LEVANTAMENTO HERPETOFAUNÍSTICO DE UMA ÁREA DE CERRADO EM ALTO ARAGUAIA, MATO GROSSO, BRASIL



Documentos relacionados
RÉPTEIS SQUAMATA DE UMA ÁREA DE TRANSIÇÃO FLORESTA- SAVANA NO OESTE DO ESTADO DO PARÁ, BRASIL

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DA HERPETOFAUNA EM ÁREAS DE CONSERVAÇÃO NO MUNICÍPIO DE BOREBI, SÃO PAULO.

ANUROFAUNA DA ÁREA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NILTON LINS, MANAUS, AMAZONAS, BRASIL (AMPHIBIA; ANURA)

Federal do Espírito Santo. Santo. * para correspondência:

ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO DE ANFÍBIOS ANUROS NA FAZENDA JUNCO, EM CABACEIRAS, PARAÍBA

LEVANTAMENTO DA ANUROFAUNA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ, PR

LEVANTAMENTO HERPETOFAUNÍSTICO DA FAZENDA LIGEIRO DA FURNE EM CAMPINA GRANDE- PB LIFTING OF SLIGHT HERPETOFAUNÍSTICO FARM IN FURNE CAMPINA GRANDE- PB

1. Programa Ambiental Monitoramento de Fauna

Preservar sapos e rãs

1 30/04/13 Consolidação a pedido do Ibama MaAG MJJG MJJG /08/09 Emissão final FAR MaAG

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Herpetofauna, Espora Hydroelectric Power Plant, state of Goiás, Brazil.

As principais ameaças à conservação do Bioma Pampa. Márcio Borges Martins

o.c rioge om.br o.c A Ge G og o r g afi f a Le L va v da d a Sério

Colégio São Paulo Geografia Prof. Eder Rubens

Termo de Referência. Contexto. Objetivo. Atividades

Origem, Evolução e Diversidade da Fauna do Bioma Caatinga

CARACTERIZAÇÃO ECOLÓGICA DA HERPETOFAUNA DE UMA RESERVA DE USO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA CENTRAL, AMAZONAS, BRASIL

RELATÓRIO DO MONITORAMENTO DA FAUNA TERRESTRE DA USINA HIDRELÉTRICA SÃO DOMINGOS

1º Seminário Catarinense sobre a Biodiversidade Vegetal

Amphibians and reptiles of a Cerrado area in Primavera do Leste Municipality, Mato Grosso State, Central Brazil

Biomas Brasileiros. 1. Bioma Floresta Amazônica. 2. Bioma Caatinga. 3. Bioma Cerrado. 4. Bioma Mata Atlântica. 5. Bioma Pantanal Mato- Grossense

DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS BIOMAS BRASILEIROS

A Biodiversidade é uma das propriedades fundamentais da natureza, responsável pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas, e fonte de imenso

COLÉGIO MARQUES RODRIGUES - SIMULADO

EMENDA AO PLDO/ PL Nº 009/2002-CN ANEXO DE METAS E PRIORIDADES

Nosso Território: Ecossistemas

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA NÚCLEO DE PESQUISAS DE RORAIMA RELATÓRIO DE PESQUISA

O Clima do Brasil. É a sucessão habitual de estados do tempo

FERNANDA ROTEIRO DE ESTUDOS DE RECUPERAÇÃO E REVISÃO

ESTRUTURA FITOSSOCIOLÓGICA DO COMPONENTE ÁRBOREO DE UMA FLORESTA OMBRÓFILA EM PORTO VELHO, RONDÔNIA

Programa de Pesquisa em Biodiversidade Sítio Pernambuco (PEDI) Ana Carolina Lins e Silva anacarol@db.ufrpe.br

Cientistas incompetentes dizem que o Código Florestal é santo Ciro Siqueira

RELAÇÃO ENTRE ECOMORFOLOGIA E LOCOMOÇÃO DE SERPENTES

ANAIS DA 66ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC - RIO BRANCO, AC - JULHO/2014

