SALVAÇÃO JUSTIFICAÇÃO SANTIFICAÇÃO - PREDESTINAÇÃO JUSTIFICAÇÃO E SANTIFICAÇÃO Não é possível tratar da justificação sem falar da santificação. As duas coisas são dois lados da mesma moeda, que chamamos de salvação. Aqui encontramos o centro da nossa fé. Uma teologia sadia se define a partir desse tema. Encontramos a base bíblica deste ensino em Rm 1-8, Gl e Ef 2.8-10. Recomendo a leitura, o estudo e a reflexão sobre estes capítulos e versículos da bíblia. Quem balança aqui está em perigo. PORQUE JUSTIFICAÇÃO O HOMEM COMO PECADOR O homem é um pecador. Isto se manifesta em alguns pontos. Primeiro, ele está encurvado em si mesmo. Ele está vendo e percebendo tudo sob a perspectiva do seu eu. Por si ele não ele não quer deixar Deus ser o seu Senhor. Segundo, ele é viciado no mundo. As coisas que ele deveria dominar o estão dominando. Nestes pontos percebemos a perdição do ser humano nossa perdição. Outro ponto que nos faz visualizar a nossa natureza pecaminosa: não conseguimos não pecar. O ser humano não é pecador porque peca o ser humano peca porque é pecador. A LEI DE DEUS E O PECADOR A lei de Deus é santa e pura e expressa a vontade completa de Deus. Mas a lei agora encontra o pecador e vai iniciar um processo mortal. O ser humano aparece sob a luz da lei como pecador. Agora a perdição do ser humano se torna visível. Ele está agindo de três formas: Como um criminoso (negando e ultrapassando a lei) Como um fariseu (se auto-glorificando) Como um inimigo (desespero e ódio contra Deus) A IMPOSSIBILIDADE DA AUTO JUSTIFICAÇÃO
A conclusão: o homem não pode em nenhum momento se salvar a si mesmo. A lei se torna acusadora e juíza e está nos julgando. Não posso viver nem tenho vida diante de Deus. Estou morto. A OBRA DE DEUS Percebendo e aceitando estes fatos dependemos agora totalmente da obra de Deus. Ele é o único que pode salvar e resgatar. JUSTIFICAÇÃO Justificação então significa: Deus nos justifica através do seu filho Jesus Cristo mediante a fé. Mas nem a fé é obra nossa. Se a fé fosse obra nossa, não poderíamos ser salvos, estaríamos negando a salvação somente através de Jesus como obra única de Deus. Justificação nunca pode ser entendida como uma obra mista ou em conjunto. Ou Deus está nos salvando ou somos perdidos. Justificação é o ato de Deus por nós, em favor de nós. SANTIFICAÇÃO Santificação neste sentido também é somente obra de Deus. Mas agora a obra em nós. As duas coisas não podem ser separadas. Ele age em favor de nós e em nós. Quem é justificado é santificado e vai ter uma vida de santificação. JÁ AGORA, MAS AINDA NÃO Aqui precisamos diferenciar entre os termos já agora e ainda não. Aqui no mundo somos justos e pecadores ao mesmo tempo. Quem está em Jesus não pode e não vai pecar. Cristo está em mim já agora. Eu sou salvo e santo já agora. Mas a minha velha natureza ainda existe, de modo que ainda não alcanço uma vida sem pecado. O pecado que estou fazendo me coloca novamente sob a cruz e me mostra que sou pecador total. Se posso evitar o pecado estou percebendo a graça de Deus, que vale para mim já agora. O USO DA LEI Tradicionalmente se fala na teologia luterana de dois/três usos da lei: USUS POLITICUS A lei regula a vida na sociedade. Precisamos da lei para que a pessoa esteja protegida e para que a convivência não se torne um caos. A lei abafa os efeitos do pecado. USUS ELENCHTICUS A lei nos guia para a graça em Cristo. Percebendo que a partir da minha força não consigo nem crer nem fazer boas obras, preciso a palavra da graça e do evangelho. TERTIUS USUS LEGIS Depois da justificação a lei é útil para que saibamos o que é a vontade de Deus. Mas desse jeito negamos a obra santificadora de Deus em nós e corremos o grande risco de cair num novo farisaísmo. Precisamos da plena confiança de que o Senhor que começou a boa obra em nós também vai terminá-la. PREDESTINAÇÃO
Se a nossa justificação é justificação pela graça sem a nossa cooperação, então claramente está à nossa frente o pensamento da predestinação. TEXTOS BÍBLICOS Jo 15.16 Rm 8.29-30 Rm 9.10-23 1Co 1.26-31 Ef 1.4-6; 11-12 2Ts 2.13 São estes os textos bíblicos que claramente falam da predestinação. Existem muitos outros textos que indicam o fato. As simples palavras: escolhido, eleito, chamado etc. sublinham o pensamento que Deus age na sua soberania. SIGNIFICADO A PALAVRA A palavra em si significa: ser destinado para algo, sem ter uma escolha. No contexto bíblico esta palavra significa que Deus, em sua graça, escolheu as pessoas para que elas sejam salvas. NÓS SOMOS CAVALOS Conforme a Bíblia, somos pecadores por natureza. Nós agimos mal porque somos pecadores. Nós não somos pecadores porque agimos mal. Na justificação Deus entra na nossa vida e habita em nós através do seu Espírito Santo. Mas nós nunca somos neutros. Não existe uma situação na qual estamos diante de dois caminhos e podemos escolher ou um ou outro. Nós sempre estamos num caminho, não há tempo ou trecho neutro nas nossas vidas. Lutero fala que somos cavalos. Ou somos montados pelo diabo ou por Deus. TODA HONRA E GLORIA AO DEUS A Bíblia está bem clara nas suas colocações. Deus nos escolheu para que ninguém possa se gloriar. Toda honra e glória pertence a Deus. Nós não