Prática Processual Civil 1º curso de estágio da OA de 2011 CDC Turma 3 Proposta de trabalho Caso A impugnação pauliana O Afonso Pires é um famoso Engenheiro Civil, reside na Quinta São Bartolomeu, nº 55, 3º dto, em Coimbra, solteirão e com muita massa dizem as más-línguas. Em Dezembro de 2009, foi abordado por uma amiga de longa data, a Madalena Domingues, que é professora num conhecido colégio de Coimbra, que lhe pediu emprestada a módica quantia de 50.000,00 para pagar as tornas ao seu ex-marido no processo de partilha. Como era só pelo prazo de seis meses, o Afonso decidiu emprestar o dinheiro à Madalena, passou-lhe um cheque na quantia de 50.000,00, e exigiu que fosse feito um contrato para formalizar o empréstimo, o qual foi assinado, por ambos, no dia 03.01.2010. No dia seguinte a Madalena, feliz da vida, depositou o cheque na sua conta bancária nº 888000999 no BCP. No dia 03.01.2010, quando estavam a assinar o contrato a Madalena garantiu ao Afonso que nas partilhas com o seu ex-marido lhe ia ser adjudicado a ela o apartamento onde estava a morar, situado na Rua dos Estudantes, lote 5, 1º esq., em Coimbra, o qual servia de garantia em caso de impossibilidade na devolução imediata da quantia emprestada. Página 1
Passados os seis meses, a Madalena não devolveu ao Afonso os 50.000,00, apesar de lhe ter telefonado vezes sem conta, mas a Madalena nunca o atendeu. Desesperado, o Afonso, enviou para a morada da Madalena uma carta registada com AR a pedir a imediata devolução dos 50.000,00, caso contrário, iria pô-la em tribunal. Sem qualquer sucesso, o Afonso viu-se forçado a propor contra a Madalena uma acção em Tribunal a qual deu entrada a 01.09.2010, na Vara Mista de Coimbra, e aí correu como acção ordinária sob o nº 3467/0.10TBCBR, onde pediu a declaração de nulidade do contrato de mútuo e a condenação da Madalena a restituir-lhe a quantia de 50.000,00, acrescida de juros de mora à taxa de 8%, desde a data da citação. Esta acção foi julgada procedente por sentença transitada em julgado a 20 de Abril de 2011. Quando se preparava para pedir ao seu Advogado para executar a sentença, o Afonso soube, através duma amiga sua que trabalha na Conservatória do Registo Predial de Coimbra, que a Madalena tinha doado ao seu filho João Domingues Alves, solteiro, com 19 anos de idade, por Documento Particular Autenticado (DPA) outorgado a 30.10.2010, com reserva de usufruto, o seu apartamento. Amiga que, até lhe tirou uma cópia não certificada daquela fracção sito na Rua dos Estudantes, lote 5, 1º Esq., composto de casa de résdo-chão, 1º andar e logradouro, freguesia e concelho de Coimbra, inscrita na matriz sob o nº 2004/U e descrita na Conservatória do Registo Predial de Coimbra sob o nº 345/Coimbra, para que o Afonso verificasse o que ela lhe estava a dizer. O Afonso ficou desesperado, porque sabia que aquele apartamento quer na data do incumprimento do empréstimo quer na data da Página 2
instauração da acção que propôs contra a Madalena era o único bem desta pelo qual podia satisfazer a quantia que lhe tinha emprestado. O Afonso ficou revoltado porque soube também que a Madalena só dou o apartamento ao filho João, unicamente, para evitar ser proprietária de qualquer bem que pudesse satisfazer o montante do empréstimo pelo Afonso. O Autor Afonso contacta o Exmo/a Colega, para propor uma acção que defenda os seus direitos. Elabore a respectiva acção judicial. Proposta de resolução: - Petição inicial de acção de impugnação pauliana 1 Exmo Sr. Doutor Juiz de Direito Vara de competência mista e juízos criminais de Coimbra 2 (identificação do Tribunal art. 467º nº 1 al. a) do CPC o que resulta da combinação das regras de: a) competência material, territorial e funcional; b) forma do processo; c) valor da acção; falta: recusa da PI pela secretaria art. 474º, al. a) do CPC) (competência territorial: foro da situação dos bens crf. art. 73º nº 1 do CPC; 16º nº 1, 3 e 4, 19º, 77º, 105º nº 3 e 106ºnº 2 LOFTJ L.3/99,13.01) 1 in Prontuário de Formulários e Trâmites, Volume I, Processo Civil Declarativo de Joel Timóteo Ramos Pereira, pp. 422 a 424. 2 Para aferir do tribunal onde a acção deve ser instaurada tem de atentar nas regras de competência da organização judiciária (LOFTJ). Página 3
