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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, EMBAIXADOR MAURO LUIZ IECKER VIEIRA RECURSO Pedido de Acesso à Informação CONECTAS DIREITOS HUMANOS, associação civil sem fins lucrativos qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público OSCIP, inscrita no CNPJ sob nº 04.706.954/0001-75, com sede na Av. Paulista, n.º 575, cj. 1971, São Paulo/SP, (a Recorrente ) vem apresentar: RECURSO em face à resposta da Subsecretaria-Geral Política I, datada de 12 de maio de 2015, que indeferiu a solicitação de informações feitas em sede de Recurso de Primeira Instância referente à solicitação N. 09200000103201582 pela Recorrente, nos termos em que passa a expor: 1

I DA TEMPESTIVIDADE 1. De início, verifica-se que o presente recurso preenche o requisito de tempestividade, posto que a resposta ao pedido de informação foi recebida pela Recorrente no último dia 12 de maio. 2. É cediço que a Lei nº. 12.527/2011 estabelece o prazo de 10 (dez) dias para interposição de recurso, como se vê: Art. 15, caput: No caso de indeferimento de acesso a informações ou às razões da negativa do acesso, poderá o interessado interpor recurso contra a decisão no prazo de 10 (dez) dias a contar da sua ciência. 3. O Decreto nº 7.724/2012, ao regulamentar a referida lei, reafirma tal previsão legal: Art. 21: No caso de negativa de acesso à informação ou de não fornecimento das razões da negativa do acesso, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à autoridade hierarquicamente superior à que adotou a decisão, que deverá apreciá-lo no prazo de cinco dias, contado da sua apresentação. 4. Ainda, o artigo 66º da Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, determina que Os prazos começam a correr a partir da data da cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluindo-se o do vencimento. 5. O mesmo artigo em seu parágrafo primeiro dispõe que: Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente ou este for encerrado antes da hora normal. 6. Portanto, a apresentação deste recurso obedece ao prazo de dez dias exigido pela legislação, sendo tempestivo. II DOS FATOS 7. A Recorrente protocolou, nos termos do Art. 10 e ss. da Lei nº. 12.527, de 18 de novembro de 2011 (a Lei de Acesso à Informação ou LAI ), pedido de acesso à informação ao Ministério das Relações Exteriores (o Itamaraty ou Requerido ) em 07 de abril de 2015 (o Pedido ), por meio do Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-sic), acessível no sítio eletrônico http://www.acessoainformacao.gov.br/. 8. O Pedido versa sobre os telegramas trocados: 1) Entre a Embaixada brasileira em Teerã, no Irã, e a SERE Secretaria-Geral das Relações Exteriores, no período de 1º de janeiro de 2015 a 27 de março de 2015; e 2) Entre a SERE e a Delbrasgen Missão Permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas e demais organismos internacionais em Genebra, no período de 1º de fevereiro de 2015 a 27 de março de 2015. 9. O Pedido visa o acesso às correspondências que contenham informações sobre a situação de direitos humanos no Irã e que comprovem o alegado compromisso renovado do Irã 2

