PROBLEMAS LINGUÍSTICOS - A SINTAXE DE CONCORDÂNCIA Profª Ms. Marina Miotto Negrão Introdução O ser humano compreendeu que a comunicação é essencial para a vida e, para que ela ocorra de forma completa, pressupõe-se um domínio das formas linguísticas. Além disso, dependendo da intenção do elaborador do texto, os discursos seguem algumas regras, alguns conceitos, que podem estar interligados com teorias sociocomunicativas, sociolinguísticas e sociocognitivas. Considerando que o domínio da língua portuguesa é imprescindível ao acadêmico e ao bom profissional, esta aula justifica-se pela dificuldade de muitos estudantes na utilização da norma culta, principalmente após fazermos a leitura e a correção de atividades já realizadas no decorrer deste ano. CONCORDÂNCIA Na língua portuguesa a concordância consiste em flexionar as palavras, observando os determinantes em relação ao gênero, número e pessoa dos elementos linguísticos determinados, ou seja, é concordar os termos dentro de uma oração, observando se estão no masculino ou feminino, singular ou plural, e as pessoas do discurso. Essa concordância que se estabelece entre os nomes (artigo, adjetivo, substantivo, pronome e numeral), se chama de concordância nominal, ou então, a que se chama concordância verbal é a que se verifica entre o número e a pessoa do sujeito, ou predicativo e o verbo da oração. Segundo Bechara (1999, p. 543), a concordância pode ser...estabelecida de palavra para palavra ou de palavra para sentido. Pense: As árvores somos nós! http://as-arveres.blogspot.com.br/2010/04/tirinhas-o.html 1
Concordância Nominal Para entender o que é concordância nominal, observamos o que explica Cunha (1985), quando ele diz que O ADJETIVO, varia em gênero e número de acordo com o gênero e o número do SUBSTANTIVO ao qual se refere. Portanto, a regra geral para concordância nominal é: O adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo. A boa notícia atrasou./ O menino esperto correu para a velha casa. Para melhor entendimento do conteúdo da aula, a seguir iremos explicar e exemplificar as regras de concordância nominal, que estão presentes em materiais que foram elaborados por autores como Evanildo Bechara (1999), Celso Cunha e Luís F. Lindley (1999), Faraco e Moura (2004), Sírio Possenti (1996), todos considerados grandes estudiosos na área da gramática da língua portuguesa. 1) Quando se tem um adjetivo para dois substantivos: a- Se estiver posposto (depois), vai para o plural, dando prioridade ao masculino, ou concorda com o substantivo mais próximo. Era vaidade e orgulho excessivos. / Era vaidade e orgulho excessivo./ Era orgulho e vaidade excessiva. b- Se estiver anteposto, concorda somente com o mais próximo. Tinha extraordinária coragem e talento./ Tinha pretos cabelos e barba. 2) Os adjetivos mesmo, próprio, só, obrigado, anexo, meio e incluso concordam em gênero e número com o nome a que se refere. 2
Eu mesmo sou o diretor./ Eles estão sós./ Anexos estão os catálogos. Importante: A locução verbal em anexo é invariável. 3) É proibido entrada, se vem precedido de artigo, ou qualquer modificador, concorda com o sujeito. Se não, fica invariável. A permanência é proibida. / É proibida a entrada. 4) Bastante é invariável se for advérbio (modifica adjetivos, verbos e advérbios). Se for pronome adjetivo, modifica substantivos e deve concordar em número com o substantivo. Os alunos estão bastante cansados./ Bastantes idéias surgiram no concurso. 5) Quite, é adjetivo, portanto variável. Eu estou quite com o serviço militar. / Não estamos quites com o exército. Concordância Verbal Para entender o que é concordância verbal, observamos o que explica Cunha (1985), quando ele diz que A solidariedade entre o verbo e o sujeito, que El faz viver no tempo, exterioriza-se na CONCORDÂNCIA, isto é, na variabilidade do verbo para conformar-se ao número e à pessoa do sujeito. Portanto, a regra geral para concordância verbal é: O verbo concorda em número e pessoa com o núcleo do sujeito. O conteúdo de gêneros textuais apresenta muitos detalhes que são importantíssimos para os acadêmicos aprenderem a elaborar os textos 3
