ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E VICE- PRESIDENTE DO MPLA

Documentos relacionados
MPLA. Discurso do Camarada João Lourenço, Candidato a Presidente da República, na Abertura do CANFEU 2017

MPLA. Data: Local: Luanda

MPLA. Discurso do Camarada João Lourenço na 2ª Reunião do Comité Internacional da OMA

CERIMÓNIA DE CELEBRAÇÃO DO DIA DAS NAÇÕES UNIDAS - 24 DE OUTUBRO -

Luanda, 14 de Junho de 2016 EXCELÊNCIAS CHEFES DE ESTADO E DE GOVERNO, SENHOR SECRETÁRIO-GERAL, SENHORES MINISTROS, DISTINTOS DELEGADOS,

Rafael Marques de Morais 13 de Agosto de 2009

Distintos Participantes Caros convidados

Ciência Política I. Soberania popular, legitimidade do poder, contratualização dos atos e validade dos atos em função da lei

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA 7.ª revisão 2005 (excertos) Princípios fundamentais. ARTIGO 10.º (Sufrágio universal e partidos políticos)

Comunicado da 10ª Reunião Ordinária do Comité Permanente da Comissão Política

Senhora Presidente da Assembleia da República. Senhor Conselheiro Presidente do Tribunal de Contas. Senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares

DÉLÉGATION PERMANENTE DU PORTUGAL AUPRÈS DE L'UNESCO. Portugal. Debate de Política Geral da 39ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO

PLANO DE GESTÃO DE RISCOS DE CORRUPÇÃO E INFRAÇÕES CONEXAS

Excelência Senhor Pier Paolo Balladelli, Coordenador Residente do Sistema das Nações Unidas e Representante do PNUD em Angola;

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA PLANIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Ministério da Administração do Território

Exmo. Senhor Presidente do Conselho Directivo da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola;

PLANO DE GESTÃO DE RISCOS DE CORRUPÇÃO E INFRACÕES CONEXAS

MINISTÉRIO DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GABINETE DO MINISTRO DE ESTADO E DAS FINANÇAS

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE

Cidadania e a Dimensão Europeia na Educação Janeiro de 2010

REGULAMENTO GERAL DE ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS COMITÉS DO PARTIDO DE ESPECIALIDADE

Intervenção III Fórum Abrigo

Índice PLANO PLANO DE GESTÃO DE RISCOS DE CORRUPÇÃO E INFRAÇÕES CONEXAS. Código PGRCIC Versão 000 Data

PLANO DE GESTÃO DE RISCOS DE CORRUPÇÃO E INFRAÇÕES CONEXAS. Código M11 Versão 001 Data 14/12/2011

PROJECTO LEI N.º 320/X. Combate à corrupção e defesa da verdade desportiva

Papel da sociedade civil Guineense. Atenuação do impacto do crime organizado e tráfico de droga na comunidade

ASSEMBLEIA NACIONAL GABINETE DO PRESIDENTE. Discurso de S.E o PAN na cerimónia de abertura da Reunião Deslocalizada da Comissão Mista da CEDEAO

GRUPO PARLAMENTAR ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL DOS AÇORES VII Legislatura

S/RES/2267 (2016) Security Council. United Nations. Resolução 2267 (2016) * *

TIPO DE TRABALHO: FALA DO PRESIDENTE SOLICITANTE: SECRETARIA-GERAL DA MESA

Sua Excelência Presidente da República de Angola, Engenheiro José Eduardo dos Santos,

WORKSHOP. Graduação de Angola da categoria de Países Menos Avançados (PMA): Desafios e Oportunidades

DISCURSO DO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL, ENG.

