Projeto Farmácia Viva, Faculdades Oswaldo Cruz, Rua Brigadeiro Galvão, 540, Barra Funda, São Paulo-SP, Brasil

Documentos relacionados
Calyptranthes widgreniana

ANATOMIA DA RAIZ, FOLHA E CAULE DE RUTA GRAVEOLENS L. (RUTACEAE) ANATOMY OF THE ROOT, LEAF AND STALK IN RUTA GRAVEOLENS L.

BOLDO VERDADEIRO X BOLDO FALSO: CARACTERIZAÇÃO MORFOANATÔMICA FOLIAR TRUE BOLDO X FALSE BOLDO: DESCRIPTION MORPHOANATOMICAL FOLIAR

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ENSINO DEPARTAMENTO CCENS BIOLOGIA. Plano de Ensino

Estudo morfo-anotômico entre os caules de Lippia alba e Melissa officinalis

CARACTERIZAÇÃO MORFOANATÔMICO DA CULTIVAR BRS ENERGIA (Ricinus communis L.)

DESENVOLVIMENTO & HISTOLOGIA VEGETAL (TECIDOS)

ANATOMIA COMPARATIVA DE TRÊS ESPÉCIES DO GÊNERO Cymbopogon

CÉLULAS E TECIDOS VEGETAIS. Profa. Ana Paula Biologia III

MERISTEMAS. Após o desenvolvimento do embrião. formação de novas células, tecidos e órgãos restritas. aos MERISTEMAS

Tecidos Vegetais. Professor: Vitor Leite

Classificação das Angiospermas. Professor: Vitor Leite

Estrutura Anatômica de Órgãos Vegetativos (Raiz e Caule) Profª. M.Sc. Josiane Araújo

TECIDOS FUNDAMENTAIS

ANATOMIA COMPARATIVA DE TRÊS ESPÉCIES DO GÊNERO Cymbopogon

Ruta graveolens L.: USO POTENCIAL EM AULAS PRÁTICAS DE ANATOMIA VEGETAL

TÍTULO: ANÁLISE MORFOANATÔMICA E HISTOQUÍMICA DE FOLHA DE GENIPA AMERICANA

MERISTEMA APICAL Meristema fundamental Tecidos fundamentais (parênquima, colênquima e esclerênquima) Xilema e floema primários (sistema vascular)

CAULE ANATOMIA INTERNA

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Biologia Professor Leandro Gurgel de Medeiros

Espécies estudadas Voucher Localidade Herbário A.M.G. Azevedo Flores 420 Santana do Riacho SPF C. pallida Aiton Devecchi 33 Devecchi 47

ESTUDOS MORFO-ANATOMICO EM FOLHA E CAULE DE Didymopanax moro to toai, DECNE

Anatomia das plantas com sementes

Quais são as partes constituintes dos embriões? folha (s) embrionária (s) 2 em eudicotiledôneas

Tecidos de revestimentos: Epiderme e periderme

Quais são os tecidos encontrados no corpo de uma planta?

MORFOLOGIA VEGETAL TRADESCANTIA PALLIDA PURPUREA 1

Anatomia Foliar de Ocimum basilicum L. Genovese (Lamiaceae)

HISTOLOGIA VEGETAL. Tecidos Meristemáticos (embrionários)

Sementes. Cotilédone. Endosperma. Coleóptilo. Folhas embrionárias Radícula Caulículo. Caulículo. Tegumento. Folhas embrionárias.

TECIDO: é o conjunto de células morfologicamente idênticas que desempenham a mesma função.

Aula Multimídia. Prof. David Silveira

Bio. Bio. Rubens Oda. Monitor: Rebeca Khouri

AULA 6 CAPÍTULO 6 FLOEMA

Anatomia vegetal: como é uma folha por dentro? Luiz Felipe Souza Pinheiro*; Rosana Marta Kolb

ANATOMIA FOLIAR DE Mentha x villosa HUDS SOB DIFERENTES ESPECTROS DE LUZ

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DO AMENDOIN CULTIVADO NA REGIÃO DE MINEIROS, GOIÁS 1. Katya Bonfim Ataides Smiljanic 2

Aula prática 10 Diversidade das Gimnospermas

HISTOLOGIA VEGETAL 24/05/2017. Prof. Leonardo F. Stahnke

HAM, Arthur W. Histologia. RJ: Guanabara Koogan A) muscular estriado. B) epitelial. C) conjuntivo propriamente dito. D) adiposo. E) ósseo.

