ASPECTOS FITOGEOGRÁFICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO LAJEADO GRANDE, RS - BRASIL. 4 - FLORESTAS DE GALERIA E CAPÕES-DE-MATOl

Documentos relacionados
TERMO DE COOPERAÇÃO. C Não é necessário ser uma muda de árvore, pode-se adotar uma já existente na calçada em frente a sua casa.

USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO XIDARINI NO MUNICÍPIO DE TEFÉ-AM.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Reserva Extrativista Chico Mendes

Coordenador: Prof. Dr. Paolo Alfredini Professor Livre-Docente da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

MINUTA INSTRUÇÃO NORMATIVA LICENCIAMENTO PARA CONCESSÃO FLORESTAL. Versão - 15 junho 2007 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

PERSPECTIVAS DE CONSERVAÇÃO DOS ESPAÇOS VERDES SUBURBANOS NO MUNICÍPIO DE LAGES, SC

USO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NO DIAGNÓSTICO EM MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS PARA GERAR INFORMAÇÕES EM BANCO DE DADOS

ANEXO 6 Análise de Antropismo nas Unidades de Manejo Florestal

Levantamento florístico de fragmentos florestais na bacia hidrográfica do rio Gravataí, Rio Grande do Sul, Brasil

ECOFOR: Biodiversidade e funcionamento de ecossistemas em áreas alteradas pelo homem nas Florestas Amazônica e Atlântica Simone Vieira NEPAM/UNICAMP

A5-199 Serviços ecossistêmicos: agricultores familiares e a multifuncionalidade da biodiversidade arbórea nativa na Serra dos Tapes (RS/Brasil)

Pesquisador em Informações Geográficas e Estatísticas A I GEOMORFOLOGIA LEIA ATENTAMENTE AS INSTRUÇÕES ABAIXO.

Composição, estrutura e fatores edáficos condicionantes da distribuição das espécies do componente arbóreo em floresta ribeirinha...

Mapeamento Costeiro. Métodos e técnicas para configurar espacialmente feições costeiras para interpretações geológicas e geomorfológicas

Análise estrutural e distribuição espacial em remanescente de Floresta Ombrófila Mista, Guarapuava (PR)

2 03/11 Relatório Final R.A. O.S. O.A. PU. 1 30/09 Alterado Endereço do Terreno R.A. O.S. O.A. PU

DIAGNÓSTICO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DE MUDAS DE ESPÉCIES FLORESTAIS NATIVAS EM MG

Mapeamento geoambiental da área interfluvial dos rios Ibicuí e Jaguari - São Vicente do Sul, RS 1

CONCEITOS DE CARTOGRAFIA ENG. CARTÓGRAFA ANNA CAROLINA CAVALHEIRO

Veracel Celulose S/A Programa de Monitoramento Hidrológico em Microbacias Período: 2006 a 2009 RESUMO EXECUTIVO

3 - Bacias Hidrográficas

AVALIAÇÃO SILVICULTURAL DE ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS REGENERANTES EM UM POVOAMENTO FLORESTAL

LAUDO TÉCNICO DE COBERTURA VEGETAL

VEGETAIS, NATIVOS DO RIO GRANDE DO SUL, PARA PLANTIO EM PÁTIOS ESCOLARES OU ÁREAS PRIVADAS

PRINCIPAIS UNIDADES PARCEIRAS :

Universidade Regional de Blumenau FURB

Abrange os estados: AM, PA, AP, AC, RR, RO, MT, TO, MA. Planícies e baixos planaltos. Bacia hidrográfica do Rio Amazonas

CARTOGRAFIA DE RISCO

RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA ATRAVÉS DO MÉTODO DE NUCLEAÇÃO SANTA MARGARIDA DO SUL, RS

ÍNDICE Fauna... 1/10 ANEXOS. Anexo Autorizações de Captura, Coleta e Transporte de Material Biológico n 325/2015

Recebido para publicação em 26/04/2005 e aceito em 16/11/2005.

