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Transcrição:

História: Como Eseng conquistou melhor saúde e respeito.......... 388 Alguns resíduos não desaparecem...................................... 389 Resíduos mal geridos e misturados..................................... 390 Limpeza comunitária e recuperação de recursos........................ 391 Actividade: Uma caminhada comunitária pelo lixo.................. 391 História: Uma comunidade troca o lixo por dinheiro................ 395 Um programa comunitário de resíduos sólidos.......................... 396 Reduzir os resíduos....................................................... 396 História: Proibir os sacos de plástico................................. 397 Separar os lixos na origem............................................... 398 Fazer composto: Transformar resíduos orgânicos em adubo............ 400 História: Compostagem e reciclagem comunitária................... 401 Reutilize o que puder..................................................... 404 A reciclagem transforma o desperdício em recursos.................... 404 Recolha, transporte e armazenamento de resíduos..................... 406 Iniciar um centro comunitário de recuperação de recursos............ 407 História: Centros de recuperação de recursos....................... 408 Eliminar o lixo com segurança......................................... 409 Resíduos tóxicos...........................................................410 Aterros sanitários........................................................ 412 Alcançar zero resíduos................................................... 416 História: Uma vila luta com os resíduos sólidos e ganha............. 416 Os resíduos e a lei........................................................ 417 História: Filipinas proíbem a incineração e endurecem as leis sobre os resíduos..................................... 417

CENTRO DE RECUPERAÇÃO DE RECURSOS PLÁSTICOS Os resíduos sólidos designam-se por lixo, detritos, restos e por muitos outros nomes. Os resíduos sólidos não têm razão para causar problemas de saúde. Podem até tornar-se numa fonte de rendimento e em recursos para fazer novos produtos. Mas quando os resíduos sólidos não são recolhidos com segurança, separados, reutilizados, reciclados ou eliminados adequadamente, podem ser feios, malcheirosos e causar problemas de saúde graves. Muitos de nós deitamos fora as coisas, assumindo que alguém vai, de alguma forma, cuidar do nosso lixo. Demasiadas vezes, são as pessoas mais pobres que são forçadas a viver dentro, sobre ou com os resíduos causados pelo resto da sociedade. E são os mais pobres que habitualmente fazem o trabalho de recolha, selecção, limpeza e reciclagem de resíduos transformando-os em recursos. Embora todos concordem que este é um trabalho importante e necessário para proteger a nossa saúde e o meio ambiente, raramente as pessoas que o fazem são bem pagas ou tratadas com respeito. Para gerir os resíduos de maneira a eles não fazerem mal às pessoas ou ao meio ambiente, precisamos de reduzir a quantidade de resíduos que criamos e transformar o que podemos em materiais e recursos úteis. Todos, mas sobretudo as indústrias e os governos, devem assumir a responsabilidade pelos resíduos que criam e evitar a criação de resíduos em primeiro lugar pelo uso de produtos que são reutiliszáveis, recicláveis ou transformáveis em adubo.

Todos os dias, Eseng andava pela cidade de Bandung, na Indonésia, para apanhar lixo. Como a sua casa era longe dos bairros onde havia o melhor lixo, ele gastava quase todo o tempo a caminhar para a frente e para trás, transportando sacos pesados. Todas as noites, Eseng seleccionava o lixo para vender aos negociantes no dia seguinte. Alguns negociantes compravam vidro, outros compravam sucata de metal, e outros compravam papel. Mas as coisas que os negociantes não compravam acumulavam-se à volta da casa do Eseng. O seu quintal tornou-se numa lixeira confusa e perigosa, mas não havia nenhum lugar onde o Eseng pudesse deitar fora o lixo. Às vezes, ele apanhava infecções que duravam meses e que dificultavam o seu trabalho. De vez em quando, Eseng ficava com febre alta e arrepios de frio de malária, porque os mosquitos se reproduziam nos pneus no seu quintal. E, apesar do seu trabalho duro, a polícia incomodava-o muitas vezes quando o via a seleccionar o lixo em frente de lojas e nas ruas. Eseng e alguns outros apanhadores de lixo decidiram organizar um centro para os ajudar a vender o que recolhiam e a criar alguns benefícios através da partilha de conhecimentos, ferramentas e informação. Eles visitaram uma organização local que trabalhava para o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores e, em conjunto, tiveram a ideia de desenvolver um programa mais completo de recuperação de recursos. As pessoas da organização ambiental pediram ao governo da cidade que apoiasse o programa de recuperação de recursos e que fizesse com que a polícia e os donos das lojas tratassem melhor os apanhadores de lixo. O governo da cidade concordou e foi criado um centro onde Eseng e os outros podiam seleccionar o lixo que apanhavam. Cada um dos apanhadores de lixo recebeu um carrinho com rodas, que facilitava a recolha do lixo, o transporte para o centro, para selecção, ou a entrega directa aos negociantes de lixo. O centro de recuperação de recursos deu luvas e botas para proteger os trabalhadores dos objectos cortantes e do lixo contaminado. Quando as pessoas da organização ambiental souberam que Eseng tinha malária, ajudaram-no a tratar-se e a obter medicamentos no posto de saúde. Eseng ainda trabalha muito a apanhar lixo, mas a sua saúde melhorou e a sua casa já não parece uma lixeira. A polícia e os donos das lojas tratam-no, a ele e aos outros apanhadores de lixo, com o respeito que eles merecem por ajudarem a manter a comunidade limpa. E a cidade está orgulhosa do centro de recuperação de recursos e da sua cidade, mais limpa.

Os lixos são um problema em quase todo o lado, porque nós produzimos muitos resíduos. E, tal como vemos à nossa volta, os lixos feitos de plástico, vidro e metal não desaparecem. Antigamente, os alimentos e outros bens eram embrulhados em materiais naturais ou reutilizáveis, como por exemplo folhas de bananeira ou papel de jornal. Os recipientes e outras coisas úteis eram feitos de barro, madeira ou outros materiais tirados directamente da terra. Quando eles eram deitados fora, estes materiais não se transformavam em lixo, porque eles se decompunham rapidamente e voltavam à terra. Agora, com a indústria a usar materiais como plásticos, metais e produtos químicos, a maior parte dos produtos fabricados transformam-se em lixo quando já não os usamos. Tudo, desde garrafas, caixotes e sacos a carros e computadores, é feito com materiais que são fortes e leves, mas que levam muito tempo a decompor-se. Embalar as coisas em latas, garrafas e sacos de plástico torna mais fácil transportá-las e vendê-las, mas também cria muito mais resíduos. As pessoas costumavam usar cestos e sacos de pano para transportar as coisas. Agora usamos sacos de plástico, tornando-os num dos produtos de plástico mais habitualmente usados. Milhões deles são feitos e deitados fora todos os anos.

