Eckhart Tolle em comunhão com a vida Seleções inspiradoras de Um novo mundo O despertar de uma nova consciência
SUMÁRIO Introdução, 5 1 Para além do pensamento, 7 2 O poder do momento presente, 23 3 Quem somos nós?, 37 4 Despertar, 53 5 Espaço interior, 67 6 Nosso propósito de vida, 83 7 Tornar-se presente, 95 8 Consciência, 111 9 O corpo interior, 121 10 Em comunhão com a vida, 129 Notas, 142
INTRODUÇÃO Para esta edição complementar de Um novo mundo O despertar de uma nova consciência, foram selecionadas passagens do livro original que me pareceram especialmente adequadas a uma leitura inspiradora ou meditativa. Por essa razão, recomendo que este livro não seja lido de uma só vez, do início ao fim. Seria muito mais proveitoso que você lesse, no máximo, um capítulo de cada vez, parando para reler as passagens que suscitassem uma resposta interior. Então, deixe que as palavras penetrem sua mente e sinta a verdade para a qual elas apontam. Essa verdade já está naturalmente dentro de você. Outra possibilidade é abrir o livro de modo aleatório e ler uma página ou apenas um trecho, deixando que as palavras indiquem o caminho para uma dimensão mais profunda, que está além do pensamento. A verdade para a qual essas palavras conduzem a atemporalidade da consciência não pode ser alcançada por meio do pensamento discursivo e do entendimento conceitual. Este livro não é uma versão condensada de Um novo mundo. Embora contenha algumas das mais importantes e poderosas orientações do livro original, ele fala pouco sobre o ego e não se detém na questão do corpo 5
de dor. Portanto, se você quiser compreender esses estados mentais-emocionais que impedem o despertar de uma nova consciência e, dessa maneira, ser capaz de identificá-los, deverá ler o livro original. Este livro será mais útil para aqueles que já leram Um novo mundo quem sabe mais de uma vez, reagiram de forma profunda e passaram por algum tipo de transformação interior graças a ele. Seu conteúdo não tem muita importância. Você deverá lê-lo não somente para aprender algo novo, mas para se aprofundar, tornar-se mais presente e despertar do fluxo incessante e compulsivo do pensamento. Se não houver um reconhecimento interior, por mais distante ou fugaz que seja, daquilo para o qual as palavras apontam, então elas perderão o sentido e não passarão de conceitos abstratos. Por outro lado, caso esse reconhecimento ocorra, isso significa que o despertar da consciência já começou dentro de você e as palavras o ajudarão a trazê-lo à tona. Se algum trecho deste livro lhe parecer especialmente poderoso, quero que você entenda que o que está sentindo é o seu poder espiritual, ou seja, aquilo que você é na sua essência. Somente o Espírito pode reconhecer o Espírito. 6
Capítulo 1 B PARA ALÉM DO PENSAMENTO
Pensar não é mais do que um minúsculo aspecto da totalidade da consciência, do que somos. O que está surgindo agora não é um sistema inédito de crenças, não é uma religião diferente, não é uma ideologia espiritual nem uma mitologia. Estamos chegando ao fim não só das mitologias como também das ideologias e dos sistemas de crenças. A mudança é mais profunda do que o conteúdo da nossa mente, do que nossos pensamentos. Na verdade, na essência da nova cons ciência está a transcendência do pensamento, a recém-descoberta capacidade de nos elevarmos para além dele, de compreendermos uma dimensão dentro de nós que é infinitamente mais vasta do que ele. Já não extraímos nossa identidade, o sentido de quem somos, do fluxo incessante do pensamento, que, na antiga cons ciência, considerávamos ser nós mesmos. Para o indivíduo é uma libertação saber que ele não é aquela voz dentro da cabeça. Quem ele é então? É aquele que compreende isso. A consciência que é anterior ao pensamento, ao espaço em que ele ou a emoção, ou a percepção sensorial acontece. 8
A causa primária da infelicidade nunca é a situação, mas nossos pensamentos sobre ela. Portanto, tome consciência dos pensamentos que lhe ocorrem. Separe-os da situação, que é sempre neutra ela é como é. Existe a circunstância ou o fato, e você terá seus pensamentos a respeito deles. Em vez de criar histórias, atenha -se aos fatos. Por exemplo: Estou arruinado é uma história. Ela limita a pessoa e a impede de tomar uma providência eficaz. Tenho 50 centavos na minha conta é um fato. Encarar os fatos é sempre fortalecedor. Tome consciência de que, na maioria das vezes, suas emoções são criadas pelo que você pensa observe essa ligação. Em vez de ser seus pensamentos e suas emoções, seja a consciência por trás deles. 9
Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus, diz a Bíblia. 1 O que é a sabedoria deste mundo? A agitação do pensamento e o sentido que é definido exclusivamente por ele. O pensamento isola situações ou acontecimentos e os chama de bons ou maus, como se eles tivessem uma existência separada. Por meio da dependência excessiva do pensamento, a realidade se torna fragmentada. Esse fracionamento é uma ilusão, que no entanto parece muito real enquanto permanecemos presos a ela. O universo, porém, é um todo indivisível onde todas as coisas estão interconectadas, onde nada existe de modo independente. A profunda interligação de todos os eventos e de todas as coisas deixa implícito que os rótulos mentais de bom e mau são, em última análise, ilusórios. Eles sempre pressupõem uma perspectiva limitada e, assim, são verdadeiros apenas tempora riamente e de modo relativo. 10
Não há eventos casuais, assim como as coisas e os fatos não existem por e para si mesmos de modo isolado. Os átomos que constituem nosso corpo foram forjados nas estrelas, enquanto as causas do menor dos eventos são praticamente infinitas e estão ligadas ao todo de maneiras incompreen síveis. Se quiséssemos encontrar o motivo de um acontecimento, teríamos que percorrer o caminho de volta até o começo da criação. O cosmo não é caótico. A própria palavra cosmo signi fica ordem. Mas essa não é uma ordem que a mente humana possa chegar a entender, embora consiga ter um vislumbre dela. 11
Quando vamos a uma floresta que não sofreu interferência do homem, nossa mente pensante vê apenas desordem e caos ao nosso redor. Ela não é capaz nem mesmo de diferenciar o que é vida (bom) do que é morte (mau), uma vez que, por toda parte, a nova vida cresce a partir da matéria putrefata e em decomposição. Apenas se nos mantivermos silenciosos o bastante internamente e o ruído do pensamento ceder é que poderemos tomar consciência de que existe uma harmonia oculta ali, uma sacralidade, uma ordem superior em que tudo tem seu lugar perfeito e não poderia ser outra coisa a não ser o que é, da maneira como é. 12
A mente sente-se mais à vontade num parque paisagístico porque ele foi planejado pelo pensamento, não cresceu orga nicamente. No parque existe uma ordem que a mente é capaz de entender. Na floresta há uma ordem incompreensível que, para o pensamento, se parece com o caos. Está além das categorias mentais de bom e mau. Não conseguimos apreendê-la por meio do pensamento. No entanto, podemos senti-la quando o deixamos de lado, quando ficamos silenciosos e atentos e não tentamos entender nem explicar. Só então estamos aptos a tomar consciência da sa cralidade da floresta. Tão logo sentimos essa harmonia oculta, constatamos que não estamos separados dela e, nesse momento, nos tornamos um participante consciente dessa sacralidade. Dessa maneira, a natureza pode nos ajudar a retomar o alinha mento com a unicidade da vida. Esta é a realidade da maior parte das pessoas: tão logo alguma coisa é percebida, ela é nomeada, interpretada, comparada com outra coisa qualquer, apreciada, detestada ou chamada de boa ou má pelo eu-fantasma, o ego. Essas pessoas estão aprisionadas nas formas de pensamento, na consciência do objeto. 13
Ninguém desperta espiritualmente enquanto não interrompe o processo compulsivo e inconsciente de nomear ou, pelo menos, até que tome consciência dele e assim seja capaz de observá-lo enquanto ocorre. É por meio desse nomear constante que o ego permanece em atividade como mente não observada. Sempre que ele para, e até mesmo quando apenas nos tornamos conscientes dele, há lugar para o espaço interior, e então deixamos de ser possuídos pela mente. 14
Escolha um objeto próximo a você uma caneta, uma xícara, uma planta e examine-o visualmente, olhe para ele com grande interesse, quase com curiosidade. Evite itens com fortes associações pessoais que o façam se lembrar do passado, como onde os comprou, de quem os ganhou, etc. Deixe de lado também tudo o que tenha algo escrito, como um livro ou uma garrafa. Isso pode estimular o pensamento. Sem fazer esforço, relaxado mas alerta, dedique total atenção ao objeto, a cada detalhe dele. Se surgirem pensamentos, não se envolva com eles. Não é neles que você está interessado, e sim no ato da percepção em si. Você consegue retirar o pensamento de dentro da percepção? É capaz de observar sem que a voz na sua cabeça faça comentários, tire conclusões ou tente descobrir alguma coisa? Depois de uns dois minutos, deixe seu olhar vagar pelo ambiente, com sua atenção alerta iluminando cada coisa sobre a qual ela pousar. Depois ouça os sons que possam estar presentes. Faça isso da mesma maneira como olhou para as coisas ao seu redor. Talvez alguns sons sejam naturais água, vento, pássaros, enquanto outros serão artificiais. Alguns podem ser agradáveis, outros, desagradáveis. No entanto, não faça diferença entre bons e maus. Deixe cada som ser como ele é, não o interprete. O segredo é a atenção relaxada, porém alerta. 15
Quando somos capazes de perceber sem interpretar ou rotular mentalmente, ou seja, sem acrescentar o pensamento às percepções, conseguimos sentir de fato a interconexão mais profunda sob a percepção da aparente separação das coisas. 16
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