MECANISMOS E FONTES DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE NATAL/RN POR NITRATO

Documentos relacionados
COMPORTAMENTO DO NITRATO EM POÇOS TUBULARES NO ENTORNO DA LAGOA DO BONFIM NÍSIA FLORESTA/RN

COMPORTAMENTO DO NITRATO EM POÇOS TUBULARES NO ENTORNO DA LAGOA DO BONFIM NÍSIA FLORESTA/RN

Ciclos Biogeoquímicos

Prof. Marcelo Langer. Curso de Biologia. Aula 12 Ecologia

EVOLUÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE NITRATO EM POÇOS LOCALIZADOS SOB DUNAS

V AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA NO MUNICÍPIO DE CAIÇARA DO NORTE - RN

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA TRANSFORMAÇÕES DA MATÉRIA E QUANTIDADES LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA NATUREZA. Uruguaiana, maio de 2016.

NITROGÊNIO. Princípios da Modelagem e Controle da Qualidade da Água Superficial Regina Kishi, 7/24/2015, Página 1

ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE ÍONS NITRATO NOS POÇOS TUBULARES QUE ABASTECEM NOVA PARNAMIRIM

Fundamentos de Ecologia

I REMOÇÃO DE MATÉRIA CARBONÁCEA, NUTRIENTES E CONTAMINANTES BIOLÓGICOS EM BACIA EXPERIMENTAL PELO PROCESSO DE INFILTRAÇÃO RÁPIDA

BIOLOGIA. Ecologia e ciências ambientais. Ciclos biogeoquímicos Parte 2. Professor: Alex Santos

Brasil. Cunha, M. C. B. ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE ÍONS NITRATO NOS POÇOS TUBULARES QUE ABASTECEM NOVA PARNAMIRIM HOLOS, vol. 6, 2012, pp.

Ocorrência de nitrato no sistema aquífero Bauru e sua relação com a ocupação urbana no município de Marília.

Estudo da interacção água subterrânea/água superficial nos sistemas associados à Lagoa de Albufeira, em periodo de barra aberta

UFSM/Engenharia Química 5. USC/Dept. Chemical Engineering/School of Engineering

7 Cargas na bacia. Carga = Massa / Tempo. Carga = Q x C. Cargas Pontuais Cargas Difusas. Fontes pontuais. Fontes difusas

CÓDIGO NITRATO NAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO ESTADO DE SÃO PAULO: COMO DESARMAR ESSA BOMBA RELÓGIO?

Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Antoine de Lavoisier

INTRODUÇÃO. Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Antoine de Lavoisier

José Geraldo de Melo 1 & Marcelo Augusto de Queiroz 2

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Rurais Curso de Zootecnia Disciplina de Manejo e fertilidade do Solo ADUBAÇÃO ORGÂNICA

Poluição Ambiental Nitrogênio e Fósforo. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

PHD-5004 Qualidade da Água

INTERACÇÃO ÁGUA-ROCHA O caso das rochas ígneas, sedimentares e metamórficas

Poluição Ambiental Nitrogênio e Fósforo. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

Comportamento do nitrato em poços do aquífero Dunas/Barreiras nas explotações Dunas e Planalto, Natal, RN, Brasil

VULNERABILIDADE DE AQÜÍFEROS

Prof. MSc. Leandro Felício

METABOLISMO DO NITROGÊNIO Prof. Dr. Roberto Cezar Lobo da Costa

AVALIAÇÃO DA SÉRIE NITROGENADA NA REDE POÇOS DE ABASTECIMENTO DA CIDADE DO NATAL

POTABILIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO LITORAL DO MUNICÍPIO DE CAUCAIA CEARÁ

CURSO: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DISCIPLINA: FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA PROFª LUCIANA GIACOMINI

ELEMENTOS-TRAÇO NO AQUÍFERO MACACU, RIO DE JANEIRO BRASIL

Ciclos Biogeoquímicos

Indústria Comércio Resíduo Acidentes Desconhecida. Figura Distribuição das áreas contaminadas em relação à atividade (CETESB, 2006).