Projeto de Escopo de Trabalho de Estudo Preparatório para o Projeto de Prevenção de Desastres e medidas mitigadoras para Bacia do Rio Itajaí

Recuperação e proteção de nascentes em propriedades rurais de Mach~dinho, RS

Campos básicos para informatização da coleção

Mudanças nos Preços Relativos

Registro Hospitalar de Câncer Conceitos Básicos Planejamento Coleta de Dados Fluxo da Informação

RELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS GEOMORFOMÉTRICAS E A VEGETAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO CAVERÁ- OESTE DO RS

SISEMA Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. POLÍCIA MILITAR D E M I N A S G E R A I S Nossa profissão, sua vida.

ANÁLISE DA PRESSÃO ANTRÓPICA SOBRE A COBERTURA VEGETAL DA ÁREA VERDE DO CAMPUS DA UFAM UTILIZANDO SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS (SIG)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO. Elaborado por Gildenir Carolino Santos Grupo de Pesquisa LANTEC

Metodologias de PETI. Prof. Marlon Marcon

O Desenvolvimento Sustentável na Ótica da Agricultura Familiar Agroecológica: Uma Opção Inovadora no Assentamento Chico Mendes Pombos - PE Brasil

NOVO MAPA NO BRASIL?

TERMO DE REFERÊNCIA. Projeto de Reflorestamento com Espécies Nativas no Bioma Mata Atlântica São Paulo Brasil

ANEXO 2 - TERMO DE REFERÊNCIA PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL SIMPLIFICADO PCAS I. CONTEÚDO MÍNIMO DO PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL SIMPLIFICADO PCAS

Demarest Advogados Seminário Agronegócio: Agenda Regulatória

Manual SAGe Versão 1.2

ITEM PRODUTO IPT-

CARACTERIZAÇÃO DA VEGETAÇÃO E ESPÉCIES PARA RECUPERAÇÃO DE MATA CILIAR, IJUÍ, RS

Abelhas. Carminda da Cruz Landim

Contrata Consultor na modalidade Produto

Família :TILIACEAE Espécie: Luehea divaricata

IX CONGRESSO BRASILEIRO DE ARBORIZAÇÃO URBANA 27 DE NOVEMBRO A 1º DE DEZEMBRO DE BELO HORIZONTE / MG

Geografia. Aula 02. Projeções Cartográficas A arte na construção de mapas. 2. Projeções cartográficas

PROPOSTA DE COOPERAÇÃO

ASSUNTO: Solicitação de Impugnação de Edital Concorrência SEBRAE/TO Nº 008/2014

IDENTIFICAÇÃO DE PLANTAS COMO APOIO AO PROJETO SEMENTES DO PORTAL II: RESULTADOS PRELIMINARES

INSTITUTOS NACIONAIS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INCT 2º SEMINÁRIO DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE PROJETO Formulário para Consultor Ad hoc

ANAIS. Artigos Aprovados Volume I ISSN:

Mata Atlântica. Relatório de Atividades

Decreto Regulamentar n. º 10/2009, de 29 de Maio

Câmpus de Bauru. Plano de Ensino. Disciplina A - Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo V: Habitação de Interesse Social

Auditoria de Meio Ambiente da SAE/DS sobre CCSA

PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: TRANSFORMANDO O CINZA EM VERDE Introdução:

ENSINO-APRENDIZAGEM DA CARTOGRAFIA: OS CONTEÚDOS COM BASES MATEMÁTICAS NO ENSINO FUNDAMEANTAL 1

EXPERIMENTAÇÃO EM AGROSSILVICULTURA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL ESTUDO DE CASO EM JOANÓPOLIS SP

5.6 PROGRAMA DE REVEGETAÇÃO DAS MATAS CILIARES E CONEXÃO DO CORREDOR ECOLÓGICO

TERMO DE REFERÊNCIA - UGL/PDRS: 05/2014 CONTRATAÇÃO DE CONSULTORIA PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE WEB PORTAL PARA RESERVA LEGAL

BANCO DE DADOS GEOGRÁFICOS E WEBMAPPING. Prof. Angelo Augusto Frozza, M.Sc.

