NOTAS CIENTÍFICAS Cadastramento fitossociológico de plantas daninhas na cultura de girassol (1)

Documentos relacionados
LEVANTAMENTO DE PLANTAS DANINHAS EM REGIÕES PRODUTORAS DE MILHO E SOJA NOS ESTADOS DE GOIÁS E MINAS GERAIS

Identificação de Espécies de Plantas Daninhas

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Soja Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Documentos 274

Documentos. ISSN Dezembro, Levantamento de Plantas Daninhas em Regiões Produtoras de Milho e Soja nos Estados de Goiás e Minas Gerais

Controle de plantas daninhas e persistência de herbicidas de solo na cultura do girassol ( )

SISTEMÁTICA DE DICOTILEDÔNEAS

SISTEMÁTICA DE DICOTILEDÔNEAS

SISTEMÁTICA DAS PLANTAS DANINHAS DICOTILEDÔNEAS. Características importantes para identificação de seedlings de dicotiledôneas:

LEVANTAMENTO DA FLORA INFESTANTE NO ALGODOEIRO EM CAMPO GRANDE - MS

Acabar com o mato sem restrição não é mais coisa do outro mundo.

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DAS PLANTAS DANINHAS NA PRÉ-COLHETA DA CULTURA DO SORGO GRANIFERO EM UBERABA/MG

Manejo de Plantas Daninhas

DINÂMICA POPULACIONAL DE PLANTAS DANINHAS EM ÁREAS COM SORGO SACARINO E GRANÍFERO COM DIFERENTES ESPAÇAMENTOS E DENSIDADES DE SEMEADURA

RESPOSTA DE DOSES DE INDAZIFLAM 500 SC NO CONTROLE DAS PRINCIPAIS PLANTAS DANINHAS INFESTANTES DOS CAFEZAIS.

ESTUDO FITOSSOCIOLÓGICO DE PLANTAS DANINHAS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE MILHO NO ESTADO DE MINAS GERAIS

3/6/2012 SISTEMÁTICA DE DICOTILEDÔNEAS SISTEMÁTICA DE DICOTILEDÔNEAS. Formato da folha e/ou cotilédone. Arranjo foliar no caule alternado oposto

Controle Plantas daninhas em Girassol. Elifas Nunes de Alcântara

Produção Integrada da Batata

CARACTERIZAÇÃO FLORÍSTICA DE BANCOS DE SEMENTES EM SISTEMAS SOLTEIROS E INTEGRADOS DE PRODUÇÃO

Prof. Dra. Núbia M. Correia Departamento do Fitossanidade FCAV/UNESP-Campus de Jaboticabal

FITOSSOCIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS HERBÁCEAS DURANTE O PERÍODO SECO NO PARQUE FLORESTAL DE NOVA PONTE/MG

FITOSSOCIOLOGIA DE PLANTAS DANINHAS HERBÁCEAS DURANTE O PERÍODO SECO NO PARQUE FLORESTAL DE NOVA PONTE/MG

Referências para próxima aula (banco de sementes)

CARACTERIZAÇÃO FLORÍSTICA DE BANCOS DE SEMENTES EM SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUÇÃO COM DIFERENTES NÍVEIS DE SOMBREAMENTO

Levantamento florístico de plantas daninhas nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Tocantins e Goiás.

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO FEIJÃO-CAUPI NO AGRESTE ALAGOANO. Triângulo Mineiro Campus Uberlândia

Fitossociologia de plantas espontâneas em sistema de plantio direto

BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS EM ÁREAS DE CULTIVO DE TOMATEIRO INDUSTRIAL EM GOIÁS

Competição Interespecífica entre Espécimes de Milho e Joá Um Ensaio Substitutivo.

Principais ervas daninhas nos estados do Maranhão e Piauí. XXX Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas. 23/08/2016.

