Odontogenic tumors are neoplasms that develops

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Transcrição:

Rev Bras Otorrinolaringol 2008;74(5):668-73. Tumores odontogênicos: estudo clínico-patológico de 238 casos artigo original original article Odontogenic tumors: clinical and pathology study of 238 cases Rafael Linard Avelar 1, Antonio Azoubel Antunes 2, Thiago de Santana Santos 3, Emanuel Sávio de Souza Andrade 4, Edwaldo Dourado 5 Palavras-chave: classificação, epidemiologia, tumores odontogênicos. Keywords: classification, epidemiology, odontogenic tumors. Resumo / Summary Os tumores odontogênicos são neoplasias que se desenvolvem exclusivamente nos ossos gnáticos, originando-se dos tecidos odontogênicos por proliferação de tecido epitelial, mesenquimal ou ambos. Objetivo: Avaliar a incidência de tumores odontogênicos em determinada instituição e comparar com outros estudos da literatura mundial. Forma de Estudo: Estudo de coorte transversal. Material e Método: O material do estudo foi levantado a partir dos registros de pacientes com tumores odontogênicos, no período de janeiro de 1992 a março de 2007 (15 anos). Foram incluídos os casos de pacientes que se enquadravam na Classificação Histológica da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2005. Foram analisados os indicadores gênero, faixa etária, localização anatômica, tipo histológico e presença de sintomatologia. Resultados: Os tumores odontogênicos constituíram 4,76% dentre todas as lesões biopsiadas dentro do período estudado. A idade média dos pacientes foi de 30,7 anos, 57% dos pacientes eram do gênero masculino. O tumor odontogênico ceratocístico foi o tipo histológico mais prevalente (30%), seguido do ameloblastoma (23,7%). Quanto à presença de sintomatologia, 75,7% dos casos apresentaram-se assintomáticos. Conclusão: Os tumores odontogênicos parecem ter discreta predileção pelo gênero feminino, segunda e terceira décadas de vida, sendo mais freqüentes na mandíbula e, na maioria dos casos apresentam-se assintomáticos. Odontogenic tumors are neoplasms that develops exclusively in the gnathic bones; they originate from odontogenic tissues, by epithelial or mesenchymal proliferation, or both. Aim: To evaluate the incidence of odontogenic tumors in a specific institution, and to compare these findings with other studies in the literature. Study format: A cross-sectional cohort retrospective study. Material and method: The sample was obtained from the files of patients with odontogenic tumors diagnosed between January 1992 and March 2007 (15 years). Cases in which the diagnosis could be adapted to the new World Health Organization (WHO) of 2005 were included. Data such as gender, age, anatomical site, histological type and symptomatology were analyzed. Results: Odontogenic tumors were 4.76% of all biopsied lesions within the studied period. The mean age was 30.7 years; 57% of the patients were male. The keratocystic odontogenic tumor was the most prevalent histological type (30%), followed by the ameloblastoma (23,7%). The rate of asymptomatic cases was 75.7%. Conclusion: Odontogenic tumors occurred more frequently in females, in the second and third decades of life, and more commonly in the mandible; most cases were asymptomatic. 1 Cirurgião-Dentista, Residente em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial pelo Hospital Universitário Oswaldo Cruz. 2 Cirurgião-Dentista, Aluno do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Universidade de Pernambuco - FOP/UPE. 3 Cirurgião-Dentista, Residente em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Universitário Oswaldo Cruz - HUOC/UPE. 4 Doutor, Professor adjunto da disciplina de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia de Pernambuco - Universidade de Pernambuco - FOP/UPE. 5 Doutor, Professor Adjunto de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia de Pernambuco - Universidade de Pernambuco - FOP/UPE. Disciplina de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco - FOP/UPE. Endereço para correspondência: Emanuel Sávio de Souza Andrade - Faculdade de Odontologia de Pernambuco, Disciplina de Patologia Bucal. Av. Gal. Newton Cavalcanti 1650 Tabatinga Camaragibe PE 54753-220. Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 10 de maio de 2007. cod. 4513 Artigo aceito em 14 de julho de 2007. 668