Autor: (identificação das partes 3 nos termos do art. 467º nº 1 al. a) do CPC, a falta de nomes e residência: recusa da PI pela secretaria nos termos do art. 474º al. b) do CPC) Afonso Pires, solteiro, maior, engenheiro civil, residente na Quinta São Bartolomeu, lote 55, 3º Dto, em Coimbra, contribuinte fiscal nº 123 456 789; Vem instaurar acção declarativa sob a forma de processo ordinário contra: (indicação da forma de processo cfr. arts. 222º e 467º nº 1 al. c) do CPC; omissão recusa da PI pela Secretaria cfr. 474º al. d) do CPC) Réus: (identificados das partes nos termos do art. 467º nº 1 al. a) do CPC; falta de nome e residência recusa da PI pela secretaria nos termos do art. 474 nº 1 al. b) do CPC) Madalena Domingues, divorciada, professora, residente na Rua dos Estudantes, lote 5, 1º Esq., em Coimbra, contribuinte fiscal nº 200 786 900; João Domingues, solteiro, maior, estudante, residente na Rua dos Estudantes, lote 5, 1º Esq., em Coimbra, contribuinte fiscal nº 240 980 880; Nos termos e com os fundamentos seguintes: -Dos Factos- 4 (expor os factos que servem de fundamento à acção art. 467º nº 1 al. d) do CPC é obrigatória a exposição dos factos por artigos art. 151º, nº 2 do CPC) 3 Na identificação das partes dever se á ter em consideração as regras de capacidade, personalidade judiciária e legitimidade processual, cfr. art. 5º, 9º, 26º e ss do CPC. 4 Os factos necessários e suficientes para justificar o pedido Alberto dos Reis, Código de Processo Civil Anotado, II, pág.351. Página 4
1º Por escrito assinado pelo A. e pela 1ª Ré, datado de 03.01.2010, o A. e a 1ª R. acordaram que aquele emprestasse a esta a quantia de 50.000,00, conforme documento que aqui se junta e se dá por integralmente reproduzido ( doc. nº 1). 2º O Autor entregou, nessa data, à 1ª Ré a quantia referida, mediante cheque desse mesmo valor, o qual foi depositado na conta bancária nº 888000999/BCP, pela 1ª Ré a 04.01.2010, conforme cópia do cheque e talão de depósito, que aqui se juntam e se dão por integralmente reproduzidos ( doc. nº 2 e 3 ). 3º O empréstimo tinha a duração de seis meses, após o que a 1ª Ré estava obrigada a devolver a quantia emprestada. 4º Na data do empréstimo a 1ª Ré garantiu ao Autor que era proprietária de um prédio, onde habitava, o qual servia de garantia em caso de impossibilidade na devolução imediata da quantia emprestada. 5º Decorridos os seis meses, a 1ª Ré não procedeu à devolução ao Autor da quantia referida em 1º desta PI, apesar de ter sido interpelada para o efeito pelo Autor, quer por escrito quer pessoalmente, conforme documento que aqui se junta e se dá por integralmente reproduzido ( doc. nº 4). 6º Página 5
Então, o Autor propôs contra a 1ª Ré, a 01 de Setembro de 2010, a acção ordinária que correu termos sob o nº 3467/0.10TBCBR, deste Tribunal, pela qual pediu a declaração de nulidade do contrato referido em foi 1ª desta PI e a condenação da 1ª Ré, a restituir-lhe a quantia de 50.000,00, acrescida de juros de mora à taxa de 8%, desde a citação, conforme cópia da PI que aqui se junta e se dá por reproduzida para todos os efeitos legais ( doc. nº 5). 7º Essa referida acção foi julgada procedente, por sentença transitada em julgado a 20 de Abril de 2011, conforme certidão judicial que aqui se junta e se dá por integralmente reproduzido ( doc. nº 6). 8º A 30 de Outubro de 2010, a 1ª Ré, por Documento Particular Autenticado (DPA), declarou doar, com reserva de usufruto, ao seu filho, 2º Réu, o prédio urbano onde habitava composto de casa de rés-do-chão, 1º andar e logradouro, sito na Rua dos Estudantes, lote 5, 1º Esq., freguesia e concelho de Coimbra e inscrito na matriz sob o nº 2004/U descrito na Conservatória do registo Predial de Coimbra nº 345/Coimbra, conforme documento que aqui se junta e se dá por reproduzido para todos os efeitos legais (doc. nº 7). 9º O prédio supra identificado consistia, na data do incumprimento do empréstimo e na data da instauração da acção referida em 6º supra, no único bem da 1ª Ré, pelo qual podia satisfazer a quantia emprestada pelo Autor. 10º Página 6