com o sistema de direitos humanos. Essa expressão foi empregada pela diplomacia brasileira para justificar a abstenção em resolução que renovaria o mandato do relator especial para o Irã, proposta e aprovada durante a 28ª sessão regular do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. 10. O prazo de atendimento do Pedido estipulado pela plataforma e-sic foi 27 de abril de 2015. Neste dia, o Ministério das Relações Exteriores encaminhou, via plataforma e-sic, expedientes ostensivos em atenção ao Pedido (a Resposta do MRE, Resposta do Itamaraty, Resposta ou Decisão ). 11. Adicionalmente, a Decisão trouxe negativa implícita de acesso a informações, que foram denegadas sob fundamento de que as informações classificadas como sigilosas, submetidas temporariamente à restrição de divulgação, com base nos arts. 23 e 25 da Lei nº. 12.527/2011, não são de acesso público. 12. Em 7 de maio de 2015, a Recorrente apresentou recurso à Decisão (o Recurso de 7 de maio ), baseado na contestação de três pontos: 12.1. Ausência de fundamentos legais da classificação (Decreto nº. 7.724/2012, art. 19, 1º). 12.2. Ausência de fundamentos legais para a negativa de acesso (Decreto nº. 7.724/2012, art. 19, I). 12.3. Ausência de informação sobre autoridade competente para apreciação do recurso (Lei nº 12.527/2011, art. 11, 4º, e Decreto nº. 7.724/2012, art. 19, II). 13. O Recurso de 7 de maio trazia dois pedidos: 13.1. Fossem disponibilizadas as decisões que classificam os documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com apresentação do assunto, fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, nos termos do Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011. 13.2. Fosse encaminhada tabela contendo a relação dos documentos que consolidam as informações sigilosas aludidas na Decisão, contendo: i) número do documento; ii) assunto; iii) grau e prazo de sigilo; iv) fundamento legal da classificação; e v) autoridade classificadora, nos termos do disposto no Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011. 14. Em 12 de maio, o Ministério das Relações Exteriores apresentou resposta indeferindo (a Resposta de 12 de maio ) o Recurso de 7 de maio. 15. Com relação ao primeiro pedido (item 13.1), o Itamaraty alegou que não estava autorizado a disponibilizar as decisões que classificam os documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com apresentação de assunto, fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, uma vez que, de acordo com o parágrafo único do artigo 28 da Lei 12.527/11, a decisão que formaliza a classificação de informação em qualquer grau de sigilo será mantida no mesmo grau de sigilo da informação classificada. 3

16. No que tange ao segundo pedido (item 13.2), o Ministério das Relações Exteriores arguiu que o 1º do artigo 19 do Decreto 7.724/2012 determina que, negado o pedido de acesso à informação, as razões de negativa de acesso à informação classificada indicarão o fundamento legal da classificação, a autoridade que a classificou e o código de indexação do documento classificado. O fundamento legal seria o inciso II do artigo 23 da Lei n. 12.527/11. Adicionalmente, foram encaminhados o código de indexação e a autoridade classificadora de quatro documentos, a saber: Código de indexação de documento 09576-010918-2015-R-14-20/02/2015-20/02/2020-N-00/00/0000 09576-010931-2015-R-14-27/02/2015-27/02/2020-N-00/00/0000 09576-010966-2015-R-14-12/03/2015-12/03/2010-N-00/00/0000 09062-010392-2015-R-14-17/03/2015-17- 03-2020-N-00/00/0000 Autoridade classificadora Regina Maria Cordeiro Dunlop Embaixadora, Representante Permanente do Brasil junto à ONU em Genebra Regina Maria Cordeiro Dunlop Embaixadora, Representante Permanente do Brasil junto à ONU em Genebra Regina Maria Cordeiro Dunlop Embaixadora, Representante Permanente do Brasil junto à ONU em Genebra Pedro Marcos de Castro Saldanha, Conselheiro, Chefe da Divisão de Direitos Humanos III DO DIREITO 17. O indeferimento contido na Resposta de 12 de maio não deve prosperar, dado que não foram respeitados os requisitos legais impostos pela Lei nº 12.527/2011 e pelo Decreto nº 7.724/2012 no que se refere à: (i) inexistência de ameaça à segurança da sociedade ou do Estado; (ii) desproporcionalidade da restrição de acesso completo aos telegramas encaminhados na Resposta de 12 de maio; e (iii) irrazoabilidade da negativa de acesso aos documentos que classificaram como sigilosa as informações requeridas. A. Inexistência de ameaça à segurança da sociedade ou do Estado 18. A classificação das informações solicitadas baseou-se em interpretação do Art. 23, II, da Lei nº. 12.527/11, que tornaria passíveis de sigilo as informações consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, cuja divulgação ou acesso irrestrito possam prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais do País, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso por outros Estados e organismos internacionais. 4