Fluxos de Energia e de Materiais nos Ecossistemas

4.2 - Poluição por Nutrientes Eutrofização Aumento de nutrientes, tipicamente compostos contendo N e P, no ecossistema.

Ricardo Hirata Diretor CEPAS USP Profesor Instituto de Geociencias Universidade de São Paulo

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus Campina Grande-PB

A INFLUÊNCIA DO AUMENTO DE NITRATO NA SAÚDE DAS POPULAÇÕES DE BAIXA RENDA ECONÔMICA

ANÁLISE INTEGRADA DA QUALIDADE DA ÁGUA E DOS ECOSSISTEMAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DA RIBEIRA DE MELIDES

Hidrogeologia urbana: uma visita às cidades brasileiras

Ciclos em escala global, de elementos ou substâncias químicas que necessariamente contam com a participação de seres vivos.

Ciclos Biogeoquímicos. Prof. Fernando Belan - BIOLOGIA MAIS

Ciclos biogeoquímicos

UTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO MUNICÍPIO DE PARAÍSO DO TOCANTINS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

José Cláudio Viégas Campos 1 ; Paulo Roberto Callegaro Morais 1 & Jaime Estevão Scandolara 1

TRAÇADORES ISOTÓPICOS DE CARBONO E NITROGÊNIO EM BACIAS FLUVIAIS: CASOS DOS RIOS TIETÊ E PIRACICABA

Proteção de nascentes

IFRN CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DAS DENOMINAÇÕES DOS AQUÍFEROS NO ESTADO DE SÃO PAULO. José Luiz Galvão de Mendonça 1

NITRATO EM AQÜÍFERO FREÁTICO NA AMAZÔNIA ORIENTAL CIDADE DE SANTA IZABEL DO PARÁ BRASIL

Ecologia: definição. OIKOS Casa LOGOS Estudo. Ciência que estuda as relações entre os seres vivos e desses com o ambiente.

COMUNICAÇÃO TÉCNICA Nº Os riscos de gases e vapores nocivos no subsolo. Marcela Maciel de Araújo

Poluição Ambiental Matéria Orgânica e Carga Poluidora. Prof. Dr. Antonio Donizetti G. de Souza UNIFAL-MG Campus Poços de Caldas

Resultados dos Estudos Hidrogeológicos para Definição de Estratégias de Manejo das Águas Subterrâneas na Região Metropolitana de Natal- RMN

01/03/2013 FLUXO DE ENERGIA E MATÉRIA. A matéria obedece a um ciclo FLUXO CÍCLICO PRODUTORES CONSUMIDORES. MATÉRIA INORGÂNICA pobre em energia química

PROCESSOS DE RETENÇÃO E MOVIMENTO DE CONTAMINANTES ORGÂNICOS E INORGÂNICOS EM SOLOS E AQUÍFEROS

Ciclos Biogeoquímicos

II-173 A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO COMO ORIGEM DA POLUIÇÃO DOS CORPOS RECEPTORES: UM ESTUDO DE CASO.

Ciclos Biogeoquímicos

ÁGUA. Notas sobre a crise e sobre a situação do saneamento no Brasil

DETERMINAÇÃO DE ÁREAS DE RISCO POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ATRAVÉS DE SIG

Funções e Importância da Água Regulação Térmica Manutenção dos fluidos e eletrólitos corpóreos Reações fisiológicas e metabólicas do organismo Escassa

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS OU CICLOS DA MATÉRIA

CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS E HIDRÁULICAS DOS POÇOS TUBULARES DA APA CARSTE LAGOA SANTA E ENTORNO, MG

CICLO DO NITROGÊNIO RELAÇÃO DE DEPENDÊNICIA ENTRE OS COMPOSTOS NITROGENADOS DA BIOSFERA - NITRATO NO 2 NO 3 - NITRITO NH 3 - AMÔNIA

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA RH-VIII BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS MACAÉ, DAS OSTRAS E LAGOA DE IMBOASSICA ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA RH-VIII