Regulamento do Núcleo de Apoio à Pesquisa do Curso de Medicina da UNIFENAS-BH

ESTRUTURA FITOSSOCIOLÓGICA DE UMA FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL NA REGIÃO DE SANTA MARIA, RS.

Estudo da produção de leite de caprinos da raça Saanen do IFMG Campus Bambuí

COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO MESTRADO E DOUTORADO EDITAL Nº 03/2016-PGDRA

METODOLOGIA DE ATUALIZAÇÃO DE CARTAS TOPOGRÁFICAS UTILIZANDO-SE IMAGENS DE SATÉLITE DE MÉDIA RESOLUÇÃO ESPACIAL

O JOVEM COMERCIÁRIO: TRABALHO E ESTUDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA CURSO DE AGRONOMIA AGR DEFESA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO

ANÁLISE FLORÍSTICA E ESTRUTURAL DO COMPONENTE ARBÓREO DE UM FRAGMENTO DE FLORESTA OMBRÓFILA MISTA EM CLEVELÂNDIA, SUDOESTE DO PARANÁ

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

O POTENCIAL DE INOVAÇÃO E A QUESTÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NAS INDÚSTRIAS DA REGIÃO NOROESTE DO RS 1

ÁREA: TURISMO AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO FLUXO DE TURISTAS PARA A ILHA GRANDE EM ANGRA DOS REIS - RJ

Análise espacial do prêmio médio do seguro de automóvel em Minas Gerais

Fundamentos de Teste de Software

ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO CHACO (SAVANA ESTÉPICA) BRASILEIRO

ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA PARA CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS DE EDITORAÇÃO, EDIÇÃO E IMPRESSÃO DE LIVROS

TERMO DE REFERÊNCIA. Fonte de Informação Experiências Exitosas de Gestão Estratégica e Participativa nas instâncias do SUS

GEOGRAFIA COMENTÁRIO DA PROVA DE GEOGRAFIA

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Editora Atlas,

FICHA PROJETO - nº 226-MA

USO DO BIOSSÓLIDO COMO SUBSTRATO NA PRODUÇÃO DE MUDAS DE AROEIRA (Schinus terenbinthifolius Raddi)

ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA, ECONÔMICA E AMBIENTAL DE PROJETOS DE TRANSPORTE URBANO COLETIVO

Como Elaborar uma Proposta de Projeto

RESUMO ABSTRACT. Ci. Fl., v. 22, n. 1, jan.-mar., 2012

ESTUDO DA REGENERAÇÃO NATURAL, BANCO DE SEMENTES E CHUVA DE SEMENTES NA RESERVA GENÉTICA FLORESTAL DE CAÇADOR, SC

Análise da Vegetação Florestal Ciliar na Bacia do Rio Passo Fundo, RS bases para a restauração ecológica

LAUDOS DE COBERTURA VEGETAL APLICADOS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM PORTO ALEGRE 4ª edição

Projeto Nascentes Urbanas. MÓDULO BÁSICO Autora : Deise Nascimento Proponente: OSCIP Instituto Árvore da Vida

PROPOSTA DE PROJETO MANUAL DE PREENCHIMENTO

LT 500kV MARIMBONDO - ASSIS MEMORIAL DO PROJETO BÁSICO DE FUNDAÇÕES

Composição florística de um fragmento de caatinga do município de Itapetim, Pernambuco

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO SECRETARIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

Transcrição:

BALDUINIA, n. 26, p. 19-26, 25-11-2011 ASPECTOS FITOGEOGRÁFICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO LAJEADO GRANDE, RS - BRASIL. 4 - FLORESTAS DE GALERIA E CAPÕES-DE-MATOl FABIANO DA SILVA ALVES2 JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP LUIS EDUARDO DE SOUZA ROBAINN RESUMO Duas tipologias florestais foram reconhecidas na bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande, oeste do Rio Grande do Sul: florestas de galeria e capões-de-mato. São definidas as espécies componentes, em ambas as tipologias, e apresentadas as respectivas áreas de distribuição em mapa fitogeográfico. Palavras-chave: Fitogeografia, Rio Grande do Sul, arroio Lajeado Grande, florestas de galeria, capões-demato. ABSTRACT [Phytogeographic features in the basin of Lajeado Grande stream, Rio Grande do Sul state - Brazil. 4 - Gallery forests and small forest patches]. They were recognized two forest types in Lajeado Grande stream basin, west of Rio Grande do Sul state, Brazil: gallery forests and small patches of forest. The component species of these types of vegetation are fumished, being the distribution areas presented in a phytogeographic map. Key words: Phytogeography, Rio Grande do Sul state - Brazil, Lajeado Grande stream, gallery forests, small patches of forest. INTRODUÇÃO O oeste do Rio Grande do Sul carece de estudos detalhados sobre a composição florística, distribuição geográfica e vinculações entre vegetação natural e meio físico. Frente esta situação - e com o interesse de contribuir para o avanço do conhecimento científico, bem como alertar sobre a necessidade de preservação da biodiversidade e conservação de paisagens naturais significativas no Estado -, o presente trabalho visa a identificar, caracterizar e mapear I Extraído de "Estudos fitogeográficos na bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande - Oeste do RS", Dissertação de Mestrado defendida por ALVES (2008), no Programa de Pós-Graduação em Geografia - UFSM. Apoio: FAPERGS - Procorede li - 0614357. 2 Prot., MSc. Universidade da Região da Campanha - URCAMP - Alegrete, RS. 3 Prof., Dr. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal - UFSM. Bolsista de Produtividade em Pesquisa (CNPq - Brasil). 4 Prot., Dr. Programa de Pós-Graduação em Geografia- UFSM. as florestas de galerias e capões-de-mat0 6 da bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande, com base em aspectos fisionômicos, florísticos e fitoecológicos. MATERIAIS E MÉTODOS Tributário do rio Ibicuí, a bacia do arroio Lajeado Grande situa-se no oeste do Rio Grande do Sul, em área dos municípios de Alegrete e Manoel Viana, entre as coordenadas geográficas de 55 20' 28" e 55 36' 42" de longitude oeste, e 29 36' 20" e 29 59' 52" de latitude sul 5 Segundo RODRIGUES & LEITÃO-FILHO (2000), o termo 'Floresta de Galeria' deve ser usado em substituição ao termo 'Mata ciliar' somente em regiões onde a vegetação de interflúvio não é florestal. 6 O termo "capão", de origem indígena (Tupinambá), deriva de "caa-apoam" e significa mata circular. É utilizado regionalmente para caracterizar ilhas de vegetação silvática dispersas em áreas campestres. Este termo foi registrado pelos portugueses com a corruptela "capão de mato" (MARCHIORl, 2004). 19

'1100"00' 527"00' 528"20' + + + + 529""0' + + + + + 529'"H' + + + 529"-48' + 529"52' + + 529"56' + + + L-- ± ::-. ---:. +.:"'=-------c.5~5.~'''',.---.5;:5~.'-::.---.,-;55~.'-::,.------;:~,----..,.~:-'~--;f.:;:,-------' FIGURA 1 - Mapa de localização da bacia hidrográfica do Arroio Lajeado Grande, Alegrete - RS. 20