RAIZ ANATOMIA INTERNA

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DE FOLHAS ADULTAS DE HIMATANTHUS OBOVATUS (M. ARG.) WOOD (APOCYNACEAE)

Aula 12 - Grandes grupos de Angiospermas e suas relações filogenéticas

Células vivas, achatadas e justapostas. Apresentam cutícula. Possuem grandes vacúolos. Não possuem cloroplastos. Epiderme de cebola

ESTUDO ANATÔMICO DA FOLHA DE DUAS ESPÉCIES DE SOLANACEAE OCORRENTES NO NÚCLEO CABUÇU (GUARULHOS, SP)*

Disciplina: Botânica I (Morfologia e Anatomia Vegetal)

AULA 10 CAPÍTULO 10 RAIZ

CARACTERIZAÇÃO ANATOMICA DE TRIGO CULTIVADO NAS CONDIÇÕES DO SUDOESTE GOIANO 1. Katya Bonfim Ataides Smiljanic 2

GOIÂNIA, / / 2015 PROFESSOR: DISCIPLINA: SÉRIE: 2º. ALUNO(a):

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Folhas e Flores: estrutura, morfologia e adaptações. Licenciatura em Ciências Exatas IFSC Profa. Ana Paula

Tecidos Meristemáticos ou Embrionários

RESUMO. Palavras-chave: anatomia, tricomas, cistólitos INTRODUÇÃO

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DE Protium aracouchini OCORRENTE NO PARQUE URBANO DO MUNICIPIO DE SINOP-MT

Biologia. Tecidos Vegetais. Professor Enrico Blota.

HISTOLOGIA VEGETAL EMBRIÃO

Morfo-anatomia de espécies arbóreo-arbustivas do cerrado

Morfo-anatomia do caule e da folha de Piper gaudichaudianum Kuntze (Piperaceae)

DUARTE, M. do R.; GOLAMBIUK, G.

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

ANATOMIA DOS VEGETAIS ROTEIRO DE AULAS PRÁTICAS


TÍTULO: MORFOANATOMIA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE EUCALYPTUS UROGRANDIS, CULTIVADO NA REGIÃO DE CAMPO GRANDE MS.

Estudo Farmacobotiinico de Espécies Usadas No Tratamento do Diabetes

Anatomia dos órgãos vegetativos de Hymenaea martiana Hayne (Caesalpinioideae- Fabaceae): espécie de uso medicinal em Caetité-BA

Morfoanatomia Foliar e Caulinar de Leonurus sibiricus L., Lamiaceae

27/09/2013. Fisiologia de plantas forrageiras

Caracterização morfológica dos tricomas foliares e caulinares de duas espécies de Lamiaceae conhecidas popularmente como falso- boldo

Figura - Meristemas apicais. FOSKET, D.E. (1994). Plant Growth and Development.

DIAGNOSE ANATÔMICA FOLIAR E CAULINAR DE FRUTO-DE-POMBO: Rh a m n u s s p h a e r o s p e r m a Sw. v a r. p u b e s c e n s

Profa. Dra. Wânia Vianna

CÚRCUMA, rizoma Rhizoma curcumae

Caracterização anatômica de folhas e inflorescências de espécies de Lavanda (Lamiaceae) utilizadas como medicinais no Brasil

A CONTRIBUIÇÃO DA ANATOMIA CAULINAR E FOLIAR PARA A

BIOLOGIA - 1 o ANO MÓDULO 25 TECIDOS DE TRANSPORTES

Sistema Vascular. Xilema. Atividade do Procâmbio ou Câmbio Vascular

3º. CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS OLEAGINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E BIODIESEL

TECIDOS DE REVESTIMENTO

COENTRO, fruto Coriandri fructus. A droga vegetal é constituída pelos frutos secos de Coriandrum sativum L., contendo, no mínimo, 0,3 de óleo volátil.

Tecidos Vasculares. TECIDOS CONDUTORES - Introdução. Xilema primário. Procambio. Floema primário. Tecidos vasculares. Xilema.

