao qual se desenvolvem atividades voltadas ao lazer, são propícios às evoluções culturais. Segundo Rosa (2003) a possibilidade de interagir com outros no espaço de lazer, tende a fomentar, a interação entre as diferentes dinâmicas culturais, permitindo a reinterpretação das perspectivas estabelecidas, fazendo com que os parceiros de interação reflitam, questionem e participem criticamente de suas construções como sujeitos da ação. Objetivos para os polos de intervenção voltados para o lazer O debate acerca do uso dos equipamentos públicos da capital voltados para o lazer

deve-se às nossas observações sobre a forma como a população de Vitória tem se apropriado desses espaços, notadamente, a população mais pobre (por um quantitativo significativo dos estudantes matriculados no sistema municipal de educação de Vitória) que tem ao longo da história tido uma série de negações de direito. Para tanto, pensa-se a organização do trabalho no Parque Mata da Praia, Praça dos Namorados e no Clube, inicialmente a partir dos seguintes objetivos: Democratizar o acesso a bens culturais construídos historicamente pela humanidade e que são fruto de debate no âmbito da formação para o lazer; Construir coletivamente conhecimentos relacionados aos temas da cultura corporal de movimento, fomentando o lazer como uma perspectiva fundante para o desenvolvimento da cidadania plena; Articular o lazer como uma dimensão da vida social, assim como a educação, saúde, emprego, dentre outras; Potencializar o desenvolvimento de práticas sustentáveis no âmbito do lazer, por meio do estabelecimento de uma política educativa que contribua para o desenvolvimento de níveis de autonomia relacionados às vivências no lazer; Articular essa proposta de intervenção a política de desporto educacional que vem sendo desenvolvida pela Secretaria de Educação de Vitória, buscando ressignificar os tempos e espaços disponíveis para a vivência do lazer, fomentando o valor das práticas em questão para o desenvolvimento dos sujeitos envolvidos em diversas dimensões, tais como: social, cultural, ambiental etc. Considerações parciais Ampliar as possibilidades culturais dos estudantes é um papel que a escola ainda pode cumprir de maneira potente, precipuamente, porque as construções, fruto de conflitos entre os interesses dos sujeitos que fomentam o processo de formação humana dos estudantes e os próprios interesses desses, engendram elementos que, a partir da ampliação da formação cultural, são potencializadas novas formas de ser e estar no mundo. Possibilita-se assim, caminhos para a contestação das situações de desrespeito mútuo, que vexam o indivíduo, como tentativas de sucumbir à existência do sujeito em seu contexto singular, submetendo-o às formas de cultura, socialmente, consideradas e veiculadas como legítimas para o consumo, formando guetos consumistas transitórios que se sujeitam e aguardam novas reformulações das modas. As possibilidades de ampliação dos saberes desencadeados pelas reconstruções do conhecimento que serão vividos durante os encontros sociais proporcionados pelas vivências nos pólos, podem vir a ser potencializadoras de novas formulações conceituais que avancem para além da submissão acrítica das novas modas. Isso reforça a ousadia de construir uma proposta que fomente o lazer como um direito que potencializa a cidadania plena, está pautada na compreensão de que os processos de formação ligados à dimensão do lazer são essencialmente emancipadores por propiciarem que sejam repensadas as formas como estão sendo utilizados os equipamento públicos que se destinam a esse fim, bem como suscita o desenvolvimento de políticas públicas cada vez mais voltadas para o atendimento de toda a população. Referências

FORQUIN, J. C. Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. GÓMEZ, A. I. P. A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal. Porto Alegre: Artmed, 2001. GUATTARI, F. ROLNIK, S. Micropolítica: Cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes. 8. ed. 2007. NELSON, C. M. Lazer e esporte: Políticas públicas. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. ROSA, M. C. Corpo e Cultura. In: ISAYAMA, H. F.; WERNECK, C. L. G. Lazer, Recreação e Educação Física. (Orgs.) Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 115-142.