Geografia. Claudio Hansen (Rhanna Leoncio) Água

) NAS ÁGUAS DO AQÜÍFERO BARREIRAS NOS BAIRROS DO REDUTO, NAZARÉ E UMARIZAL BELÉM/PA

Características hidroquímicas e hidrodinâmicas do aquífero na planície arenosa da Costa da Caparica

CONTAMINAÇÃO QUÍMICA POR CHORUME E LANÇAMENTO DE EFLUENTES DOMÉSTICOS NAS ÁGUAS SUPERFICIAIS NO ENTORNO DO ATERRO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE MANAUS/AM

II DISPOSIÇÃO DE LODO DE ESGOTO NO SOLO AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS SANITÁRIOS

Diagnóstico da qualidade química das águas superficiais e subterrâneas do Campus Carreiros/FURG.

O NITROGÊNIO NA FORMA DE NITRATO PRESENTE EM ÁGUAS DO SEMIÁRIDO CEARENSE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS INSTITUTO DE QUÍMICA E GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ANALÍTICA E INORGÂNICA DISCIPLINA DE QUÍMICA AMBIENTAL II

CHORUME DE ATERRO NÃO É ESGOTO PRECISA DE TRATAMENTO ADEQUADO

Mini - curso Monitoramento de Águas Subterrâneas

Ciências do Ambiente

Benefícios e Desafios da Intensificação da Carcinicultura em Águas Interiores

Água doce disponível: pequena parcela da água mundial:

5 Caracterização Hidrogeológica

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA APLICADOS À PRESERVAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE ENGENHARIA CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL HIDROLOGIA APLICADA

II-019 ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS SISTEMAS DE PÓS- TRATAMENTO PARA REATORES UASB EM ESCALA REAL

QUALIDADE DE ÁGUA DE POÇO DE ABASTECECIMENTO DA CIDADE DE DELTA-MG

BLOCO V ÁGUA COMO RECURSO NO MOMENTO ATUAL. Temas: Escassez. Perda de qualidade do recurso (água) Impacto ambiental

Água subterrânea... ou... Água no subsolo

Curso: Energias Renováveis Processos de biodigestão

CURSO DE AGRONOMIA FERTILIDADE DO SOLO

Aula Manejo de dejetos suinos 1/9. Produção de suínos. Eduardo Viola

REAÇÃO DO SOLO. Atributos físicos e químicos do solo -Aula 11- Prof. Alexandre Paiva da Silva INTRODUÇÃO. Solos ácidos: distribuição geográfica

Transcrição:

MECANISMOS E FONTES DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE NATAL/RN POR NITRATO José Geraldo de Melo 1, Marcelo Augusto Queiroz 2 e Johannes Hunziker 3 Resumo Este artigo foi escrito com base nos estudos desenvolvidos na Zona Norte da cidade de Natal (MELO, 1995), Zona Sul de Natal (MELO, 1998) e nos resultados de análises químicas e isotópicas (isótopos de nitrogênio) de uma amostragem d água em cinco poços efetuada em Fevereiro de 1998. A cidade de Natal é suprida principalmente por águas subterrâneas armazenadas nos sedimentos arenosos Grupo Barreiras localizados sob o seu domínio. Uma grande parte da área urbana está afetada por teores de nitrato elevado, superiores aos padrões recomendados pela OMS que é de 45 mg/l. A contaminação por nitrato foi atribuída ao sistema de saneamento com disposição local de afluentes domésticos mediante a biodegradação destes. As avaliações de isótopos de nitrogênio indicaram valores de 15 N em geral superiores a 9 0 / 00, confirmando que a fonte de nitrato nas águas subterrâneas são os dejetos humanos. Palavraschave Contaminação, nitrato, isótopos INTRODUÇÃO A cidade de Natal está localizada na faixa costeira leste do Estado do Rio Grande do Norte, com população da ordem de 800000 habitantes. O suprimento hídrico da cidade 1 Departamento de GeologiaUFRN. Campus Universitário, Lagoa NovaCEP: 59072970Telefone: (084) 2319809Fax: (084) 2319749 Natal RN Brasil. Email: jgmelo@com.br. 2 Companhia de Águas e Esgotos do R.G.N. Av. Senador Salgado Filho, 1555, TirolCEP: 59056000Telefone: (084)2214236Fax: (084)2113190NatalRN Brasil 3 Institut de MinéralogieUniversité de Lausanne. 1015 LausanneSuiça Email: Johannes.Hunziker@imp.unil. X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 1