Quando os lixos se acumulam ou estão espalhados à volta das nossas comunidades, eles são feios, malcheirosos, desagradáveis e maus para a saúde. Quando os lixos não são separados, a quantidade de resíduos e os problemas que eles podem causar são maiores do que é necessário. Quando resíduos perigosos, como por exemplo pilhas velhas e lixos de hospitais, são misturados com resíduos como por exemplo papel e restos de comida, a mistura-se tornase ainda mais difícil e perigosa de manusear. Quando os resíduos não são eliminados adequadamente, eles causam problemas de saúde. Montes de lixo a céu aberto servem de local de reprodução para ratos, moscas, mosquitos, baratas e outros insectos que transportam doenças como malária, dengue, hepatite, febre tifóide e outras. Lixeiras e montes de lixo servem de local de reprodução de micróbios. Estes podem infectar as crianças que aí brincam e as pessoas que apanham o lixo procurando coisas para usar ou vender. Os micróbios podem causar problemas de saúde como diarreia e cólera, sarna, tétano, fungos e outras infecções da pele e dos olhos. O lixo entope os cursos de água e os canais de escoamento, levando a água a voltar para trás. Isto cria charcos de água estagnada (parada) que deixam que os insectos se reproduzam e causa cheias quando chove. Os canais de escoamento cheios que transportam fezes humanas e animais também contaminam os fornecimentos de água de beber e o solo. Quando os grandes montes de resíduos caem, eles magoam as pessoas que trabalham com os resíduos ou que vivem perto. Os produtos químicos tóxicos dos lixos infiltram-se nos pontos de água e no solo, envenenando as pessoas durante muitos anos. Às vezes, os montes de lixo contendo materiais tóxicos explodem ou pegam fogo. Quando os plásticos e outros resíduos tóxicos são queimados a céu aberto ou em incineradores, os produtos químicos perigosos são libertados para o ar e as cinzas tóxicas poluem o solo e a água. A curto prazo, estes produtos químicos tóxicos causam infecções no peito, tosse, enjoos, vómitos e infecções nos olhos. Com o passar do tempo, eles podem causar doenças como por exemplo cancro e defeitos de nascença (para mais informação sobre incineração, ver página 423). Para tratar os problemas de saúde causados pelos lixos, consulte o livro Onde Não Há Médico ou qualquer outro livro geral de saúde. Usar luvas, máscaras na cara e botas ou sapatos fechados pode ajudar a prevenir muitos dos problemas de saúde causados por trabalhar com resíduos sólidos (para mais informações sobre protecção no trabalho com lixos, ver página 406 e Apêndice A).

Proteger as nossas comunidades dos resíduos perigosos e transformar os resíduos em recursos melhora a saúde da comunidade e do meio ambiente e também faz poupar dinheiro. Por exemplo, um grupo de apanhadores de lixo na Argentina descobriu que, se todos os resíduos de papel na cidade de Buenos Aires fossem recolhidos e reciclados, eles poupariam 10 milhões de dólares americanos por ano. Se este dinheiro fosse usado para pagar a todos os apanhadores de lixo na cidade, cada pessoa poderia ganhar cerca de 150 dólares americanos por mês. Cada pessoa e cada comunidade podem assumir a responsabilidade de reduzir e eliminar os lixos com segurança. Mas, embora as comunidades possam fazer muito por si próprias, os resíduos são um problema político que só pode ser resolvido quando o governo, a indústria e as comunidades trabalharem em conjunto, tendo a melhoria da saúde das pessoas como meta. Os governos devem agir para reduzir o peso dos lixos na vida das pessoas e no meio ambiente, exigindo que a indústria fabrique produtos com tão poucos resíduos quanto possível (ver página 458). O apoio de programas do governo para incentivar as pessoas a reutilizar, reciclar e eliminar os lixos com segurança, faz poupar dinheiro, cria empregos e ajuda a resolver os problemas da comunidade (ver páginas 395, 401, 408 e 416). Uma caminhada comunitária pelo lixo cria uma oportunidade para as pessoas verem e discutirem os problemas do lixo. As pessoas podem dar voz às suas preocupações e esperanças de conseguir uma comunidade mais limpa e mais saudável. Durante e depois da caminhada, o grupo pode discutir que passos são necessários para limpar a comunidade e para planear a recuperação de recursos. ➊

➋ Há trinta anos atrás, nós produzíamos toda a nossa comida. Agora compramos a maior parte na loja. Vem tudo embrulhado em plástico que deitamos fora na rua. Agora há lixo por todo o lado! ➌

➍ ➎ ➏

➐ Causas Não há compostagem O lixo é queimado Há muitas garrafas e latas Desde que o novo supermercado abriu, tudo o que eles vendem vem dentro de plástico. Isto deve entrar na lista na coluna das causas. CAMINHADA PELO LIXO Problemas Maus cheiros e fumos Montes de lixo Efeitos na saúde Tosse Crianças mais doentes com asma Água poluída ➑

Não deite fora o seu lixo As favelas de Curitiba, no Brasil, tinham muitas fossas de lixo a céu aberto. Elas eram campos férteis para roedores que transportam doenças. Para lidar com este problema, o concelho municipal de Curitiba lançou um programa chamado Não deite fora o seu lixo nós compramo-lo. O concelho municipal descobriu quanto é que custaria limpar as lixeiras a céu aberto. Depois, em vez de contratar uma empresa externa para fazer o trabalho, descobriu qual o custo de cada saco com lixo e ofereceu esta quantia aos residentes. LIXO Nós compramo-lo! Comida Comida Comida Além de ganhar dinheiro com o lixo que apanhava, cada pessoa recebia um bilhete de transportes públicos de graça por cada saco que entregasse a um camião municipal de recolha. Como estes bairros ficavam localizados longe do centro da cidade, estes bilhetes eram muito valiosos. A cidade também retribuía com dinheiro por cada saco recolhido para desenvolver hortas comunitárias e outros projectos. Áreas que antigamente estavam cheias de lixo foram transformadas em hortas urbanas ou parques com árvores. A saúde comunitária melhorou. Imigrantes recentes, pessoas com deficiências ou outros que precisavam de trabalho recebiam empregos seguros a seleccionar lixo num centro de recuperação de recursos. Os restos de comida e os resíduos das hortas eram transformados em composto para uso nos parques da cidade e nos campos agrícolas e hortas locais. O plástico e o metal eram vendidos às indústrias locais. A espuma de plástico era triturada e usada para encher mantas. Alguns anos depois de o programa ter começado, a cidade tornou o projecto ainda melhor. Começaram a comprar comida directamente aos camponeses perto da cidade a um preço justo e ofereceram às pessoas um saco de alimentos frescos em troca de um saco de lixo. Isto ajudou os camponeses a venderem os seus produtos, melhorou a nutrição das famílias das favelas e limpou a cidade.