1. Objetivos da disciplina. 2. Programa da disciplina. 3. Cronograma das Aulas (T = aula teórica e P = aula prática)

1. Objetivos da disciplina. 2. Programa da disciplina. 3. Cronograma das Aulas (T = aula teórica e P = aula prática)

LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA MANDIOCA NO MUNICÍPIO DE POMPÉIA SP

Controle de Plantas Daninhas. Manejo das Plantas Daninhas Aula 15 e 16: 07 e 13/05/2014

BULA ATRAZINA 500 SC ALAMOS

Departamento de Produção Vegetal Disciplina: LPV Controle de Plantas Daninhas - 1 O Semestre de 2013

Separação e Identificação de Sementes de Plantas Não Cultivadas ou Espontâneas em Áreas Agrícolas

EFEITO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA EM CAPIM-TANZÂNIA IRRIGADO NA FITOSSOCIOLOGIA DA COMUNIDADE VEGETAL INFESTANTE

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ"

SISTEMÁTICA DE EUDICOTILEDONEAS PARTE I

LEVANTAMENTO DE PLANTAS INFESTANTES EM LAVOURAS DE MILHO SAFRINHA NO ESTADO DE SÃO PAULO 1

19/02/ Aulas práticas e Herbários 2 - Sistemática das monocotiledôneas

Resistência e tolerância. Plantas daninhas de difícil controle com glifosato

14/02/2016. Aula Prática Sistemática das plantas daninhas: monocotiledôneas. 1 - Atividades Práticas e Herbários 2 - Sistemática das Monocotiledôneas

Levantamento Florístico de Plantas Daninhas em Lavoura de Milho Cultivada no Cerrado de Goiás

1. Objetivos da disciplina. 2. Programa da disciplina. 3. Cronograma das Aulas (T = aula teórica e P = aula prática)

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGIO DE PLANTAS DANINHAS EM ÁREA PREPARADA PARA PLANTIO DE CEBOLA EM GUARAPUAVA/PR

9. CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

RELATÓRIO DO PRODUTO

Manejo de Plantas Daninhas. Saul Carvalho

Circular. Técnica. Manejo de Plantas Daninhas na Cultura do Algodoeiro. Campina Grande, PB Agosto, 2006

USO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO PARA O MANEJO DE Rhynchelytrum repens

Manejo de plantas daninhas na cultura de cana-de-açúcar

A Cultura da Cana-de-Açúcar

Controle de plantas daninhas

3/6/ Aulas práticas e Herbários 2 - Sistemática das monocotiledôneas

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE CAMPUS APODI. Prof.ª M. Sc. Hélida Campos de Mesquita.

CARACTERIZAÇÃO DO BANCO DE SEMENTES DE ÁREAS SOB SISTEMAS DE PREPARO DE SOLOS EM DOURADOS, MS 1

ESTUDO FITOSSOCIOLÓGICO DE PLANTAS DANINHAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE ROTAÇÃO DE CULTURAS

UM PROGRAMA COMPLETO PARA CONTROLAR AS DANINHAS RESISTENTES.

Classificação e Mecanismos de Sobrevivência e Disseminação das Plantas Daninhas. Prof. Dr. Pedro J. Christoffoleti

INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO SORGO SACARINO

SISTEMAS DE CULTIVO NO CERRADO E DINÂMICA DE POPULAÇÕES DE PLANTAS DANINHAS 1

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DAS COMUNIDADES DE PLANTAS INFESTANTES EM ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ARROZ IRRIGADO CULTIVADO

Você de olho no controle e na produtividade.

3/6/2012. Plantas Daninhas. Referências para próxima aula (banco de sementes) Cultura suscetível. Banco de sementes. Condições favoráveis

RESISTÊNCIA A HERBICIDAS NO BRASIL. Leandro Vargas Dirceu Agostinetto Décio Karam Dionisio Gazziero Fernando Adegas

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DE PLANTAS DANINHAS EM CALÇADAS DO MUNICÍPIO DE PARAGUAÇU PAULISTA-SP 1

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DE PLANTAS INFESTANTES NA ÁREA EXPERIMENTAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS SUBMETIDA A DIFERENTES CULTIVOS

INCIDÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM LAVOURAS DE ALGODÃO SOB SISTEMAS DE PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL NA CONDIÇÃO DE CERRADO

Períodos de interferência de plantas daninhas na cultura do crambe cultivado em Rio Verde, GO

Vitória da Conquista, 10 a 12 de Maio de 2017

Ocorrência de plantas daninhas em lavouras de café 'Conilon' 1. em Ouro Preto do Oeste, Rondônia

EFEITO DA PRESENÇA DE Brachiaria ruziziensis EM CONSÓRCIO COM MILHO (Zea mays) NA SUPRESSÃO DE PLANTAS DANINHAS

SISTEMÁTICA DE MONOCOTILEDONEAS

PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO SORGO 1

DETERMINACAO DA TEMPERATURA BASE (Tb) PARA ESTUDO DA EXIGENCIA TERMICA DE Digitaria insularis

LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO DE PLANTAS DANINHAS EM CULTIVO DE BANANA IRRIGADA PHYTOSOCIOLOGICAL SURVEY OF WEENDS IN BANANA

12º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 03 de agosto de 2018 Campinas, São Paulo ISBN

SISTEMÁTICA DE MONOCOTILEDÔNEAS. Prática - 1ª Semana

Aulas práticas e Herbários Sistemática das monocotiledôneas

ESPÉCIES VEGETAIS PARA COBERTURA DE SOLO E SEUS EFEITOS NA INCIDÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO ALGODOEIRO 1

AULA FINAL / PARTE 2. Gil Miguel de Sousa Câmara Professor Associado

SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE MILHO SAFRINHA EM GOIÁS

149 ISSN Sete Lagoas, MG Dezembro, 2007

RELATÓRIO DO PRODUTO

Indicações Registradas

CIRCULAR TÉCNICA. Levantamento de plantas daninhas com resistência a herbicidas em áreas algodoeiras de Mato Grosso INTRODUÇÃO

DMA 806 BR VERIFICAR AS RESTRIÇÕES CONSTANTES NA LISTA DE AGROTÓXICOS DO ESTADO DO PARANÁ

19/11/ :32 1

PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO ALGODOEIRO (Gossypium hirsutum) 1

MILHO TRANSGENICO E MANEJO DE PLANTAS DANINHAS EM MILHO. Décio Karam 1, Dionísio Luís Pisa Gazziero 2, Leandro Vargas 3, Alexandre Ferreira da Silva 4

Novos conceitos de manejo de plantas daninhas na cultura do feijoeiro

Amaranthus palmeri: novo desafio para a agricultura do Brasil.

Indicações Registradas

Dinâmica populacional de plantas daninhas em cultivares de alface produzidas no verão em Seropédica - RJ

SISTEMÁTICA DE MONOCOTILEDÔNEAS. Prática - 1ª Semana

DISTRIBUIÇÃO DE PLANTAS DANINHAS EM CULTIVO DE MILHO SAFRINHA, EM MATO GROSSO DO SUL

14 AVALIAÇÃO DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES NA

MATOCOMPETIÇÃO EM MILHO SAFRINHA

Transcrição:

Cadastramento fitossociológico de plantas daninhas 651 NOTAS CIENTÍFICAS Cadastramento fitossociológico de plantas daninhas na cultura de girassol (1) Alexandre Magno Brighenti (2), Cesar de Castro (2), Dionísio Luiz Pisa Gazziero (2), Fernando Storniolo Adegas (3) e Elemar Voll (2) Resumo O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das plantas daninhas infestantes na pré-colheita da cultura de girassol em lavouras dos municípios do sudoeste goiano (Chapadão do Céu, Jataí e Montividiu) e em Chapadão do Sul, MS. Foram amostradas, no período de maio a junho de 2002, 51 propriedades dos quatro municípios, totalizando uma área de 583 m 2. As espécies daninhas foram identificadas e contadas mediante a aplicação de um quadrado de 1,0x1,0 m, colocado ao acaso dentro da área ocupada pelas lavouras. Foram obtidos os valores de freqüência, densidade, abundância e índice de importância relativa. Plantas voluntárias de soja e de milho fazem parte da flora daninha infestante de lavouras de girassol dessa região. As famílias Poaceae, Asteraceae e Euphorbiaceae são as que apresentam maior número de espécies. As principais plantas daninhas infestantes na região são, em ordem decrescente, Ageratum conyzoides, Chamaesyce hirta, Cenchrus echinatus, Bidens sp., Euphorbia heterophylla e Commelina benghalensis. Termos para indexação: Helianthus annuus, plantas voluntárias, Glycine max, Zea mays, germinação na pré-colheita. Phytosociological census of weeds in the sunflower crop Abstract The objective of this work was to survey the weeds in the preharvest of the sunflower crop in growers field of the southwest regions of Goiás State (Chapadão do Céu, Jataí and Montividiu) and Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul State, Brazil. Fifty one farms were evaluated, during the period of May to June, 2002, in a total of 583 m 2 of area. The weeds were identified and counted inside a square (1.0x1.0 m), applied in each area, in order to determine the frequency, density, abundance and relative importance. Volunteer soybean (Glycine max) and corn (Zea mays) are part of the weed species in sunflower crop in the area. The botanical families Poaceae, Asteraceae and Euphorbiaceae present larger number of species. The main weeds found in the area are, in decreasing order, Ageratum conyzoides, Chamaesyce hirta, Cenchrus echinatus, Bidens sp., Euphorbia heterophylla and Commelina benghalensis. Index terms: Helianthus annuus, volunteer plants, Glycine max, Zea mays, preharvest germination. (1) Aceito para publicação em 4 de fevereiro de 2003. (2) Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Soja, Caixa Postal 231, CEP 86001-970 Londrina, PR. E-mail: brighent@cnpso.embrapa.br, ccastro@cnpso.embrapa.br, gazziero@cnpso.embrapa.br, voll@cnpso.embrapa.br (3) Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, Caixa Postal 763, CEP 86001-970 Londrina, PR. E-mail: adegas@cnpso.embrapa.br

652 A. M. Brighenti et al. A planta de girassol (Helianthus annuus) é originária da América do Norte e cultivada em grandes áreas na Rússia, Argentina, Índia, Ucrânia, China e Estados Unidos. Seu cultivo tem como objetivo principal a extração de óleo, cuja alta concentração de ácidos graxos insaturados o torna apropriado ao consumo humano. É utilizado na alimentação animal, como farelo ou silagem, e apresenta teor de proteína mais elevado que o do milho. No Brasil, a cultura vem se expandindo principalmente na região dos Cerrados, como uma opção para o cultivo na época de safrinha. Com a expansão da cultura, os problemas com plantas daninhas têm aumentado significativamente e perdas de 23% a 70% podem ocorrer no rendimento de grãos, em razão da presença de espécies do tipo monocotiledôneas e dicotiledôneas (Vidal & Merotto Júnior, 2001). Geralmente, as pesquisas relacionadas ao controle químico de plantas daninhas mencionam as principais espécies e se foram ou não controladas pelo herbicida. Entretanto, são raros os trabalhos que apresentam a análise quantitativa de plantas daninhas ocorrentes nas principais culturas. Trabalhos dessa natureza foram realizados com café (Laca-Buendia & Brandão, 1994) e soja (Saturnino & Rocha, 1993; Laca-Buendia et al., 1995). Para se estabelecerem métodos adequados de controle, é importante que sejam feitos levantamentos das plantas daninhas presentes, pois um mesmo herbicida não apresenta espectro de ação suficiente para controlar todas as espécies existentes na área a ser cultivada. O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das plantas daninhas infestantes na pré-colheita da cultura de girassol em lavouras dos municípios do sudoeste goiano (Chapadão do Céu, Jataí e Montividiu) e Chapadão do Sul, MS. Os levantamentos foram realizados de maio a junho de 2002. Foi aplicado o método do quadrado inventário ou censo da população vegetal (Braun-Blanquet, 1950), que se baseia na utilização de um quadrado de 1,0x1,0 m, colocado ao acaso no interior das lavouras. O número de propriedades e a área amostrada por município foram, respectivamente: 17 e 208 m 2 em Chapadão do Céu; 11 e 115 m² em Jataí; 15 e 150 m² em Montividiu; e 8 e 110 m² em Chapadão do Sul. As plantas daninhas presentes foram identificadas por espécie e contadas. Posteriormente, foram calculados a freqüência, a freqüência relativa, a densidade, a densidade relativa, a abundância, a abundância relativa e o índice de importância relativa. Freqüência = n o de quadrados que contém a espécie n o total de quadrados obtidos (área total); Freqüência relativa = 100 x freqüência da espécie freqüência total de todas as espécies; = n o total de indivíduos por espécie n o total de quadrados obtidos (área total); relativa = 100 x densidade da espécie densidade total de todas as espécies; Abundância = n o total de indivíduos por espécie n o total de quadrados que contém a espécie; Abundância relativa = 100 x abundância da espécie abundância total de todas as espécies;