ANUROFAUNA DE UM FRAGMENTO DE MATA ATLÂNTICA EM LAURO DE FREITAS BAHIA

Compilar, organizar e disponibilizar os resultados das pesquisas científicas sobre a Unidade de Conservação;

Anurans from a Caatinga area in state of Piauí, northeastern Brazil

Inventário Florestal Nacional IFN-BR

INQUILINISMO EM CORNITERMES (ISOPTERA, TERMITIDAE) EM DUAS ÁREAS DE PASTAGEM

BIOMA. dominante. %C3%B3gicos_mapas/biomas.asp

Herpetofauna em remanescente de Caatinga no Sertão de Pernambuco, Brasil

ANFÍBIOS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PINHEIRO, UMA ÁREA DE CERRADO NO NOROESTE DE MINAS GERAIS, BRASIL 1

Cap. 26 De norte a sul, de leste a oeste: os biomas brasileiros. Sistema de Ensino CNEC Equipe de Biologia. Bioma

Regiões Metropolitanas do Brasil

Biota Neotropica ISSN: Instituto Virtual da Biodiversidade Brasil

Anura, Estação Ecológica de Jataí, São Paulo state, southeastern Brazil

Climas do Brasil GEOGRAFIA DAVI PAULINO

AVALIAÇÃO DOS ATRIBUTOS QUÍMICOS DE UM SOLO SOB FLORESTA ATLÂNTICA NA FAZENDA SANTA RITA, FARIA LEMOS, MG

3º BIMESTRE 2ª Avaliação Área de Ciências Humanas Aula 148 Revisão e avaliação de Humanas

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2016

Prof. MSc. Leandro Felício

Biodiversidade em Minas Gerais

O Estado da Biodiversidade Brasileira: Genes, Espécies e Biomas

CONCEPÇÕES SOBRE CERRADO 1 LEICHTWEIS, Kamila Souto 2 TIRADENTES, Cibele Pimenta 3 INTRODUÇÃO

SINOPSE DAS OFICINAS

MAS O QUE É A NATUREZA DO PLANETA TERRA?

CLIMAS DO BRASIL MASSAS DE AR

Sapo pigmeu: Rhinella pygmaea (Myers & Carvalho, 1952)

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PODCAST CIÊNCIAS HUMANAS

Bloco de Recuperação Paralela DISCIPLINA: Ciências

(Natureza e Conservação, no prelo)

Contribuição ao conhecimento da herpetofauna do nordeste do estado de Minas Gerais, Brasil

LEVANTAMENTO DOS RÉPTEIS DO ACERVO DO LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIAS UnU IPORÁ PARA CATALOGAÇÃO DA COLEÇÃO ZOOLÓGICA

182 MACHADO & SOARES: COMUNIDADE MUSCOIDEA

Informação sob embargo até dia 30/11 às 9hs... Cana-de-açúcar avança em áreas prioritárias. para a conservação e uso sustentável do Cerrado

Membros. Financiadores

Ações de Conservação da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção

DESMATAMENTO EM ÁREAS PROTEGIDAS DA CAATINGA

Bioma : CERRADO. Alessandro Mocelin Rodrigo Witaski Gabriel Kroeff Thiago Pereira

CONCEITOS DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU /CAPES

ANEXO CHAMADA III DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES PARA GESTÃO E AVALIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS

Centro de Conhecimento em Biodiversidade Tropical - Ecotropical

RELAÇÃO DOS SQUAMATA (REPTILIA) DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL MEANDROS DO RIO ARAGUAIA, BRASIL

EXERCÍCIOS DE REVISÃO - CAP. 04-7ºS ANOS

RÉPTEIS SQUAMATA DE REMANESCENTES FLORESTAIS DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, NATAL-RN, BRASIL

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

CAPÍTULO 13 OS CLIMAS DO E DO MUNDOBRASIL

LISTA DE EXERCÍCIOS PARA PROVA FINAL/2015

PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA HERPETOFAUNA

Daniela Campioto Cyrilo Lima*, Emanuela Matos Granja*, Fabio Giordano **

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO. (Fevereiro, Março e Abril de 2002).