ILLUSTRATION OF VEGETAL DRUG MICROSCOPIC CHARACTERS FOR THE PHARMACOGNOSTIC QUALITY CONTROL.

Foliar Anatomy of Pedra-hume-caá (Myrcia sphaerocarpa, Myrcia guianensis, Eugenia

Periciclo, xilema e floema primários

Campus Dom Pedrito Curso de Enologia

Anatomia dos Órgãos Vegetativos de Vernonia brasiliana (L.) Druce 1

MERISTEMAS E DESENVOLVIMENTO. Forma e função nas plantas vasculares : BIB 140

ESTUDO MORFO-ANATÔMICO DAS FOLHAS DE Urera baccifera GAUDICH 1

ESTUDO COMPARATIVO DA EPIDERME DE TRÊS ESPÉCIES DE Deguelia AUBL. (FABACEAE)

VARIAÇÕES ANATÔMICAS FOLIARES DAS CULTIVARES DE CAFEEIRO DA EPAMIG EM FUNÇÃO DO AMBIENTE

Morfologia Vegetal de Angiospermas

PODOCARPUS LAMBERTII KLOTZSCH

Consulta Pública 38/2009

BOTÂNICA 2016/2017 Ana Monteiro AULA TEÓRICA SUMÁRIO

TECIDOS VASCULARES XILEMA & FLOEMA

Artigo. Caracterização farmacognóstica da espécie Erythrina falcata Benth., Fabaceae. Emanuel Eustáquio Almeida

Morfo-Anatomia Foliar de Aphelandra Longiflora Profice. (Acanthaceaea) L. Zottele¹*, A. Indriunas¹ & E. M. Aoyama¹

Morfo-Anatomia Foliar de Aciotis Paludosa (Mart. Ex Dc.) Triana (Melastomataceae)

Os Tecidos das Plantas

MERISTEMAS E DESENVOLVIMENTO. Prof. Dra. Eny Floh Prof. Dra. Veronica Angyalossy

Transcrição:

Revista Brasileira de Farmacognosia Brazilian Journal of Pharmacognosy 18(4): 608-613, Out./Dez. 2008 Received 31 August 2008; Accepted 1 October 2008 Artigo Estudo anatômico comparado de órgãos vegetativos de boldo miúdo, Plectranthus ornatus Codd. e malvariço, Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. - Lamiaceae Claudia Mauro,*,1,2 Celi de Paula Silva, 2 Juliana Missima, 2 Thiana Ohnuki, 2 Renata B. Rinaldi, 2 Melissa Frota 2 1 Instituto Alberto Mesquita Camargo, Universidade São Judas Tadeu, Rua Taquari, 546, Mooca, 03166-000 São Paulo-SP, Brasil, 2 Projeto Farmácia Viva, Faculdades Oswaldo Cruz, Rua Brigadeiro Galvão, 540, Barra Funda, 01151-000 São Paulo-SP, Brasil RESUMO: Foi feita uma investigação anatômica dos órgãos vegetativos de Plectranthus ornatus, boldo miúdo e Plectranthus amboinicus, malvariço, da família Lamiaceae. Foram estudados o limbo foliar, pecíolo e caule destas duas espécies. Ambas apresentam limbo foliar com tricomas tectores, com tricomas glandulares pedicelados em P. amboinicus e pedicelados e sésseis em P. ornatus. Justifica-se esta investigação, pelo fato de se tratar de espécies utilizadas, popularmente, como fitoterápico. Unitermos: Plectranthus ornatus, Plectranthus amboinicus, Plectranthus L Herit, Lamiaceae. ABSTRACT: Comparative anatomical study of the vegetative organs of boldo miúdo, Plectranthus ornatus Codd. and malvariço, Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. - Lamiaceae. An anatomical study of the vegetative organs of Plectranthus ornatus, boldo miúdo and Plectranthus amboinicus, malvariço was made. Both show non-glandular trichomes on the foliar leaf. In P. ornatus, there are pedunculate glandular trichomes and in P. amboinicus, sessile and pedunculate glandular trichomes. This study is justified by the popular utilization of both species as phytotherapeutic agents. Keywords: Plectranthus ornatus, Plectranthus amboinicus, Plectranthus L Herit, Lamiaceae. 608 INTRODUÇÃO Os boldos pertencem a um grupo de espécies com propriedades colagogas. O verdadeiro boldo é o boldo do Chile, Peumus boldus Molina, que, no Brasil, é confundido com o falso boldo, Plectranthus barbatus Andr. Entre os boldos, os mais utilizados, popularmente, no Brasil, são o boldo do Chile, Peumus boldus Molina, o falso boldo, Plectranthus barbatus Andr. e o boldo baiano, Vernonia condensata Baker (Furlan, 1999; Morais et al., 2005; Agra et al., 2007 & 2008). Na primeira Farmacopéia Brasileira, de 1929, a planta conhecida como boldo era o boldo do Chile; a diferenciação e correta identificação das espécies é importante, pelo fato do boldo do Chile e o falso boldo possuírem compostos que podem causar efeitos colaterais (Furlan, 1999; Brandão et al., 2006). Representando a família Lamiaceae, como espécies do gênero Plectranthus, existem ainda o boldo miúdo, com atividade hepática, o malvariço ou malvasanta empregados como anti-séptico bucal e da garganta (Matos, 1998; Silva et al., 2006). Enquanto o falso * E-mail: cmauro1948@hotmail.com and mario51@uol.com.br boldo despertou muita atenção, devido à importância farmacológica atribuída aos diterpenos encontrados em suas folhas, relativamente poucas pesquisas existem sobre estas outras duas espécies do gênero Plectranthus L Herit. Estudos anatômicos dos tricomas glandulares em folhas e flores de Plectranthus ornatus, foram conduzidos por Ascensão et al. (1999), que identificaram 5 tipos morfológicos deste tipo de tricoma, nesta espécie. Albuquerque et al. (2003), encontraram um novo diterpeno em folhas de P. ornatus, além da barbatusina, já descrita anteriormente em P. barbatus. Estes autores relatam a substituição do uso de boldo miúdo, no lugar do falso boldo, mesmo sem confirmação da atividade hiposecretora gástrica, em P. ornatus. Rijo et al. (2002) reportam o isolamento de 3 diterpenóides, semelhantes à forskolina, em folhas de P. ornatus, sendo que dois dos constituintes apresentam atividade antibacteriana. O malvariço é muito utilizado no norte do Brasil, para inflamações de boca e garganta (Albuquerque et al., 1990; Oliveira et al., 2007a); na medicina caseira, é utilizado para dores de garganta, tosse, bronquite e para o alívio de inflamações ovarianas e uterinas (Matos et ISSN 0102-695X

