ALTERNATIVAS PARA SISTEMAS DE ÁGUA E RESÍDUOS SÓLIDOS EM PRAIA SECA, ARARUAMA-RJ. Dario de Andrade Prata Filho Anna Virgínia Machado Alexandre Pingret



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Transcrição:

ALTERNATIVAS PARA SISTEMAS DE ÁGUA E RESÍDUOS SÓLIDOS EM PRAIA SECA, ARARUAMA-RJ Dario de Andrade Prata Filho Anna Virgínia Machado Alexandre Pingret UFF - Universidade Federal Fluminense CTC - Centro Tecnológico Rua Passo da Pátria, n o 156 / Bloco D - sala 218 - CEP 24210-240 São Domingos - Niterói-RJ - Brasil Tel: 55 (21) 620-7070 ramais 340,330 e 320; Fax: 55(21)717-4446 E-mail: prata@civil.uff.br RESUMO O presente trabalho faz parte de um projeto já iniciado na área de Praia Seca e que visa conhecer a estrutura de organização da comunidade, especialmente quanto às suas condições de saúde e saneamento ambiental, bem como os aspectos sociais e econômicos relacionados ao seu potencial ecoturístico; buscando o estabelecimento de um documento que possa servir de base para o planejamento de intervenções na área visando melhorias infra-estruturais, ambientais e de saúde. Estas intervenções referem-se às ações de saúde assistencial e preventiva e de saneamento, em especial, nos sistemas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário; e, de resíduos sólidos domiciliares e urbanos. A região em questão, é uma Área de Proteção Ambiental situada na Restinga de Massambaba, entre o Oceano Atlântico e a Lagoa de Araruama, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. O projeto, está sendo desenvolvido através de um convênio firmado entre a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Prefeitura Municipal de Araruama (PMA) e a Sociedade de Amigos de Praia Seca (SOAPRAS). Este projeto teve por objetivo o diagnóstico das condições do abastecimento de água, no que se refere a alguns aspectos físico-químicos e bacteriológicos das águas dos poços freáticos residenciais, da água fornecida em carros-pipa e de alguns mananciais de superfície disponíveis no entorno da área de estudo, buscando alternativas para o abastecimento. Simultaneamente também estudou-se a situação do atual sistema de resíduos sólidos apresentando alternativas para sua melhoria. Palavras-Chave: abastecimento de água, resíduos sólidos.

INTRODUÇÃO A maioria dos países em desenvolvimento vem sofrendo, nas últimas décadas, um vertiginoso agravamento das condições de saúde e saneamento ambiental nos centros urbanos, especialmente nas suas áreas periféricas. Isso tem se dado, principalmente em função de um rápido crescimento populacional, ocupações desordenadas, má distribuição de renda, redução nas oportunidades de trabalho, falta de investimentos públicos no setor ambiental e uma articulação, ainda ineficaz, dos maiores interessados na melhoria da sua própria qualidade de vida, que são os integrantes dessas comunidades. O planejamento urbano com estratégias para a sustentabilidade tem sido visto como o único modelo capaz de permitir que tais aglomerados permaneçam habitáveis. Nos próximos quarenta anos, seremos cerca de nove bilhões de habitantes no planeta. Este crescimento populacional se dará, predominantemente, nos centros urbanos, principalmente naqueles localizados em países em desenvolvimento. Este quadro nos remete a um prognóstico sombrio quanto ao agravamento das condições de saúde das populações urbanas face a conseqüente ampliação da geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos nestas áreas. Embora as áreas de baixa renda sejam mais vulneráveis à falta de investimentos públicos na infra-estrutura de equipamentos públicos e de saneamento, existem diversas áreas ocupadas por populações mistas, de classe média e baixa, que também sofrem com a falta destes serviços, como é o caso de Praia Seca. A região de Praia Seca, situada na restinga de Massambaba, entre o Oceano Atlântico e a Lagoa de Araruama, pertencente ao município de Araruama, no litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil; apesar de ser uma Área de Proteção Ambiental, ocupada predominantemente por veranistas de classe média, ainda apresenta precariedade nos sistemas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário bem como no sistema de coleta e destino final de resíduos sólidos. Assim é que, por iniciativa da Associação de Moradores de Praia Seca, a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Prefeitura Municipal de Araruama (PMA), e a Sociedade de Amigos de Praia Seca (SOAPRAS), firmaram um convênio visando o levantamento das condições de saúde e de saneamento ambiental da região, com o propósito de obter subsídios para o planejamento das intervenções necessárias, visando a melhoria da qualidade de vida na área. Deste modo o presente trabalho teve por objetivo apresentar os resultados dos estudos sobre o atual sistema de abastecimento de água, mostrando o perfil de qualidade das águas hoje utilizadas pela população, considerando as diversas fontes de abastecimento; bem como os estudos realizados sobre a qualidade de alguns mananciais de superfície que existem no entorno da área de estudo, visando seu aproveitamento. Em seguida apresenta-se também uma proposta para o equacionamento do sistema de coleta e destino final dos resíduos sólidos domiciliares e urbanos.