Mudanças na estrutura diamétrica em uma comunidade no Cerrado de Itirapina, São Paulo

OS CLIMAS DO BRASIL Clima é o conjunto de variações do tempo de um determinado local da superfície terrestre.

CHAMADA DE PROPOSTAS Nº 1/2015

CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA CAATINGA NA CONCEPÇÃO DE DISCENTES, DE UMA ESCOLA LOCALIZADA NO SEMIÁRIDO PARAIBANO.

CLIMATOLOGIA. Profª Margarida Barros. Geografia

Simpósios. 2) Integrando a história natural com ecologia, evolução e conservação de anfíbios e répteis.

Climatologia. humanos, visto que diversas de suas atividades

Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires

CARACTERIZAÇÃO DA HISTÓRIA RECENTE DE INCÊNDIOS EM PLANTAÇÕES INDUSTRIAIS NO BRASIL

Biomas Brasileiros. A Geografia Levada a Sério

SOCIEDADE PAULISTA DE ZOOLÓGICOS

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

PROJETO DE LEI Nº, DE 2007 (Da Sra. Thelma de Oliveira) Art. 1º Ficam suspensas, pelo período de três anos, as autorizações para

A árvore das árvores

XIII Encontro de Iniciação Científica IX Mostra de Pós-graduação 06 a 11 de outubro de 2008 BIODIVERSIDADE TECNOLOGIA DESENVOLVIMENTO

Domínios Florestais do Mundo e do Brasil

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

MANEJO E MANUTENÇÃO DE NOVA ESPÉCIE DE DENDROBATIDAE (AMPHIBIA: ANURA) NO ZOOPARQUE ITATIBA: UM MODELO PARA CONSERVAÇÃO EX- SITU

Transcrição:

129 LEVANTAMENTO HERPETOFAUNÍSTICO DE UMA ÁREA DE CERRADO EM ALTO ARAGUAIA, MATO GROSSO, BRASIL Telêmaco Jason Mendes-Pinto 1 & Ílimo Melo Miranda 2 RESUMO - Apresentamos aqui uma lista das espécies de anfíbios e répteis de uma área de Cerrado no município de Alto Araguaia, Mato Grosso, Brasil. Este estudo é dos resultados obtidos durante a preparação de um estudo de impactos ambientais para a instalação de uma linha de transmissão de energia na região estudada. O trabalho foi realizado entre os dias 02 e 11 de dezembro de 2009. Utilizamos cinco métodos de amostragem frequentemente utilizados neste tipo de estudo: procura limitada por tempo, armadilhas de interceptação e queda, coletas por terceiros, encontros ocasionais e covos. Foram registradas 29 espécies entre anfíbios e répteis, incluídas nas ordens Anura (16), Testudine (01) e Squamata (12; sendo 08 lagartos e 04 serpentes). Inventários herpetofaunísticos demandam um logo período de amostragem, e certamente apresentamos aqui uma sub-amostragem da diversidade real que esta área comporta. Entretanto, a área pode ser considerada importante para a manutenção de populações da herpetofauna do Cerrado brasileiro, já que guarda uma amostra significativa das espécies com ocorrência para este Bioma. Unitermos: anfíbios, répteis, Cerrado, Mato Grosso, Brasil. HERPETOFAUNISTIC SURVEY OF AN AREA IN THE CERRADO VEGETATION IN ALTO ARAGUAIA, MATO GROSSO, BRAZIL ABSTRACT - We present here a list of species of amphibians and reptiles in an area of Cerrado vegetation in the municipality from Alto Araguaia, Mato Grosso, Brazil. This study is the results obtained during the preparation of an environmental impact study for the installation of a power transmission line in the region studied. The study was conducted between 02 and 11 December 2009. We use five sampling methods commonly used in this type of study: time-constrained search, pitfall traps and fall collections made by others, occasional collections and pots. We recorded 29 species of amphibians and reptiles, including the orders Anura (16), Testudine (01) and Squamata (12, 08 lizards and 04 snakes). Herpetofaunistic surveys require a long period of sampling, and certainly present here a sub-sample of the real diversity that this area holds. However, the area may be important for maintaining populations of the amphibians and reptiles from Brazilian Cerrado, as it saves a significant sample of species occurrence for this biome. Uniterms: amphibians, reptiles, Cerrado vegetation, Mato Grosso, Brazil. INTRODUÇÃO O Brasil abriga uma diversidade biológica considerada como uma das maiores do mundo (Mittermeier et al., 1992), ao mesmo tempo em que o país carece de informações básicas sobre a distribuição desses recursos ao longo de suas diferentes regiões e biomas (Conservation International et al., 1993). 1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais, Universidade Federal do Amazonas UFAM. Av. Gen. Rodrigo Otávio Jordão Ramos, 3000, Setor Sul - Coroado I, CEP 69.077-000, Manaus-AM, Brasil. biojason2005@hotmail.com 2 Biodinâmica Engenharia e Meio Ambiente, Av. Marechal Câmara, 186, 3º andar, Centro, Rio de Janeiro RJ, CEP: 20020-080, Brasil.

