DINÂMICA DA POPULAÇÃO DE MUSCIDEOS NO LIXÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE, SÃO PAULO, BRASIL... 264 FREQÜÊNCIA DE MOSCAS NO JARDIM MORADA DO SOL, NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE, SÃO PAULO, BRASIL... 268
DINÂMICA DA POPULAÇÃO DE MUSCIDEOS NO LIXÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE, SÃO PAULO, BRASIL Leonice Seolin Dias 1 ; Vamilton Alvares Santarém 2 1. Pós graduanda- Mestrado em Ciência Animal - Universidade do Oeste Paulista (Unoeste)- nseolin@terra.com.br 2. Orientador: Prof. Dr. dos Cursos de Medicina Veterinária e Mestrado em Ciência Animal da Unoeste - vamilton@unoeste.br Instituição Fomentadora: Universidade do Oeste Paulista PPD 139/06 Palavras-chave: Musca domestica, Epidemiologia, Resíduos Domésticos. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA A espécie de mosca Musca domestica, pertencente à família Muscidae, é um dos insetos mais importante, devido a seu caráter sinantrópico, abundância na região urbana, capacidade de se desenvolver em vários substratos, alto poder reprodutivo e de ser apontada como veiculadora de patógenos ao homem e aos animais (NAKANO; LEITE, 2000). Esses dípteros podem transportar microrganismos causadores de febre tifóide, disenteria, cólera, mastite bovina, protozoários como Entamoeba spp, Giárdia duodenalis e helmintos como Taenia spp e Dipylidium caninum (BARRIGA, 2002), que podem permanecer viáveis por vários dias na prosbócida e no intestino das moscas, sendo transmitidos no ato da alimentação e/ou defecção desses insetos (LOPES, 1999). Geralmente, os ovos de M. domestica são depositados em matéria orgânica de origem vegetal e/ou animal em decomposição, como fezes e carcaças de origem animal, restaurantes, terrenos baldios, lixo de origem domesticas e lixões a céu aberto, onde as larvas se desenvolvem (GREENBERG, 1973). Algumas espécies de muscídeos exploram diversos ambientes, mas a importância e comportamento específicos apresentados em cada ambiente, em alguns casos, ainda não são suficientemente conhecidos (KOLLER et al., 2004), o que justificou a pesquisa da população desses insetos no lixão de Presidente Prudente, São Paulo. MATERIAL E MÉTODOS Para estimar a freqüência populacional da espécie Musca domestica no lixão, semanalmente, foram utilizadas seis armadilhas com garrafas tipo pet de dois litros, construídas de acordo com Cunha e Lomônaco (1996). 264
O lixão está localizado à acerca de seis quilômetros do centro do município de Presidente Prudente (latitude 22 o 07 S e longitude 51 o 22 W). O município está a 424,29 metros acima do nível do mar e tem temperatura média de 23,1 0 C. As armadilhas iscadas com aproximadamente 250g de fígado bovino (VIANNA et al., 2004), foram distribuídas no entorno do depósito urbano de lixo, suspensas em árvores a uma altura de 1,0m a 1,70m do solo. As armadilhas foram expostas durante uma semana no início, no meio e no final de cada estação do ano, totalizando 12 coletas. No recolhimento, as moscas foram transferidas para um recipiente de vidro contendo álcool 70% para posterior identificação. As moscas foram dispostas em placas de Petri e submetidas à secagem em estufa 50 0 C, de 30 a 40 minutos, a depender do número de espécimes capturados, com a finalidade de facilitar a sua identificação, que foi realizada com auxílio de microscópio estereoscópio. RESULTADOS No deposito de lixo urbano de Presidente Prudente foram capturados, no período de março de 2006 a março de 2007, 1302 espécimes de Musca domestica (Figura 1). Esta espécie foi mais abundantes no verão, 630 espécimes (48,2%). Na primavera foram encontrados 404 (30,9%) espécimes, enquanto que no outono e no inverno, respectivamente, 261 (20,0%) e 12 (0,9%) indivíduos. Na figura 2, está representada a variação sazonal das moscas de acordo com as estações do ano. 800 número de moscas 600 400 200 0 Outono Inverno Primavera Verão estação Figura 1. Número de moscas da espécie Musca domestica, no período de março de 2006 a março de 2007, no lixão de Presidente Prudente, São Paulo, de acordo com as estações do ano. 265