METODOLOGIA Inicialmente buscou-se as informações disponíveis em diferentes fontes, tais como: o Censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1991, em diversas Secretarias e Companhias de Desenvolvimento Municipais e Estaduais, no Posto de Saúde local, nos Cartórios de Registro de Dados vitais e Associações de Moradores. Observou-se que a maioria das informações obtidas destes órgãos não possuíam os dados desagregados para a área de Praia Seca, considerada um bairro do Município de Araruama na ocasião do Censo Demográfico. Em função disso e visando a obtenção de dados mais detalhados, elaborou-se um questionário com o objetivo de levantar as condições de habitação, de saneamento, da composição familiar e social dos moradores e sua percepção a respeito dos principais problemas comunitários. A procura de dados nas Instituições Municipais e Estaduais sobre a região estudada, não foi uma tarefa simples, uma vez que repetiu-se o fato de sempre se encontrar as informações não desagregadas para a região estudada, dificultando a elaboração do diagnóstico. Foram visitadas a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), a Prefeitura Municipal de Araruama (PMA), a Secretaria Estadual de Rios e Lagoas (SERLA), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), a Companhia Estadual de Águas e Esgoto (CEDAE), a Companhia de Energia Elétrica do Rio de Janeiro (CERJ), a Secretaria de Obras, Urbanismo e Meio Ambiente de Araruama (SOUMA), a Empresa de Saneamento de Araruama (ESAR), a Superintendência de Obras de Araruama (SOMAR), as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, o Posto de Saúde local, os Cartórios de Registro de dados vitais e Associações de Moradores. O reconhecimento geográfico da área foi realizado a partir dos mapas fornecidos pela CERJ e pela CEDAE. Através de digitalização em programa específico, foi elaborado um mapa da região em escala de 1:10 000, em que foram localizados as lagoas, ruas, loteamentos, aglomerados urbanos e habitações isoladas, Postos de Saúde, escolas e outros pontos de referência. O levantamento de dados sobre a qualidade da água dos poços freáticos, dos mananciais de superfície, dos carros-pipa e da Lagoa de Araruama, visando avaliar sua balneabilidade, foram realizados, coletando-se amostras simples e levadas para analise nos Laboratórios de Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Laboratório de Saneamento e Saúde Ambiental da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e no Laboratório de Toxicologia Farmacêutica da Universidade Federal Fluminense. Foram estudados os aspectos bacteriológicos e físico-químicos das águas freáticas e dos mananciais e apenas os aspectos bacteriológicos das águas dos carros-pipa e do entorno da Lagoa de Araruama. Quanto ao sistema de resíduos sólidos, identificou-se o sistema atual de coleta e destino final, através de visitas à área e entrevistas com moradores e administradores da Prefeitura de Araruama.