130 Estudos como inventários faunísticos que permitem identificar as espécies que ocorrem em um ambiente são o primeiro passo para as demais pesquisas que contribuirão para obtenção de uma memória faunística e recomendação das atividades de conservação destes ecossistemas (Milano et al.,1986; Day et al., 1987; Lopes, 2000). Além do que fornecem subsídios para pesquisas em diversas áreas da biologia, tais como a Sistemática, Ecologia e Biogeografia, além do que são fundamentais para a determinação de áreas prioritárias para conservação (Gibbons e Bennett, 1974). Se tratando da fauna de anfíbios e répteis, o Brasil está entro os países com a maior riqueza de espécies (Rodriguez e Duellman, 1994; SBH, 2011). No bioma cerrado diversos estudos têm contribuído com o conhecimento acerca da herpetofuana (e.g. Wiederhecker et al., 2002; Mesquita et al., 2006; Giugliano et al., 2006). Apesar disso, o conhecimento sobre comunidades de répteis e anfíbios permanecem insuficientes e muito possivelmente a diversidade de espécies seja muito maior, já que extensas áreas permanecem não amostradas. À medida que essas áreas são acessadas, espécies são reconhecidas como novas e a distribuição geográfica de espécies conhecidas são ampliadas (Halffter e Ezcurra, 1992). O presente estudo teve como objetivo realizar o inventário das espécies de anfíbios e répteis que ocorrem em uma área de Cerrado no município de Alto Araguaia, estado do Mato Grosso. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em uma área de Cerrado no município de Alto Araguaia (22K0252528 / UTM8073746) no estado do Mato Grosso, Brasil (Figura 1). Figura 1. Imagem de satélite do município de Alto Araguaia (Mato Grosso) e Santa Rita do Araguaia (Goiás), Brasil. Rodovias estaduais (amarelo), Rio Araguaia (azul). Fonte: Google Earth, 2011. O clima na região é do tipo tropical chuvoso com temperatura média nos meses menos quentes superando os 18 ºC e o índice pluviométrico anual relativamente elevado (Amaral e Fonzar, 1982). O período chuvoso se estende entre outubro e abril, e o seco ocorre entre os meses de maio a setembro. A precipitação média anual na região é de 1.330 mm (Resende et al., 1994). A amostragem dos anfíbios e répteis foi realizada em deis dias de coletas de campo durante o período chuvoso na região no mês de dezembro de 2009. Foram utilizados cinco métodos complementares freqüentemente utilizados neste tipo de estudo (armadilhas de interceptação e queda; procura visual limitada por tempo; covos encontros ocasionais; coletas por terceiros).