INTRODUÇÃO Os tumores odontogênicos constituem um grupo heterogêneo de lesões com características histopatológicas e manifestações clínicas diversas. O comportamento biológico destas lesões inclui proliferação hamartomatosa, tumores benignos não-agressivos, agressivos e tumores malignos 1. Os tumores odontogênicos têm sido um assunto de considerável interesse para os patologistas orais, que os vêm estudando e catalogando durante décadas. Estas lesões compreendem 2,5% de todas as lesões biopsiadas nos consultórios odontológicos 2,3. Apesar de diversos estudos retrospectivos realizados na África 4,5,6, Ásia 7, Europa 8,9, e na América do Norte 10, há ainda algumas perguntas não-respondidas com relação à freqüência relativa e à incidência de alguns tumores odontogênicos 11. Estas lesões têm mostrado variações geográficas na sua distribuição 2. Inúmeros estudos em diferentes partes do mundo mostram diferenças na prevalência relativa destes tumores 12. Na literatura inglesa, poucos relatos têm sido publicados sobre a freqüência dos tumores odontogênicos na América Latina, principalmente no Brasil 13. Em um estudo de 362 casos no Chile, a freqüência foi de 1,29% 14. Em virtude da diversidade de lesões que podem surgir dos tecidos odontogênicos, diversos esquemas de classificação foram publicados na tentativa de definir seus critérios diagnósticos 1. A primeira tentativa de classificar este grupo de lesões foi publicada em 1971 após um esforço conjunto durante 5 anos da Organização Mundial de Saúde (OMS) 12. Devido aos avanços em imunohistoquímica e biologia molecular durante a última década, uma segunda edição atualizada da OMS foi publicada em 1992 15. Em 2005, Tabela 1. Distribuição dos pacientes por gênero. uma nova classificação foi proposta, onde o ceratocisto odontogênico foi incluído como tumor odontogênico benigno 16. O objetivo do presente estudo foi determinar o perfil do comportamento epidemiológico deste heterogêneo grupo de lesões em um período de 15 anos (1992-2007), e comparar os dados obtidos com os relatos da literatura. MATERIAL E MÉTODOS No período de janeiro de 1992 a março de 2007, realizou-se um estudo retrospectivo dos casos de tumores odontogênicos registrados na instituição. Foram analisados os indicadores gênero, faixa etária, localização anatômica, tipo histológico e presença de sintomatologia, em 238 laudos histopatológicos. Em laudos que apresentavam tumores recorrentes, a aparência histológica dos tumores originais e recorrentes foi comparada e considerada como um único caso. Os diagnósticos foram reavaliados de acordo com classificação da Organização Mundial de Saúde 16, e devidamente adequados à nova classificação. Após a obtenção da amostra, foi criado um banco de dados com o programa estatístico SPSS (v. 13.0), em que foi aplicado o teste Qui-quadrado para analisar a significância estatística dos achados. O valor de p quando menor que 0,05 foi considerado estatisticamente significante. O presente estudo foi devidamente cadastrado no comitê de ética em pesquisa da instituição sob o protocolo nº 135717/07. RESULTADOS De acordo com os dados obtidos, os pacientes foram assim distribuídos: Gênero Tipos Histológicos Masculino Feminino N % n % Ameloblastoma 30 52,6 27 47,4 Cementoblastoma 1 25 3 75 Ceratocístico 30 43,4 39 56,6 Cisto Odontogênico Epitelial Calcificante 7 46,6 8 53,4 Fibroma Ameloblástico 3 75 1 25 Fibro-odontoma Ameloblástico - - 1 100 Mixoma 8 53,4 7 46,6 Odontoma 17 31,4 37 68,6 Adenomatóide 3 23 10 77 Epitelial Calcificante 3 60 2 40 Escamoso - - 1 100 TOTAL 102 136 p>0,05 - Teste qui-quadrado 669