Projecto de Lei n.º 25/XI-1ª. Cria o tipo de crime de enriquecimento ilícito

Declaração de Princípios - Declaração de Princípios - Partido Socialista

PLANO DE GESTÃO DE RISCOS DE CORRUPÇÃO E INFRAÇÕES CONEXAS

ACÇÃO POLÍTICA CONVITE A MAIS INTERVENÇÃO. 19 de JANEIRO de 2002 UNIVERSIDADE LUSÓFONA CAMPO GRANDE LISBOA

Victor Ceita Advogado sócio FBL - Advogados Angola

Política Antifraude POLÍTICA ANTIFRAUDE

Revisão da Constituição da República de Moçambique

SEGURANÇA NACIONAL. A Segurança Nacional comporta cinco áreas fundamentais a saber:

Discurso de Abertura do Seminário Metodológico para a mudança em 2017

EVOLUÇÃO DO QUADRO LEGAL PORTUGUÊS PARA A PREVENÇÃO E REPRESSÃO DA CORRUPÇÃO

Aprovado por Deliberação n.º /2010 ANTEPROJECTO DE LEI SOBRE OS ACTOS PRÓPRIOS DOS ADVOGADOS E SOLICITADORES ASSEMBLEIA NACIONAL. Lei n.

Índice PLANO PLANO DE GESTÃO DE RISCOS DE CORRUPÇÃO E INFRAÇÕES CONEXAS. Código: COD. 2 Rev. 01 Data

Intervenção do Senhor Ministro da Educação durante a 37ª Conferência Geral da UNESCO. Paris, 8 de Novembro de 2013

Presidência da República. O Presidente. Comunicado. 5 de Agosto de 2008

Workshop sobre Governo Electrónico da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) Proposta de Discurso de Abertura

PROPOSTA DE LEI DE REPATRIAMENTO DE RECURSOS FINANCEIROS DOMICILIADOS NO EXTERIOR DO PAÍS

Seminário Nacional sobre a Avaliação do Programa do FIDA em Moçambique nos últimos 10 anos

VICTORIA POLÍTICA ANTI-FRAUDE

AMNISTIA INTERNACIONAL

Global Compact. Relatório de Progresso de de Dezembro de

RECURSOS PARA A ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA NACIONAL: O CASO DA ÁFRICA DO SUL 10 DE ABRIL DE 2019 PETER DANIELS

REUNIÃO DA CONFERÊNCIA DE MINISTROS RESPONSÁVEIS PELA JUVENTUDE E PELO DESPORTOS DA CPLP. Juventude, a energia inovadora da CPLP

PROGRAMA DE ACÇÃO SAÚDE. - Advocacia junto ao Ministério da Saúde para criação de mais centros de testagem voluntária.

PROJECTO DE LEI N.º 44/XI ALTERA O CÓDIGO PENAL E A LEI N.º 34/87, DE 16 DE JULHO, EM MATÉRIA DE CORRUPÇÃO

PROPOSTA DE PILARES PARA O PRÓXIMO PROGRAMA DE APOIO AS POLÍTICAS (PSI) APRESENTAÇÃO AO SEMINÁRIO DE AVALIAÇÃO DOS PROGRAMAS DO FMI E PERSPECTIVAS

7048/17 fmm/jv 1 DGC 2A

Projecto de Resolução Nº 199/XI/1ª

Excelência Jorge Carlos de Almeida Fonseca, Presidente da República de Cabo-Verde e Presidente em Exercício dos PALOP,

PROJECTO DE LEI N.º 135/XI ALTERA O CÓDIGO PENAL, ADITANDO O CRIME URBANÍSTICO

SISTEMA SEMI-PRESIDENCIALISTA

A CONTABILIDADE PÚBLICA NO PRINCÍPIO DO ACRÉSCIMO

Plano de Gestão de Riscos de Corrupção e Infracções Conexas

DECLARAÇÃO DE EUSKADI

1 - a corrupção é a destruição do sistema democrático, a sufocar o desenvolvimento sócio-econômico, e se trata de um mal global, e não apenas

Discurso de Tomada de Posse do Administrador do Banco de Cabo Verde, Dr. Osvaldo Évora Lima, Praia, 5 de Setembro de 2008

