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Transcrição:

Gerenciamento e Morfodinâmica Costeira do Arco Praial de Jaconé-Saquarema, Estado do Rio de Janeiro Thiago Henriques Fontenelle Laboratório de Geografia Física (LAGEF), Universidade Federal Fluminense uff.thiago@gmail.com Wanderson Barreto Corrêa Laboratório de Geografia Física (LAGEF), Universidade Federal Fluminense wandbcorrea@gmail.com INTRODUÇÃO A presença de cordões litorâneos ao longo da costa do Rio de Janeiro é uma das peculiaridades do Estado, ocorrendo na forma de cordões simples e duplos, separados por depressões capeadas por processos sedimentares ou ocupadas por lagunas. Tais cordões surgiram a partir de duas trangressões marinhas, que se originaram no Pleistoceno, no qual o máximo transgressivo foi há 120.000 anos A.P. (antes do presente), e mais recentemente no Holoceno (transgressão pós-glacial), há 5.300 anos A.P., o que remete mudanças significativas do nível do mar. A caracterização morfodinâmica de um arco praial revela o modo como os forçantes oceanográficos, meteorológicos, geológicos e sedimentológicos concorrem para um determinado padrão de comportamento de uma praia e de seus setores. Este padrão pode variar ao longo de um arco praial, ou até mesmo num mesmo setor, de acordo com a mobilização tranversal e/ou longitudinal dos sedimentos da zona submarina pela ação de correntes, atribuindo granulometrias diferenciadas ao longo de um arco e no decorrer do tempo. As barreiras arenosas no arco praial de Jaconé-Saquarema estão associadas com uma rede de drenagem relativamente incipiente e que drena diretamente para as lagoas pequenas quantidades relativas de sedimentos continentais. Neste sentido, a zona submarina é a fonte principal de sedimentos e, assim, influi diretamente no comportamento morfodinâmico. OBJETIVOS Este trabalho objetiva uma primeira caracterização morfodinâmica e sedimentar ao longo do arco praial de Jaconé-Saquarema, área onde praticamente não há estudos deste tipo, embora haja necessidade de uma eficiente gestão costeira por conta de ser um arco francamente aberto para o oceano (atingido constantemente por ressacas) e em processo de 1 1

consolidação e expansão urbana e turística, com forte pressão do capital imobiliário atuante na Região dos Lagos fluminense. Compreender a morfodinâmica é um passo fundamental para atuar no gerenciamento costeiro, direcionando políticas, subsidiando críticas e criando prognósticos. ÁREA DE ESTUDO O arco praial de Jaconé-Saquarema corresponde a um trecho de 19,4 km da costa fluminense entre os promontórios Ponta Negra e Ponta de Saquarema (Figura 1), compreendendo os municípios de Maricá e Saquarema. Orientado no sentido leste-oeste, o arco está francamente voltado para sul, o que possibilita a ação direta das ondas sobre a praia, resultando inclusive em eventos de forte erosão dos setores emersos do prisma praial quando da ocorrência de eventos de tempestade. Desta forma, a única barreira física, do ponto de vista geológico-estrutural, que pode influir na disposição e granulometria dos sedimentos em Jaconé-Saquarema é o afloramento de arenitos de praia (beachrocks), comuns na faixa litorânea em questão, mas atuantes em uma escala mais restrita se comparados ao impacto de ilhas sobre a disposição de sedimentos e granulometria. Os promontórios são de porte relativamente restrito e têm apenas influência igualmente restrita. A área apresenta, segundo a classificação climática de Köppen, um clima semi-úmido com períodos de seca que correspondem entre 4 a 6 meses no ano. A cadeia de maciços costeiros, que inclui a Serra de Jaconé, propicia chuvas orográficas, impedindo parcialmente a passagem, continente adentro, das frentes frias que atingem o litoral, o que eleva a umidade local. Do ponto de vista oceanográfico, trata-se de um ambiente de micro-maré, com dinâmica de ondas de tempestade associadas à entrada de frente frias com ventos de S-SW. Neste sentido, as alturas na arrebentação são da ordem de 0,5m, atingindo até mais de 2m nos eventos de ressaca. 2 2