Assim que a comunidade tiver uma compreensão partilhada dos problemas causados pelos lixos, ela pode dar passos para resolver esses problemas, iniciando os projectos que melhor correspondem às necessidades e capacidades da comunidade. Um programa comunitário completo de resíduos sólidos incluiria todos os seguintes passos (saiba mais sobre cada passo nas páginas seguintes): a quantidade de lixos criados, sobretudo produtos tóxicos e produtos que não podem ser reciclados. onde eles são produzidos, para facilitar e tornar mais seguro o seu manuseamento. com os restos de comida e outros lixos orgânicos. materiais sempre que possível. materiais e fazer com que o governo e a indústria criem programas comunitários de reciclagem. os lixos com segurança. Respeitar e pagar salários justos às pessoas que fazem este trabalho. todos os lixos que não podem ser reutilizados ou reciclados. Tenham em conta as necessidades e capacidades das pessoas e comecem com o que vocês podem alcançar em conjunto, a curto prazo. Nem todas as comunidades vão ser capazes de dar todos estes passos, sobretudo no início. Os lixos que acabam nas nossas ruas, casas e campos começam com o fabrico industrial de produtos que não podem ser reutilizados ou reciclados. Um objectivo de um programa comunitário de resíduos é reduzir os lixos ao longo do tempo, ajudando as pessoas a usarem em primeiro lugar menos materiais que se transformam em lixo. Algumas formas de reduzir os resíduos são: Não comprar produtos embrulhados em muitos materiais de embalagem. Preferir o vidro e o papelão ao plástico e ao metal. Usar o seu próprio saco ou cesto de compras e recusar os sacos de plástico na loja. Comprar alimentos em maiores quantidades para reduzir a quantidade de embalagens que você traz para casa. Reutilizar ou reparar o que puder e comprar quando possível produtos em segunda mão.

Ventoínha As comunidades podem trabalhar com donos de lojas e governos locais para prevenir que os materiais que causam problemas de eliminação ou de saúde entrem na comunidade em primeiro lugar. A organização da comunidade pode fazer pressão sobre os governos para que eles façam leis que forcem os negociantes a reduzir o seu lixo e a assumir responsabilidade sobre os lixos que criam. Fora da aldeia de Emmonak, no Alasca, os sacos de plástico para fazer compras escapavam muitas vezes do aterro sanitário da aldeia e eram transportados pelo vento. Na aldeia vizinha de Galena, eles ficavam agarrados às árvores ou eram levados pelo vento até ao vizinho rio Yukon. Em Kotlik, onde o rio entra no mar, os sacos de plásticos eram encontrados enrolados à volta de focas e salmões mortos. Desde que as 3 aldeias proibiram os sacos de plástico em 1998, isto já não acontece. A seguir a estas aldeias, 30 outras comunidades no estado do Alasca proibiram os sacos de plástico e esta proibição está a espalhar-se. Nas vilas e cidades, as pessoas são incentivadas a usar sacos de papel ou sacos de pano, que podem ser usados uma e outra vez durante anos. Como parte da campanha contra o lixo de plástico no Alasca, o Departamento de Estado de Conservação Ambiental e o Conselho Intertribal da Bacia do Rio Yukon iniciaram um programa para ensinar as pessoas a reutilizarem os sacos de plástico, transformandoos noutras coisas. Agora, as pessoas cortam os sacos em faixas e fazem mochilas, malas de mão, tapetes para o chão, cestos e outros produtos úteis. Eles até os vendem, fazendo dinheiro com coisas que antigamente entupiam os esgotos e faziam lixo nas ruas.

Papel reiclavel Impedir os restos de comida de se misturarem com os resíduos de papel ou vidro, etc., facilita a reutilização, reciclagem e eliminação de materiais e ajuda a prevenir os problemas de saúde causados pelos lixos misturados (ver página 390). Separar os lixos é o primeiro passo para uma melhor gestão dos resíduos, embora só resolva o problema se houver uma boa maneira de lidar com os lixos, depois de os ter separado. A separação dos lixos faz parte de um sistema que inclui a reutilização, a compostagem, a recolha regular, a reciclagem e a eliminação segura. A maior parte dos lixos produzidos nas zonas urbanas e rurais é ou são (restos de comida e restos da horta, como por exemplo plantas mortas e folhas). O lixo orgânico é decomposto pela luz do sol e pela água, ou comido por seres vivos (vermes, insectos e bactérias) e transformado em composto (ver página 400). Habitualmente, há muito papel, vidro, metais e plásticos no lixo. Uma grande parte deste lixo é constituída por embalagens que foram deitadas fora. O lixo das casas também pode incluir materiais tóxicos, como por exemplo tintas, pilhas, fraldas de plástico, óleo de motores, pesticidas velhos e recipientes velhos de produtos de limpeza. Resíduos Húmidos Resíduos secos

Os lixos podem ser separados pelos agregados familiares e pelas empresas que os produzem, ou pelas pessoas que os apanham. Qualquer que seja o sistema que a sua comunidade usa para separar e recolher lixos para reutilizar, reciclar ou eliminar, é importante que aqueles que fazem o trabalho sejam respeitados e pagos pelos seus esforços. Os apanhadores podem ganhar dinheiro, separando e vendendo os itens mais valiosos e trazendo o que resta dos resíduos separados para o centro de reciclagem. Alguns apanhadores pagam uma pequena quantia aos agregados familiares pelo lixo separado ou cobram uma pequena taxa para recolher o lixo que não está separado. Se o lixo for separado em casa, o material seco pode ser mantido em recipientes dentro de casa até o virem buscar. Os recipientes para os resíduos molhados podem ser mantidos fora de casa e transformados em composto para a horta em casa, ou podem ser recolhidos por um projecto de compostagem no bairro (ver páginas 400 a 403).