PROJECTO DE LEI N.º 53/XI/1.ª CONSAGRA A CATIVAÇÃO PÚBLICA DAS MAIS-VALIAS URBANÍSTICAS PREVENINDO A CORRUPÇÃO E O ABUSO DO PODER

POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DE EMPREGO E EMPREGABILIDADE

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL

Estado Brasileiro Regime: Democracia Sistema de Governo: Presidencialismo Modelo Constitucional: Estado Democrático de Direito

CHECK AGAINST DELIVERY DISCURSO CONFERÊNCIA OIT SÓ FAZ FÉ A VERSÃO, EFECTIVAMENTE, LIDA -

Ministério da Comunicação Social

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS Grupo Parlamentar

Senhora Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Ordem. Senhor Representante do Presidente do Conselho Municipal da Beira

SEMINÁRIO SOBRE A FISCALIZAÇÃO DA CONTRATAÇÃO PÚBLICA

Intervenção do Deputado do Partido Socialista Berto Messias. sobre Juventude no debate do Programa do X Governo da Região. Autónoma dos Açores

Projecto de Lei n.º 113/XII

PT Unida na diversidade PT A8-0062/17. Alteração

Senhoras e Senhores Membros do Governo. Quero, em primeiro lugar, saudar a Senhora Presidente e. desejar-lhe o maior sucesso no desempenho das suas

Projecto de Lei n.º 761/X. Altera o Código Penal e a Lei n.º 34/87, de 16 de Julho, em matéria de corrupção

Abertura solene da I sessão da Assembleia Parlamentar da CPLP. Saudação do Secretário Executivo da CPLP. São Tomé, 27 de Abril de 2009.

Diploma legal. Convindo regulamentar tais procedimentos; 1 / 7

PROJECTO DE LEI Nº 49/XI NOMEAÇÃO E CESSAÇÃO DE FUNÇÕES DOS MEMBROS DAS ENTIDADES REGULADORAS INDEPENDENTES

Celebramos a União Europeia com a emergência do seu futuro. Com a emergência do nosso futuro.

O Governo da República Portuguesa e o Governo da República Oriental do Uruguai, adiante denominados «as Partes»:

MOÇÃO SECTORIAL DISTRITO DE SANTARÉM

Seminário Os Novos Requisitos ISO 9001-ISO 14001:2015 Contributos para a Melhoria da Competitividade Muito boa tarde,

SUA EXCELÊNCIA FERNANDO DA PIEDADE DIAS DOS SANTOS, PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA

UM GOVERNO SEM REI NEM ROQUE. É extraordinário como o actual Governo se mantém - contra a vontade da esmagadora maioria dos portugueses - com

REFLEXÕES SOBRE UM REGIME PARA O FUNDO NACIONAL DE SOLIDARIEDADE E ASSISTÊNCIA NO ACTUAL CONTEXTO

COM O APOIO DE S. EX. JOÃO MANUEL GONÇALVES LOURENÇO, PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE ANGOLA AFRICA ENERGY SERIES CONFERÊNCIA E EXPOSIÇÃO 2019 ANGOLA 2019

Companhia Siderúrgica Nacional

REPÚBLICA DE ANGOLA TRIBUNAL DE CONTAS. O papel da governação na melhoria da administração pública e o desenvolvimento nacional

INTERVENÇÃO DO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL, DR

Desenvolvimento Local com Justiça Social: Uma Estratégia Alternativa de Combate à Pobreza em Angola.