Figura 1: Imagem da área de estudo no contexto do Estado do Rio de Janeiro. Cordões litorâneos, campos de dunas, canais e algumas porções das lagunas são feições que se apresentam muito degradadas na área de estudo, principalmente nas proximidades da Lagoa de Saquarema, onde é maior a ocorrência de edificações e do processo de urbanização como um todo. A porção mais próxima de Ponta Negra ainda apresenta muitos terrenos não construídos, mas já é forte a especulação imobiliária por conta de ser a área de convergência das expansões dos municípios de Saquarema (a leste) e de Marica (à oeste). METODOLOGIA A caracterização morfológica do sistema praial foi definida a partir do levantamento de cinco perfis bidimensionais transversais à costa, empregando o método de levantamento topográfico convencional ou o método proposto por Emery (1961), que envolve o uso de duas balizas graduadas. Os perfis foram levantados apenas nos setores emersos. Os dados de altura dos perfis foram ajustados ao nível médio do mar empregando método sugerido por Muehe et al. (2003). Para determinação do estágio praial foi utilizando o parâmetro, proposto por Muehe (1998) e com uma classificação baseada no modelo de estágios de 3 3

praia proposto por Wright & Short (1984), que pode ser calculado a partir da observação de características em campo. Neste sentido: (senβ. D espr)/hb) = T espr/t onde, Senβ = cota recuo cota alcance distância do espraiamento D espr = distância do espraiamento Hb= altura da onda T espr =período do espraiamento T = período da onda O parâmetro é correlacionado com o estado morfodinâmico na seguinte relação: Estado Morfodinâmico Delta ( ) Dissipativo <0,5 Banco e Calha Longitudinal 0,5 0,8 Bancos Transversais 0,8 1,0 Terraço de Baixa Mar 1,0 2,0 Refletivo >2,0 Ao longo dos perfis foram ainda coletadas amostras de sedimentos na face da praia, na berma e na feição eólica próxima ao limite da berma com o cordão litorâneo. O processamento das amostras por peneiramento e os parâmetros estatísticos granulométricos foram determinados conforme proposto por Folk & Ward (1957), utilizando ainda, para os últimos, o Sistema de Análise Granulométrica (SAG) desenvolvido no LAGEMAR/UFF. Foi também executado um caminhamento a fim de demarcar a faixa de ocorrência de beachrocks nas proximidades do ponto P5. Em campo foi utilizado um receptor GPS que armazenou a rede de pontos que representam a extensão da ocorrência dos arenitos entre os pontos P5 e P5-B. Em gabinete os pontos foram baixados através do programa TrackMaker 13.3 e exportados em um formato compatível com o programa Surfer 8. Após esse procedimento, o caminhamento foi plotado numa base do litoral de Jaconé, entre Ponta Negra e Ponta de Saquarema, feita através de imagens de satélite CBERS, com auxílio do software Google Earth 5.0. RESULTADOS PRELIMINARES 4 4

O arco praial como um todo não apresenta dunas frontais desenvolvidas, embora feições eólicas desenvolvam-se melhor à oeste, conforme constatado pela maior presença percentual de areia fina nos pontos P5a, P5b e P4 (com valores entre 28% e 39%) do que nos pontos P3, P2 e P1, que apresentaram valores de areia fina entre 14% e 19%) (Figura 2). Neste sentido, a disponibilidade de sedimentos finos disponíveis para mobilização pelo vento é baixa, porém, com valores heterogêneos ao longo do arco praial. Figura 2: Pontos de perfil e de amostragem no arco praial de Jaconé-Saquarema, com destaque ainda para o mapeamento da faixa de ocorrência de beachrocks emersos. Conforme revelam os perfis topográficos relacionados abaixo, a tendência de todo arco é para estágio intermediário, tendendo em geral para um estágio mais refletivo. A granulometria da face da praia (Tabela 1) e da berma em todos os pontos corrobora esta avaliação, com médias sempre apontando para areias grossas (AG) ou muito grossas (AMG) de bem (BS) a muito bem selecionadas (MBS). 5 5

6 6

7 7

A Tabela 1 permite constatar ainda uma diminuição gradual do selecionamento (desvio padrão) e da média em direção à porção leste do arco praial, indicando que o transporte litorâneo apresenta um balanço total de oeste para leste. Este dado segue a tendência regional observada em Massambaba e no litoral do município de Niterói. Tabela 1: Parâmetros Estatísticos Granulométricos da Face da Praia Perfil Assimetria Média Phi Desvio Padrão Classificação P5 0,37-0,267 0,533 AMG MBS P4-0,016-0,078 0,335 AMG MBS P3 0,45 0,444 0,411 AG BS P2 0,151 0,96 0,415 AG BS P1 0,255 0,415 0,288 AG MBS Como não foram executados levantamentos submarinos, o cálculo do parâmetro delta ( ) torna-se fundamental para a definição do estágio morfodinâmico, servindo como complemento e comparação aos perfis topográficos emersos. Conforme a Tabela 2, o perfil P5 apresenta-se como uma exceção ao longo do arco por demonstrar um estágio intermediário do tipo bancos transversais (primeiro levantamento) e banco e calha longitudinal (segundo levantamento), ou seja, tendendo mais ao estágio dissipativo do que ao refletivo. Esta característica pode estar relacionada com uma maior disponibilidade de sedimentos finos (areia fina) em P5, condicionada pela presença de arenitos de praia ou beachrocks (Figura 3) como barreira ao transporte litorâneo. 8 8