podemos fazer nada, tudo depende de Deus; isso significa que nós temos que adorar a ele. O pensamento de uma colaboração humana nega a ação incondicional e completa de Deus. A palavra graça está incluindo o pensamento da escolha livre de Deus. O meu Sim é o Sim de que ele age em mim. COISAS INFERIORES E SUPERIORES Nós temos que perceber que isso não tem nada a ver com o determinismo, no sentido de que nós somos fantoches na mão de Deus. Temos que discernir entre as coisas superiores e inferiores. Nas questões da nossa salvação, não temos livre arbítrio. Não temos escolha; Deus escolhe. Existe somente o servo arbítrio. Mas nas coisas inferiores temos livre arbítrio. Em questões de dinheiro, casamento, amizades, atividades etc. podemos escolher o que queremos. Muitas vezes nós invertemos as coisas. Falamos num plano de Deus para a nossa vida e desse jeito estamos dizendo que é a nossa tarefa encontrar este plano, este destino de Deus para a nossa vida. Pensamos que ele escolheu uma esposa, um esposo, ou uma casa ou um carro para a gente, mas nestas coisas temos livre arbítrio. OS IMPERATIVOS NA BÍBLIA
Mas o que fazer com os imperativos que encontramos na bíblia? Os imperativos são a lei! Eles ajudam na convivência e a tarefa nobre da lei é mostrar-nos que somos pecadores e precisamos de Jesus. Ninguém pode se salvar através da lei. Paulo diz em Gl 3.23-25 que a lei é o nosso tutor, o pedagogo que nos dirige para Cristo. PENSAMENTO DE CONSOLO Em primeiro lugar temos que compreender que o pensamento da predestinação é um pensamento de consolo. A salvação não depende de nós. Que alívio! Deus nos escolheu, estamos na sua mão e ele nos justificou e santificou em Cristo Jesus. Uma fé tímida tem o seu fim neste pensamento. Nós pecamos, mas pecamos na mão de Deus. Ele nos fornece a força e a vontade de servir a ele: Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo. (Fp 1.6) Temos que acabar com o pensamento de que somos cristãos por nossas próprias forças. O nosso jugo é leve. DEUS É INJUSTO? Uma das perguntas que sempre surgem: Mas Deus é injusto. Ele somente está escolhendo poucos e muitos estão perdidos. Que respostas podemos dar? A SOBERANIA DE DEUS A primeira resposta é uma resposta que Paulo está nos dando em Rm 9.20: Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Nós não somos Deus, ele é soberano. Temos que deixar Deus ser Deus. Nós estamos em constante perigo ao fazer de Deus o nosso Deus de bolsa, que entendemos e compreendemos clara e completamente. Deus é Deus e em comparação com ele não somos nada. Conseguimos nos humilhar e reconhecer a soberania de Deus. Caso ele queira nos mandar a todos para a condenação, ele não teria todo o direto? Ao final das contas somos todos pecadores e não merecemos outra coisa. Ainda não entendemos isso? Mas mesmo sabendo que vamos ser condenados deveríamos dar toda honra e gloria a Deus, porque ele não deixa de ser soberano e Deus. Ou somente achamos que Deus merece toda honra e gloria enquanto ganhamos alguma coisa, como o perdão ou a vida eterna? Isso seria uma fé egoísta e somente reflete o velho Adão. O DEUS REVELADO E O DEUS ESCONDIDO Quero dar a segunda resposta através de Lutero: Ele fala que conhecemos um Deus revelado e um Deus escondido. O que podemos e devemos saber de Deus para a vida da fé é revelado. Ele se revelou em Jesus. Aí temos o Deus de amor que deu seu filho unigênito por nós. Podemos e devemos saber que Deus ama a gente e que esta mensagem, o evangelho, é a nossa tarefa para que outros possam ouvir a mensagem libertadora de Deus. Por outro lado existem perguntas e dúvidas a respeito de Deus, que incomodam e até nos confundem e perturbam, mas a bíblia não traz uma resposta. Deus não se revelou nestes casos e aí ele fica sendo o Deus desconhecido e escondido. Mas estas coisas não podem ser motivo para nós abandonarmos Deus ou nos afastarmos dele. Dt 29.29: As coisas encobertas são para o SENHOR, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei. PORQUE EVANGELIZAR Uma das perguntas frequentes neste contexto: Por que então evangelizar? A primeira resposta: Deus mandou e ordenou isto. A segunda resposta: Por incrível que pareça, Deus está fazendo de nós obreiros da sua predestinação. Através da sua palavra a predestinação chega a seu alvo. Por isso Paulo está dizendo em Rm 10.17: De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. 2Ts 2.13-14 está expressando o mesmo fato desta forma: Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a
salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade, para o que, pelo nosso evangelho, vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Deste jeito somos colaboradores de Deus e não há nada mais urgente e importante do que o testemunho do evangelho. COMO EVANGELIZAR Estes pensamentos deveriam transformar e marcar também o estilo das nossas evangelizações. Nós não deveríamos colocar um fardo sobre as pessoas, mas aliviá-las e anunciar as boas novas. A evangelização não é lugar para criar medo ou estabelecer um legalismo. Nas evangelizações temos o lugar apropriado para anunciar o amor e a misericórdia de Deus, sabendo que ele salva e que ele transforma e que seu amor dura para sempre.