(Figura 1). De sua variada vegetação, o presente trabalho trata das florestas de galeria e dos capões-de-mato, tendo sido usada, para a sua identificação, caracterização e mapeamento, a metodologia a seguir discriminada. As áreas de ocorrência das florestas de galeria e capões-de-mato foram inicialmente reconhecidas com base em aspectos fisionômicos. O mapeamento das mesmas, por sua vez, foi definido a partir do mapa morfolitológico apresentado em artigo anterior?, com o auxílio de imagens de satélite (ETM Landsat, do Google Earth) e complementado por observações in loco. Na sequência, foram realizados levantamentos florísticos detalhados em áreas com baixos índices de alteração antrópica, com o uso de ficha de inventário fitogeográfico proposta por Bertrand (1966), constante em Passos (2003). Além de informações gerais (local, data e pesquisadores), foram anotados aspectos relativos à fisionomia da vegetação na área amostral, bem como sua localização geográfica (coordenadas), identificação botânica das espécies e aspectos do meio físico (recursos hídricos, relevo, solos, etc.). A identificação das espécies vegetais, realizada inicialmente a campo, teve a amostragem encerrada, em cada tipologia, com base na curva do coletor. Para todas as espécies não identificadas a campo foi coletado material vegetativo e/ou reprodutivo, visando posterior análise em laboratório, com o aux11iode bibliografia especializada. O levantamento de dados do meio físico possibilitou a realização de uma análise fitoecológica, de modo que as tipologias, definidas inicialmente sob os pontos de vista fisionômico e florístico, foram também caracterizadas com base nos hábitats de ocorrência, bem como georreferenciadas e sobrepostas ao mapa morfolitológico. A sobreposição cartográfica destas informações levou ao reconhecimento e 7 ALVES, F. S.; RüBAINA, L. E. S.; MARCHIüRI, J. N.C. Aspectos fitogeográficos da bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande, RS - Brasil. 1 - ü meio físico. Balduinia, Santa Maria, n. 18, p. 1-9, 2009. caracterização precisa das tipologias, bem como de seus respectivos hábitats preferenciais. A caracterização e mapeamento destas unidades, somadas à base cartográfica do mapa morfolitológico, levou, com a utilização dos softwares GTM PRO versão 4.6 (SIG) e CoreI Draw X3 (edição gráfica), à elaboração do mapa fito geográfico com as áreas de ocorrência das duas tipologias de vegetação natural, objeto do presente trabalho. DESCRIÇÃO DAS TIPOLOGIAS Apesar das marcas evidentes de antropismo, observadas em grande parte da bacia do arroio Lajeado Grande, o reconhecimento de distintas tipologias de vegetação tornou-se possível graças à análise integrada de aspectos fisionômicos, florísticos e fitoecológicos. A Figura 2 apresenta a distribuição geográfica das florestas de galeria e dos capões-de-mato, caracterizadas a seguir: 1- Floresta de galeria A floresta de galeria ou mata ciliar é a principal formação de caráter florestal na bacia hidrográfica em estudo. Associada, intimamente, à planície de acumulação, tais florestas distinguem-se das demais tipologias, sob o ponto de vista fisionômico, estendendo-se ao longo da drenagem principal e de alguns afluentes de maior porte, como faixas de largura e composição florística variada, segundo particularidades locais. Ao longo do leito do arroio Lajeado Grande, as matas ciliares se estendem por mais de 60 quilômetros de extensão, ramificando-se em alguns de seus afluentes (Figura 3). Em muitos pontos, todavia, a faixa florestal encontra-se interrompida e/ou segmentada, exibindo, por vezes, sinais visíveis da ação antrópica. No contato direto com a água, o grupo das reófitas 8 inclui o sarandi (Sebastiania schottiana 8 Espécies vegetais morfologicamente adaptadas a condições severas, próprias da margem dos cursos d'água. Entre outros aspectos restritivos, tais plantas precisam suportar submersão temporária, bem como a força da água, por ocasião de enchentes (MARCHIüRI, 2000, p.229). 21