Tabela 2. Idade dos pacientes portadores de tumores odontogênicos. Tipo Histológico Extremos Etários Idade Média Faixas Etárias 00-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 70 n % Ameloblastoma 10-99 34 1 14 16 8 5 9 3 1 57 23,7 Cementoblastoma Ceratocístico Cisto Odont. Ep. Calcificante Fibroma Ameloblástico Fibro-odontoma Ameloblástico 40-57 44 - - - 2 1 1 - - 4 1,7 10-84 31 2 14 23 15 9 3 2 1 69 30,0 10-70 32 1 4 5-1 3 1-15 6,3 38-45 42 - - - 1 3 - - - 4 1,7 11 11-1 - - - - - - 1 0,4 Mixoma 7-45 29 1 4 3 4 3 - - - 15 6,3 Odontoma 4-84 27 8 17 10 9 4 2 2 2 54 22,1 Adenomatóide Ep. Calcificante Escamoso p>0,05 - Teste qui-quadrado 10-45 20 1 7 2 2 1 - - - 13 5,4 11-46 26-3 - 1 1 - - - 5 2,0 16 16-1 - - - - - - 1 0,4 Total Tabela 3. Localização dos tumores odontogênicos. Tipos Histológicos Mandíbula Localização anatômica Maxila N % n % Ameloblastoma 48 84,2 09 15,8 Cementoblastoma 04 100 - - Ceratocístico Cisto Odontogênico Epitelial Calcificante 52 75,3 17 14,7 10 66,6 05 33,3 Fibroma Ameloblástico 04 100 - - Fibro-odontoma Ameloblástico 01 100 - - Mixoma 07 46,6 08 53,4 Odontoma 23 42,5 31 57,5 Adenomatóide Epitelial Calcificante Escamoso 06 46,1 07 53,9 04 80 01 20 01 100 - - TOTAL 160 78 p>0,05 - Teste qui-quadrado 670

Tabela 4. Distribuição dos pacientes por sintomatologia. Tipos Histológicos Sintomático Sintomatologia Assintomático N % n % Ameloblastoma 12 21 45 79 Cementoblastoma 2 50 2 50 Ceratocístico Cisto Odontogênico Epitelial Calcificante 20 28,9 49 71,1 3 20 12 80 Fibroma Ameloblástico 1 25 3 75 Fibro-odontoma Ameloblástico 1 100 - - Mixoma 4 26,6 11 73,4 Odontoma 10 18,5 44 81,5 Adenomatóide Epitelial Calcificante Escamoso 3 23 10 77 1 20 4 80 1 100 - - TOTAL 58 180 p=0,023 - Teste qui-quadrado DISCUSSÃO Os tumores odontogênicos são lesões pouco freqüentes nos ossos gnáticos e seu diagnóstico diferencial deve ser considerado quando se estudam estas lesões 2. Somente alguns trabalhos publicados avaliaram grande séries de casos avaliando idade, gênero e localização dos tumores odontogênicos em um país ou em uma área usando a classificação da Organização Mundial de Saúde 3,6,7,14,17. A partir de 2005, uma nova classificação incluiu o ceratocisto odontogênico como uma entidade dentro dos tumores odontogênicos, renomeando-o como tumor odontogênico ceratocístico. Esta lesão foi a mais prevalente no presente estudo (30%) (Tabela 2), não sendo possível, em função da sua nova classificação, comparar sua prevalência a outros tumores odontogênicos e a outros estudos. Com relação ao gênero, observou-se uma discreta predileção pelo gênero feminino (Tabela 1), não confirmado por outros estudos como de Mosqueda-Taylor et al. 18. A respeito da distribuição da idade, foram observados dois picos em ambos os gêneros, o mais elevado na segunda e terceira década de vida com um pico mais baixo na sétima década (Tabela 2), estes achados coincidem com os do estudo de Ahlfors et al. 19. O ameloblastoma apresentou-se como o segundo tumor mais comum (23,7%) (Tabela 2), apresentando uma freqüência mais baixa quando comparado a outros registros descritos por Lu et al. 7 (59%), Oduyoka 6 (58%) e Adebayo et al. 5 (48%). Na África, o ameloblastoma é considerado o tipo histológico mais comum, seguido pelo mixoma odontogênico 6,15, em contraste a países como Chile 18 e Canadá 10, onde são representados por 20 e 18% dos tumores, respectivamente. O tumor mais comum nestes países é o odontoma com taxas de 45 e 46%, respectivamente 10,19. No presente estudo, o ameloblastoma apresentou-se mais freqüente em pacientes do gênero masculino (52,6%) (Tabela 1) o que concorda com os estudos previamente feitos na Nigéria 5 e Turquia 8, e grande maioria dos pacientes relatou não apresentar nenhuma sintomatologia relacionada ao tumor (79%; p=0,023) (Tabela 4). Os achados africanos mostram que esta lesão é marcadamente mais prevalente da segunda à quarta década de vida 5,17 e localizada preferencialmente na mandíbula 7,17, o que foi confirmado no presente estudo (Tabela 2 e 3). Os odontomas são responsáveis por 4% a 67% dos tumores odontogênicos 5,6,10. Nas Américas esta lesão foi o tumor mais comum como descrito por Ochsenius et al. 14, Mosqueda-Taylor et al. l3 e Daley et al. 10, sendo a freqüência mais baixa desta lesão encontrada em africanos6 e chineses 7. Cinquenta e quatro casos foram encontrados neste estudo de 15 anos (22,1%) (Tabela 2). A incidência 671

