2 Professor Adjunto do Dept. de Geografia FFP/UERJ. 3 Mestranda do Dept. de Disciplina FFP/UERJ. 5 Graduandos do Dept. de Geografia FFP/UERJ.

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ROSAS, R. O. UFF, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia Laboratório de Geografia Física Aplicada Tel.: (21)

Transcrição:

REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA DE ÍNDICES DE SENSIBILIDADE AMBIENTAL AO DERRAMAMENTO DE ÓLEO NO MUNICÍPIO DE MARICÁ - RJ Érika Cardoso da Silva Baptista 1 ; André Luiz Carvalho da Silva 2 ; Jaciele da Costa Abreu Gralato 3 ; Carolina Pereira Silvestre 4 ; Jefferson Rodrigues Ferreira 5 ; Valéria Cristina Silva Pinto 5 ; Ana Beatriz Pinheiro 5 ; Thais Santos da Silva 5 ; Andressa Santana Batista 5 ; Vinícius da Silva Seabra 2 1 Geógrafa FFP/UERJ. E-mail: erikacardosogeo@gmail.com 2 Professor Adjunto do Dept. de Geografia FFP/UERJ. 3 Mestranda do Dept. de Disciplina FFP/UERJ. 4 Doutoranda em Dinâmica dos Oceanos e da Terra do Dept. de Geologia UFF. 5 Graduandos do Dept. de Geografia FFP/UERJ. INTRODUÇÃO Os ambientes costeiros apresentam uma capacidade de regeneração em resposta a desastres ambientais que pode variar bastante de acordo com o tipo, intensidade e forma de ocorrência de um evento qualquer (MMA, 2004). A recuperação de um ambiente afetado por um derramamento de óleo, por exemplo, pode ser rápida ou extremamente lenta, dependendo das características morfológicas e sedimentares de cada seguimento do litoral (MMA, 2004). Além disso, a variabilidade nas condições de mar, com a alternância entre períodos de tempo bom e tempestades eventuais, produz variações temporais na sensibilidade dos diversos ambientes costeiros (FINGAS, 2000). O trecho escolhido para a realização deste estudo compreende o município de Maricá (Fig. 1), que está localizado no Estado do Rio de Janeiro, entre Niterói (a oeste) e Saquarema (a leste). Com um total de 34 km de extensão, a área de estudo compreende os litorais de Itaipuaçú, APA e Barra de Maricá, Guaratiba, Cordeirinho e Ponta Negra, distribuídas de oeste para leste, respectivamente (Fig. 1). Na porção central da área de estudo encontra-se localizada a Área de Proteção Ambiental de Maricá, que apresenta uma rica biodiversidade, com cerca de 408 espécies de flora e

fauna endêmicas e ameaçadas de extinção, sítios arqueológicos e alguns recursos minerais (FARIA & BOHRER, 2005; LOUREIRO et al., 2010). Este litoral vem experimentando um rápido crescimento populacional nas últimas décadas. Um grande empreendimento ligado à indústria do petróleo vem se instalando na região (COMPERJ). A construção do COMPERJ, em andamento, prevê a instalação de um duto no litoral de Itaipuaçú (Fig. 1) para eliminar resíduos produzidos na refinaria. A instalação de um gasoduto para receber o gás natural extraído na Bacia de Santos e a criação de um porto em Jaconé (limite leste da área de estudo) estão previstos para atender a recente demanda criada pelo complexo petroquímico. Soma-se às essas ameaças, o crescimento do tráfego marítimo de navios petroleiros na região, que aumenta o risco de desastres causados por derramamento de óleo e compromete o equilíbrio dos ecossistemas marinhos e costeiros. A geomorfologia do litoral de Maricá é caracterizada pela presença de duas barreiras arenosas (Fig. 1), uma mais interna formada no Pleistoceno e outra mais externa de idade holocênica, separadas por uma série de lagunas colmatadas (SILVA, 2011; Silva et al., no prelo). Um sistema lagunar formou-se nesta planície costeira na retaguarda das barreiras arenosas, representado pelas lagoas de Maricá, da Barra, do Padre e de Guarapina, sendo esta última conectada ao mar por um canal artificial. A dinâmica costeira de Maricá é determinada principalmente pela incidência de ondas de alta energia associada à formação de correntes responsáveis por amplas variações na largura e morfologia das praias (SILVA, 2006). A variação da maré neste litoral não ultrapassa 1,5 metro (DHN). A incidência de ondas é predominantemente de SE em condições de tempo bom, contribuindo para a formação de correntes de deriva litorânea preferencialmente em direção a oeste. Grandes ondas de tempestades predominam de S e SW (SILVA, 2006; SILVA et al., 2008a). O número de acidentes com derramamento de óleo, tanto em ambientes costeiros como marinhos, tem aumentado nos últimos anos, no Brasil e no mundo (Fig. 2). O aumento na utilização de petróleo e, consequentemente, da circulação de embarcações e navios são os principais responsáveis pelo despejo de óleo e derivados no oceano, que