Estudo anatômico comparado de órgãos vegetativos de boldo miúdo, Plectranthus ornatus Codd. e malvariço, Plectranthus amboinicus (Lour.) al., 1988). Existem relatos de estudos farmacológicos e microbiológicos sobre P. amboinicus (Alvin Jose & Janardhanan, 2005; Villate et al., 1999; Oliveira et al., 2007b). O presente trabalho tem como objetivo a descrição anatômica do limbo foliar, pecíolo e caule de Plectranthus ornatus e Plectranthus amboinicus, justificada pelo fato de serem espécies de utilização popular, no Brasil, como fitoterápico. Objetivou-se, ainda, o estabelecimento de correlações anatômicas entre as duas espécies. O limbo foliar de P. ornatus, em corte transversal, apresenta uma epiderme unisseriada formada por células diminutas, muito compactadas, revestidas por uma cutícula lisa e espêssa. Há tricomas tectores unisseriados pluricelulares em abundância e tricomas glandulares pedicelados, em menor quantidade (Figuras 1 e 2). O mesofilo foliar é homogêneo ou isodiamétrico (Figura 2). Tricomas glandulares sésseis estão presentes, em quantidade relativamente menor que os pedicelados (Figuras 3 e 4)). Os estômatos, em vista paradérmica, pertencem ao tipo anomocítico e apresentam célulasguarda reniformes (Figura 4), imersas em células epidérmicas de contorno sinuoso. Descrição anatômica do pecíolo O pecíolo de P. ornatus é revestido por uma epiderme unisseriada, revestida por uma cutícula espessa; sua secção é côncavo-convexa, em corte transversal. Há 2-3 camadas de colênquima angular, na porção cortical, abaixo da epiderme, bem como abundantes tricomas MATERIAL E MÉTODOS O material foi coletado no Horto Medicinal das Faculdades Oswaldo Cruz, localizado no campus da Faculdade Oswaldo Cruz, situado no bairro Barra Funda, em São Paulo, procedente de mudas obtidas do entreposto Sabor de Fazenda. As duas espécies foram identificadas taxonomicamente pelo Prof. Dr. Marcos Roberto Furlan. Uma exsicata de cada material está depositada no Herbário do Instituto Horto Florestal de São Paulo, sob número 31270, para P. ornatus e 33196, para P. amboinicus. Para a fixação, utilizou-se F.A.A. [formaldeído 37% (v/v): ácido acético glacial: etanol 70%(v/v); 2:1:1], com posterior armazenamento em etanol 70% (v/v). Para a descrição histológica, foram feitos cortes a mão livre, utilizando lâmina de barbear. O material foi clarificado em solução de hipoclorito de sódio 70% (v/v) e submetido a coloração diferencial com azul de alcian 1% (p/v) e fucsina básica 1% (p/v). Cortes transversais e paradérmicos de limbo foliar e transversais de limbo, pecíolo e caule, foram montados em preparações semi-permanentes, em glicerina 50% (v/v), com gotas de formalina e analisados em microscópio óptico binocular Coleman. As fotografias foram obtidas através de fotomicroscópio Karl Zeiss Jena, Jenamed 2 Histology. RESULTADOS I. Plectranthus ornatus Codd. (boldo miúdo, boldo chinês, boldinho, boldo rasteiro).sinônimo Científico: Coleus comosus Hochst. Ex Guerke Descrição anatômica do limbo foliar Figura 1. Boldo miúdo (Plectranthus ornatus Codd.). Secção transversal de limbo foliar, na altura na nervura central. TT: tricoma tector; X: xilema (elemento de vaso). Figura 2. Boldo miúdo (Plectranthus ornatus Codd.). Secção transversal de limbo foliar, com mesofilo homogêneo isodiamétrico. TGP: tricoma glandular pedicelado; TT: tricoma tector. 609

Claudia Mauro, Celi de Paula Silva, Juliana Missima, Thiana Ohnuki, Renata B. Rinaldi, Melissa Frota Figura 6. Boldo miúdo (Plectranthus ornatus Codd.). Secção transversal de caule em início de crescimento secundário. TGS: tricoma glandular séssil; PC: parênquima comum cortical; CA: câmbio; X: xilema (elemento de vaso); F: floema. Figura 7. Boldo miúdo (Plectranthus ornatus Codd.). Secção transversal de caule. RP: raio de parênquima; X: xilema (elemento de vaso); M: medula parênquimática; P: periderme (súber). Figura 3. Boldo miúdo (Plectranthus ornatus Codd.). Secção transversal de limbo foliar. TGS: tricoma glandular séssil; TT: tricoma tector. Figura 4. Boldo miúdo (Plectranthus ornatus Codd.). Secção paradérmica de limbo foliar. CG: célula guarda de estômato; TG: tricoma glandular visto de cima. Figura 5. Boldo miúdo (Plectranthus ornatus Codd.). Secção transversal de pecíolo. X: xilema (elemento de vaso). F: floema primário; PC: parênquima comum; TT: tricoma tector. tectores unisseriados pluricelulares (Figura 5). O feixe vascular é colateral fechado, com 2 feixes menores nas 2 extremidades (Figura 5). A região cortical apresentase rodeada por parênquima homogêneo isodiamétrico; há colênquima angular abaixo da epiderme (Figura 5). Descrição anatômica do caule O caule é revestido por uma epiderme unisseriada, com tricomas tectores em caules jovens (Figura 6). Evidenciou-se parênquima comum com meatos nas regiões cortical e medular. Não foram visualizados cristais de oxalato de cálcio. O caule em 610