DISCUSSÃO No lixão da cidade de Tupã, SP, a presença da família Muscidae foi observada nos estudos de Seolin Dias e Sartor (2005). No aterro da cidade de Goiânia, Goiás, M. domestica representou 42,11%das moscas, sendo a segunda espécie mais representativa, enquanto no lixo foi a mais abundante, com 62,01% (FERREIRA; LACERDA, 1993). Os fatores climáticos influenciam diretamente no tempo de duração do ciclo de muscídeos e no tamanho das populações (TORRES et al., 2002). Segundo Dajoz (1983) e Vianna et al. (2004), as intempéries climáticas são mais importantes no equilíbrio das populações de muscídeos, enquanto os fatores bióticos exercem papel secundário. A inexistência de estudos sobre a sazonalidade de muscídeos em depósitos de lixo urbano impossibilita o processo de análise comparativa do presente trabalho. No entanto, os resultados obtidos no lixão de Presidente Prudente são semelhantes àqueles observados em fragmento de mata da cidade do Rio de Janeiro (LEANDRO; D ALMEIDA, 2005), onde a população dessas moscas esteve presente durante todo o ano, mas especialmente no verão e na primavera. Por outro lado, no jardim zoológico da mesma cidade, a maior abundância populacional desses insetos ocorreu no verão e no outono (OLIVEIRA et al., 2002), o que indica que a flutuação sazonal pode estar na dependência dos fatores abióticos. Na mata ciliar remanescente em Campo Grande, MS, houve dois picos de ocorrência, porém pouco expressivos, em setembro e fevereiro (KOLLER et al., 2004). Trabalhos brasileiros realizados em outros ambientes que não os depósitos de lixo, como granja avícola de Uberlândia, MG (CUNHA; LOMÔNACO, 1996), mata ciliar remanescente de Campo Grande, MS (KOLLER et al., 2004), Jardim Zoológico do Rio de Janeiro (OLIVEIRA et al., 2002), fragmento de mata (LEANDRO; ALMEIDA, 2005) e zona rural e florestal de Campinas (LINHARES, 1979), mercados e feiras-livres de Goiânia, Goiás (FERREIRA; LACERDA, 1993), região de Santa Maria, RS (SILVA, et al., 2005) e de Presidente Prudente, SP (MOÇO et al., 2007), apontam que a flutuação dos muscídeos está estritamente associada às condições ambientais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRIGA, O. O. Las enfermedades Parasitarias de los animals domésticos en la America Latina. Santiago do Chile: Editorial Germinal, 2002. 247 p. CUNHA, C. L.; LOMÔNACO, C. Monitorização de impacto ambiental provocado por dispersão de moscas em bairros adjacentes a uma granja avícola. Sociedade Entomológica do Brasil, São Paulo, v. 25, p. 1-12, 1996. FERREIRA, M. J. M.; LACERDA, P. V. Muscóides sinantrópicos associados ao lixo urbano em Goiânia, Goiás. Revista Brasileira de Zoologia, v. 10, p. 185-195, 1993. 266
DAJOZ, R. Ecologia Geral. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 1983. 472 p. GREENBERG, B. Flies and Disease, vol. II: Biology and disease transmission. Princeton, N. J., X + 447p., 1973. 54 figs. KOLLER et al. Dinâmica populacional de Muscidae (Diptera) em mata ciliar remanescente, em Campo Grande, MS, Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v. 71, p. 636-639, 2004. LEANDRO, M. J. F.; ALMEIDA, J. M. D. Levantamento de Calliphoridae, Fanniidae, Muscidae e Sarcophagidae em um fragmento de mata na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Brasil. Iheringia - Série Zoologia, Brasil - Rio Grande do Sul, v. 95, p. 377-381, 2005. LINHARES, A. X. Sinantropia de dipteros muscóides de Campinas. 1979. 129 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo, 1979. LOPES, S. M. Pesquisa sobre a possível ação vetorial de diferentes agentes patogênicos por dípteros muscóides na cidade do Rio de Janeiro-Brasil. Revista de Entomologia y Vectores, Brasil, v. 6, n. 1, p. 23-52, 1999. MOÇO, B. M.; SEOLIN DIAS, L.; OLIVEIRA, N. N.; GUIMARÃES, R. B. Freqüência de moscas no bairro Morada do Sol, do Município de Presidente Prudente, SP. ENCONTRO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 11, 2007, Presidente Prudente. Anais... Presidente Prudente: XI ENEPE, 2007. 