Cadastramento fitossociológico de plantas daninhas 653 Índice de importância relativa = freqüência relativa + densidade relativa + abundância relativa. Foram identificadas 14 famílias e 42 espécies e as famílias que apresentaram maior número de espécies foram Poaceae, com 11 espécies, seguida de Asteraceae, com oito espécies e Euphorbiaceae, com seis espécies (Tabela 1). Tabela 1. Relação de plantas daninhas, distribuídas por família e espécie, ocorrentes em lavouras de girassol em três municípios do sudoeste do Estado de Goiás (Chapadão do Céu, Jataí e Montividiu) e Chapadão do Sul, MS. Nome científico Poaceae Cenchrus echinatus Digitaria sp. Echinochloa sp. Eleusine indica Rhynchelytrum repens Digitaria insularis Panicum maximum Brachiaria decumbens Zea mays Pennisetum setosum Brachiaria plantaginea Asteraceae Ageratum conyzoides Bidens sp. Tridax procumbens Conyza bonariensis Acanthospermum australe Emilia sonchifolia Acanthospermum hispidum Melampodium perfoliatum Euphorbiaceae Chamaesyce hirta Euphorbia heterophylla Phyllanthus tenellus Chamaesyce hyssopifolia Ricinus communis Croton glandulosus Amaranthaceae Amaranthus sp. Alternanthera tenella Commelinaceae Commelina benghalensis Convolvulaceae Ipomoea sp. Cyperaceae Cyperus sp. Portulacaceae Portulaca oleracea Brassicaceae Raphanus raphanistrum Lamiaceae Leucas martinicensis Leonotis nepetifolia Malvaceae Sida rhombifolia Rubiaceae Richardia brasiliensis Spermacoce latifolia Fabaceae Glycine max Desmodium tortuosum Senna obtusifolia Solanaceae Solanum americanum Nicandra physaloides Nome comum Capim-carrapicho, roseta, timbete Capim-colchão, milhã Capim-arroz, capituva Capim-pé-de-galinha, pé-de-galinha Capim-favorito, favorito Capim-amargoso, capim-açu, capim-flecha Capim-colonião, capim-guiné Capim-braquiária Milho-voluntário Capim-custódio Capim-marmelada Mentrasto, erva-de-são-joão Picão, picão-preto Erva-de-touro Buva, voadeira Carrapicho-rasteiro, carrapicho-de-carneiro Falsa serralha, pincel, bela-emília, brocha Carrapicho-de-carneiro, espinho-de-carneiro Estrelinha Erva-de-santa-luzia, burra leiteira Amendoim-bravo, leiteiro, leiteira Quebra-pedra, arrebenta-pedra Erva-andorinha, burra-leiteira Mamona, mamoneira Gervão-branco, gervão Caruru, bredo Apaga-fogo Trapoeraba, andaca, maria-mole Corda-de-viola, corriola, campainha Tiririca, junça, três-quinas, junquinho Beldroega, bredo-de-porco Nabo, nabiça, rabanete-de-cavalo Hortelã, mentinha, falsa-menta Cordão-de-frade, cordão-de-são-francisco Guaxuma Poaia, poaia-branca Erva-quente, poaia-do-campo Soja-voluntária Desmódio, carrapicho-beiço-de-boi Fedegoso, mata-pasto-liso Maria-pretinha, erva-moura, caraxixá Joá-de-capote