Como a matéria orgânica é habitualmente a parte maior da maioria do lixo, separar e fazer composto com os restos de comida ajuda a reduzir em muito os lixos. Acrescentar composto ao solo é uma maneira de levar os das culturas de volta à terra. A melhor maneira de fazer composto depende da quantidade de espaço disponível. Pequenas quantidades de composto podem ser feitas em recipientes em cada casa ou negócio. Os locais de compostagem maiores podem ser criados nas vilas e cidades e em explorações agrícolas onde há espaço para grandes montes de lixo (para usar composto, ver página 287). ➊ ➋ ➌ ➍

Antigamente, Porto Novo, a capital do Benim, tinha montes de lixo a apodrecer nas ruas, tão altos como prédios de 4 andares. Como pode imaginar, isto causou muitos problemas de saúde. E o cheiro horrível tornava-a num lugar desagradável para viver. Algumas pessoas decidiram começar um centro de compostagem para transformar o lixo em adubo útil. Com o financiamento de uma organização de serviço social, eles encontraram um lugar espaçoso para estabelecer uma fábrica de reciclagem e compostagem. Uma organização francesa deu ao grupo de Porto Novo um tractor e 2 atrelados. Eles estacionaram os atrelados perto da estação de comboios e de um estádio de futebol e incentivaram as pessoas a porem ali o seu lixo. Agora, todas as noites, o tractor leva os atrelados cheios de lixo para o centro de reciclagem onde pessoas jovens seleccionam o lixo. Os resíduos orgânicos são deitados em valas e tapados com folhas de palmeira para fazer composto. Os cozinheiros do composto verificam a humidade, a corrente de ar e o calor com regularidade, para garantir que o lixo se decompõe rapidamente. Passados 2 meses, o composto está pronto para ser usado. Alguns jovens do projecto começaram a usar o composto nas hortas. Com fundos do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, o centro comprou sementes e terrenos para produzir culturas. Nesta região do Benim, o solo nunca foi rico e tornou-se pobre devido ao uso em excesso. Mas, com o seu composto para enriquecer o solo, os jovens horticultores são capazes de produzir legumes frescos nutritivos. Os aldeãos também compram o composto para fertilizar as suas hortas. O dinheiro que o centro de compostagem ganha com a venda de legumes e composto é usado para comprar mais equipamento e contratar mais jovens desempregados para trabalharem como seleccionadores de lixo e horticultores. Desta forma, o projecto sustenta-se a si mesmo e continua a crescer. ➊ ➋ ➌ ➍

➊ ➋ ➌ ➍ ➏ ➎

Independentemente do método usado, há maneiras de saber se o seu lixo se está a transformar num bom composto e não apenas numa grande confusão malcheirosa. Para se decompor, o composto precisa de lixo molhado, como por exemplo restos de comida, e lixo seco, como por exemplo capim, folhas castanhas, cascas ou papel cortado. Se o monte se mantém como um monte de comida a apodrecer, em vez de aquecer e se transformar em solo, pode precisar de mais restos secos e castanhos das plantas. Se o monte cheira mal ou não encolhe, precisa de mais ar. Vire o monte com uma pá ou abra buracos enfiando paus nele. Se o monte não aquecer, isso pode dever-se a demasiada ou muito pouca água. Vire o monte com uma pá. Se estiver muito seco, acrescente mais água. Se estiver muito molhado, acrescente menos água. Tapar o monte com um plástico preto também vai ajudar a mantê-lo quente. Se o composto tiver formigas, acrescente água. Se atrair moscas, precisa de ser tapado com mais solo. Passado um tempo, o composto deve transformar-se em solo preto rico e com um cheiro doce (para saber mais sobre como usar composto nas plantas, ver página 287). As pessoas têm ideias diferentes sobre o que faz um bom composto e o que não faz um bom composto. Por exemplo, algumas pessoas não põem restos de carne ou papel no composto. Muitas pessoas concordam que o estrume de cavalos e gado é bom para o composto, mas que as fezes dos cães e dos gatos não são boas. Folhas grandes ou folhas muito grossas vão decompor-se devagar. Se for acrescentado papel ou cartão, é melhor cortá-los em bocadinhos e mantêlos húmidos, para que eles se decomponham mais facilmente. A carne, os ossos e os restos gordurosos da cozinha atraem pragas e decompõem-se muito Feijão devagar. Algumas coisas nunca são boas para o composto. Plástico, metal, vidro e qualquer coisa que não seja directamente da terra não se vai decompor. As plantas que envenenam as pessoas ou outras plantas, como por exemplo o rícino e o eucalipto, não vão fazer um bom adubo. Pilhas

O lixo de uma pessoa é muitas vezes constituído por coisas úteis para mais alguém. Em todo o mundo, as pessoas poupam dinheiro e protegem o meio ambiente inventando métodos de reutilizar com segurança materiais que foram deitados fora. Com, faça sandálias, caixotes e máquinas para plantar sementes. Com, faça lâmpadas, máquinas para plantar sementes e castiçais para velas. Com faça sacos para compras. Com, faça chávenas, garfos e colheres. Com faça pratos e tigelas. Com faça fogões, lâmpadas e arte. O pode ser cortado em bocados e compactado para fazer isolamentos para a casa ou para fazer briquettes para queimar. A pode ser usada na compostagem, em casas de banho secas ou prensada para fazer briquettes com estrume e outra matéria orgânica e queimado como combustível. A reciclagem pega nos produtos que já não são úteis e transforma-os em materiais para fazer produtos novos e úteis. A reciclagem de alguns materiais (como por exemplo o metal e a borracha) deve ser feita em fábricas. Outros materiais, como por exemplo o papel e o vidro, requerem menos equipamento e espaço e podem ser reciclados em pequenas oficinas ou nas casas das pessoas. A reciclagem é uma maneira importante de reduzir a quantidade de resíduos. Mas a reciclagem requer apoio do governo e da indústria, bem como um compromisso por parte das comunidades e das pessoas. Se não há mercado para produtos reciclados, ou se eles não são reciclados em segurança, a reciclagem não é solução. A reciclagem reduz os resíduos transformando-os em novos produtos e também poupa energia usada no fabrico. Por exemplo, é preciso menos ⅔ de energia para reciclar o papel do que para fazer papel novo ou para fazer aço a partir de sucata de metal, em vez de o fazer com minério em bruto. Fazer alumínio a partir de sucata implica uma pequeníssima quantidade de energia, comparando com a energia necessária para fazer alumínio a partir de bauxite em bruto.

