DOI: ARTIGO. Ledayane Mayana Costa Barbosa 1 e Raimundo Nonato Picanço Souto 2

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Transcrição:

ARTIGO DOI: http://dx.doi.org/10.18561/2179-5746/biotaamazonia.v1n1p19-25 Aspectos ecológicos de Anopheles (Nyssorhyncus) darlingi Root 1926 e Anopheles (Nyssorhyncus) marajoara Galvão e Damasceno 1942 (Diptera: Culicidae) nos bairros Marabaixo I e Zerão, Macapá, Amapá, Brasil Ledayane Mayana Costa Barbosa 1 e Raimundo Nonato Picanço Souto 2 1. Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Rodovia JK, Macapá-AP. E-mail: yaneyana@zipmail.com.br 2. Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Rodovia JK, Macapá-AP. E-mail: rnpsouto@unifap.br RESUMO: O gênero Anopheles Meigen abrange cerca de 484 espécies, destas aproximadamente 50 tem se mostrado vetor competente da malária humana. Anopheles darlingi é considerada uma das mais eficientes na transmissão da malária na região Neotropical, que junto com An. marajoara membro do complexo albitarsis, são os vetores primários na cidade de Macapá. Este estudo objetivou avaliar alguns aspectos da ecologia das espécies An. darlingi e An. marajoara em áreas periurbanas da cidade de Macapá. As coletas de mosquitos adultos foram realizadas no peridomicilio próximos a ambientes úmidos, nos bairros Zerão (00º00.041 ; 051º06.122 ) e Marabaixo I (00º02.315 ; 051º07.364 ), no período de maio de 2003 a maio de 2004, em intervalos bimensais com duração de três horas, em três dias consecutivos. O método utilizado para as coletas foi o atrativo humano protegido. Foram coletados 904 especimes, sendo 138 (15,26%) no bairro Marabaixo I, e 766 (84,74%) no bairro Zerão. An. marajoara (51.7%) e An. darlingi (28,7%) foram as mais abundantes. Outras especies foram encontradas: An. matogrossensis (15.6%), An. triannulatus (3.2%), An. braziiiensis (0.7%) e An. nuneztovari (0.22%). Para a espécie An. marajoara o índice de picada homem/hora (IPHH) variou de 0,6 no bairro Marabaixo I a 3,0 no bairro Zerão. Para a espécie An. darlingi a variação do índice foi de 0,3 a 1,7 no Zerão. Em relação a atividade horária de hematofagia, An. marajora apresentou o maior pico de 18:30 as 19:30h enquanto que An. darlingi de 19:30 as 20:30h. Para as duas áreas em estudo houve uma correlação positiva (r=0,75) quanto a variação da abundância das espécies An. darlingi e An. marajoara de acordo com a precipitação pluviométrica somente para o período de maio a novembro de 2003. Palavras-chave: malária, vetor, transmissão, áreas úmidas, Amapá. ABSTRACT: Ecological aspects of Anopheles (Nyssorhyncus) darlingi Root 1926 and Anopheles (Nyssorhyncus) marajoara Galvão & Damasceno 1942 (Diptera: Culicidae) in districts Marabaixo I and Zerão, Macapá, Amapá, Brazil. The genus Anopheles Meigen include about of the 484 species, of these approximately 50 has been shown to be competent vectors of human malaria. Anopheles darling is considered one of the most efficient in the transmission of malaria in the Neotropical region, who along with An. marajoara member of the complex An. albitarsis, they are vectors primary in the Macapá city. This study aimed to evaluate some aspects of the ecology of the species An. darlingi and An. marajoara in periurban of the Macapá city. The adult mosquito collections were made in the peridomiciliary next to humid environments, in Zerão (00º00.041 ; 051º06.122 ) and Marabaixo I (00º02.315 ; 051º07.364 ) districts, in period between may 2003 and may 2004, in interval bi-monthly with duration of the three hours, in three consecutive days. The method used for collections was the attractive human protected. Were collected 904 Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution 4.0 Internacional Macapá, v. 1, n. 1, p. 19-25, 2011 Disponível em http://periodicos.unifap.br/index.php/biota Submetido em 26 de Novembro de 2010 / Aceito em 03 de Março de 2011