Sua Excelência Presidente do Parlamento Francisco Lu-Olo Guterres. Sua Excelência Presidente do Tribunal de Recurso Cláudio Ximenes

PROJETO DE LEI N.º 422/XII/2.ª DEFENDE OS SERVIÇOS PÚBLICOS E OS POSTOS DE TRABALHO AFETOS À ATIVIDADE EMPRESARIAL LOCAL E DAS PARTICIPAÇÕES LOCAIS

Transcrição:

ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E VICE- PRESIDENTE DO MPLA Discurso pronunciado pelo Presidente da República de Angola e vice-presidente do MPLA, João Lourenço, no encerramento do seminário sobre "Os desafios do combate à corrupção, ao nepotismo e ao branqueamento de capitais", organizado pelo Grupo Parlamentar do MPLA. Luanda, 13 de Dezembro de 2017. Camarada Secretário-Geral do Partido, Camaradas Membros do Comité Central do Partido e do seu Bureau Político, Camaradas Deputados, Membros do Executivo e Governadores Provinciais, Camaradas das Direcções da OMA e da JMPLA, Camaradas dos Organismos Intermédios e das Organizações de Base, Caros Camaradas, Em boa hora, o MPLA organizou este Seminário para capacitar os nossos militantes e os nossos representantes na Assembleia Nacional a prevenir e combater todo o tipo de crimes que tenham sido ou possam vir a ser cometidos por titulares de cargos públicos. Subordinado ao lema do combate contra a corrupção, o nepotismo, o branqueamento de capitais e outros males, este encontro pode assim caracterizar e condenar aqueles actos ilícitos que atentam contra a dignidade e a credibilidade do Estado e incriminam quem é

suposto representá-lo junto do povo, quer seja deputado, membro do Executivo ou mesmo gestor de empresa pública. No termo de uma discussão aberta e descomplexada, houve um largo consenso sobre a correcta interpretação dos conceitos em causa que, aliás, são universais, pelo menos, nos chamados Estados democráticos e de direito como o nosso. Para levar adiante o combate contra esses males que ainda enfermam a nossa sociedade, era de facto essencial estabelecer primeiro uma plataforma de entendimento que nos fizesse agir a todos, Partido e Estado, na mesma direcção e com o mesmo firme propósito. Louvamos o mérito da iniciativa, mas consideramos que peca apenas por ser tardia se tivermos em conta que o país vive em paz há 15 anos, em plena fase de reconstrução nacional no quadro de uma economia de mercado, e que foi precisamente nesse período que estes fenómenos perniciosos e condenáveis nasceram, cresceram, se enraizaram e ameaçavam se perpetuar, sem que se tivesse enfrentado com a determinação e coragem que se impunham. A Direcção do MPLA, como órgão colegial, assume colectivamente a responsabilidade do que se passou, e que se deveu a nossa inacção e de cujas consequências está hoje o país a pagar. Apesar disso, pelas suas tradições, pelos valores que defende, às vezes desviado por pessoas, pelo apoio indefectível que sempre encontrou junto do povo angolano, o MPLA é efectivamente o Partido mais bem preparado para realizar este difícil combate. Temos consciência de que essa não é uma tarefa fácil, porque vai encontrar pela frente interesses profundamente enraizados e pôr eventualmente em causa agentes públicos que colocam os seus interesses pessoais e de família acima do interesse público. Foi importante ter sido recordado aqui pelo Presidente do nosso Partido que o programa de reformas do anterior Governo, financiado pelo sector do petróleo, foi gravemente afectado pela quebra dos preços desse produto no mercado internacional, tendo baixado substancialmente as Reservas Internacionais Líquidas no primeiro semestre do corrente ano, situação que se arrastou até a tomada de posse do novo Executivo. Essa é mais uma razão para deixarmos de depender de um único produto de exportação, até porque não é crível que o petróleo volte alguma vez a atingir os elevados preços que alcançou no passado.