A reciclagem: Reduz a quantidade de resíduos sólidos que poluem o nosso meio ambiente; Reduz a quantidade de resíduos sólidos que precisam de ser eliminados, poupando espaço e dinheiro; Reduz o uso de recursos através do seu uso mais do que uma vez; Ajuda a economia local e nacional, porque é necessário importar menos matérias-primas; Cria empregos. A reciclagem preserva recursos de que você e eu precisamos para viver! Os materiais que podem ser reciclados dependem da indústria local de reciclagem. O é feito de areia, carbonato de sódio e cal. Quando é deitado fora, desgasta-se mas não se decompõe outra vez nos seus materiais de origem. Para reciclar vidro, ele deve ser separado por cor, derretido para transformar em líquido e moldado sob a forma de novos recipientes. Algum vidro também é reciclado em materiais usados nas estradas ou edifícios. Muitos produtos de vidro como garrafas podem ser lavadas e reutilizassadas sem serem recicladas. O é feito de um minério de metal chamado bauxite, que é extraído da terra. Ele não se decompõe no minério original, mas desgasta-se, tal como o vidro. O alumínio é reciclado sendo derretido e moldado novamente em novas latas e outras coisas. As latas de aço cobertas de, como por exemplo as latas de sopa ou fruta, são recicladas através da separação do estanho e do aço. O aço e o estanho são depois lavados e vendidos para fazer mais latas e outros produtos. A é feita de resina natural e petróleo. Às vezes, a borracha é reciclada sendo derretida ou partida aos bocadinhos e moldada novamente sob a forma de coisas novas. O é feito de madeira, algodão e outras plantas com fibras fortes. O papel é um dos poucos materiais que pode ser transformado novamente em papel. O papel comercial é muitas vezes reciclado em fábricas industriais. O papel também pode ser reciclado à mão, para fazer produtos de papel muito bonitos para a casa ou para venda. Os, como por exemplo computadores, pilhas, material electrónico, tintas, solventes e pesticidas, e os recipientes onde eles são guardados, precisam de manuseamento cuidado para que os trabalhadores da reciclagem não fiquem expostos aos produtos químicos tóxicos (ver páginas 410 a 411, e 459 a 462). Alguns destes produtos não podem nunca ser reciclados e, é por isso, que é melhor produzir, logo, menos quantidade destes produtos. Quando o plástico é reciclado, a sua qualidade diminui. Uma garrafa de plástico não é reciclada para se tornar noutra garrafa de plástico, mas sim para fazer qualquer coisa de menor qualidade. Por causa disto, o plástico só pode ser reciclado poucas vezes antes de já não poder ser usado. A reciclagem de alguns plásticos liberta um gás tóxico que é perigoso para os trabalhadores e para as comunidades (ver páginas 409 e 423). E muito do plástico destinado à reciclagem acaba por ser deitado nos aterros sanitários. É por isso que é melhor usar a menor quantidade de plástico possível.

Se a sua comunidade não tem um serviço de recolha de lixos de confiança, você pode organizar um, com a ajuda do governo e dos comércios locais. À medida que faz planos, lembre-se do que vai ser recolhido e se isso vai ser levado para revenda a um negociante maior de reciclagem ou para um programa comunitário de reciclagem. Quanto menor distância os seus resíduos percorrerem, melhor. Mas muitas comunidades não são capazes de reciclar os resíduos localmente, por isso, devem ser encontradas outras soluções. A maneira como os lixos são preparados para recolha, transporte e armazenamento depende de quanto espaço você tem, de quem vai fazer o trabalho, de quem vai comprar os resíduos e para que é que eles vão ser usados. Para prevenir os maus cheiros e a propagação de micróbios, os materiais devem ser limpos, secos e espalmados ou amontoados para ocupar o menor espaço possível e reduzir a possibilidade de acidentes. Computadores, rádios e televisões contêm muitas peças que podem ser revendidas e recicladas, mas muito do que eles contêm é tóxico. É melhor estes materiais serem separados depois de receber formação sobre cada produto e usar equipamento protector de segurança (ver Apêndice A) e boa ventilação. Todos os recipientes de materiais tóxicos precisam de manuseamento especial (ver páginas 410 a 411). Os apanhadores de lixos estão em risco, por causa de todos os problemas de saúde que estão associados aos resíduos. Para prevenir danos, os apanhadores de lixos precisam de formação sobre como se prevenir de alguns problemas de saúde e onde devem ir para receberem tratamento se vierem a surgir problemas. Se os apanhadores de resíduos se organizarem em cooperativas ou pequenos negócios, pode ser mais fácil concentrar recursos e conseguir o apoio do governo e da comunidade para comprar equipamentos de segurança e tornar o trabalho tão seguro quanto possível.

Um centro de recuperação de recursos é um lugar onde os materiais reutilizáveis e recicláveis são recolhidos para venda ou reutilização. Também pode ser um lugar para começar um projecto de compostagem ou uma horta, para fazer novos produtos a partir de materiais velhos e para trocar bens como por exemplo roupas, cortinados, aparelhos, mobiliário, sapatos, garrafas de vidro, panelas, utensílios, materiais de construção, etc. Algum deste lixo é útil mas eu não sei quem poderá usá-lo! PARA TROCA MATERIAIS DE GRAÇA VIDRO E METAL PAPEL