529" 36' 529"40' + + + 529"44' + + 529"48' + + 529"S2' 529"S6' Legenda: 530"00' Cursos d' água Lagos naturais elou artificiais Campos em colinas de arenito Campos com curupis em colinas de arenito Campos com bulia-anão em colinas de arenito Campos em colinas vulcânicas Campos com espinilhos em colinas vulcânicas Vegetação de comijas e de Morrotes de arenito Capões de mato em morrotes e colinas vulcânicas Floresta de galeria em planície de acumulação 'Êbl::EsiO=='.----..Ê 2 ==i 2 ti 4 =:E=3, wss" 37' wss" 34' wss"31 ' wss"28' wss"2s' wss"22' FIGURA 2 - Mapa fitogeográfico da bacia hjdrográfica do Arroio Lajeado Grande, Alegrete - RS, 22

FIGURA 3 - Vista parcial da mata ciliar do Arroio Lajeado Grande. (Müll. Arg.) Müll. Arg.), espécie mais representativa desta comunidade, bem como o sarandivermelho (Phyllantus sellowianus (Klotzsch) Müll.Arg.), o sarandi-mata-olho (Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk.), o angiquinho (Calliandra tweedii Benth.), o salseiro (Salix humboldtiana Willd.) e, por vezes, o juquiri (Mimosa incana (Spreng.) Benth.) (Figura 4). Na floresta propriamente dita, destacam-se: o coqueiro-gerivá (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman) (Figura 5), o branquilho (Sebastiana commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs), o branquilho-ieiteiro (Sebastiana brasiliensis Spreng.), a corticeira-do-banhado (Erythrina cristagalli L.), a murta (Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg), a pitangueira (Eugenia uniflora L.), o pessegueiro-bravo (Prunus myrtifolia (L.) Urb.), o chalchal (Allophylus edulis (A.St.-Hi!., Cambess.& A. Juss.) Radlk.), o camboatá-branco (Matayba elaeagnoides Radlk.), o camboatá-vermelho (Cupania vernalis Cambess.), o tarumã-preto (Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke), o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan), o açoita-cavalo (Lueha divaricata Mart. & Zucc.), o camboim (Myrcia selloi (Spreng.) N. Silveira), o marmeleiro-domato (Ruprechtia laxiflora Meisnn.), o taquaruçu (Guadua trinii (Ness) Ness ex. Rupr.), o coentrilho (Zanthoxylum fagara (L.) Sarg.), a mamica-de-cadela (Zanthoxylum rhoifolium Lam.), a came-de-vaca (Styrax leprosus Hook. & Am.), o guamirim (Myrcia palustris DC.), a capororoca (Myrsine laetevirens (Mez) Arechav.), a canela-preta (Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez) e a canela-iageana (Ocotea pulchella (Nees) Mez). No sub-bosque, salienta-se a embira (Daphnopsis racemosa Griseb.), por sua abundância (Figura 5). Ao longo de sua extensão, também não são raros na mata ciliar: o sucará (Xylosma tweediana (CIos.) Eichler), as capororocas (Myrsine coriacea (Sw.) R.Br.; Myrsine lorentziana (Mez) Arechav.), a guabiroba-do-mato (Campomanesia xanthocarpa O.Berg), o guamirim (Eugenia uruguayensis Cambess.), o araçá-domato (Myrcianthes cisplatensis (Cambess.) O.Berg.), a laranjeira-do-banhado (Citronella gongonha (Mart.) R.A. Howard.), a congonha (Citronella paniculata (Mart.) R.A. Howard.), o esporão-de-galo (Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart.), o pau-de-junta (Coccoloba cordata Cham.), o araticum-folha-de-salso (Annona neosalicifolia (Schlecht.) Rainer) e o araticum-quaresma (Annona emarginata (Schlecht.) Rainer). De modo geral, a orla da floresta de galeria reúne um conjunto de arbustos, árvores pionei- 23