1 CD-ROM. NAKANO, O; LEITE, C. A. Armadilhas para insetos. Piracicaba: FEALQ; 2000. OLIVEIRA, V.C.; D ALMEIDA, J.M.; PAES M.J.; SANAVRIA, A. Dinâmica populacional de dípteros caliptrados (Muscidae e Sarcophagidae) na fundação Rio-Zoo, RJ, Brasil. Brazilian Journal of Biology, v. 62, p. 191-196, 2002. SEOLIN DIAS, L.; SARTOR, F. I. Efeito de um programa de coleta seletiva de lixo na flutuação populacional de dípteros (Calliphoridae e Muscidae). In: FÓRUM AMBIENTAL DA ALTA PAULISTA, 1, 2005, Tupã. Anais... Tupã: Amigos da natureza, 2005. 1CD-ROM. SILVA, A. S.; HECK, C. A.; DOYLE, R. L.; MONTEIRO, S. G. Levantamento das Espécies de Dípteras na Região de Santa Maria Baseado em Diferentes Substratos. Revista da Faculdade de Zootecnia, v. 12, p. 51-58, 2005. TORRES, J. R.; OLIVEIRA, C. M. B.; WALD, V. B. Influência sazonal sobre os períodos de pré-pupa e de pupa de Musca domestica, na região de porto alegre, RS, Brasil. Acta Scientiae Veterinariae, v. 30, p. 37-42, 2002. VIANNA, E. E. S.; COSTA, P. R. P.; FERNANDES, A. L; RIBEIRO, P. B. Abundância e flutuação populacional das espécies de Chrysomya (Díptera, Calliphoridae) em Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.. Iheringia, Série Zoologia, v. 94, p. 231-234, 2004. ZUMPT, F. Myiasis in man and animals in the Old World. London: Butterworths, 1965. 267 p. 267
FREQÜÊNCIA DE MOSCAS NO JARDIM MORADA DO SOL, NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE, SÃO PAULO, BRASIL Leonice Seolin Dias 1 ; Raul Borges Guimarães 2 1. Discente do curso de pós-graduação Mestrado em Ciência Animal Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) - nseolin@terra.com.br 2. Professor assistente - Doutor do Departamento de Geografia da UNESP de Presidente Prudente (orientador) raul@fct.unesp.br PALAVRAS-CHAVE: Moscas; Vetores; Geografia da Saúde. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa em desenvolvida no Laboratório de Geografia da Saúde da Unesp de Presidente Prudente a respeito da população de moscas no bairro Morada do Sol, Presidente Prudente, SP. Dentre os insetos que se adaptaram ao ambiente construído pelo homem, destacam-se as moscas, pela diversidade de espécies, abundância populacional, o curto ciclo reprodutivo e a dificuldade de controle. Quando se acrescenta a isto, o fato de tais dípteros serem agentes patogênicos, tais como vírus, fungos, bactérias, protozoários e helmintos, verifica-se a enorme relevância de estudos dessa natureza (CABRAL et al., 2004). MATERIAL E MÉTODOS No período de junho de 2007 a junho de 2008 foram alocadas em árvores distribuídas pelo bairro seis armadilhas, confeccionadas com garrafas tipo Pet de 2L (CUNHA; LOMÔNACO, 1996), com quatro furos de dois centímetros de diâmetro em seu terço inferior, permanecendo a uma altura de 1,0m a 1,70m do solo. Como isca, utilizou-se aproximadamente 200g de fígado bovino e 100g de carcaças de sardinha. As moscas capturadas foram despejadas em uma peneira plástica e transferidas para um frasco de vidro contendo álcool 70% para posterior contagem e identificação. As armadilhas foram expostas durante uma semana no início, no meio e no final de cada estação do ano, totalizando 12 coletas. As moscas foram dispostas em placas de Petri e submetidas à secagem em estufa 50 0 C, de 30 a 40 minutos, a depender do número de espécimes capturados, com a finalidade de facilitar a sua visualização, realizada com auxílio de microscópio estereoscópio, e identificação com base na chave dicotômica das espécies. 268