131 Pelo menos dois exemplares de cada espécie foram coletados como testemunhos científicos. Todos os espécimes coletados foram encaminhados para tombo na Coleção de Herpetológica do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MUZUSP). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registradas 29 espécies entre anfíbios e répteis, incluídas nas ordens Anura (16), Testudine (01) e Squamata (12, sendo 08 lagartos e 04 serpentes) (Tabela 1). Os anuros estão representados por 16 espécies distribuídas em 09 gêneros e seis famílias. Hylidae foi à família com maior representatividade em número de espécies com 50% dos anfíbios amostrados neste estudo, em geral comuns na região Neotropical (Duellman, 1978), seguida por Bufonidae e Leiuperidae com 18,7%, Leptodactulidae e Microhylidae com respectivos 6,2%. Esse é um resultado esperado, considerando que atualmente no Brasil, Hylidae é a família de anfíbios que abrange o maior número de espécies (Figura 2). Tabela 1. Anfíbios e répteis registrados em uma área de Cerrado no município de Alto Araguaia, Mato Grosso, com respectivos métodos de registro. Métodos: CT = contribuição por terceiros, EO = encontro ocasional, = procura limitada por tempo, = pitfall e CV = covos. Táxons Anfíbios Família Bufonidae Rhinella granulosa (Spix, 1824) Rhinella jimi (Stevaux, 2002) Rhinella schneideri (Werner, 1894) Família Hylidae Dendropsophus elianeae (Napoli & Caramaschi, 2000) Dendropsophus minutus (Peters, 1872) Dendropsophus rubicundulus (Reinhardt & Lütken,1862"1861") Hypsiboas albopunctatus (Spix, 1824) Hypsiboas punctatus (Schneider, 1799) Scinax fuscovarius (A. Lutz, 1925) Scinax ruber (Laurenti, 1768) Scinax squalirostris Família Leiuperidae Eupemphix nattereri Steindachner, 1863 Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826 Pseudopaludicola mystacalis (Cope, 1887) Família Leptodactylidae Leptodactylus sp. Família Microhylidae Elachistocleis ovalis (Schneider, 1799) Lagartos Família Scincidae Mabuya nigropunctata (Spix, 1825) Métodos EO EO,, EO,, EO

132 Família Teiidae Ameiva ameiva (Linnaeus, 1758) Cnemidophorus ocellifer (Spix, 1825) Kentropyx paulensis Boettger, 1893 Família Gymnophthalmidae Colobosaura modesta (Reinhardt & Luetken, 1862) Vanzosaura rubricauda (Boulenger, 1902) Família Polychrotidae Anolis meridionalis Boettger, 1885 Família Tropiduridae Tropidurus oreadicus Rodrigues, 1987 Serpentes Família Viperidae Bothropoides mattogrossensis (Amaral, 1925) Caudisona durissa (Linnaeus, 1758) Família Dipsadidae Phalotris lativittatus Ferrarezzi, 1994 Oxyrhopus guibei Hoge & Romano, 1978 Quelônio Família Chelidae Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812),, CT, EO EO CT CV Figura 2. Algumas espécies de anuros registrados em uma área de Cerrado em Alto Araguaia, Mato Grosso, Brasil. A) Hypsiboas punctatus, B) Hypsiboas albopunctatus (macho vocalizando), C) Dendropsophus rubicundulus (macho vocalizando), D) Eupemphix nattereri, E) Rhinella schneideri e F) Elachistocleis ovalis (casal em cópula). Fotos: F. K. Ubaid (A), T. J. Mendes-Pinto (B, C, D, E, F). Dentre as 08 espécies de lagartos registradas, a família mais representativa foi Teiidae, com 37,5% do total amostrado. Esse resultado pode ter forte efeito de amostragem, considerando que teídeos são lagartos de grande porte, facilmente avistados enquanto forrageiam ativamente durante