Estudo anatômico comparado de órgãos vegetativos de boldo miúdo, Plectranthus ornatus Codd. e malvariço, Plectranthus amboinicus (Lour.) Figura 10. Malvariço (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.). Secção transversal de limbo foliar: mesofilo dorsiventral. PP: parênquima paliçádico; PL: parênquima lacunoso; TT: tricoma tector; TGP: tricoma glandular pedunculado. Figura 11. Malvariço (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.). Corte paradérmico de limbo foliar. CG: célula guarda de estômato. estrutura secundária mostra um xilema secundário bem desenvolvido, formado por abundantes fibras esclerenquimáticas e relativamente poucos elementos de vaso (Figura 7). Existem poucas fibras de esclerênquima de floema primário, nesta estrutura. Figura 8. Malvariço (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.). Secção transversal de limbo foliar: nervura central. TT: tricoma tector; FV: feixe vascular. Figura 9. Malvariço (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.). Secção transversal de limbo: detalhe da nervura central. X: xilema (elemento de vaso); CO: colênquima. II. Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. (hortelãgorda, hortelã-pimenta, malvarisco). Sinonímia científica: Coleus amboinicus Lour., Coleus aromaticus Benth. Descrição anatômica do limbo foliar 611

Claudia Mauro, Celi de Paula Silva, Juliana Missima, Thiana Ohnuki, Renata B. Rinaldi, Melissa Frota fundamentais (Figura 11) Descrição anatômica do pecíolo O pecíolo mostra uma epiderme unisseriada, formado por células muito compactadas; os mesmos tricomas tectores pluricelulares visualizados no limbo foliar são visíveis no pecíolo (Figura 12). A região cortical e medular estão preenchidas por parênquima comum, com meatos. Não foram visualizados cristais de oxalato de cálcio. O feixe vascular apresenta estrutura colateral fechada (Figura 12). Pequenos feixes em formação estão presentes nas 2 extremidades do pecíolo (Figura 12). Descrição anatômica do caule O caule apresenta 2-3 camadas de colênquima angular, abaixo da epiderme unisseriada, formada por células diminutas. Tricomas tectores, já descritos no limbo foliar, estão presentes (Figura 13). As fibras esclerenquimáticas de floema primário formam discretas calotas, acima do floema secundário (Figura 13). É visível um câmbio vascular, formado principalmente por células radiais. O xilema secundário apresenta elementos de vaso enfileirados, cercados por fibras de esclerênquima. As regiões medular e cortical estão preenchidas por parênquima comum com meatos (Figura 13). DISCUSSÃO 612 Figura 12. Malvariço (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.). Secção transversal de pecíolo: visão geral. CO: colênquima; TT: tricoma tector; FV: feixe vascular. Figura 13. Malvariço (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.). Corte transversal de caule, em início de desenvolvimento secundário. TT: tricoma tector; CO: colênquima; CA: câmbio vascular; M: medula parenquimática; FF: fibras de esclerênquima floemáticas; X: xilema (elemento de vaso). O limbo foliar de P. amboinicus apresenta um mesofilo homogêneo dorsiventral, com 1-2 camadas de parênquima paliçádido e 2-3 camadas de parênquima lacunoso (Figura 10). Há tricomas tectores unisseriados pluricelulares revestindo o limbo foliar. O feixe vascular colateral fechado mostra elementos de vaso de metaxilema bem visíveis (Figura 9). Há tricomas glandulares pedicelados (Figura 10). Os estômatos anomocíticos, em vista paradérmica, mostram células guarda reniformes, imersas em células epidérmicas Ambas espécies possuem folhas suculentas, aromáticas, sendo que o boldo miúdo é descrito como sendo de odor nauseoso, sendo também denominado boldo gambá enquanto o malvariço possui folhas com odor semelhante ao odor do orégano. Em P. ornatus, foram visualizados, em cortes transversal e paradérmico do limbo foliar, dois tipos de tricomas glandulares, um deles pedicelado e o outro, séssil. O primeiro é análogo ao identificado por Ascensão et al. (1999), em P. ornatus. Tanto em P. ornatus quanto em P. amboinicus, as células da epiderme mostram tamanho diminuto e morfologia compacta, sendo revestidas por uma cutícula lisa e delgada. A adaptação xerofítica, em ambas as espécies, consiste na suculência do limbo foliar e pecíolo, além dos tricomas tectores (Fahn, 1990). A disposição dos estômatos na epiderme, bem como sua classificação, é similar nas duas espécies, pertencendo ao tipo anomocítico. As células epidérmicas fundamentais, visualizadas em corte paradérmico, em P. ornatus, possuem paredes sinuosas. O mesofilo foliar, em P. ornatus, é homogêneo ou isodiamétrico. Em P. amboinicus, ocorre diferenciação entre parênquima paliçádico e lacunoso. Os pecíolos das 2 espécies mostram secção côncavo-convexa, em corte transversal. Os mesmos