Várias comunidades das Filipinas têm centros de recuperação de recursos criados pelos governos locais e por uma organização chamada Fundação Mãe Terra. Estes centros de recuperação de recursos inspiraram programas comunitários de resíduos sólidos em todo o país e ajudaram a mudar todo o sistema de gestão de lixos. Os agregados familiares foram incentivados a separar os seus lixos e a limpar os materiais que podem ser reutilizados e reciclados. Algumas comunidades aprovaram uma lei para reduzir os maus cheiros, impedindo as pessoas de amontoarem o lixo na rua. As pessoas mantêm os lixos orgânicos em recipientes fechados dentro de casa ou transportam-nos para depósitos de compostagem colocados em toda a comunidade. Todos os dias, os trabalhadores de um centro de recuperação de recursos viajam através das comunidades com carrinhos de 3 rodas para recolher os resíduos orgânicos, recicláveis, e os resíduos a serem eliminados. Às vezes, as pessoas são pagas pelos seus produtos recicláveis. Tudo é trazido para o centro de recuperação de recursos, que tem 2 partes principais: Uma horta ecológica, onde a matéria orgânica é transformada em composto e usada para produzir legumes para venda à comunidade. Um abrigo ou armazém ecológico, onde os produtos recicláveis limpos são guardados antes de serem vendidos a lojas de sucata, empresas ou fábricas de reciclagem. Alguns centros também criam áreas de trabalho onde as pessoas fazem produtos novos a partir de materiais velhos. As embalagens de sumos são espalmadas e cosidas umas às outras para fazer sacos. As garrafas de vidro são transformadas em copos para beber. Os jornais velhos são cortados às tiras e transformados em cestos e sacos que são cobertos com cola ou resina para os tornar rijos e duráveis. Estas coisas são vendidas para dar algum rendimento às pessoas que as fizeram e para pagar os custos de gerir os centros de recuperação de recursos. Os centros reduziram drasticamente a quantidade de lixo nas suas comunidades. Em vez de viverem com montes de lixo malcheirosos, as pessoas agora ganham um rendimento extra a partir de materiais reutilizados e reciclados e produzem mais legumes usando composto feito com restos de comida.

Tudo o que não possa ser reutilizado, reciclado ou transformado em composto deve ser eliminado com segurança. Algumas pessoas dizem que o melhor é queimar o lixo. Outros preferem enterrá-lo, evitando o fumo produzido pelo lixo queimado. A verdade é que ambas as formas de eliminar o lixo trazem problemas. Nos lugares onde o papel e o papelão não podem ser reutilizados, reciclados ou transformados em composto, podem ser cortados aos bocadinhos e queimados em fogos para cozinhar e aquecer. Mas queimar plástico ou borracha, mesmo que sejam pequenas quantidades, liberta produtos químicos tóxicos como dioxinas e PCBs que causam muitos problemas de saúde (ver Capítulo 16 e página 423). Eu acho que o fumo do plástico é pior do que os ratos! Eu queimo o meu lixo para manter a minha casa limpa e sem ratos. Ratos ou fumo, tudo é mau. O melhor seria não produzir tanto lixo em primeiro lugar. O lixo que não pode ser manuseado de qualquer outra forma, pode ser enterrado em pequenas valas ou num aterro sanitário (ver página 412). Para enterrar lixo numa vala pequena, cave simplesmente um buraco numa área longe de pontos de água, ponha o lixo no buraco e tape com solo. Quando o lixo que contém produtos químicos perigosos é enterrado, estes produtos químicos podem passar para o solo e contaminar a água de beber. Se não existe uma maneira segura de eliminar o lixo tóxico (por exemplo, devolvendo-o ao fabricante ou tratando-o para que deixe de ser tóxico), o melhor é pô-lo num aterro sanitário seguro.

Os resíduos tóxicos são lixos que contêm produtos químicos que são muito perigosos para a nossa saúde e para o meio ambiente (ver Capítulo 16 para saber como é que os produtos tóxicos são perigosos para nós). A melhor maneira de prevenir os danos causados pelos resíduos tóxicos é parar com a sua produção. Os governos devem proibir os produtos e os processos de produção que fazem resíduos tóxicos. As comunidades podem promover o uso de alternativas aos produtos caseiros tóxicos e os sindicatos podem promover alternativas na indústria. Tornar convenientes os centros de recolha ou entrega de produtos tóxicos pode impedi-los de poluírem a terra e os sistemas de água das comunidades (para saber mais sobre os substitutos mais seguros dos produtos caseiros tóxicos habitualmente usados, ver página 373. Para saber mais sobre produtos tóxicos, ver Capítulos NÃO 14, 16 e 20). PESTICIDA Água para beber Como a eliminação segura de resíduos tóxicos pode ser complicada e cara, é melhor que os governos façam cumprir directivas para o uso, armazenamento e eliminação de produtos tóxicos. Isto deve incluir a educação e a formação de membros das comunidades sobre como manusear e eliminar, com segurança, os resíduos tóxicos. Aqui estão algumas directivas práticas sobre como lidar com resíduos tóxicos: Guardar os produtos tóxicos longe dos alimentos e da água e longe do alcance das crianças. Manter os produtos tóxicos nos seus recipientes originais e nunca retirar as etiquetas. Isto ajuda a impedir que os recipientes sejam reutilizados para guardar água ou comida. Manter os lixos tóxicos separados de outros lixos caseiros. Não queimar lixos tóxicos! Isto espalha os produtos químicos através da cinza e do fumo e por vezes cria ainda mais químicos perigosos. Não deitar materiais tóxicos nas latrinas, casas de banho, canos, canais de drenagem e cursos de água ou no chão. Consulte as autoridades locais de saúde e os centros de recuperação de recursos para conhecer as melhores formas de eliminar os resíduos tóxicos na sua área.

Estes produtos caseiros comuns criam resíduos perigosos, se não forem tratados com cuidado, e eliminados com segurança. Guarde as latas de tinta, fechadas, num lugar fresco. Assim que toda a tinta tiver sido usada, espalme os recipientes de tinta, embrulhe-os em papel de jornal, ponha-os em sacos de plástico e enterre-os num aterro sanitário. A tinta com látex é menos tóxica do que as outras tintas, mas precisa dos mesmos métodos de eliminação que as outras tintas. (desengordurantes, terebintina, produtos para retirar tinta). Guarde os solventes em recipientes fechados, num lugar fresco, para que eles não dêem origem a incêndios. Assim que o solvente tiver sido totalmente usado, faça buracos nos recipientes para que eles não possam voltar a ser usados. Espalme os recipientes, embrulhe-os em papel de jornal, ponha-os em sacos de plástico, e enterre-os num aterro sanitário ou em recipientes selados. Nunca deite óleo no chão ou nos cursos de água. Guarde-o em recipientes fechados. Às vezes, as latas de óleo usado podem ser recicladas nas estações de serviço automóvel. O óleo de motor usado também pode ser usado para cobrir postes de madeira para construção, para os impedir de apodrecerem no chão, e também pode ser queimado como óleo para aquecimento em alguns Líquido para pulgas aquecedores. e carraças. Nalguns lugares, as pilhas podem ser recicladas. Mas reciclar pilhas, manualmente, é perigoso e não deve ser feito sem formação adequada e equipamento de protecção.. Faça buracos ou destrua os recipientes de pesticidas, para que eles não possam ser reutilizados. Enterre-os num aterro sanitário. Para aprender a usar menos pesticidas na agricultura ou em casa, ver Capítulo 15 e página 367. Diluente de tinta Lixívia Pó para insectos Permanente para o cabelo TINTA como por exemplo ligaduras com sangue, agulhas sujas e outros instrumentos cortantes, medicamentos que foram deitados fora, etc. Para aprender a reduzir, guardar e tratar melhor os lixos provenientes dos cuidados de saúde, ver Capítulo 19. Pilhas Desengordurante