Foram estudadas duas hipóteses para se implantar um aterro sanitário, uma com segregação e a outra sem a segregação do lixo, de acordo com as normas vigentes, calculando-se o tamanho das células do aterro, bem como apresentando propostas simplificadas para coleta, seleção e compostagem. RESULTADOS E DISCUSSÃO Sistema Atual de Abastecimento de Água O atual sistema de abastecimento de água de Praia Seca consiste numa rede de abastecimento, alimentada por uma adutora da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), com captação e Tratamento Convencional junto à Represa de Juturnaíba, situada entre os municípios de Araruama e Silva Jardim. Na maioria dos casos também encontra-se o aproveitamento de Poços Freáticos construídos nas próprias residências. Além destas fontes de abastecimento, a população ainda recorre a fontes de água comercializada por Carros-pipa, captações de águas de chuva e, até mesmo, a aquisição de Água Mineral. Devido a escassez de água proveniente da rede de abastecimento da CEDAE, a comunidade se obrigou a buscar tais alternativas nem sempre seguras, em função de ser uma região de veraneio, quando o consumo é maior e o abastecimento se torna indispensável ao conforto da população. Os poços freáticos em geral são semelhantes a piezômetros, escavados com auxílio de trados e revestidos com tubos de PVC sendo o bombeamento da água feito com a utilização de moto-bombas elétricas. Em geral possuem boa qualidade de construção. Não existem poços profundos ou artesianos na região de Praia Seca. A água proveniente dos poços geralmente são utilizadas, em função de sua qualidade, para consumo doméstico, limpezas gerais ou descarga da bacia sanitária. A coleta das águas meteóricas é feita pelo sistema convencional, sendo captada a partir do telhado, conduzida por calhas e armazenadas em cisternas. Sendo esta normalmente utilizada para consumo, após uma simples desinfeção com cloro e posterior filtração, em filtro caseiro. Esta ultilização é mais freqüente nas áreas de Praia Seca que não possuem rede de abastecimento d água e má qualidade da água dos Poços Freáticos. A água comercializada pêlos Carros-pipa são provenientes de poços freáticos localizados em Praia Seca, ou mesmo captadas em adutoras da própria CEDAE, em municípios vizinhos.(rio Bonito, Araruama, Saquarema).Os pipeiros fazem cloração da água a ser comercializada. A água proveniente da CEDAE, é armazenada em caixas d água separadas, daquelas coletadas em poços freáticos de Praia Seca, sendo que o pipeiro tem a preocupação de fazer um pré-tratamento com a utilização do cloro, antes de comercializá-la.

O abastecimento para toda a Região dos Lagos é feito através da rede de distribuição da CEDAE, com água proveniente da represa de Juturnaíba, com vazão de água tratada de aproximadamente 1 m 3 /s para o suprimento de toda a Região dos Lagos. Assim, No verão, quando a população é triplicada, ocorre escassez de água em toda a região. Sendo A distribuição da água em Praia Seca, através dessa rede, atualmente tem se dado de forma intermitente. Devido a escassez e intermitência do abastecimento de água proveniente da rede da CEDAE, o preço elevado da água dos Carros-pipa e da má qualidade da água dos poços freáticos, em algumas áreas de Praia Seca, parte da população prefere também contar com a opção de consumir água mineral envazada em garrafas apropriadas. Os galões de águas industrializadas são comercializados em mercados e farmácias da região. Aspectos físicos-químicos e bacteriológicos Grande parte da região, principalmente as costeiras e lacustres, possuem água salgada a salobra, somente encontrando-se em algumas regiões centrais e mais elevadas, águas com menor concentração de sais, chamadas de doces, pela população local. Em algumas regiões encontram-se águas com muita coloração, devido a ocorrência de uma planta nativa, da família das samambaias, que elimina pelas raízes certo tipo de corante inerte. As análises para estudo da qualidade das águas dos Poços Freáticos, foram feitas utilizando-se cerca de 90 amostras, sendo que 39 amostras foram descartadas por apresentarem salinidade superior a 600 mg/l de cloretos. Os parâmetros analisados foram; a presença de cor, turvação, sedimento, odor, ph e cloretos. Entre as amostras analisadas, aquelas que apresentavam cor e turvação foram clarificadas utilizando-se um filtro de carvão ativado, como teste de melhoria da sua qualidade. Obteve-se sucesso em apenas 26,5% das amostras clarificadas. Sendo que nas demais o carvão não produziu efeito apropriado. Este teste serviu para que se pudesse sugerir aos moradores ocupantes das áreas em que a água apresenta cor e turvação, a fazerem tratamento domiciliar utilizando este recurso, para a melhoria da qualidade da água a ser consumida. De modo geral os resultados médios das análises das 51 amostras estudadas dos poços freáticos em relação aos parâmetros analisados foram os seguintes (Quadro 01). QUADRO 01. Valores médios dos parâmetros estudados Amostra Cor turvação Sedimento Odor Ph Cloretos (mg/l) Clarificadas C/ carvão 51 63,46 % 9,62 % 19,23 % 1,92 % 6,3 155,7 26,5 %