133 o dia. A segunda família mais representativa foi Gymnophthalmidae com 25%, resultado obtido graças à instalação de armadilhas de interceptação e queda. Gimnoftalmídeos são lagartos que vivem entre a camada de folhiço no solo, e dificilmente são avistados visualmente e capturados manualmente. Polychrotidae, Tropiduridae e Scincidae representaram 12,5% do total amostrado (Tabela 1 e Figura 3). Figura 3. Algumas espécies de répteis (lagartos, serpentes e quelônio) registrados em Alto Araguaia, Mato Grosso, Brasil. A) Colobosaura modesta, B) Vanzosaura rubricauda, C) Kentropyx paulensis, D) Anolis meridionalis, E) Ameiva ameiva F) Bothropoides mattogrossensis, G) Phalotris lativittatus, H) Oxyrhopus guibei e I) Phrynops geoffroanus. Fotos: T. J. Mendes-Pinto (A, B, C, D, E, F, G, I), F. K. Ubaid (H). A taxocenose de serpentes está representada por duas famílias (Dipsadidae e Viperidae), ambas com duas espécies, o que representou 50% do total amostrado para cada família (Figura 3). Serpentes geralmente são sub-amostradas em avaliações rápidas de fauna, o acesso aprofundado de taxocenoses depende de monitoramentos em longo prazo (Fraga et al., 2011). Um quelônio da família Chelidae foi registrado (Phrynops geoffroanus) (Tabela 1 e Figura 3). Dentre os anfíbios, Physalaemus cuvieri foi à espécie mais abundante neste estudo, seguido por Eupemphix nattereri e Dendropsophus rubicundulus respectivamente. Entre os répteis Tropidurus oreadicus foi à espécie mais abundante seguida por Vanzosaura rubricauda e Ameia ameiva respectivamente. Os dados de abundância de todas as espécies encontram-se compilados a seguir (ver figuras 4 e 5).

134 Figura 4. Abundância de espécies de anfíbios coletados em uma área de Cerrado em Alto Araguaia, Mato Grosso, Brasil. Figura 5. Abundância de espécies de répteis coletados em uma área de Cerrado em Alto Araguaia, Mato Grosso, Brasil. Algumas espécies foram exclusivamente registradas por um dos métodos utilizados, corroborando com Cechin & Matins (2000), Queiroz Filho et al. (2010), Mendes-Pinto e Tello (2010), Silva et al. (2011), Mendes-Pinto e Souza (no prelo) a importância da utilização de mais de um método de amostragem em inventários como esse.