specimens, 138 (15.26%) in the Marabaixo I and 766 (84.74%) in Zerão. An. marajoara (51.7%) and An. darlingi (28.7%) were the more abundant. Other species found were An. matogrossensis (15.6%), An. triannulatus (3.2%), An. braziiiensis (0.7%) and An. nuneztovari (0.22%). For the species An. marajoara the index of bite per man per hour (IPHH) ranged from 0.6 in the Marabaixo to 3.0 in Zerão. For the species An. darlingi variation index was 0.3 in Marabaixo to 1.7 in Zerão. For hourly activity haematophagia, An. marajora presented the largest peak 18: 30 to 19: 30 pm while An. darlingi 19: 30 to 20: 30 pm. For the two areas under study there was a positive correlation (r=0,75) as the variation of the abundance of species An. darling and An.marajoara according the rainfalls only for the period from May to November 2003. Keywords: malaria, vector, transmission, humid areas, Amapá. 1. Introdução Os anofelinos são insetos pertencentes à ordem Diptera, Sub-ordem Nematocera, família Culicidae, Sub-família Anophelinae, Tribo Anophelini e Gênero Anopheles (BUSTAMANTE, 1957; BRUCE-CHWATT, 1980a; FORATTINI, 2002), compreendendo cerca de 484 espécies, no entanto somente em torno de 50 encontram-se implicadas na transmissão da malária ao homem, uma das principais doenças endêmicas da Amazônia (HARBACH 2004; PAGES et al. 2007). Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi Root, 1926 apresenta grande susceptibilidade à infecção, ampla distribuição geográfica e é considerada o mais importante transmissor no Brasil, que juntamente com o An. (Nys.) marajoara Galvão & Damasceno, 1942, membro do complexo albitarsis, são os vetores primários ou principais da malária na cidade de Macapá (CONN et al. 2002). A incidência de mosquitos nas regiões tropicais varia geralmente de acordo com as precipitações pluviométricas. A distribuição estacional de mosquitos está influenciada por três fatores climáticos: precipitação pluviométrica, umidade relativa e temperatura. Sendo que, o período chuvoso atua como fator limitante para a maioria das espécies na Amazônia brasileira (BATES, 1949; CAUSEY e SANTOS, 1949; GALINDO et al. 1950). Este estudo visou avaliar alguns aspectos da ecologia de An. darlingi e An. marajoara em áreas periurbanas da cidade de Macapá, como contribuição a compreensão dos processos envolvidos na transmissão da malária. 2. Material e método 2.1 Localização e Caracterização da Área de Estudo O Estado do Amapá abrange uma área que se estende 4 latitude Norte a 1 de latitude Sul e de 50 de longitude WGr. a 54 de longitude WGr. Esta região corresponde a 140.276 Km 2, ou seja, 1,65% da área do Brasil (SUDAM, 1984). O clima segundo a classificação climática de Koppen é do tipo Af. É um clima tropical úmido, caracterizado principalmente, por uma elevada taxa pluviométrica anual, aliado a pequena amplitude anual de temperatura. A precipitação média anual é em torno de 2500 mm, sendo o trimestre mais chuvoso nos meses de março, abril e maio com uma variação média de 2112,9 mm e o trimestre mais seco nos meses de setembro, outubro e novembro com uma variação média de 177,8 mm. A temperatura média anual é em torno de 27 C, sendo que a temperatura média máxima fica em torno de 31 C e a temperatura média mínima em 20