baixa dos odontomas registrada por africanos 4 é provavelmente devido à natureza assintomática de muitas lesões 6 ou por fatores genéticos. Esta neoplasia foi diagnosticada predominantemente em pacientes abaixo dos 30 anos de idade, corroborando com dados encontrados na literatura onde novas lesões foram descobertas até a terceira década de vida 5,6. Os odontomas tiveram uma maior prevalência na maxila (57,5%) (Tabela 3), sendo mais encontrado no gênero feminino (68,6%) (Tabela 1), correspondendo aos dados do estudo de Santos et al. 13. No presente trabalho, o mixoma odontogênico compreendeu 6,3% de todos os tumores odontogênicos (Tabela 2). Esta incidência foi aproximadamente duas vezes mais baixa do que a relatada por Mosqueda-Taylor et al. 3, mas comparável a estudos feitos na América do Norte 10.O estudo atual demonstra uma discreta prevalência em pacientes do gênero masculino (Tabela 1), sendo contrário a estudos feitos por Ladeinde et al. 12 e Odukoia et al. 6, que relataram uma freqüência mais elevada nas mulheres. Este estudo mostrou que a idade média dos pacientes afetados era de 29 anos, sendo mais elevada do que a observada em dois estudos precedentes da Nigéria 5 e México 11 (19 anos). A discreta predileção pela maxila (53,4%) (Tabela 3) é confirmada por diversos estudos como o de Mosqueda-Taylor et al. 3 e diferem da posição relatada por Lu et al. 7. O tumor odontogênico adenomatóide compreendeu aproximadamente 5,4% de todos os tumores odontogênicos analisados (Tabela 2). De acordo com alguns trabalhos esta lesão é mais freqüentemente encontrada na maxila 4,13,17, acometendo principalmente pacientes do gênero feminino 17 (Tabela 1), o que foi confirmado no presente estudo onde 53,9% das lesões foram observados na maxila (Tabela 3) e 77% dos pacientes eram do gênero feminino (Tabela 1), sendo grande parte, pacientes na segunda década de vida, quando 07 dos 13 casos foram observados nesta faixa etária(tabela 2). O cisto odontogênico epitelial calcificante foi observado em 15 casos (6,3%) (Tabela 2), onde observou-se uma leve predileção pelo gênero feminino (53,4%) (Tabela 1) e em 66% dos casos foi encontrado na mandíbula (Tabela 3). Este achado corrobora com o que foi visto em outros estudos 13, mas contrário ao estudo feito por Hiroyuki et al. 17.Esta neoplasia é descoberta na grande maioria dos casos acidentalmente como um achado exame de rotina 5. No presente trabalho 80% dos casos apresentaram-se assintomáticos (p=0,023) (Tabela 4) e sem predileção por faixa etária (Tabela 2). O fibroma ameloblástico e o cementoblastoma representaram cada qual 1,7% e o tumor odontogênico epitelial calcificante (TOEC) constituiu 2% dos tumores odontogênicos neste estudo (Tabela 2). O cementoblastoma apresentou-se mais freqüente no gênero feminino (75%) (Tabela 1), sendo no gênero masculino mais comum o fibroma ameloblástico (75%) (Tabela 1) e o TOEC (60%) (Tabela 1). No presente estudo, estas lesões foram mais freqüentes na mandíbula (Tabela 3), contrariando alguns achados onde estas lesões estavam mais presentes na maxila 13. Lesões como tumor odontogênico escamoso e fibro-odontoma ameloblástico foram representadas por um único caso, sendo este diagnosticado em pacientes do gênero feminino, apresentando sintomatologia dolorosa e localizada na mandíbula. A baixa freqüência destes neoplasmas em outros estudos 3,7,12,14 foi também encontrada neste trabalho, confirmando a raridade destes tumores. É de fundamental importância que os perfis epidemiológicos sejam traçados, a fim de se obter um maior conhecimento sobre o comportamento destes tumores, otimizando, assim, o seu diagnóstico e tratamento. CONCLUSÃO Os tumores odontogênicos parecem ter discreta predileção pelo gênero feminino e pelas primeiras décadas de vida, sendo mais freqüentes na mandíbula e, na maioria dos casos assintomáticos. Foi observada diferença estatisticamente significante quando correlacionadas às variáveis tipo histológico e sintomatologia. No Brasil e, especificamente neste estudo, em uma região onde a miscigenação da população é significante, algumas diferenças foram observadas em relação a estudos de outras partes do mundo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Buchner A, Merrell PW, Carpenter WM. 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