FIGURA 4 - Aspecto geral da vegetação reofítica, nas margens do Arroio Lajeado Grande. ras e lianas, todas heliófilas 9, das quais salientam-se: a aroeira-brava (Lithraea molleoides (Vell.) Engl.), o molho (Schinus polygamus (Cav.) Cabrera), a cancorosa (Maytenus muelleri Schwacke), o veludinho (Guettarda uruguensis Chamo & Schltdl.), o aguaí-vermelho (Chrysophyllum marginatum (Hook. & Am.) Radlk.), o cambará (Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera), as tal eiras (Celtis iguanea (Jacq.) Sarg.; Celtis ehrenbergiana (Klotzsch) Liebm.), a unha-de-gato (Acaeia bonariensis Gill. ex Hook. & Am.), a pixirica (Miconia hyemalis A. St.-Hil. & Naudin), a viuvinha (Chomelia obtusa Chamo & Schitdl.), o chá-de-bugre (Casearia sylvestris Sw.), a sete-sangrias (Symplocus uniflora (Pohl) Benth.), a japecanga (Smilax campestris Griseb.) e a embira (Daphnopsis racemosa Griseb.). A aroeira-cinzenta (Schinus lentiscifolius Marchand.) e a tuna (Cereus hildmannianus K. Schum.), por sua vez, são menos freqüentes. Em áreas com planície de acumulação reduzida, a floresta de galeria conecta-se, não raro, a capões-de-mato localizados à meia encosta de colinas e morrotes vulcânicos, bem como à ve- 9 Plantas exigentes de luz, capazes de ocupar áreas desnudas (MARCmORI, 2007). getação de cornijas e morrotes de arenito. Tais contatos podem contribuir com diferentes espécies a sua composição florística, notadamente de elementos típicos da orla florestal: é o caso do espinilho (Vachellia caven (Molina) Seigler & Ebinger) e do garupá (Aloysia gratissima (Hook.) Tronc.), elementos típicos de colinas e morrotes com substrato vulcânico, bem como do curupi (Sapium haematospermum Müll. Arg.) e do jasmim-catavento (Tabernaemontana catharinensis DC.), no caso de colinas com substrato arenítico. 2 - Capões-de-mato Núcleos florestais de pequena extensão, os capões-de-mato ocorrem dispersos em meio à vegetação campestre, apresentando composição florística semelhante à floresta de galeria. Dispostos à meia encosta de colinas e morrotes de substrato vulcânico, os capões-de-mato estão geralmente associados a drenagens de primeira ou segunda ordem, ocorrendo em locais de declividades acentuadas e/ou com amplitudes relativamente elevadas (Figura 6). Na composição dos capões, salientam-se, como espécies características: a aroeira-brava (Lithraea molleoides (Vell.) Engl.), o branquilho (Sebastiana commersoniana (Baill.) L.B. Sm. & Downs), o camboatá-vermelho (Cupania 24

FIGURA 5 - Contraste da mata ciliar, com gerivás, e vegetação campestre adjacente. vernalis Cambess.), a came-de-vaca (Styrax leprosus Hook. & Am.), o coentrilho (Zanthoxylum fagara (L.) Sarg.), a marnica-de-cadela (Zanthoxylum rhoifolium Lam.), o pessegueiro-bravo (Prunus myrtifolia (L.) Urb.) e o chal-chal (Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess.& A. Juss.) Radlk.). Por vezes, algumas espécies de ocorrência eventual apresentam freqüência significativa nos capões-de-mato. É o caso do tarumã-de-espinho (Citharexylum montevidense (Spreng.) Moldenke), do angico-vermelho (Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan), do açoita-cavalo (Luehea divaricata Mart. & Zucc.), da capororoca (Myrsine laetevirens (Mez) Arechav.), do cambará (Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera), da figueira-do-mato (Ficus luschnathiana (Miq.) Miq.), do guabijú (Myrcianthes pungens (O.Berg) D. Legrand), da murta (Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O.Berg), do camboatá-branco (Matayba elaeagnoides Radlk.), do esporão-de-galo FIGURA 6 - Capão-de-mato, em encosta de colina de substrato vulcânico (fonte: Google Earth, 2008). 25

(Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart.), da canela-preta (Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez), da canela-guaicá (Ocotea puberula (Rich.) Nees.), da canela-lajeana (Ocotea pulchelta (Nees) Mez), do branquilho-leiteiro (Sebastiana brasiliensis Spreng.), do coqueirogerivá (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman), da laranjeira-do-banhado (Citronelta gongonha (Mart.) R.A. Howard.) e da corticeirado-banhado (Erythrina cristagalli L.). Como núcleos avançados de floresta em meio ao campo nativo, os capões reúnem contingente expressivo de arbustos, lianas e arvoretas pioneiras e heliófilas em sua orla, destacando-se: o espinilho (Vachellia caven (Molina) Seigler & Ebinger), o garupá (Aloysia gratissima (Hook.) Tronc.), o molho (Schinus polygamus (Cav.) Cabrera), a coronilha (Scutia buxifolia Reiss.), a cancorosa (Maytenus muelteri Schwacke), a taleira (Celtis iguanea (Jacq.) Sarg.), a viuvinha (Chomelia obtusa Chamo & Schltdl.), o veludinho (Guettarda uruguensis Chamo & Schlecht.), a pitangueira (Eugenia unijlora L.), o chá-de-bugre (Casearia sylvestris Sw.), a embira (Daphnopsis racemosa Griseb.) e a japecanga (Smilax campestris Griseb.). De ocorrência eventual, citam-se: a aroeira-cinzenta (Schinus lentiscifolius Marchand.), a tuna (Cereus hildmannianus K. Schum.), a anacauíta (Schinus molte L.), o aguaívermelho (Chrysophyltum marginatum (Hook. & Am.) Radlk.), a timbaúva (Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong) e a guajuvira (Cordia americana (L.) Gottschling & J.E.Mill.). Nos capões-de-mato associados a substrato vulcânico delgado, o afloramento de rochas areníticas a meia encosta torna-se comum, influindo diretamente na composição florística, que passa a incluir elementos típicos da vegetação de morrotes e cornijas de arenito. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com pouco mais de 60 km de extensão ao longo do Arroio Lajeado Grande, as florestas de galeria ocupam uma área relativamente pequena no conjunto da bacia hidrográfica; os capões-de-mato, por sua vez, ocupam área ainda menor. A composição florística de ambas as tipologias, relativamente pobre no tocante à diversidade de elementos arbóreos, assemelha-se ao verificado em áreas correspondentes, no oeste do Estado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, F. S. Estudos fitogeográficos na bacia hidrográfica do Arroio Lajeado Grande, oeste do Rio Grande do Sul. Santa Maria: UFSM, 2008. 106 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências) - Universidade Federal de Santa Maria. ALVES, F. S.; ROBAINA, L. E. S.; MARCHIORI, J. N. C. Aspectos fitogeográficos da bacia hidrográfica do arroio Lajeado Grande, RS - Brasil. 1 - O meio físico. Balduinia, Santa Maria, n. 18, p. 1-9,2009. MARCHIORI, J. N. C. Dendrologia das Angiospermas: das Bixáceas às Rosáceas. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2000. 240 p. MARCHIORI, J. N. C. Fitogeografia do Rio Grande do Sul: Campos Sulinos. Porto Alegre: EST, 2004.110 p. MARCHIORI, J. N. C. Dendrologia das Angiospermas: Leguminosas. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2007. 199 p. PASSOS, M. M. Biogeografia e paisagem. Maringá: [s.n.], 2003. 264 p. RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO, H. F. Matas Ciliares: Conservação e recuperação. São Paulo: Ed. da USP: Fapesp, 2000. 320 p. 26