Perfil Tabela 2: Resultado do parâmetro delta em dois levantamentos 16/05/2008 02/10/2008 Delta ( ) Classificação Delta ( ) Classificação 1 1,806 Terraço de Baixa Mar 1,633787 Terraço de Baixa Mar 2 1,99584 Terraço de Baixa Mar 1,603435 Terraço de Baixa Mar 3 0,917437 Bancos Transversais 1,176705 Terraço de Baixa Mar 4 1,569642 Terraço de Baixa Mar 1,94066 Terraço de Baixa Mar 5 0,992513 Bancos Transversais 0,719727 Banco e Calha Longitudinal Figura 3: Fotografia da faixa de ocorrência de beachrocks na face da praia de Jaconé (aproximadamente entre os pontos P5-A e P5-B). Na realização do segundo levantamento foi ainda constatado que uma extensa área mais à leste do arco em Saquarema, região mais urbanizada recebeu um imenso volume de sedimentos para formação de um terraço (como um calçadão) ao lado da rodovia. A granulometria (fina) e composição destes sedimentos (bastante conchíferos) deu a idéia de 9 9

que teriam vindo do fundo de um sistema lagunar, talvez da própria Lagoa de Saquarema. Este aterro representa a própria progradação da parte superior do perfil (entre as cotas 7m e 4m) do segundo para o primeiro levantamento, e pode estar diretamente relacionado com a progradação dos outros setores do prisma praial, em busca de equilíbrio. Arcos praiais com presença de beachrocks na face da praia e/ou na zona de surfe ou, ainda, arcos com estágios morfodinâmicos mais refletivos apresentam elevados riscos ao banho de mar. Ambas as características ocorrem na área de estudo e deveriam ser consideradas para sinalização de pontos perigosos e para distribuição de salva-vidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o levantamento de dados ao longo de cinco perfis no arco de Jaconé-Saquarema, podemos afirmar que o transporte de sedimentos por deriva litorânea segue a tendência regional de um residual na direção oeste-leste. A ausência de ilhas e cabos permite que este transporte seja bastante eficiente, embora estruturas de menor grandeza, e no caso de Jaconé estamos falando da presença de beachrocks, possam influir diretamente de acordo com sua extensão, espessura e posição. O levantamento de perfis topográficos, o processamento granulométrico de amostras e a aquisição de outros dados no instante de observação permitiram caracterizar os estágios morfodinâmicos ao longo do arco de praia, revelando resultados sempre intermediários, com maior tendência refletiva à leste e dissipativa à oeste. As características (a) de arco francamente aberto para o oceano (atingido constantemente por ressacas), (b) de largura limitada do cordão litorâneo e (c) de baixo estoque sedimentar, além da especulação imobiliária regional, pressionam os ecossistemas remanescentes com políticas e empreendimentos que não consideram a dinâmica sedimentar local. O principal exemplo constatado foi o de aterros com material de granulometria mais fina que a predominante no arco. Este tipo de intervenção suscita questões relacionadas ao gerenciamento costeiro, principalmente quanto a ações sem respaldo técnico que podem alterar a morfodinâmica e conseqüentemente o comportamento das praias brasileiras. Estes resultados corroboram avaliações preliminares feitas em campo, embora tenham a limitação de estarem baseadas em poucos trabalhos de campo. Porém, estão de acordo 10 10

com a tendência do litoral fluminense no trecho orientado no sentido leste-oeste. Assim, e embora os objetivos deste trabalho tenham sido alcançados, os resultados ora apresentados configuram-se como considerações iniciais, carentes de um monitoramento mais longo e associado com outros conjuntos de dados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Emery, K.O. A simple method of measuring beaches profiles. In: Limnology and Oceanography. Vol. 6, n.1, pp. 90-93. Jan., 1961. Folk, R.L. e Ward, W.C. Brazos river bar: a study of significante of grain size parameters. In: Jornal of Sedimentary Research. 27(1): 3-26, 1957. Muehe, D. Estado Morfodinâmico Praial no Instante da Observação: uma altenativa de identificação. In: Revista Brasileira de Oceanografia, v. 46, n. 2, p. 157-169, 1998. Muehe, D., ROSO, R.H. & SAVI, D.C. Avaliação de método expedito de determinação do nível do mar como datum vertical para amarração de perfis de praia. In: Revista Brasileira de Geomorfologia, ano 4, n. 1, p. 53-57, 2003. Wright, L.D. & Short, A.D. 1984. Morphodynamic variability of surf zones and beaches: A synthesis. In: Marine Geology, 56. 11 11