AVALIAÇÃO E EXPERIMENTAÇÕES DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DOS RESÍDUOS DESCARTADOS PELO POLO DE CONFECÇÕES DE GOIÂNIA EM NOVOS PRODUTOS DE MODA

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Transcrição:

12º Colóquio de Moda 9ª Edição Internacional 3º Congresso de Iniciação Científica em Design e Moda 2016 AVALIAÇÃO E EXPERIMENTAÇÕES DO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DOS RESÍDUOS DESCARTADOS PELO POLO DE CONFECÇÕES DE GOIÂNIA EM NOVOS PRODUTOS DE MODA Evaluation and experiencing textiles and textiles wastes from Goiania apparel industry in new fashion products Neira, Dorivalda Santos Medeiros; Doutora; Universidade Federal de Goiás, dorivaldasm@hotmail.com 1 Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo apresentar possíveis soluções para o desenvolvimento de produtos de moda com design orientado a sustentabilidade. Para tal proposta, utilizaram-se resíduos têxteis e técnicas de trabalhos manuais e artesanais. As experimentações foram realizadas durante a disciplina de Tecnologia têxtil, moda e sustentabilidade do curso de Design de Moda da UFG. Palavras chave. Resíduo têxtil; moda; sustentabilidade, Abstract: This research aims to present possible solutions to the development of fashion products with sustainability-oriented design. For such a proposal, they used textiles and technical waste manual and craft work. The trials were conducted during the course of textile technology, fashion and sustainability of the course of Fashion Design at UFG. Keywords. Textile waste; fashion; sustainability. Introdução Em meio ao atual cenário econômico mundial, a indústria têxtil e de confecção se destacam como sendo a terceira maior economia do mundo impulsionada pelo sistema da moda. Para sustentar tal posto é necessário grande produção têxtil, que vem sendo aceleradas pelo modelo de negócio das fast fashions que abastece o desejo por novidades no mercado, proporcionando aumento do consumo e grande demanda por matéria- prima. 1 Graduada em Engenharia Têxtil (UFRN) com mestrado e doutorado em Engenharia Mecânica na área de Tecnologia de Materiais (UFRN). Professora adjunta do curso de Design de Moda da UFG.

O Estado de Goiás se destaca na moda, como um dos principais Polos de Confecção de Vestuário do país, gerando rotatividade na economia, grande número de empregos, com isso, grande quantidade de resíduos têxteis são gerados. No município de Goiânia, onde o polo de confecções se destaca, a quantidade de tecidos e outros materiais descartados na produção de vestuário. O aumento da produção provoca impactos ambientais que são oriundos das etapas de desenvolvimento de um produto têxtil. De acordo com Braungart e McDonough (2014), normalmente, as manufaturas convencionais têm, de modo preponderante, efeitos colaterais negativos. Os resíduos sólidos da produção de tecido e dos recortes de tear apresentam outro problema, como o fato de grande parte do material usado para a fabricação de têxteis ser de base petroquímica. Os efluentes e o lodo dos processos de beneficiamento não podem ser depositados nos ecossistemas de forma segura, sendo então, frequentemente, enterrados ou queimados como resíduos perigosos. O próprio tecido é vendido por todo o mundo, usado e depois jogado fora o que significa, geralmente, incinerado, liberando toxinas, ou colocado em aterros. Neste âmbito, fica clara a necessidade de processos de produtivos mais sustentáveis, melhor aproveitamento da matéria-prima e dos materiais produzidos (tecidos e aviamentos). Dada complexidade de todo sistema produtivo da indústria têxtil e de confecção, Fletcher e Grose (2011) apontam que a exploração de materiais tem sido o ponto de partida para a maior parte da inovação sustentável na moda e completam que ao substituir materiais realiza-se um alívio dos impactos, porém, a missão ainda não está cumprida. E completam ainda que a inovação liderada por materiais é um paliativo, onde podemos ter respostas mais rápidas e que não demandam abalos reformadores nos negócios. Partindo desse pressuposto, na disciplina Tecnologia Têxtil, Moda e Sustentabilidade do curso de Design de Moda da Universidade Federal de Goiás - UFG iniciou-se um estudo acerca dos resíduos têxteis (retalhos) a fim de despertar nos futuros profissionais da área a responsabilidade para uma melhor gestão dos recursos materiais em produtos de moda. O conhecimento 2