654 A. M. Brighenti et al. As principais plantas daninhas ocorrentes na área total abrangida pelos quatro municípios encontram-se na Tabela 2. As principais espécies encontradas na região foram Ageratum conyzoides, com 6,62 plantas/m², 0,43 de freqüência, 15,08 de abundância e 38,84% de índice de importância; Chamaesyce hirta, com 5,84 plantas/m², 0,69 de freqüência, 8,37 de abundância e 38,46% de índice de importância; Cenchrus echinatus, com 5,82 plantas/m², 0,29 de freqüência, 19,52 de abundância e 35,80% de índice de importância; Bidens sp., com 3,50 plantas/m², 0,51 de freqüência, 6,85 de abundância e 26,21% de índice de importância; Euphorbia heterophylla, com 2,32 plantas/m², 0,29 de freqüência, 7,87 de abundância e 18,32% de índice de importância e Commelina benghalensis, com 1,50 plantas/m², 0,30 de freqüência, 4,88 de abundância e 14,36% de índice de importância. Houve predominância de espécies dicotiledôneas em relação às monocotiledôneas em todos os municípios avaliados. Esse fato dificulta o controle químico das plantas daninhas em girassol, pois no Brasil existem atualmente apenas três herbicidas registrados para essa cultura (trifluralin, sethoxydim e alachlor) (Castro et al., 1997). Dos três herbicidas mencionados, o sethoxydim controla plantas daninhas gramíneas, o alachlor tem controle mediano às folhas largas e o trifluralin controla poucas espécies dicotiledôneas, com maior eficiência em espécies gramíneas. Dessa forma, é importante que as espécies dicotiledôneas sejam manejadas em culturas que antecedem o girassol, no intuito de reduzir a produção de sementes e, conseqüentemente, possibilitar menor emergência de espécies daninhas, durante o ciclo dessa cultura. A correta aplicação da dessecação de manejo e o uso de herbicidas pré-emergentes também são práticas aconselháveis. A eficácia e a seletividade de alguns herbicidas como o linuron, o prometrine, o metolachlor, o sulfentrazone, o acetochlor e o oxyfluorfen foram avaliadas em girassol por Brighenti et al. (2000a, 2000b), sendo seletivos para a cultura, dependendo da dose aplicada. Dos produtos mencionados, o acetochlor, o alachlor e o sulfentrazone são eficientes no controle de Cenchrus echinatus e Ageratum conyzoides, e o linuron, o prometrine e o oxyfluorfen controlam Chamaesyce hirta (Rodrigues & Almeida, 1998). O acetochlor e o sulfentrazone controlam Bidens sp. e Euphorbia heterophylla, respectivamente (Brighenti et al., 2000b). O metolachlor, o acetochlor, o alachlor, o linuron, o prometrine e o sulfentrazone controlam Commelina benghalensis (Rodrigues & Almeida, 1998). As colhedoras de soja (Glycine max) e de milho (Zea mays) permitem perdas de grãos durante a colheita, resultando na emergência de plantas voluntárias dessas culturas no girassol semeado a seguir. Esse fato foi verificado pela presença da soja em todos os municípios e do milho em Jataí. No caso da soja, como não existem produtos registrados e eficazes no controle de dicotiledôneas, em pós-emergência do girassol, essas plantas podem competir, dependendo do nível de infestação, com a cultura do girassol. As famílias Poaceae, Asteraceae e Euphorbiaceae são as que apresentam maior número de espécies infestantes, e as principais plantas ocorrentes na região são, em ordem decrescente de importância, A. conyzoides, C. hirta, C. echinatus, Bidens sp., E. heterophylla e C. benghalensis.