Quanto à qualidade bacteriológica observada nas amostragens realizadas nos mananciais de superfície, observou-se concentrações de coliformes fecais que permitem sua utilização para consumo doméstico após tratamento convencional. Alternativas para o abastecimento de água Quanto aos mananciais de superfície estudados na região, observou-se a existência de duas Bacias hidrográficas de maior importância, com possibilidades de aproveitamento para captação de água para o abastecimento de Praia Seca, após tratamento convencional. Sendo estas, a Bacia do Rio dos Leites, com área de 53.3925 Km 2 e vazão no curso d água principal de 39,25 l/s. Outra a Bacia do Rio Ibicuíba com área de 38.1763 Km 2 e vazão no curso d água principal de 57 l/s. A captação d água pode ser feita de forma direta, sem necessidade de barramento para acumulação, nos cursos d água principais das duas Bacias estudadas. Quanto às possibilidades de aproveitamento de mananciais subterrâneos, a perfuração de poços freáticos, nas zonas de preservação natural, na própria região de Praia Seca, onde foi observada a ocorrência de água de boa qualidade, juntamente com a construção de reservatórios elevados, e cloração simples, poderá ser uma opção de abastecimento coletivo de parte da população. Sistema atual de resíduo sólidos Quanto ao sistema de resíduos sólidos os levantamentos mostraram que há alguns anos, todo o lixo gerado em Praia Seca era depositado num terreno baldio, propriedade da prefeitura de Araruama, localizado no loteamento Vila Umberto de Cássia Gleba II. Neste depósito não havia nenhum controle quanto a impermeabilização de fundo, drenagem para coleta de resíduo percolado ou aplicação de material de cobertura. Em razão disso, o lençol freático das áreas vizinhas ao local de vazamento dos resíduos, provavelmente se encontra em processo de contaminação. Além disso observou-se a incidência de moscas, mosquitos, ratos, mau cheiro e da fumaça proveniente da queima do lixo. Atualmente em Praia Seca não existe um sistema eficiente de coleta e, principalmente, de disposição final dos seus resíduos sólidos. Possuindo apenas um caminhão compactador, que não possui um roteiro de coleta de lixo definido, consequentemente, não atendendo à comunidade, sendo a disposição final feita no lixão em Araruama; logo o problema está sendo apenas transportado de Praia Seca para Araruama.

Outra opção que poderá ser explorada será a captação de água em poços artesianos na região próxima ao município de Saquarema onde se encontra formação geomorfológica do tipo gnaissica; sendo que neste caso existe a possibilidade de abastecimento de toda a região de Praia Seca. Porém, como a captação seria feita em área de outro município, há necessidade de abordagens político-administrativas desta opção. Alternativas para o sistema de resíduos sólidos Quanto à opções para a melhoria do sistema de resíduos sólidos em Praia Seca, chegou-se às hipóteses de implantação de um aterro sanitário, sendo em um caso com segregação do lixo na fonte e em outro caso sem a segregação do lixo. Na primeira opção o volume de lixo a ser aterrado é menor o que ocasionaria maior vida útil do aterro. A primeira opção inclui a implantação de um sistema de conscientização da população, através de programas de educação ambiental, visando a separação domiciliar dos materiais recicláveis, para coleta seletiva. Sendo a parte orgânica indo toda para o Aterro Sanitário ou parte desta sendo compostada para aplicação do composto em atividades agrícolas da região. O local definido fica entre os loteamentos Balneário e Condolan, distando quatro quilômetros do centro de Praia Seca, em direção a Araruama CONCLUSÕES A zona central de Praia Seca apresenta de boa qualidade da água freática, embora já esteja ocorrendo ação antrópica, devido a implantação de novos loteamentos, que vem destruindo a vegetação original e poluindo o solo, em função da implantação de valas filtrantes para destinação do esgotamento sanitário. Há necessidade de maior rigor no controle de qualidade das águas distribuídas pêlos Carros-pipa; pois atualmente isso não é feito. A água distribuída pela rede da CEDAE é insuficiente e com freqüência inadequada As águas de chuva podem suprir apenas as necessidades dos veranistas, pois estes utilizam água com maior intensidade somente no verão, deste modo suas cisternas estão com volume suficiente quando chega esta época do ano. Durante os outros meses do ano a ocupação por veranistas é esporádica. Já para os moradores do local, é impossível Ter somente a opção de utilização de águas de chuva. Quanto aos resíduos Sólidos, há necessidade do desenvolvimento de um sistema de educação ambiental nas escolas e que também possa envolver a comunidade, possibilitando, deste modo, a implantação de um sistema de coleta seletiva para a reciclagem e compostagem. Sendo os demais resíduos levados para o Aterro Sanitário controlado a ser construído na própria área de Praia Seca.

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