Ao realizar a doação do prédio urbano referido em 8º ao 2º Réu, a 1ª Ré pretendeu, unicamente, evitar ser proprietária de qualquer bem que pudesse satisfazer o montante do empréstimo referido em 1º. - Fundamentos de direito (expor as razões de direito que servem de fundamento à acção art. 467º nº 1 al. d) do CPC ) 11º Nos termos do artigo 610º do CC, os actos que envolvam diminuição da garantia patrimonial do crédito e não sejam de natureza pessoal podem ser impugnados pelo credor, se concorrerem as circunstâncias seguintes: a) ser o crédito anterior ao acto ou, sendo posterior, ter sido o acto realizado dolosamente com o fim de impedir a satisfação do direito futuro do credor; b) resultar do acto a impossibilidade, para o credor, de obter a satisfação integral do seu crédito, ou agravamento dessa impossibilidade; 12º O Autor era titular de um crédito sobre a 1ª Ré, sabendo que segundo o disposto no artigo 614º nº 1 do CC, nem sequer é necessário que esse crédito esteja vencido. 13º E esse crédito era anterior ao contrato de venda referido em 8º desta PI. 14º Página 7
O qual implicou uma diminuição da garantia patrimonial, tendo sido efectuado para evitar que ao Autor fosse possível a restituição da quantia emprestada. 15º Sendo esse o único bem imóvel da 1ª Ré, a sua doação ao 2º Réu impossibilita a satisfação integral do crédito do Autor. 16º Pelo que, o credor tem direito à restituição dos bens na medida do seu interesse, podendo executá-los no património do obrigado à restituição e praticar os actos de conservação da garantia patrimonial autorizados por lei, conforme se estipula no art. 616º nº 1 do CC. - Do Pedido 5, 6 (a PI termina com a formulação do pedido art. 467º nº 1 al. e) do CPC) Nos termos e no mais de direito, que Vexa. doutamente suprirá, deve a presente acção ser julgada provada e, em consequência, seja decretada a ineficácia em relação ao Autor do acto de doação referido em 8º desta petição, devendo ainda ser ordenado ao 2º Réu a restituição do identificado bem imóvel de modo a que o Autor se possa pagar à custa desse bem. 5 O pedido corresponde ao efeito jurídico que o autor pretende obter da acção, ou seja, a providência requerida pelo autor ao Tribunal art. 498º, nº 3 do CPC. 6 O pedido limita a condenação que seja proferida a final, quer quanto à natureza quer quanto ao montante da condenação art. 661º, nº 1 CPC. Página 8
Valor 7 : 50.000,00 (cinquenta mil euros) (declarar o valor da causa 8 - art. 467º nº 1 al. f) do CPC e 306º nº 1 do CPC; a sua omissão recusa pela secretaria art. 474º al. e) do CPC) Junta: Procuração forense 9, 7 documentos 10 e comprovativo do pagamento prévio da taxa de justiça ( este comprovativo de pagamento é obrigatório art. 467º nº 3 do CPC, a sua omissão recusa pela secretaria art. 474º al. f) do CPC) Prova testemunhal 11 : (sem prejuízo do disposto no art. 512º CPC) 1.-, casado, profissão, residente em 2.-, casado, profissão, residente em 3.-, casado, profissão, residente em O/A Advogado/a 12 C/domicilio profissional em ( elemento obrigatório art. 467º nº 1 al. b) do CPC, a falta recusa nos termos do art. 474 nº 1 al. c) do CPC) 7 Critérios gerais e critérios especiais da fixação do valor art. 306º, 307º e ss do CPC. 8 Ac. STJ, 06.03.97, CJSTJ, I, p. 132 o valor da acção, como processual geral, revela em matéria de competência, forma de processo e recorribilidade; o tributário revela em matéria de pagamento de custas. 9 Art. 33º e 40º nº 2 do CPC Juiz fixa prazo para regularização da falta de junção de procuração. 10 Os documentos devem ser juntos com o articulado em que se alegam os factos correspondentes art. 523º nº 1 do CPC. 11 A indicação de meios de prova em processo ordinário e sumário é facultativa art. 467º nº 2 CPC. 12 Assinatura do mandatário é efectuada no sistema electrónico Citius no momento da apresentação da peça processual, o envio definitivo do formulário e anexos, arts. 5º nº 3 e 4 da Portaria nº 114/2008, 06.02. Página 9