Estudo anatômico comparado de órgãos vegetativos de boldo miúdo, Plectranthus ornatus Codd. e malvariço, Plectranthus amboinicus (Lour.) tricomas tectores e glandulares constatados no limbo foliar estão também presentes no pecíolo, sendo que os glandulares ocorrem em menor número. Não foi visualizada uma periderme no caule adulto de P. amboinicus; em P. ornatus, foi constatada a presença de periderme, com um súber bem desenvolvido. Ainda em P. ornatus, o xilema secundário apresenta uma aparência homogênea, com poucos elementos de vaso e abundantes fibras de esclerênquima. Não foram visualizados cristais de oxalato de cálcio nos órgãos vegetativos das duas espécies estudadas. AGRADECIMENTOS Às Faculdades Oswaldo Cruz, pelo respaldo oferecido ao Projeto e pela bolsa concedida às estagiárias. REFERÊNCIAS Souza M 2007a. Espécies vegetais indicadas na odontologia. Rev Bras Farmacogn 17: 466-476. Oliveira RAG, Lima EO, Souza EL, Vieira WL, Freire KRL, Trajano VN, Lima IO, Silva-Filho RN 2007b. Interference of Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng essential oil on the anti-candida activity of some clinically used antifungals. Rev Bras Farmacogn 17: 186-190. Rijo P, Gaspar Marques C, Simões MF, Duarte A, Del Carmen ARM, Cano FH, Rodrigues B 2002. Neoclerodane and labdane diterpenoids from Plectranthus ornatus. J Nat Prod 10: 1387-1390. Silva MIG, Gondim APS, Nunes IFS, Sousa FCF 2006. Utilização de fitoterápicos nas unidades básicas de atenção à saúde da família no município de Maracanaú (CE). Rev Bras Farmacogn 16: 455-462. Villate ML, Pérez-Saad H, Pérez MDF, Sarría EG, Castillo RM, Rodrigues MTB 1999. Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. (orégano francês): efecto antimuscarínico y potenciación de la adrenalina. Revista Cubana de Plantas Medicinales 1: 29-32. Agra MF, França PF, Barbosa-Filho JM 2007. Synopsis of the plants known as medicinal and poisonous in Northeast of Brazil. Rev Bras Farmacogn 17: 114-140. Agra MF, Silva KN, Basílio IJLD, França PF, Barbosa-Filho JM 2008. Survey of medicinal plants used in the region Northeast of Brazil. Rev Bras Farmacogn 18: 472-508. Albuquerque IL, Machado MIL, Matos FJA 1990. Constituintes químicos micromoleculares em espécies de Coleus. XI Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. João Pessoa, Pb, Brasil. Albuquerque RL, Lima LB, Machado MIL, Silva MGV, Braz Filho R 2003. Novo diterpeno isolado das folhas de Plectranthus ornatus. 26ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. Ascensão L, Mota L, Castro MM 1999. Glandular Trichomes on the leaves of Plectranthus ornatus: Morphology, distribution and histochemistry. Ann Bot 84: 437-447. Alvin Jose MI, Janardhanan S. 2005. Modulatory effect of Plectranthus amboinicus Lour. on ethylene glycolinduced nephrolithiasis in rats. Indian J Pharmacol 37: 43-44. Brandão MGL, Cosenza GP, Moreira RA, Monte-Mor RLM 2006. Medicinal plants and other botanical products from the Brazilian Official Pharmacopoeia. Rev Bras Farmacogn 16: 408-420. Fahn A 1990. Plant Anatomy. England :Pergamon Press. Furlan MR 1999. Cultivo de Plantas Medicinais. Cuiabá: Coleção Agroindústria. Morais SM, Dantas JDP, Silva ARA, Magalhães EF 2005. Plantas medicinais usadas pelos índios Tapebas do Ceará. Rev Bras Farmacogn 15: 169-177. Matos FJA 1998. Farmácias Vivas. 3ª. ed. rev. e atual. Fortaleza: Editora UFC. Matos FJA, Alencar JW, Craveiro AA, Machado MIL 1988. Características distintivas de duas espécies de Coleus usadas em medicina popular. X Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, São Paulo, Brasil. Oliveira FQ, Gobira B, Guimarães C, Batista J, Barreto M, 613