de todo processo produtivo da cadeia têxtil e o gasto de água, energia e insumos durante o processamento dos tecidos fez com que os alunos despertassem o interesse para o melhor aproveitamento dos materiais têxteis empregados em produtos de moda. Design para sustentabilidade O profissional de moda está diante de um desafio: enfrentar, pelo design, um estado de complexificação e inovação sociocultural perene no território profissional. Mais que uma crise, a situação contemporânea revela oportunidade e responsabilidade histórica, inevitável. Portanto, como inserir a moda, considerada uma atividade efêmera e movida pelo consumo, no perfil de um novo consumidor consciente? Para Manzini e Vezzoli (2002) o design para a sustentabilidade é projetar produtos que resultem em alta qualidade social com o mínimo de desperdício e prejuízo para a natureza e que, no futuro, produzam impactos positivos na sociedade e no ambiente. Para Refosco et al (2011) as ações para um mundo sustentável dependem da coletividade, assim sendo se está perante de um grande desafio, tanto para a moda, quanto para toda sociedade humana. O grande desafio encontra-se na responsabilidade em gerar novos artefatos, com a consciência ambiental e um compromisso com a sociedade. Diante desse contexto, o designer deve planejar e disseminar o bom senso nos produtos que projeta; considerar a avaliação do ciclo de vida dos produtos; recorrer a novas técnicas e abordagens projetuais; conceber produtos com recursos provenientes de comunidades locais; buscar unir e reorganizar a utilização dos recursos renováveis; realizar a utilização eficaz dos recursos, união entre produção social e consciência coletiva da extração. Nesse sentido, vale destacar o trabalho da designer Celeste Heitmann, onde cada peça é criada artesanalmente, o que dá um conceito de exclusividade. Em seus trabalhos, a temática regional sempre está em evidência. Celeste, ao criar suas peças, tem a missão de aliar a sustentabilidade e o design, na perspectiva de valorização da cultura local. Da 3

coleção Raízes lusitanas, coração paraense, a bolsa Havana mereceu destaque, pois foi elaborada com filtros de café reutilizados, couro, ferragens douradas e um design contemporâneo. A designer Baby Steinberg também propõe a utilização de resíduos sólidos e cria modelos únicos a partir de uma vasta gama de materiais e tecidos reprocessados. E foi criando peças genuínas que Baby tornou-se a única designer brasileira a participar da FAT - Fashion Art Toronto, semana de moda no Canadá, no ano de 2010. O que é lixo (filtros de café, máscaras cirúrgicas, sacos plásticos, resíduo de indústria têxtil, tampas de medicamento, entre outros) para Steinberg é matéria-prima para a construção de novos produtos. Outro exemplo é o do estúdio Crua Design que tem como conceito a ressignificação de materiais. Através de um olhar atento e sensível os designers buscam a harmonia de materiais reutilizados ou inusitados com novos elementos. Transparece no minimalismo das peças a preocupação com a essência do design e a elegância da matéria-prima. A troca de conhecimentos é outro fator importante, o estúdio posiciona-se de maneira aberta à parcerias, com outros designers e artistas, o que agrega personalidade e valor aos seus projetos. Outros trabalhos realizados por designers brasileiros como Ronaldo Fraga e Walter Rodrigues merecem destaque. Ao prospectar as potencialidades de pequenos grupos de artesãos em diversas regiões do país, esses profissionais buscaram valorizar suas habilidades, a cultura material e imaterial e a busca da identidade regional em produtos de moda. Alguns desses trabalhos podem ser destacados como as bordadeiras de Passira-PE, as costureiras de Quipapá-PE, as rendas de bilro de Natal-RN, entre outros. Na perspectiva contemporânea de consumo consciente, os critérios estão mudando, as pessoas querem saber: De onde vem? Para onde vai? Quem se beneficia? Neste contexto, propõe-se realizar experimentações com os resíduos sólidos gerados pelas confecções do município de Goiânia e avaliar o potencial de aplicação desses materiais em projetos de design de moda. 4

Fletcher e Grose (2011) afirmam que a moda está sujeita a fatores que vão influenciar e determinar o uso ou abolição de determinado material ou tecnologia. Esses fatores estão relacionados aos aspectos sociais, religiosos, econômicos e geográficos. Na sociedade contemporânea, podem-se acrescentar dois novos fatores inerentes ao aspecto social: o ético e o ambientalista. Métodos utilizados para experimentações Para avaliação do potencial de utilização dos resíduos têxteis em produtos de moda, foi necessário um conjunto de informações que foram desde pesquisas de empresas fornecedoras de resíduo têxtil, coleta e seleção de materiais, estudo de técnicas artesanais de tricô, crochê, macramê, tecelagem manual, patchwork, técnicas de aplicação de tecidos entre outras. Cada material têxtil disponível foi testado de acordo com a técnica que mais se adaptava. A opção por técnicas manuais e artesanais surgiu pelo aspecto econômico e disponibilidade de ferramentas de trabalho, além da possibilidade de engajar comunidades de artesãos. Após as experimentações com os materiais têxteis selecionados e avaliação do seu desempenho em relação à técnica escolhida procedeu-se a criação das peças, utilizando a referência metodológica de Treptow (2013). Sugeriu-se que as peças fossem criadas tendo como referência para o processo criativo o Estado de Goiás. Resultados e Discussão O trabalho com resíduos têxteis requer do criador habilidade e conhecimento de materiais têxteis, além da familiaridade com as diversas técnicas de trabalho manual. No vestido desenvolvido pela aluna Isabella Lisboa (Figura 1) foi utilizada a técnica do macramê. Neste caso, o caimento desejado das franjas só foi possível utilizando-se resíduos de malha viscolycra. Ao cortar as tiras no sentido das colunas da malha e aplicar uma leve tensão, a tira enrola-se formando um tubo, o que confere um bom acabamento ao trabalho final, na técnica proposta. 5