19. O Decreto nº. 7.724/12 impõe que as informações passíveis de classificação sejam consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, conforme previsão contida no Art. 25, caput, in verbis: Art. 25. São passíveis de classificação as informações consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado 20. Fica claro que a imprescindibilidade das informações para a proteção da segurança da sociedade e do Estado é elemento fundamental para a classificação do sigilo, visto que entendimento diverso contrariaria o pressuposto do marco normativo inaugurado pela Lei de Acesso à Informação, que preceitua a transparência como regra e o sigilo como exceção. 21. Nesse mesmo sentido, a lei impõe ao poder público o ônus de fundamentar o sigilo das informações sob seu cuidado. Lembrando que o fundamento legal é uma exigência que não se resume a, como arguido pelo Itamaraty, mero apontamento de determinado dispositivo legal sem justificar de que forma e em que medida o fato concreto se submete à norma. 22. Concretamente, a referência à decisão que classifica a decisão como sigilosa não faz qualquer menção sobre a alegada imprescindibilidade das informações requeridas para a segurança da sociedade ou do Estado. Assim, o caput do Art. 25 do Decreto nº. 7.724/12 não foi considerado nem enfrentado na decisão que manteve o sigilo. 23. A menção ao inciso II do Art. 25, que estabelece a possibilidade de classificação de informação como sigilosa caso ela possa prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais do País, também não seria suficiente, dado que, igualmente, não explicitaria a relação entre a subsunção da norma ao caso concreto. B. Desproporcionalidade da restrição de acesso completo aos telegramas encaminhados na Resposta de 12 de maio Ad argumentandum tantum, ainda que se considere como legítima a classificação dos telegramas encaminhados na Resposta de 12 de maio (item 13) com base no Art. 23, II, da Lei nº. 12.527/11, a restrição completa de acesso a seu conteúdo não respeitaria os critérios de interesse público da informação e de utilização do meio menos restritivo possível, conforme previsto no Art. 27 do Decreto nº. 7.724/12, in verbis: Art. 27. Para a classificação da informação em grau de sigilo, deverá ser observado o interesse público da informação e utilizado o critério menos restritivo possível, considerados: I - a gravidade do risco ou dano à segurança da sociedade e do Estado; e II - o prazo máximo de classificação em grau de sigilo ou o evento que defina seu termo final. 24. Resta evidente que o critério menos restritivo possível, combinado com a observância do interesse público, não pode resultar na classificação como sigilosa das informações contidas nos documentos em referência em sua totalidade, em especial, como 5

mencionado anteriormente, quando não há comprovado risco de dano à segurança da sociedade e do Estado. C. Irrazoabilidade da negativa de acesso aos documentos que classificaram como sigilosa as informações requeridas 25. Conforme mencionado Recurso de 7 de maio, a denegação de acesso às informações supostamente classificadas como sigilosas não cumpre a exigência, prevista na Lei nº 12.527/2011 e no Decreto nº 7.724/2012, quanto à exposição da fundamentação legal da classificação. 26. Trata-se de interpretação do disposto no Art. 19, 1º, do Decreto nº 7.724/2012, in verbis: Art. 19, 1º: As razões de negativa de acesso a informação classificada indicarão o fundamento legal da classificação, a autoridade que a classificou e o código de indexação do documento classificado. 27. É importante reiterar que a Lei de Acesso à Informação requer muito mais do que previsões genéricas, sob pena de conferir aos órgãos públicos uma indevida discricionariedade, capaz de impossibilitar o acesso a determinadas informações pelo prazo de cinco ou mais anos. A própria razão de ser da legislação, qual seja, a transparência como regra e o sigilo como exceção, estaria comprometida caso prosperasse a interpretação esposada pela Decisão ora contestada. 28. Assim, não é aceitável que o Requerido faça uso de afirmações abstratas. Não sem motivo o legislador previu, no Art. 23 da Lei nº. 12.527/2011, um rol de situações em que as informações são passíveis de classificação. Desse modo, caberia ao Ministério das Relações Exteriores explicitar em quais dessas hipóteses legalmente previstas se justificaria a negativa de acesso. Ao não fazê-lo, tornou sua Decisão passível de revisão. 29. Ad argumentandum tantum, ainda que a justificativa contida na Resposta do Itamaraty atendesse ao requisito de fundamento legal em análise, ela não seria suficiente para embasar a classificação das informações requeridas. Isso porque não se menciona, em nenhum momento, que as informações seriam consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade e do Estado, conforme exigido pelos Arts. 23, caput, da Lei nº. 12.527/2011 e 25, caput, do Decreto nº 7.724/2012. 30. Destacamos, ainda, que a Resposta não contém especificação sobre o grau de sigilo das informações denegadas, conforme procedimento previsto no Art. 27 e ss. da Lei de Acesso à Informação. 31. Em primeiro lugar, a Lei nº. 12.527/2011 prescreve, em seu Art. 27, as autoridades que têm competência para classificar as informações em cada grau de sigilo. Relevante notar, aliás, que o Requerido não mencionou o grau de sigilo a que as informações denegadas estariam supostamente classificadas (Art. 27, III). 32. Em segundo, todas essas informações deveriam, ao menos em tese, estar sistematizadas no Termo de Classificação de Informação, como exige o artigo 31 do Decreto nº. 7.724/2012. 6