Assim, só a decisiva diversificação da nossa economia nos permitirá seguir adiante com as reformas necessárias, reduzir os desequilíbrios macroeconómicos, acelerar o crescimento e atingir o desenvolvimento pleno e sustentável. O Programa de Desenvolvimento Económico 2017-2022 aponta os caminhos possíveis, mas tem de passar a haver maior exigência de qualidade na formação dos profissionais da educação, da saúde e da assistência social e uma atenção redobrada aos problemas dessas áreas. É neste contexto que se impõe um cuidado extremo com a aplicação dos fundos públicos destinados a corrigir os desvios, erros e insuficiências desses serviços, pois eles afectam directamente o bem-estar e podem mesmo pôr em risco a própria vida dos que deles dependem. Que a realização deste seminário seja entendida como um sinal claro da vontade política e determinação do MPLA em levar a cabo uma verdadeira cruzada de luta contra a corrupção, o nepotismo, o compadrio em todas as esferas da nossa sociedade e a todos os níveis até algum dia podermos declarar o nosso país livre destes males, a exemplo de quando se declara livre de uma epidemia que a todos ameaça, porque a semelhança e comparação desses dois factos nos parece adequada. Estes males serão combatidos se contarmos com a participação de todos na moralização da nossa sociedade. Contamos com todos os Partidos Políticos, as Igrejas, as Organizações Não-Governamentais, as associações sócio-profissionais, as organizações juvenis e femininas, as universidades na promoção de programas de educação com relação a necessidade do respeito e da preservação do bem público por todos os cidadãos. Por sua vez, esperamos que desta vez finalmente, e ao cabo de muitos anos de indefinição, o Parlamento exerça de facto a sua função fiscalizadora do Executivo, nos termos previstos na Constituição e na Lei. Do Executivo se espera que desempenhe um importante papel nesta luta contra a corrupção e outros males já referidos atrás. Que haja transparência na adjudicação das grandes empreitadas de obras públicas, barragens hidroeléctricas, portos, aeroportos e outras, que se respeite a necessidade da realização de concursos públicos, que a privatização total ou parcial de empresas públicas, a exemplo do que vai acontecer em breve com a Angola Telecom ou com a quarta licença de telefonia móvel, seja feita de forma transparente, através de concurso público ou através da venda de acções na Bolsa ou Bolsas de valores, se reunirem os requisitos para tal.

É, pois, indispensável começar por abalar o sentimento de impunidade que leva os praticantes de actos ilícitos a considerarem-se a salvo de qualquer acção das autoridades constituídas ou de qualquer eventual punição. A legislação existente no país sobre essa matéria, desde que materializada na prática, constitui uma base suficiente para se dar início a uma cruzada mobilizadora da causa pública, sem prejuízo da adopção de outras medidas no futuro. Do mais alto Magistrado da Nação, enquanto Presidente da República e Titular do Poder Executivo, usando dos poderes e faculdades que a Constituição, a lei e o mandato do povo lhe conferem, espera-se que assuma a liderança desta luta que sabemos ser feroz, prolongada, mas da qual sairemos vencedores, porque ele não está sozinho. "Somos milhões e contra milhões ninguém combate, e quem tentar será derrotado", como dizia Agostinho Neto. Gostaria de retomar aqui uma promessa eleitoral, que pode ser materializada uma vez que hoje somos Governo. O país necessita de capitais para se desenvolver, para realizar investimento público em projectos geradores de riqueza, mas sobretudo geradores de emprego para os angolanos, para os nossos jovens. Temos vindo a trabalhar na remoção dos factores inibidores do investimento privado estrangeiro, como a morosidade na concessão dos vistos, a burocracia dos serviços públicos que têm a responsabilidade de aprovar os projectos até a sua implementação, a corrupção de que estamos a falar neste seminário e outros para atrair os investidores estrangeiros para Angola. As perspectivas são boas e encorajadoras se tivermos em conta que muitas intenções de investimento têm surgido para diferentes ramos da economia com destaque para mais de 15 ofertas de refinarias de petróleo após a tomada de posse do novo Conselho de Administração da SONANGOL, mas pretendemos que os angolanos detentores de verdadeiras fortunas no estrangeiro sejam os primeiros a vir investir no seu próprio país se são mesmo verdadeiros patriotas. O Executivo vai no início do ano estabelecer um período de graça durante o qual todos aqueles cidadãos angolanos que repatriarem capitais do estrangeiro para Angola e os investirem na economia, em empresas geradoras de bens, de serviços e de emprego, não serão molestados, não serão interrogados das razões de terem tido o dinheiro lá fora, não serão processados judicialmente.