Cadastramento fitossociológico de plantas daninhas 655 Tabela 2. Número de quadrados onde a espécie foi encontrada, número de indivíduos, freqüência, freqüência relativa, densidade, densidade relativa, abundância, abundância relativa e índice de importância relativa de espécies daninhas em lavouras de girassol em três municípios do sudoeste do Estado de Goiás (Chapadão do Céu, Jataí e Montividiu) e Chapadão do Sul, MS. Espécie Número de quadrados Número de indivíduos Freqüência Freqüência (plantas/m 2 ) Abundância Abundância Índice de importância Ageratum conyzoides 256 3.862 0,439 9,957 6,624 20,126 15,086 8,752 38,84 Chamaesyce hirta 407 3.410 0,698 15,830 5,849 17,771 8,378 4,861 38,46 Cenchrus echinatus 174 3.397 0,298 6,768 5,827 17,703 19,523 11,326 35,80 Bidens sp. 298 2.042 0,511 11,591 3,503 10,642 6,852 3,975 26,21 Euphorbia heterophylla 172 1.355 0,295 6,690 2,324 7,061 7,878 4,570 18,32 Commelina benghalensis 179 875 0,307 6,962 1,501 4,560 4,888 2,836 14,36 Glycine max 144 864 0,247 5,601 1,482 4,503 6,000 3,481 13,58 Digitaria sp. 92 511 0,158 3,578 0,877 2,663 5,554 3,222 9,46 Ipomoea sp. 130 262 0,223 5,056 0,449 1,365 2,015 1,169 7,59 Leonotis nepetifolia 58 336 0,099 2,256 0,576 1,751 5,793 3,361 7,37 Leucas martinicensis 30 229 0,051 1,167 0,393 1,193 7,633 4,428 6,79 Eleusine indica 76 297 0,130 2,956 0,509 1,548 3,908 2,267 6,77 Sida rhombifolia 74 293 0,127 2,878 0,503 1,527 3,959 2,297 6,70 Echinochloa sp. 5 52 0,009 0,194 0,089 0,271 10,400 6,034 6,50 Alternanthera tenella 70 252 0,120 2,723 0,432 1,313 3,600 2,089 6,12 Rhynchelytrum repens 34 204 0,058 1,322 0,350 1,063 6,000 3,481 5,87 Acanthospermum australe 21 128 0,036 0,817 0,220 0,667 6,095 3,536 5,02 Tridax procumbens 34 156 0,058 1,322 0,268 0,813 4,588 2,662 4,80 Amaranthus sp. 36 159 0,062 1,400 0,273 0,829 4,417 2,562 4,79 Continua...