pode ocorrer acidentalmente e por lavagem de navios tanques (SKINNER & TUREKIAN, 1977; BOULHOSA & SOUZA FILHO, 2009; MENEGHETTI et al., 2011). A destruição de habitats costeiros, a intoxicação e asfixia de animais marinhos e aves migratórias estão entre os principais impactos ambientais. Os impactos na economia das áreas afetadas consistem principalmente na diminuição da atividade pesqueira e no comprometimento das atividades de lazer, afetando drasticamente o turismo. Para que sejam reconhecidos e diferenciados os graus de impactos causados por derramamento de óleo no litoral, foi definido o Índice de Sensibilidade Ambiental (ISA), pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). O ISA varia numa escala de 1 a 10, sendo 1 para os ambientes menos sensíveis e 10 para os mais sensíveis ao derramamento de óleo. Nessa classificação são consideradas as características geomorfológicas do litoral, a partir da exposição à energia de ondas e marés, declividade e tipo de substrato, fundamentais para a determinação do grau do impacto; permanência e comportamento do óleo derramado; e o transporte de sedimentos (CASTRO et al., 2003; MMA, 2004).

Figura 1- (A) Litoral de Maricá - Imagem do Google Earth, 2009; (B,C) Geomorfologia do litoral de Maricá: praias e lagoas à retaguarda das barreiras. Fotos: Guichard, 2009. OBJETIVOS Este trabalho objetiva analisar a sensibilidade ambiental do litoral de Maricá frente à ocorrência de desastres associados a derramamento de óleo, considerando-se a geomorfologia e sedimentologia deste trecho do litoral fluminense. Para tal, foi necessário considerar: as características físicas dos ambientes costeiros, os condicionantes oceanográficos e a vulnerabilidade deste litoral aos eventos de tempestades e, por fim, realizar um mapeamento costeiro baseado no índice de sensibilidade ambiental do litoral a derramamento de óleo.