em sua maior parte (65%) é feito por meio de águas subterrâneas. Estas, estão armazenadas em estratos sedimentares arenosos situados sob o domínio do município de Natal, cuja superfície de cerca de 155 km é praticamente urbanizada. O sistema hidrogeológico é composto de sedimentos tercioquaternários do Grupo Barreiras com capeamento de dunas, que se acham no conjunto sobrepostos a sedimentos carbonáticos, duros, atribuídos ao cretáceo. As unidades geológicas dunas e Barreiras formam no conjunto um sistema hidráulico único, do tipo livre, que foi denominado Sistema Aqüífero Dunas/Barreiras. As águas são captadas através de poços com profundidade da ordem de 80 m.. As águas subterrâneas, são de excelente qualidade em suas condições naturais, porém, em grande parte do município as mesmas estão afetadas por teores de nitrato elevado, superiores aos limites recomendados pela Organização Mundial de Saúde, que é de 45 mg/l. As características geomorfológicas e hidrogeológicas da área de Natal, com a ocorrência do capeamento dunar, formação de bacias fechadas, ocorrência de lagoas e, fundamentalmente, conexão hidráulica das dunas com os sedimentos Barreiras, atribuem ao aqüífero alta vulnerabilidade à contaminação. Neste artigo é discutido o mecanismo e as fontes de contaminação das águas subterrâneas de Natal por nitrato, utilizando inclusive técnicas isotópicas. A CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE NATAL POR NITRATO A FORMAÇÃO DE COMPOSTOS NITROGENADOS Nas águas subterrâneas o nitrogênio na forma de nitrato é em geral inferior a 10 mg/l. O nitrato existente nas águas subterrâneas pode originarse da atmosfera, de esgotos dispostos sobre a superfície do solo, de atividades agrícolas (fertilizantes minerais) e de resíduos vegetais. A matéria orgânica existente nos esgotos e nos resíduos vegetais produzem amoníaco ou o íon amônio através do processo de decomposição e mediante a participação de bactérias especializadas (amonificação), segundo a reação: CH 2 O(NH 3 ) + O 2 <=> NH 4 + + HCO 3 O composto liberado tanto pode ser adsorvido pelo solo e usado pela planta como nutriente como também pode ser oxidado biologicamente por bactérias para formar X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 2

nitritos e posteriormente nitratos (nitrificação)que chegam as águas subterrâneas. O fenômeno processase mediante as reações: 2NH 4 + + 2OH + 3O 2 => 2NO 2 + 2H + + 4H 2 O 2NO 2 + O 2 => 2NO 3 A formação de nitritos é mediada pelas bactérias do gênero nitrosomonas e a formação de nitratos requer a participação de bactérias do gênero nitrobacter. Os nitratos sob condições anaeróbicas e presença de matéria orgânica, podem ser reduzidos a amônio (NH + 4 ) e nitrogênio (N 2 ) através do processo de desnitrificação, sempre com a participação de bactérias especializadas, mediante a reação: 4NO 3 + 5CH 2 O <=> 2N 2 (g) + 5HCO 3 + H + + 2H 2 O TEOR DE NITRATO NAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS (ZONA NORTE E ZONA SUL) De acordo com MELO (1995), na Zona Sul de Natal, existe uma correlação entre a densidade populacional e os níveis de nitrato nas águas subterrâneas. Os teores de nitrato mais elevados ocorrem nas zonas de maior densidade populacional. Nos setores não habitados ou muito pouco habitados, os teores de nitrato nas águas subterrâneas são inferiores ao nível geral de base de 10 mg/l. Há casos em que o fluxo subterrâneo potencializa a contaminação por nitrato, tal como ocorre na área conhecida como Bosque dos Namorados contígua ao Parque da Dunas.. Ver Fig. 1. Na Zona Norte da cidade de Natal os estudos realizados recentemente por MELO (1998) mostram que em grande parte da área os teores de nitrato já são superiores ao nível geral de base de 10 mg/l, evidenciando a influência dos efluentes domésticos (Fig. 2). A contaminação propriamente dita, ou seja a ocorrência de águas com teor superior aos padrões recomendados pela OMS, verificase em escala mais localizada nos setores de nível d água mais raso à norte do Conjunto Alvorada; nas regiões de cobertura dunar proeminente Pajuçara/Gramoré e em situações onde as atividades urbanas são mais antigas. Nessas condições, há casos em que os teores de nitrato chegam a mais de 100mg/l. AVALIAÇÃO ISOTÓPICA DAS FONTES DE CONTAMINAÇÃO POR NITRATO Um método para distinguir entre fontes de contaminação das águas subterrâneas por nitrato que tem sido bastante utilizado é pelo uso de isótopos de nitrogênio. O X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 3