135 Considerando o número de espécies registradas ao fim das amostragens, procura limitada por tempo foi o método mais eficiente já que obteve o maior número de espécies (Figura 6). De fato, esse método tem sido amplamente utilizado para estudos como inventários herpetofaunísticos em várias regiões do mundo, e questões complexas sobre ecologia de espécies já foram respondidas com a aplicação de apenas esse método (ver Fraga, 2009). Figura 6. Número de espécies registradas por método de amostragem. = procura limitada por tempo, = pitfall trap, EO = encontros ocasionais, CT = coletas por terceiros e CV = covos. Apesar das limitações de amostragem, este estudo propôs objetivos similares aos Rapid Biological Inventories (sensu Hayden, 2007), sendo direcionado a uma área desconhecida do ponto de vista científico até o momento, e com alta relevância biológica, a exemplo daqueles realizados em outras regiões do Brasil como na Amazônia (e.g. Mendes-Pinto et al., 2010; Mendes-Pinto et al., 2011; Silva et al., 2011; Mendes-Pinto e Souza, no prelo). As espécies registradas são típicas de áreas de Cerrado, algumas com ampla distribuição geográfica, ocorrendo por todo o território brasileiro a exemplo do quelônio Phrynops geoffroanus e o lagarto Ameiva ameiva. Os anuros Hypsiboas punctatus e Elachistocleis ovalis têm sido registrados tanto no Bioma Cerrado quanto na floresta Amazônica. A serpente Caudisona durissa (Viperidae) além do Cerrado no Brasil Central, ocorre também em outras formações abertas no norte do país como nas savanas Amazônicas no oeste do Pará (Frota, 2004; Frota et al., 2005; Mendes-Pinto e Tello, 2010; Mendes-Pinto e Souza, no prelo). Os resultados obtidos representam uma estimativa pontual da diversidade de espécies que ocorrem nesta região. Este fato é corroborado pelo esforço amostral empregado no estudo, o que pode ser observado na tendência ascendente na curva do coletor. Inventários herpetofaunísticos demandam estudos de longa duração, ainda assim, novos registros são acrescentados continuamente mesmo para regiões melhores amostradas nos diferentes Biomas brasileiros. Contudo, a área pode ser considerada importante para a manutenção de populações da herpetofauna do Cerrado, já que guarda uma amostra importante das espécies com ocorrência neste Bioma. AGRADECIMENTO Somos gratos a JGP Consultoria Ambiental pelo apoio logístico durante as atividades de campo. Flávio Kulaif Ubaid, Rodrigo Gusmão, Guilherme Lima e Guilherme Moya pelo auxílio nas coletas de campo. T. J. Mendes-Pinto recebe bolsa de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

136 REFERÊNCIAS Amaral, D. L. & Fonzar, B. C. (1982). Levantamento de Recursos Naturais. In: RADAMBRASIL Folha SD 21. Cuiabá Rio de Janeiro. MME. Cechin, S. Z. & Martins, M. (2000). Eficiência de armadilhas de queda (pitfall traps) em amostragens de anfíbios e répteis no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 17: 729-740. Conservation International, Fundação Biodiversidade & Sociedade Nordestina de Ecologia. (1993). Prioridades para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica do Nordeste. Mapa descritivo produzido pela CI, FB e SNE. Day, G. I.; Schemitz, S. D.; Tarder, R. D. (1987). Captura y marcación de animales silvestres. In Manual de técnicas de gestión de vida silvestres. 4 ed., Wildlife Society. 703p. Duellman, W. E. (1978). The biology of an equatorial herpetofauna in Amazonian Equador. Univ. Kansas Mus. Nat. Hist. Misc. Publ. 65: 1-352. Fraga, R. de. (2009). A influência de fatores ambientais sobre padrões de distribuição de comunidades de serpentes em 25 km2 de floresta de terra firme na Amazônia central. Vol. Dissertação (Mestrado em Ecologia). Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, 38 p. Fraga, R. de.; Lima, A. P. & Magnusson, W. E. (2011). Mesoscale spatial ecology of a tropical snake assemblage: the width of riparian corridors in central Amazonia. Herpetological Journal 21: 51 57. Frota, J. G (2004). As serpentes da região de Itaituba, médio Rio Tapajós, Pará, Brasil (Squamata). Comunicações do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, Ser. Zool., Porto Alegre v. 17, n. 1, p. 9-19. Frota, J. G.; Santos-Jr., A. P.; Chalkidis, H. M. & Guedes, A. G. (2005). As serpentes do baixo Rio Amazonas, Oeste do estado do Pará, Brasil (Squamata). Biociências, Porto Alegre v. 13, n. 2. p. 211-220. Gibbons, J. W.; Bennett, D. H. (1974). Determination of Anuran terrestrial activity patterns by a drift fence method. Copeia, 1:237-243. Giugliano, L. G.; Contel, E. P. B. Colli, G. R. (2006). Genetic variability and phylogenetic relationships of Cnemidophorus parecis (Squamata, Teiidae) from Cerrado isolates in southwestern Amazonia. Biochemical Systematics and Ecology 34: 383-391. Halffter, G.; Ezcurra, E. (1992). Qué es la biodiversidad? In: G. Halffter (ed.). La diversidad de Iberoamérica I. Acta Zoológica Mexicana, Instituto de Ecología, A.C., México, p. 3-24. Hayden, T. (2007). Ground force. News Feature. Nature. 445(1): 222-230. Lopes, J. A. M. (2000). In: Alho, C. (Ed.). Fauna Silvestre do rio Manso, MT. Brasília, Ministério do Meio Ambiente, 350p.