Figura 2- Alguns exemplos de desastres ambientais causados por derramamentos de óleo em litorais (A e C: Site UOL; B e E: Site Meio Ambiente; D: Site G1; F: Site R7). METODOLOGIA Os dados obtidos com essa pesquisa, nas praias da Barra, Guaratiba, Cordeirinho e Ponta Negra, foram integrados a dados pretéritos adquiridos nos litorais de Itaipuaçú e da APA de Maricá por Silva (2008) e Gralato (2012), respectivamente. Os monitoramentos foram realizados sazonalmente para caracterizar a morfologia e a sedimentologia dos 17 pontos (Fig. 1A) distribuídos ao longo de 34 quilômetros de arco praial, sempre ao final de cada estação. Nas mesmas áreas, foram coletadas amostras para análise granulométrica. Além disso, foram realizadas medições de alguns parâmetros de ondas (direção de incidência, altura e forma de arrebentação, período da onda), observações sobre correntes e condições de mar. A integração dos dados permitiram a caracterização morfossedimentar das praias, tornando possível a confecção do Mapa de Sensibilidade Ambiental do litoral de Maricá a desastres causados por derramamento de óleo, seguindo a classificação proposta pelo Ministério do Meio Ambiente (2004). Para tal, foi utilizado o programa ArcGis 9.3 e imagens do sensor OLI do satélite Landsat 8. Os principais elementos geomorfológicos foram mapeados por meio da geração de polígonos e linhas para a representação do ISA.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O litoral de Maricá apresenta uma geomorfologia marcada pela presença de barreiras arenosas com praias oceânicas, lagoas e costões rochosos (Fig. 1). As praias apresentam diferenças consideráveis do ponto de vista morfológico e sedimentar em resposta as variações nas condições de mar ao longo do litoral. O litoral de Itaipuaçú é o mais dinâmico, principalmente na porção oeste, que apresenta um perfil refletivo com maior variabilidade na largura e morfologia da mesma (SILVA, 2006; SILVA et al., 2008a). Neste trecho do litoral, as grandes ondas de tempestades chegam a ultrapassar 3 metros de altura na arrebentação. Essas ondas eventualmente transpõem a barreira arenosa formando depósitos de leques de arrombamento (SILVA et al., 2008b). O litoral da APA de Maricá, mostra uma variabilidade morfológica acentuada. Gralato (2013) constatou variações na largura de cerca de 40 metros entre as estações do ano (45 m no inverno de 2008 e 86 m na primavera de 2009). Correntes de deriva litorânea parecem predominar para oeste e correntes de retorno são observadas com frequência e em geral associadas à incidência de ondas de S (GRALATO, 2013). A porção central e leste do litoral, que compreende as praias da Barra de Maricá, Guaratiba, Cordeirinho e Ponta Negra, apresentam poucas variações morfológicas. Entretanto, este trecho do litoral preocupa devido a maior densidade de construções. Eventos de tempestades oferecem riscos a essas construções, que ocasionalmente são afetadas e até destruídas pelas ondas de maior energia (LINS- DE-BARROS, 2005). Trata-se, portanto, de uma área bastante susceptível a problemas associados a eventos de tempestades. A largura do arco praial como um todo parece diminuir em direção a Ponta Negra, provavelmente devido à influência da deriva litorânea deslocando sedimentos para oeste. Em Ponta Negra (no extremo leste), um canal construído artificialmente entre rochas, conecta o mar à lagoa de Guarapina, possibilitando uma intensa troca de água e sedimentos entre esses ambientes. Os sedimentos variam consideravelmente ao longo do arco praial, em tamanho e grau de selecionamento, predominando areias quartzosas grossas a médias nos 34

quilômetros de costa. Em termos gerais, a granulometria apresenta diminuição de oeste para leste, variando de areia muito grossa, com presença de cascalhos, conchas e fragmentos de arenitos no extremo oeste da praia de Itaipuaçú, para areia média, com presença considerável de minerais pesados provenientes do intemperismo do costão localizado no limite leste do litoral de Ponta Negra (MUEHE, 1979; SILVA, 2006; SILVA et al., 2008a; GRALATO, 2013). Considerando-se a geomorfologia do litoral de Maricá, foram encontrados os seguintes Índices de Sensibilidade Ambiental (Fig. 3): ISA 1 (costões rochosos lisos), ISA 4 (praias de areia grossa; praias intermediárias de areia fina a média, expostas), ISA 5 (praias mistas de areia e cascalho, ou conchas) e ISA 10 (lagoas). Os ambientes com ISA 1 (costões rochosos lisos, de alta declividade, expostos) são caracterizados por uma exposição frequente do litoral a incidência de ondas com altura geralmente superior a 1 metro (MMA,2004). No litoral de Maricá, essas formações rochosas correspondem aos costões localizados no extremo oeste de Itaipuaçú e no limite leste de Ponta Negra (Fig. 3). Em superfícies rochosas normalmente não ocorre penetração de óleo, que tende a permanecer por pouco tempo no ambiente. A remoção do óleo no ambiente rochoso normalmente ocorre de forma rápida e natural, ainda que permaneça presente em algas e demais espécies de animais e vegetais marinhos (MMA, 2004). Figura 3 - Mapa de Sensibilidade Ambiental para o litoral de Maricá, baseado em MMA (2004).

Os ambientes litorâneos classificados com ISA 4 (praias de areia grossa; praias intermediárias de areia fina a média, expostas) são compostos predominantemente por praias de dinâmica elevada; com sedimentos variando bastante entre areia grossa a fina, expostas a incidência direta de ondas. As áreas com ISA 4 no litoral de Maricá compreendem as praias de Itaipuaçú (exceto o extremo oeste), APA e Barra de Maricá, Guaratiba, Cordeirinho e Ponta Negra (Fig. 3), perfazendo a quase totalidade da área estudada. Em praias com essas características, a penetração do óleo na areia tende a ocorrer até aproximadamente 25 cm de profundidade; há possibilidade de sequência de estratos com e sem contaminação, o que dificulta sua limpeza (MMA, 2004). Eventos de tempestades podem provocar a incidência de grandes ondas que são capazes de causar o estreitamento da faixa de areia da praia e, em alguns casos, a transposição dessas ondas por sobre a barreira arenosa (Fig. 4A e B), contaminando o sistema lagunar à retaguarda dessas barreiras no litoral de Maricá.