torno de 23 C. A umidade relativa anual é em torno de 85% e a insolação média anual é de 2200 horas. Os ventos predominantes são os alíseos do hemisfério norte, que sopram com direção nitidamente nordeste (SUDAM, 1984). A cidade de Macapá está localizada em uma região que se caracteriza como planície sedimentar, e subdividi-se em zonas de terra firme e zonas de inundação, que correspondem as várzeas e ressacas. Sua área urbana é basicamente limitada por áreas de ressacas e canais de drenagem naturais (MACIEL, 2001). O termo ressaca é regional, caracteriza-se como uma área úmida, periodicamente inundada, mas que abriga canais ou cursos da água perenes, ensolaradas e com vegetação emergente (TAKIYAMA, 2004). A vegetação encontrada nas margens das ressacas, em elevações de até 10 metros acima do nível do Amazonas, é de terra-firme e Cerrado. 2.2. Coleta de mosquitos As coletas de mosquitos adultos foram realizadas no município de Macapá em áreas periurbanas no entorno de ambientes de ressacas nos bairros Zerão (00º00.041 ; 051º06.122 ) (Figura 1) e Marabaixo I (00º02.315 ; 051º07.364 ) (Figura 2), no período de maio de 2003 a maio de 2004, em intervalos bimensais com um esforço de três horas, em três dias consecutivos. Em cada bairro foram selecionados dois pontos amostrais no peridomicílio com uma distância mínima de 200 m um do outro. Foi utilizado o método atrativo humano protegido com quatro técnicos sendo um em cada ponto no horário de 18:30 às 21:30 horas, foram utilizados capturador de sucção oral, e lanterna (SERVICE, 1993). A O horário foi escolhido a partir de observações preliminares de 12 horas (18:00 às 6:00). A identificação taxonômica seguiu as chaves de Faran e Linthicum (1981) e Forattini (2002). Figura 1. Imagem do bairro Zerão. Fonte: ZEE-IEPA. Figura 2. Imagem do bairro Marabaixo. Fonte: ZEE.-IEPA. 2.3. Índice de Picada de mosquitos por homem / hora (IPHH) O índice de picada homem / hora (IPHH) foi calculado dividindo-se o número de mosquitos coletados (N) em determinada área pelo número de capturadores (NC) e pelo o número de horas da coleta (NH) (SERVICE, 1993). 2.4. Atividade horária de hematofagia A atividade foi observada de acordo com o número de mosquitos capturados em todos os períodos amostrais conforme o horário de coleta. 2.5. Variação da abundância de acordo com a precipitação Foi correlacionada a abundância de An. darlingi e An. marajoara de acordo com a precipitação observada durante o período do estudo. 2.6. Dados climatológicos 21

Os índices de precipitação pluviométrica, umidade relativa do ar e temperatura foram obtidos da Estação Meteorológica de Fazendinha, Macapá, do Ministério da Agricultura. Zerão (Figura 3). As variações do IPHH observadas para as espécies anofélicas no presente estudo estão dentro do intervalo das constatadas por Segura (1998) e Conn et al. (2002). 2.7. Análise de dados Utilizou-se o teste estatístico não paramétrico (Qui-quadrado) para analisar as diferenças entre a abundância das espécies observadas nas áreas de estudo e entre os períodos menos e mais chuvosos. Estas análises foram feitas utilizando o programa estatístico BioEstat 5.0 (AYRES et al. 2007), sendo consideradas significativas quando p<0,05. A correlação da abundância de An. darlingi e An. marajoara com a precipitação pluviométrica foi feita pelo teste de correlação de Spearman. 3. Resultados e discussão Foram coletados um total de 904 especimes, sendo 138 (15,26%) no bairro Marabaixo I, e 766 (84,74%) no bairro Zerão. No Marabaixo I foram assinaladas as seguintes espécies: An.(Nys.) braziiiensis Chagas 6 (4,3%), An. darlingi 42 (30,4%), An. marajoara 84 (60,9%), An. (Anopheles) matogrossensis Peryassú 4 (2,9 %) e An. (Nys) triannulatus Neiva & Pinto 2 (1,2%). No Zerão: An. darlingi 217 (28,3%), An. marajoara 383 (50,0%), An. matogrossensis 137 (17,9%), An. triannulatus 27 (3,5%) e An. nuneztovari Gabaldon 2 (0,3%). A abundância das espécies foi significativamente maior (P<0,05) no bairro Zerão. 3.1. Índice de Picada de mosquitos por homem / hora (IPHH) Em geral para An. marajoara o IPHH variou de 0,6 no bairro Marabaixo I a 3,0 no bairro Zerão. Para An. darlingi a variação foi de 0,3 no Marabaixo I a 1,7 no Figura 3 - Índice de picadas / homem / hora para An. darlingi e An. marajoara nos bairros Marabaixo I e Zerão. 3.2. Atividade Horária de Hematofagia Para An. marajoara o pico máximo da atividade hematofágica observada em todos os períodos amostrais foi no horário de 18:30 a 19:30 horas, havendo um pequeno declínio mas se manteve até 20:30 h, já An. darlingi apresentou um pico maior das 18:30 a 20:30, ambas no bairro Zerão (Figura 4). Figura 4. Atividade horária de hematofagia para An. marajoara e An. darlingi no bairro Zerão. No bairro Marabaixo I o maior número de indivíduos coletados para An. marajoara 22