137 Mendes-Pinto & Tello, J. C. R. (2010). Répteis Squamata de uma área de transição Floresta-Savana no Oeste do Estado do Pará, Brasil. Revista de Ciências Ambientais, Canoas, v.4, n.1, p. 19-35. Mendes-Pinto, T. J. & Souza, S. M. Preliminary assessment of amphibians and reptiles from Floresta Nacional do Trairão, with two new records for the Pará state in Brazilian Amazon. Herpetology Notes. (no prelo). Mendes-Pinto, T. J.; Fraga, R. de. & Tello, J. C. R. (2011). Primeiro registro de Hypsiboas leucocheilus (Caramaschi & Niemeyer, 2003) (Amphibia, Anura, Hylidae) para o estado do Amazonas, Brasil. Revista de Biologia e Farmácia 5(2): 127-130. Mendes-Pinto, T. J.; Santos Júnior, L. B. & Tello, J. C. R. (2010). Inventário rápido da fauna de vertebrados de um fragmento de floresta de terra firme no município de Manaus, Amazonas, Brasil. Anais do I Seminário Internacional de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM, 7p. Mesquita, D. O.; Colli, G. R. França, R. G. R. and Vitt, L. J. (2006). Ecology of a Cerrado Lizard Assemblage in the Jalapa o Region of Brazil. Copeia (3), pp. 460 471. Milano, M. S.; Rizzi, N. E.; Kaniak, V. C. (1986). Princípios básicos de manejo administração de áreas silvestres. Instituto de Terras, Cart. e Florestas, Curitiba, Departamento de Recursos Naturais Renováveis. 56p. Mittermeier, R. A.; Ayres, J. M.; Werner, T.; Fonseca, G. A. B. (1992). O País da Megadiversidade. Ciência Hoje, 14:20-27. Queiroz Filho, R. G.; Mendes-Pinto, T. J. & Fragoso, A. C. (2010). Anurofauna da área do Centro Universitário Nilton Lins, Manaus, Amazonas, Brasil (Amphibia; Anura). Revista de Biologia e Farmácia. Vol. 04 (2): 13-21. Resende, M. S.; Sandanielo, A. & Couto, E. G. (1994). Zoneamento agroecológico do Sudoeste do Estado de Mato Grosso. Documentos 4. EMPAER/EMBRAPA. Rodriguez, L. O. & Duellman, W. E. (1994). Guide to the frogs of the Iquitos Region, Amazonian Peru. Asociacion de Ecologia y Conservacion, Amazon Center for Environmental Education and Research, and Natural History Museum, the University of Kansas, Lawrence, Kansas. 227 p. SBH. Sociedade Brasileira de Herpetologia. (2011). (Org.). Brazilian reptiles Lista de espécies. Disponível em http://www.sbherpetologia.org.br/. Sociedade Brasileira de Herpetologia. Acesso dia 08 de junho de 2011. Silva, E. P.; Mendes-Pinto, T. J.; Claro Júnior, L. H. & Sales, M. E. (2011). Riqueza de espécies de anfíbios anuros em um fragmento florestal na área urbana de Manaus, Amazonas, Brasil. Revista de Biologia e Farmácia 5(2): 131-144. Wiederhecker, H. C.; Pinto, A. C. S. and Collin, G. R. (2002). Reproductive Ecology of Tropidurus torquatus (Squamata: Tropiduridae) in the Highly Seasonal Cerrado Biome of Central Brazil. Journal of Herpetology, Vol. 36, No. 1, pp. 82-91.