Mas, findo esse prazo, o Estado angolano sente-se no direito de o considerar dinheiro de Angola e dos angolanos e como tal agir junto das autoridades dos países de domicílio, para tê-lo de volta em sua posse. O Executivo encoraja as entidades competentes na luta contra a corrupção e branqueamento de capitais, como a Unidade de Informação Financeira, os Serviços de Investigação Criminal, a Procuradoria Geral da República e os Tribunais competentes, através da melhor formação e capacitação de seus quadros, bem como de melhor oferta de condições de trabalho e meios técnicos para o cumprimento do dever que cada um a seu nível tem perante a Nação. Uma forma de o fazer é obter uma resposta clara, fundamentada e oportuna por parte da Administração Pública e erradicar do seio das nossas fileiras e das nossas instituições aqueles que comprovadamente praticam crimes que lesam o interesse público. Temos de ser nós a fazer o nosso dever e a cumprir o nosso papel, não deixando que por desleixo ou por descaso, se avolumem crimes que não podem continuar a ser tratados como inerentes à crise. Devemos defender a transparência em todos os actos públicos, evitar as situações susceptíveis de potenciais conflitos de interesses e usar com legitimidade a investigação séria dos comportamentos suspeitos e a punição exemplar dos infractores. Que não se confunda a luta contra a corrupção e outros comportamentos conexos, com a perseguição aos ricos ou a famílias abastadas. Esta é a arma utilizada para confundir e desencorajar os que têm a missão de materializar as orientações do Partido. Em todas as sociedades de economia de mercado há ricos e eles são bem-vindos desde que suas fortunas sejam realizadas de forma lícita, aceitando a sã concorrência e consequentemente combatendo os monopólios. Os ricos são bem-vindos se produzirem bens e serviços, gerarem emprego e contribuírem com os impostos para que o Estado possa ir retirando do limiar da pobreza um número cada vez maior de cidadãos e se amplie e fortaleça a classe média do país. Ao realizar este Seminário, o MPLA veio demonstrar que continua coerente com os seus princípios e que não teme aprofundar temas delicados, desde que da análise e discussão das suas premissas resultem soluções favoráveis aos interesses mais legítimos do povo angolano.

Acreditamos que este debate continuará a nível da sociedade civil, não para julgar alguém, mas para contribuir com subsídios seus, nem sempre completa e claramente identificados por nós, MPLA, mas que podem vir a ser de grande utilidade nesta luta que é de todos nós. Nessa medida, foram de grande importância as conclusões a que chegamos e espero que daqui para a frente possamos todos agir em conformidade e dar um combate sem tréguas aos males da nossa sociedade que afectam a nossa economia e o bem-estar dos nossos cidadãos. Estamos de acordo que é necessário um clima de estabilidade política e social e que nem tudo pode ser feito num dia e de forma radical, mas sabemos também que as expectativas dos cidadãos são elevadas e não podem continuar a ser defraudadas. Não podemos adiar por muito mais tempo a tomada das medidas necessárias para "melhorar o que está bem e corrigir o que está mal". O próprio Comité Central do nosso Partido, no seu último comunicado público, nos pede celeridade na implementação das medidas que visam alcançar a estabilidade macroeconómica, relançar a economia e mitigar os problemas sociais mais prementes. De facto, só unidos e determinados poderemos ter esperança de ir minimizando os enormes prejuízos que a corrupção, o nepotismo, o branqueamento de capitais e outros males equivalentes têm até aqui causado a nossa economia, bloqueando ou atrasando o bem-estar e o progresso social do nosso povo e o desenvolvimento harmonioso e sustentável do país. Agradeço a presença e a participação de todos os Camaradas do nosso Partido e dou desta forma por encerrado este Seminário. Muito Obrigado!