e An. darlingi foi no horário de 19:30 as 20:30 (Figura 5). para as atividades vitais dos culicideos (FORATTINI, 2002). Figura 5. Atividade horária de hematofagia de An. marajoara e An. darlingi no bairro Marabaixo I. Em estudos desenvolvidos em outras localidades do estado do Amapá essas espécies apresentaram comportamento similar quanto a atividade hematofágica (SEGURA, 1998; VOORHAM 2002; FERREIRA, 2010; GALARDO 2010). Estudos realizados em diferentes localidades da Amazônia revelaram que An. darlingi apresenta um padrão de atividade de picar que se estende por toda a noite (TADEI et al., 1993). Um padrão bimodal também foi constatado, sendo intenso no início da noite e outro ao amanhecer (TADEI et al. 1984). Ainda com relação a esse parâmetro, foi detectado que a atividade pode sofrer modificações em sua intensidade, no início da noite, de acordo com o período menos e mais chuvoso (TADEI et al. 1993). 3.3. Variação da abundância de acordo com a precipitação A Figura 6 mostra a variação das médias mensais de temperatura e umidade relativa do ar e a precipitação pluviométrica acumulada mensal no período de janeiro de 2003 a maio de 2004. Entre os fatores climáticos a precipitação foi a que variou de forma mais significativa (p<0,05), caracterizando um período mais chuvoso de fevereiro a junho e um menos chuvoso de agosto a dezembro. A temperatura e a umidade variaram dentro da faixa ótima Figura 6. Precipitação pluviométrica mensal acumulada, temperatura e umidade relativa do ar média mensal referente ao período de janeiro de 2003 a maio de 2004. No bairro Zerão a maior abundância observada para An. darlingi ocorreu no mês de setembro seguida de julho e maio de 2003. Nas amostragens realizadas em 2003 a abundância foi significativamente maior (p<0,05) comparada as de 2004 (Figuras 7). Figura 7. Variação da abundância de An. darlingi de acordo com a precipitação mensal ocorrida no período de maio de 2003 a maio de 2004, no bairro Zerão. A maior abundância para An. marajoara foi observada em maio, julho e setembro de 2003 e março de 2004 (Figura 8). 23

Figura 8. Variação da abundância de An. marajoara de acordo com a precipitação mensal ocorrida no período de maio de 2003 a maio de 2004, no bairro Zerão. No bairro Marabaixo I a maior abundância observada para An. darlingi e An. marajoara foi no primeiro período amostral (maio/03) com uma precipitação acumulada de 300 mm (Figuras 8 e 9). Figura 8. Variação da abundância de An. darlingi de acordo com a precipitação ocorrida no período de maio de 2003 a maio de 2004, no bairro Marabaixo I. Figura 9. Variação da abundância de An. marajoara de acordo com a precipitação mensal ocorrida no período de maio de 2003 a maio de 2004, no bairro Marabaixo I. A variação da abundância observada para as espécies anofélicas atribuiu-se a precipitação como o principal fator controlador, pois garante a formação e o abastecimento hídrico dos seus criadouros. Essa observação corrobora às relatadas por vários investigadores em áreas semelhantes (FORATTINI, 2002; KRUIJF, 1972; KRUIJF et al., 1973). Para as duas áreas em estudo houve uma correlação positiva (r=0,75) quanto a variação da abundância de An. darlingi e An. marajoara de acordo com a precipitação pluviometrica somente para o período de maio a novembro de 2003. Nas amostragens realizadas em 2004 nos dois bairros a abundância tanto para An. darlingi quanto para An. marajoara foi significativamente (p<0,05) menor comparada as de 2003. Atribuí-se esse fato provavelmente as ações de controle realizadas pelo setor de endemias do município de Macapá. O estudo de espécies de anofelinos de uma região onde a malária se apresenta de forma endêmica é importante para o direcionamento das medidas de controle, especialmente porque uma mesma espécie, no mesmo local, pode alterar seus hábitos ao longo do tempo, principalmente em decorrência de alterações ambientais 4. Referências AYRES, M.; M. AYRES JR; D. L. AYRES & A. S. DOS SANTOS.. BioEstat 5.0 aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém, Sociedade Civil Mamirauá, 364 p. 2007. BATES, M. The Natural History of Mosquitoes. The Macmillan Company. New York. 1949. BRUCE-CHAWATT, L. J. The Malaria Parasites. In: Essential Malariology. Bruce-Chwatt, L. J. (ed.). William Heinemann Medical Books, London, p. 10-34, 1980a. BUSTAMANTE F. M. Distribuição Geográfica e periodicidade estacional da malária no Brasil e sua 24

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