656 A. M. Brighenti et al. Tabela 2. Continuação. Espécie Número de quadrados Número de indivíduos Freqüência Freqüência (plantas/m 2 ) Abundância Abundância Índice de importância Phyllanthus tenellus 42 123 0,072 1,634 0,211 0,641 2,929 1,699 3,97 Zea mays 4 17 0,007 0,156 0,029 0,089 4,250 2,466 2,71 Cyperus sp. 22 57 0,038 0,856 0,098 0,297 2,591 1,503 2,66 Conyza bonariensis 41 45 0,070 1,595 0,077 0,235 1,098 0,637 2,47 Melampodium perfoliatum 10 30 0,017 0,389 0,051 0,156 3,000 1,740 2,29 Emilia sonchifolia 34 35 0,058 1,322 0,060 0,182 1,029 0,597 2,10 Spermacoce latifolia 19 36 0,033 0,739 0,062 0,188 1,895 1,099 2,03 Digitaria insularis 22 37 0,038 0,856 0,063 0,193 1,682 0,976 2,02 Brachiaria decumbens 12 20 0,021 0,467 0,034 0,104 1,667 0,967 1,54 Richardia brasiliensis 4 9 0,007 0,156 0,015 0,047 2,250 1,305 1,51 Desmodium tortuosum 9 15 0,015 0,350 0,026 0,078 1,667 0,967 1,40 Raphanus raphanistrum 7 12 0,012 0,272 0,021 0,063 1,714 0,995 1,33 Solanum americanum 11 14 0,019 0,428 0,024 0,073 1,273 0,738 1,24 Senna obtusifolia 7 11 0,012 0,272 0,019 0,057 1,571 0,912 1,24 Ricinus communis 1 2 0,002 0,039 0,003 0,010 2,000 1,160 1,21 Nicandra physaloides 7 9 0,012 0,272 0,015 0,047 1,286 0,746 1,07 Croton glandulosus 4 6 0,007 0,156 0,010 0,031 1,500 0,870 1,06 Panicum maximum 5 7 0,009 0,194 0,012 0,036 1,400 0,812 1,04 Acanthospermum hispidum 8 8 0,014 0,311 0,014 0,042 1,000 0,580 0,93 Chamaesyce hyssopifolia 5 5 0,009 0,194 0,009 0,026 1,000 0,580 0,80 Pennisetum setosum 5 5 0,009 0,194 0,009 0,026 1,000 0,580 0,80 Brachiaria plantaginea 1 1 0,002 0,039 0,002 0,005 1,000 0,580 0,62 Portulaca oleracea 1 1 0,002 0,039 0,002 0,005 1,000 0,580 0,62 Total - 19.189 4,410 100,000 32,914 100,000 172,370 100,000 -

Cadastramento fitossociológico de plantas daninhas 657 Referências BRAUN-BLANQUET, J. Sociología vegetal: estudios de las comunidades vegetales. Buenos Aires: Acme Agency, 1950. 444 p. BRIGHENTI, A. M.; FORNAROLLI, D. A.; OLIVEIRA JÚNIOR, R. S.; GAZZIERO, D. L. P.; PINTO, R. A. Seletividade de herbicidas aplicados em condições de pré-emergência na cultura do girassol. Revista Brasileira de Herbicidas, Brasília, v. 1, n. 3, p. 243-247, 2000a. BRIGHENTI, A. M.; GAZZIERO, D. L. P.; OLIVEIRA, M. F.; VOLL, E.; PEREIRA, J. E. Controle químico de plantas daninhas na cultura do girassol em solo de textura argilosa. Revista Brasileira de Herbicidas, Brasília, v. 1, n. 1, p. 85-88, 2000b. CASTRO, C. de; CASTIGLIONI, V. B. R.; BALLA, A.; LEITE, R. M. V. B. de C.; KARAM, D.; MELLO, H. C.; GUEDES, L. C. A.; FARIAS, J. R. B. A cultura do girassol. Londrina: Embrapa-CNPSo, 1997. 36 p. (Circular Técnica, 13). LACA-BUENDIA, J. P.; BRANDÃO, M. Cadastramento e análise quantitativa das plantas daninhas ocorrentes em cafezais localizados em áreas anteriormente ocupadas pela formação cerrado no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Daphne, Belo Horizonte, v. 4, n. 4, p. 71-76, 1994. LACA-BUENDIA, J. P.; BRANDÃO, M.; RAFAEL, J. O. V.; OLIVEIRA, P. Cadastramento fitossociológico de plantas daninhas na pré-colheita da cultura da soja (Glycine max (L.) Merril) no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Minas Gerais, Brasil. Daphne, Belo Horizonte, v. 5, n. 3, p. 84-96, 1995. RODRIGUES, B. N.; ALMEIDA, F. S. Guia de herbicidas. 4. ed. Londrina: Edição dos Autores, 1998. 648 p. SATURNINO, H. M.; ROCHA, B. V. Levantamento e análise quantitativa de plantas daninhas ocorrentes no final do ciclo da soja (Glycine max (L.) Merril), em Felixlândia-MG, 1979. Daphne, Belo Horizonte, v. 3, n. 3, p. 46-51, 1993. VIDAL, R. A.; MEROTTO JÚNIOR, A. Herbicidologia. Porto Alegre: Edição dos Autores, 2001. 152 p.