nitrogênio ocorre como dois isótopos estáveis: 15 N e 14 N. Valores de isótopos de nitrogênio são geralmente referidos a um padrão com a notação de 15 N. A Fig.3 apresenta variações de 15 N para diferentes fontes de contaminação. Foram coletadas amostras d água de 5 poços e efetuadas análises químicas e isotópicas no Laboratório de Lausanne na Suíça, tendo sido obtido os resultados a seguir: Poço Cl NO 3 SO 4 Na K Mg Ca C 15 N mg/l S/cm 1 31,3 55,0 1,8 28,1 2,6 5,7 4,3 250 7,8 2 24,0 14,7 1,6 10,9 2,4 1,8 10,3 146 9,7 3 45,7 83,7 2,6 31,1 7,7 13,7 4,2 325 13,8 4 36,2 69,8 3,0 33,8 4,1 10,4 3,4 325 9,6 5 29,1 73,7 0,7 30,4 3,9 8,8 3,6 289 13,8 0 / 00 Em um dos casos o teor de nitrato é de 14,7 mg/l e nos demais a concentração de nitrato variou de 55,0 a 83,7 mg/l. A maioria dos valores de 15 N são superiores a 9 0 / 00, o que indica uma contaminação por dejetos humanos. CONCLUSÕES As águas Subterrâneas de Natal estão sujeitas à degradação devido ao sistema de saneamento adotado com disposição local de efluentes domésticos (fossas e sumidouros) e pela alta vulnerabilidade do sistema hídrico de ser afetado pelas cargas contaminantes dispostas no terreno. Isto, tem resultado na contaminação das águas subterrâneas por nitrato em conseqüência da biodegradação dos excrementos humanos. Na Zona Sul da cidade a contaminação por nitrato atinge áreas bem mais extensas com relação a Zona Norte, o que se verifica tendo em vista que nesta as atividades urbanas são mais recentes. As determinações de isótopos de nitrogênio, embora efetuadas para um número reduzidos de poços amostrados, confirmam que a fonte do nitrato nas águas subterrâneas de Natal são os dejetos humanos. Com efeito, os valores de 15 N são em geral superiores a 9 0 / 00. X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 4

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KOMOR, S. C. & ANDERSON, Jr., H. W. Nitrogen isotopes as indicators of nitrate sources in Minnesota sand plain aquífers. Ground Water, 31 (2): 260 270, 1993. WILEY, F. H.C. Ground Water Microbiology & Geochemistry. 1997. MELO, José Geraldo Impactos do desenvolvimento urbano nas águas subterrâneas de Natal, RN Tese de Doutorado. USP, São Paulo, 1995. MELO, José Geraldo Avaliação dos riscos de contaminação e proteção das águas subterrâneas de Natal Zona Norte. Companhia de Águas e Esgotos do RGN (CAERN), Natal, 1988. Relatório interno. X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 5

X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 6

X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 7

X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 8