em seus cursos. Para melhor entendimento do conteúdo da aula, a seguir iremos explicar e exemplificar as regras de concordância verbal. 1) Sujeito coletivo: pede verbo no singular. Se for seguido de nome plural tem concordância facultativa. Caso esteja longe do verbo, esse pode vir no plural. A caravana passa tranqüila./ A manada de búfalos pastava - pastavam no campo./ A constelação linda, brilhava-brilhavam no céu. 2) Nome próprio: no plural faz concordância com o artigo. Os E.U.A são uma potência./ Minas Gerais industrializa-se. 3) Pronome Indefinido: No singular, seguido de nós, vós ou vocês pede verbo no singular. Se estiver no plural, a concordância é facultativa. Muitos de nós desobedecemos/ desobedecem à lei. / Alguém de vós estuda? 4) Mais de um(a): Se indicar reciprocidade, o verbo vai para o plural, caso contrário, fica no singular Mais de uma criança se penteia. / Os parlamentares cumprimentaram-se. 5) Um dos que: A concordância é facultativa. Ele é um dos que mais estuda/estudam. 6) Que: faz concordância com o termo antecedente. Sou eu que pago a conta. / Somos nós que vamos à cidade. 4
7) Quem: faz concordância com o termo antecedente ou com ele mesmo. Sou eu quem vai/vou ao México. 8) Sujeito composto: a- Anteposto ao verbo, singular. Se for Posposto ao verbo, pode ser plural ou singular, concordando com o mais próximo. Chorou/ Choraram mãe e filha. / Choraram mãe e filhas. b- Núcleos em gradação pede verbo no singular: Um gesto, um grito, um tapa a assustou. c- Núcleos sinônimos pede verbo no singular: O orgulho, a soberba faz mal. d- sujeito resumido por tudo, nada, ninguém pede verbo no singular: Bebidas, mulheres, vícios, nada o animava. e- Núcleo de pessoas gramaticais diferentes pede verbo no plural: Eu, tu e ele fizemos os testes. Importante: a 1ª pessoa prevalece sobre a 2ª e a 3ª. A 2ª prevalece sobre a 3ª. f- Ligados por nem, concordância facultativa: Nem a terra, nem o mar venceu/venceram. g- Sujeito um e outro, nem um ou nem outro, concordância facultativa: Um e outro foram ao jogo. h- Se os núcleos forem ligados por OU, e der sentido de exclusão, verbo no singular. Caso contrário, verbo no plural: A paz ou a guerra são frutos da educação. / Ou Luís ou Pedro será o presidente. i- Ligado por COM, concordância facultativa: O professor com os alunos foi/ foram à aula prática. 9) Verbo SER: concorda com sujeito ou o predicativo. Isto são problemas. / Rosa é as alegrias do pai. 10) Indicam quantidade e peso: sempre no singular. 5
Dois metros é pouco. / Cinco doses do seu amor é pouco. singular. 11) Verbos com indicação de tempo (impessoal): Se indicar passado, fica no Faz dez dias que não o vejo. / Fez um ano que estamos namorando. 12) Verbos apassivados pelo SE: Concordam com o sujeito paciente. Caso o sujeito seja indeterminado pelo SE, o verbo fica na 3ª pessoa do singular. Vendem-se apartamentos. / Lá se é feliz. Considerações Finais Após a leitura deste material e assistir a vídeo-aula, é importante que acadêmico tenha compreendido o quão essencial é ter domínio de algumas regras que estão presentes na norma padrão da língua portuguesa. Sabemos que existe uma variação imensa de formas de se comunicar, porém, o domínio do que é considerado correto é de extrema necessidade. Para corroborar com essa idéia, faço uso das palavras de Possenti (1996) [...] adoto sem qualquer dúvida o princípio (quase evidente) de que o objetivo da escola é ensinar o português padrão, ou, talvez mais exatameme, o de criar condições para que ele seja aprendido. Qualquer outra hipótese é um equívoco político e pedagógico. A tese de que não se deve ensinar ou exigir o domínio do dialeto padrão dos alunos que conhecem e usam dialetos não padrões baseia-se em parte no preconceito segundo o qual seria difícil aprender o padrão. Isto é falso, tanto do ponto de vista da capacidade dos falantes quanto do grau de complexidade de um dialeto padrão. 6
Ou seja, não se pode deixar de considerar que existem as variações linguíticas, porém é importantíssimo que o professor ensine as regras que fazem parte da norma padrão da lígua portuguesa, que estão no nosso dia a dia, principalmente nos bancos escolares, sejam na educação básica, como na superior. Referências Bibliográficas BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro:Lucerna, 1999. CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova Gramática do português contemporâneo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. FARACO & MOURA. Gramática Nova. São Paulo: Ática, 2004. INFANTE, Ulisses. 36 lições práticas de gramática. São Paulo: Scipione, 1996. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras : Associação de Leitura do Brasil, 1996. 7