O jardim Morada do Sol está localizado à acerca de seis quilômetros do centro do município de Presidente Prudente (latitude 22 o 07 S e longitude 51 o 22 W). O município está a 424,29 metros acima do nível do mar e tem temperatura média de 23,1 0 C RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao todo foram capturados 2406 dípteros, sendo 1629 (67,70%) califorídeos, 19 (0,80%) fannideos, 550 (22,90%) muscideos, 188 (7,81%) sarcophagideos e 20 (0,83%) outras moscas (Figura 1). 1800 número de moscas 1500 1200 900 600 300 0 Calliphoridae Fannidae Muscidae Sarcophagidae Outras família Figura 1. Número de moscas das famílias Calliphoridae, Fannidae, Muscidae e Sarcophagidae, no período de junho de 2007 a junho de 2008, no Jardim Morada do Sol, no município de Presidente Prudente, São Paulo. Durante a investigação, verificou-se a predominância da família Calliphoridae em todas as estações do ano. A figura abaixo, por estação, esta representando a variação sazonal das moscas. 269
1200 número de moscas 900 600 300 0 Inverno Primavera Verão Outono estação Figura 2. Dinâmica populacional de Calliphoridae, Fannidae, Muscidae e Sarcophagidae, no período de junho de 2007 a junho de 2008 no Jardim Morada do sol de Presidente Prudente, São Paulo. DISCUSSÃO Os califorideos no jardim morada do sol de presidente prudente foram mais abundantes no verão, 946 espécimes (86,23%) do total capturado nesta estação. na primavera foram encontrados 340 (38,72%) espécimes, enquanto que no outono e no inverno, respectivamente, 131 (79,49%) e 214 (80,45%) indivíduos. com relação aos fannideos, a população foi pequena. verificou-se maior contagem populacional na primavera, 12 (1,36%) espécimes. no outono foram capturados quatro (2,4%) espécimes, no inverno três (1,13%) indivíduos e no verão não houve registro dessas moscas. os muscideos tiveram maior predominância na primavera, 409 (46,58%) espécimes. no verão foram capturados 109 (9,93%) espécimes, no inverno 24 (1,88%) e no outono seis (3,6%). os sarcophagideos foram mais freqüentes na primavera, 113 (12,9%) indivíduos. no verão, capturou-se 31 (29%) espécimes, enquanto no inverno e outono, respectivamente, 20 (7,52%) e seis (3,6%) indivíduos. Os trabalhos sobre moscas apontam que os maiores picos populacionais de moscas em meses mais quentes e úmidos do ano (linhares, 1979; rodrigues-guimarães et al., 2001; vianna, et al., 2004), coincidindo com os resultados do presente estudo. A presença dessas famílias foi observada também por Linhares (1979), em estudo realizado em áreas urbana, rural e florestada de campinas, e por Leandro E D Almeida (2005) em um fragmento de mata na ilha do governador, rio de janeiro, brasil. 270
CONCLUSÃO O Jardim Morada do Sol oferece condições favoráveis ao desenvolvimento e proliferação de moscas nos períodos quentes do ano, especialmente das varejeiras (Calliphoridae) e medidas de controle devem ser adotadas para o controle das mesmas em áreas urbanas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CUNHA, C. L.; LOMÔNACO, C. Monitorização de impacto ambiental provocado por dispersão de moscas em bairros adjacentes a uma granja avícola. Sociedade Entomológica d Brasil, São Paulo, v. 25, p. 1-12, 1996. LINHARES, A. X. Sinantropia de dípteros muscóides de Campinas. 1979. 129f Dissertação. (Mestrado em Ciências Biológicas) Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1979. LEANDRO, M. J. F.; ALMEIDA, J. M. D. Levantamento de Calliphoridae, Fanniidae, Muscidae e Sarcophagidae em um fragmento de mata na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Brasil. Iheringia - Série Zoologia, Brasil - Rio Grande do Sul, v. 95, p. 377-381, 2005. CABRAL, M. M. O.; GOMES, C. M. S.; MENDONÇA, P. M.; BARBOSA FILHO, J. M.; GOTTLIEB, O. R.; QUEIROZ, M. M. C. Neolignanas: Substância biologicamenteativas sobre dípteros muscóides, vetores e transmissores de doença. In: XXVI Reunião sobre evolução, sistemática e ecologia micromoleculares, 2004, Niterói / RJ. p.26 RODRIGUES-GUIMARÃES, R.; GUIMARÃES, R.R.; PILE, E. A. M; NORBERG, A.N. Ocorrência de dípteros califorídeos (Diptera: Calliphoridae) no Campus I da Universidade Iguaçu-UNIG, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Entomol. Vect., v. 2, p. 245-260, 2001. VIANNA, E.E.S.; COSTA, R.P.; FERNANDES, A.FL.; RIBEIRO, P.B. Abundância e flutuação populacional das espécies de Chrysomya (Dípitera, Calliphoridae) em Pelotas. Iheringia, Ser. Zool. v. 94, p. 231-234, 2004. 271