Figura 1: Vestido desenvolvido com detalhes de cintura e bainha na técnica de macramê. Inspiração: Cultura country goiana. No colete desenvolvido pela aluna Renata Xavier e mostrado na Figura 2, utilizou-se a técnica do tricô, utilizando-se tiras de tecido meia malha que também seguiu o mesmo procedimento utilizado na Figura 1, ou seja, tiras são cortadas na largura desejada ao aplicar uma leve tensão a tira enrola-se e torna melhor o acabamento da peça. Como completa Liger (2012), todo material deve ter características que garantam a qualidade do produto. Figura 2: Colete desenvolvido pela técnica de tricô. 6

O colete Cívico (baseado no planejamento urbano da Região Central da cidade de Goiânia) foi desenvolvido pelo aluno Nathan Oliveira (Figura 3). Nesta peça foi utilizada a técnica de patchwork, utilizando-se vários tipos de tecidos planos, com texturas e cores diferentes (brim acetinado, jeans, tecido com armação espinha de peixe e flamê). Figura 3: Colete Cívico, em referencia a Praça Cívica da cidade de Goiânia. Todos os alunos que estiveram envolvidos no trabalho despertaram o interesse no melhor aproveitamento de resíduos têxteis descartados pelo polo de confecção goianiense. Vale salientar que cada retalho de tecido (plano ou malha) carrega consigo um gasto de energia, alguns litros de água gastos durante o processamento, uma parcela de poluição ambiental com efluentes gerados durante o beneficiamento, mão de obra, muitas vezes mal remunerada, quando não é advinda de trabalho escravo. Logo, o objetivo deste trabalho foi chamar a atenção dos futuros profissionais de design de moda para o grave problema da má gestão dos resíduos têxteis e a grande quantidade gerada desses resíduos impulsionadas pelo consumo de moda. 7

Explorar o potencial de utilização dos resíduos têxteis em produtos de moda, aliando design e sustentabilidade e experimentando técnicas manuais de patchwork, macramê, tricô entre outras foi de grande importância para os alunos, uma vez que possibilitou experimentações das técnicas com novos materiais, isto é, em detrimento dos comumente usados, linhas e fios. Considerações Finais Despertar nos profissionais de design de moda o bom senso nos produtos que projeta, considerando sempre que possível a avaliação do ciclo de vida dos produtos, utilizando e recorrendo a novas técnicas e abordagens projetuais, principalmente usando tecnologias que diminuam o nível de resíduos sólidos gerados. Conceber produtos com recursos provenientes de comunidades locais. Envolvimento em projetos de abordagem social que contribuam para modificar práticas culturais, sociais e econômicas e inclusão social das pessoas por meio da potencializarão das suas vocações produtivas (design e artesanato). Como citado anteriormente, a inovação liderada por materiais é considerada um paliativo baseado nos processos complexos que envolvem a sustentabilidade na moda. Porém, o objetivo foi alcançado ao resgatar técnicas manuais e aproveitamento de resíduos têxteis. Referências BRAUNGART, Michael e McDONOUGH, Willian. Cradle to cradle: criar e reciclar ilimitadamente. São Paulo: Editora G. Gili, 2013. FLETCHER, Kate e GROSE, Lynda. Moda e Sustentabilidade: Design para a mudança. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011. LIGER, Ilce. Moda em 360 graus: design, matéria-prima e produção para o mercado global. São Paulo: Editora Senac, 2012. MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. 8

REFOSCO, Ereany; MAZZOTTI, Karla; SOTORIVA, Márcia; BROEGA, Ana Cristina - O novo consumidor de moda e a Sustentabilidade. Anais do VII Colóquio de Moda 12 a 14 de setembro de 2011. TREPTOW, Doris. Inventando Moda: planejamento de coleção. São Paulo Edição da Autora, 5 Ed., 2013. VEZZOLI, Carlo. Design de sistemas para a sustentabilidade. Salvador - BA: Editora da Universidade de Federal da Bahia, 2010. 9