Um aterro sanitário é um buraco com a base protegida, onde o lixo é enterrado em camadas, compactado (pressionado para baixo para o tornar mais sólido) e tapado. Um aterro sanitário pode reduzir os danos causados pelo Lixeira da vila Se você pode reciclar ou fazer composto, não deite o lixo aqui! lixo que foi recolhido e é mais seguro do que uma lixeira a céu aberto. Mas, até mesmo o melhor aterro sanitário, pode ficar cheio e, passados muitos anos, provavelmente começar a ter fugas. Para resolver os nossos problemas com os lixos, ainda precisamos de prevenir a existência dos lixos, em primeiro lugar. E difícil transformar lixeiras a céu aberto em aterros sanitários. Em vez disso, a comunidade pode construir um novo aterro sanitário e limpar o lugar antigo, transportando o lixo para o novo lugar. Um aterro sanitário protege a saúde da comunidade quando: É construído longe do lugar onde as pessoas vivem; É tapado para prevenir a reprodução de insectos e de outros animais que transportam doenças; Tem um revestimento de solo argiloso bem compactado ou de plástico para impedir que os produtos químicos e os micróbios contaminem a água subterrânea. Como a construção e manutenção de um aterro sanitário implica muito trabalho, habitualmente é necessário que isso seja feito em parceria com a comunidade, o governo local e outras organizações, como por exemplo igrejas ou empresas. Um aterro sanitário só protege a saúde da comunidade se for bem gerido. A boa gestão inclui formação, apoio aos trabalhadores do aterro e trabalho em conjunto com os centros de recuperação de recursos, com os apanhadores de resíduos tóxicos e com o governo local. O primeiro passo no planeamento de um aterro é escolher um lugar. Na maior parte dos lugares, o governo requer uma avaliação do lugar (uma inspecção de perto das condições do lugar) antes da construção. Isto significa um estudo do tipo de solo e rochas, dos tipos de plantas que ali crescem e da distância em relação as fontes de água e casas. Deve-se ter a certeteza de que não é uma zona de cheias. Para haver saúde e segurança, o aterro deve estar pelo menos à distância de: 150 Metros das águas da costa; 250 Metros de pontos de água doce, como por exemplo rios, lagoas ou pântanos; 250 Metros de florestas protegidas; 500 Metros das casas e de poços ou outros pontos de água de beber; 500 Metros de linhas de falhas de terramotos. A base do buraco do aterro deve estar pelo menos 2 metros acima do nível de água subterrânea mais alto.

O tamanho do buraco do aterro depende da quantidade de lixo que vai ser posta nele. Todos os buracos devem ser mais estreitos na base do que no topo, para os impedir de se desmoronarem. Este formato também ajuda a compactar o lixo, porque há mais peso em cima do que em baixo. Um sinal colocado na entrada do aterro, com as horas da sua abertura, vai ajudar os trabalhadores a controlar melhor o que ali é deitado, quando e como. Sad Para proteger a água subterrânea, o aterro precisa de um revestimento protector na base. Um bom revestimento pode ser feito compactando camadas de barro, saibro e solo. Construir um aterro numa área com solo argiloso duro torna este trabalho mais fácil. Se houver recursos para criar um revestimento protector melhor, camadas de plástico e tecido grosso vão dar maior protecção e pode ser construído um sistema de tubos e bombas para retirar os líquidos.

A maneira de encher o aterro depende da quantidade de lixo, de quanto tempo as pessoas têm para fazer o trabalho e do clima local. Em lugares com muita queda de chuva e pouco lixo, como por exemplo as vilas que praticam uma política de zero resíduos (ver página 416), cada semana ou mês você pode cavar um novo buraco revestido com barro e saibro (em camadas mais finas do que um aterro maior precisaria). Alguém assume a responsabilidade de trazer o lixo, encher o buraco, compactar o lixo e tapá-lo com solo. Enterrar o lixo, pouco a pouco, previne a água de se acumular nos buracos. Para uma comunidade com uma grande carga de lixo, é mais fácil cavar um buraco grande. Os trabalhadores do aterro acrescentam lixo ao buraco, à medida que ele é trazido. De cada vez que o lixo é acrescentado, ele é pressionado para baixo, para fazer uma camada regular, e depois é tapado com folhas grandes (por exemplo, folhas de palmeira, de bananeira ou de palmito) e uma camada de solo, ou uma mistura de solo, cinza e areia. Isto vai prevenir os maus cheiros e impedir os insectos de se reproduzirem. Fazer um telhado grande sobre o buraco vai manter a chuva afastada. Quando um aterro está cheio, deve ser fechado com uma camada de solo de pelo menos 90 cm de profundidade. Flores selvagens ou capim podem ser plantados sobre o aterro, mas não plantas que vão ser comidas, como por exemplo legumes ou árvores de fruto. Até que o aterro esteja completamente coberto por plantas, é melhor manter afastados os animais que pastam.