33. Na Resposta de 12 de maio, o Itamaraty negou o fornecimento das decisões que formalizaram a classificação das informações em qualquer grau de sigilo, citando parágrafo único do Art. 28 da Lei de Acesso à Informação. Segundo o argumento, a decisão sobre a classificação deveria ser mantida no mesmo grau de sigilo da informação classificada. 34. Ora, a interpretação literal do dispositivo legal contraria o espírito da Lei de Acesso à Informação, dado que limita a capacidade do cidadão que busca obter informações junto ao poder público fundamentar adequadamente seu legítimo questionamento à decisão que classifica a decisão do sigilo. 35. Nesse sentido, importante destacar que o Direito à informação está previsto na Constituição Federal no art. 5º, XXXIII, que dispõe, in verbis: Art. 5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. 36. É cediço que, além desse direito fundamental, a Constituição também prevê o princípio da publicidade, que deve ser aplicado a todos os órgãos da Administração Pública, conforme disposto em seu artigo 37. 37. Tais dispositivos constitucionais regulam o direito líquido e certo de todo cidadão de ter acesso à informação. Este direito inclui tanto a obrigação dos órgãos públicos de disponibilizar certas informações, independentemente de requerimentos, quanto a necessidade de garantir o acesso às informações que lhes forem solicitadas. 38. A Lei de Acesso à Informação Pública (Lei nº 12.527/2011) foi promulgada com o intuito de regulamentar esses dispositivos constitucionais garantindo, assim, o acesso ao direito à informação, estabelecendo um novo marco paradigmático em que a transparência é a regra, e o sigilo, exceção. Assim, também nesse aspecto a decisão merece a reforma ora intentada. IV DO PEDIDO 39. Diante do exposto, visando dar pleno cumprimento à legislação de acesso à informação, requerse seja recebido e provido o presente Recurso, no prazo de 5 (cinco) dias previsto no Art. 15 da Lei nº. 12.527/2011, para que: 39.1. Sejam disponibilizadas as decisões que classificam os documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com apresentação do assunto, fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, nos termos do Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011. 39.2. Seja encaminhada tabela contendo a relação dos documentos que consolidam as informações sigilosas aludidas na Decisão, contendo: i) assunto; ii) grau e prazo de sigilo; iii) fundamentação legal para a classificação e que essa não se resuma na mera 7

repetição do disposto no texto legal, nos termos do disposto no Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011. 39.3. Seja disponibilizado o conteúdo dos telegramas encaminhados na Resposta do dia 12 de maio, com tarjas cobrindo as informações eventualmente consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, de acordo como Art. 23, II, da Lei nº. 12.527/2011. Nestes termos, pede deferimento. De São Paulo pra Brasília, 22 de maio de 2015. Juana Kweitel Diretora de Programas 8