Figura 4 Transposição de ondas de tempestades por sobre a barreira arenosa no litoral de Maricá: na praia da Barra de Maricá (A) e em Itaipuaçú (B); (C) Abertura do canal de Ponta Negra para o oceano. Os ambientes com ISA 5 (praias mistas de areia e cascalho, ou conchas e fragmentos de corais) são caracterizados por praias com dinâmica acentuada; granulometria dos sedimentos variando de areia muito grossa a grossa com presença significativa de cascalhos. A área representada pelo ISA 5 compreende o extremo oeste da praia de Itaipuaçú (Fig. 3). Nesse trecho do litoral, a possibilidade de percolação do óleo pode atingir profundidade superior a 0,5 m (MMA,2004), o que dificulta sua limpeza e favorece a ocorrência de processos erosivos. Durante os eventos de tempestades de maior magnitude, as grandes ondas ultrapassam a barreira arenosa em Itaipuaçú alcançando o canal da Costa localizado atrás desta barreira (Fig. 4A e B) (SILVA et al., 2008b). Ambientes com ISA 10 (terraços alagadiços, banhados, brejos, margens de rios e lagoas) são representados por lagoas de substratos lamosos a arenosos; com reduzidas taxas de permeabilidade de óleo, devido à saturação deste substrato por água. As áreas abrangidas por este índice de sensibilidade compreendem as lagoas de Maricá, Barra, do Padre e Guarapina (Fig. 3). Nestes ambientes a contaminação por óleo pode ocorrer de forma direta, a partir do canal ligando a lagoa de Guarapina à praia de Ponta Negra (Fig. 4C); e/ou indiretamente, devido à contaminação da praia durante um evento de tempestade, com ondas suficientemente capazes de transpor a barreira alcançando as áreas à retaguarda (Fig. 4A e B). Eventos de derramamento de óleo nestes ambientes podem interferir diretamente em sua vegetação. A remoção deste óleo deve ocorrer de forma natural, mas extremamente lenta, devido ao baixo nível de energia e biodegradação, tendo em vista que o processo de limpeza através de maquinários é considerado impraticável pela característica lamosa de seu substrato (MMA,2004). CONCLUSÕES

A partir das principais características geomorfológicas da área estudada foi realizada uma classificação do litoral de Maricá quanto ao Índice de Sensibilidade Ambiental a eventos de derramamentos de óleo. O litoral de Maricá, desde Itaipuaçú até Ponta Negra, apresenta quatro índices distintos quanto à vulnerabilidade à poluição por óleo. Os índices encontrados atingem os dois extremos dessa classificação, variando de 1 a 10, perpassando pelos níveis intermediários de 4 e 5. Tal fato decorre da grande variedade de elementos na paisagem costeira de Maricá. O estudo da sensibilidade ambiental do litoral de Maricá associado a derramamento de óleo aponta para a fragilidade deste trecho do litoral fluminense a um desastre dessa natureza. O que tende a causar sérios danos às atividades pesqueiras, destruir a biodiversidade da restinga e do sistema lagunar, comprometer os diversos ecossistemas costeiros e marinhos, entre outros. Trata-se, portanto, de um litoral cada vez mais vulnerável às modificações e interferências antrópicas dentro desses ambientes. Desta forma, faz-se necessária a ampliação de análises de risco quanto a impactos dentro de áreas que podem ser afetadas e cujas atividades econômicas e industriais podem comprometer o equilíbrio desse ecossistema. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOULHOSA, M. B. M.; SOUZA FILHO, P. W. M. 2009. Reconhecimento e mapeamento dos ambientes costeiros para geração de mapas de ISA ao derramamento de óleo, Amazônia Oriental. Revista Brasileira de Geofísica. pp. 23-37. CASTRO, A. F.; SOUTO, M. V. S.; AMARO, V. E.; VITAL, H. 2003. Desenvolvimento e aplicação de um banco de dados geográficos na elaboração de mapas da morfodinâmica costeira e sensibilidade ambiental ao derramamento de óleo em áreas costeiras localizadas no Estado do Rio Grande do Norte. Revista Brasileira de Geociências. V.33, pp. 53 64.

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