Um buraco, onde o lixo é deitado e depois coberto com solo pode ser mantido com segurança e com poucos problemas. Mas ele pode desenvolver problemas se o lixo líquido e um gás (metano) se acumularem no aterro. Se a água das chuvas se infiltrar no aterro, ela vai criar um lixo líquido malcheiroso que pode transportar venenos do lixo para a água subterrânea. É por isso que é importante revestir bem o aterro e não o fazer perto de um rio, ribeiro ou lago. A melhor maneira de prevenir a formação de lixos líquidos é manter o aterro coberto com um telhado ou uma lona ou cobertura de plástico, até ele ser fechado. Nos aterros que contêm lixo misturado, as bactérias podem crescer e criar gás metano. O metano pode explodir ou pegar fogo, se não for tratado com cuidado, e vai contribuir para o aquecimento global (ver página 33). Em muitos lugares, o metano dos aterros sanitários é captado e usado para gerar electricidade. Se você não tiver recursos para o fazer, a melhor coisa a fazer com o metano é criar respiradouros para ele sair. Um respiradouro simples é constituído por uma chaminé feita com pequenas pedras, seguras numa forma circular ou quadrada por uma rede de arame, ou usando tambores de 200 litros sem a parte de cima e de baixo. A altura do respiradouro é levantada à medida que o aterro aumenta. O número de respiradouros necessários depende do tamanho do buraco e do tipo de lixo no aterro. Um aterro que tenha sido fechado e que tenha capim ou plantas a crescer em cima, pode, mesmo assim, libertar metano. Se houver manchas de capim morto, sobretudo se elas tiverem a forma de um círculo, isto é sinal de que o aterro está a libertar metano. Coloque sinais e avise as pessoas que estão a pelo menos 10 metros de distância do aterro, de que pode haver uma explosão acidental. Os profissionais treinados devem examinar o aterro para decidir a melhor forma de prevenir uma explosão.

As comunidades em todo o mundo estão a descobrir formas de reduzir os seus lixos para quase nada, com o objectivo de terem zero resíduos. Zero resíduos, significa reduzir os lixos e reciclar o resto, devolvendo-o à natureza ou ao mercado, sob formas que protegem a saúde e o meio ambiente. Para alcançar o objectivo de produzir zero resíduos, as indústrias têm que assumir a responsabilidade de produzir menos ou nenhum dos produtos que só são usados uma vez, como por exemplo os plásticos. As cidades e as vilas podem criar programas de resíduos sólidos que fazem composto, reciclam e reduzem os resíduos. Para ser bem-sucedido, o planeamento deve incluir as pessoas mais afectadas pelos lixos (para aprender mais sobre a questão de zero resíduos, ver secção de Recursos). Kovalam, uma bonita vila de praia no sul da Índia, é um lugar famoso para os turistas. Mas o turismo em Kovalam quase acabou por causa de demasiado lixo. Durante 30 anos de turismo, Kovalam nunca teve uma maneira segura de eliminar o lixo. Falta de caixotes do lixo, falta de um programa de reciclagem, pouco uso de composto e milhares de visitantes ano após ano deixaram Kovalam enterrada em lixo. Os sacos de plástico entupiram os canos de água da vila, os mosquitos reproduziram-se nos montes de lixo e a vila cresceu feia e pouco saudável. Os representantes do governo local decidiram começar um programa de recolha de lixos e instalar um incinerador para queimar o lixo. Mas muitas pessoas diziam que queimar só iria transformar o lixo em fumo e cinza tóxicos que iriam encher o ar. Depois de muito debate, o incinerador não foi construído e o governo pediu aos grupos que se opunham ao incinerador que sugerissem uma alternativa. Guiados por uma organização chamada Grupo de Conservação Thanal, a comunidade propôs um sistema de zero resíduos. Pessoas de outras comunidades vieram visitar para partilharem ideias sobre os programas de zero resíduos. Uma mulher, Murali, mostrou como é que fazia e vendia tigelas, chávenas, colheres, sacos e outros produtos úteis a partir de cascas de coco, folhas de palmeira e restos de papel. Ao promover a compostagem e novas formas de reutilizar as coisas deitadas fora, o programa Zero Resíduos em Kovalam nasceu. Em poucos anos, Kovalam ficou limpa e bonita e mais próspera do que nunca. Agora tem uma nova atracção turística: o Centro de Zero Resíduos. Agora, muitos restaurantes locais usam as chávenas feitas com casca de coco e os pratos feitos com folhas. As mulheres do Centro de Zero Resíduos produzem legumes e bananas em solo enriquecido com composto e a vila construiu uma fábrica que usa resíduos humanos e animais para produzir electricidade (ver página 540). Kovalam tornou-se num exemplo para toda a Índia e para o mundo, mostrando como é que a política de zero resíduos pode repor e melhorar a saúde e a beleza natural de uma comunidade e proteger o meio ambiente para as gerações futuras.

A maior parte dos governos tem políticas e directivas para gerir os lixos. Um dos objectivos da acção comunitária é garantir que essas políticas protegem a saúde das pessoas e o meio ambiente. Outro objectivo é mudar as políticas se elas não protegerem a saúde e o meio ambiente. Durante muitos anos, os lixos nas Filipinas amontoavam-se em lixeiras a céu aberto ou eram queimados. Mas, à medida que a poluição piorou com mais e mais lixo, muitas comunidades começaram a pressionar o governo para proibir a queima de lixos, para criar um programa de reciclagem e para prevenir as lixeiras a céu aberto. A campanha começou em 1985 com um programa de educação. Os activistas viajaram por todo o país para ensinar às comunidades melhores formas de prevenir a criação de resíduos. Eles mostraram às pessoas como reduzir o lixo e como separar lixos para serem transformados em composto, reutilizados ou reciclados. Convidaram as pessoas de todas as classes sociais, desde camponeses a políticos e padres, para trabalharem em conjunto para reduzir os lixos nas suas comunidades. Ao mesmo tempo, educaram as comunidades e os representantes do governo sobre a contaminação tóxica libertada pela queima de lixos. Os membros da campanha mostraram como é que as toxinas dos lixos queimados apareciam nos ovos e noutros alimentos comuns. A sua pressão sobre o governo valeu a pena quando a incineração foi proibida em 1999 por uma nova lei chamada Lei do Ar Limpo. Em 2000, o governo começou um programa de reciclagem e também aprovou uma lei para transformar todas as lixeiras a céu aberto em aterros sanitários. Em 2001, o governo aprovou a Lei da Gestão Ecológica dos Resíduos para criar centros de recuperação de recursos em muitas vilas e cidades. Os membros da campanha continuaram a trabalhar para garantir que as leis beneficiavam os mais afectados: as pessoas que recolhem, seleccionam e reciclam os resíduos. Leis como estas são importantes para estabelecerem o padrão para a forma de lidar com os resíduos. Quando as pessoas assumem responsabilidade pelos seus próprios lixos e pressionam os fazedores de leis para que façam leis justas e as façam cumprir com justiça, todos beneficiam.