UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ. Cleber Girardi

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Transcrição:

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Cleber Girardi DIPLOMACIA: ASPECTOS GERAIS, PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES CURITIBA 2011

DIPLOMACIA: ASPECTOS GERAIS, PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES CURITIBA 2011

Cleber Girardi DIPLOMACIA: ASPECTOS GERAIS, PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES Monografia de conclusão de curso apresentado ao curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel. Orientador: Prof. Dr. Wagner Rocha D Angelis CURITIBA 2011

TERMO DE APROVAÇÃO Cleber Girardi DIPLOMACIA: ASPECTOS GERAIS, PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES Esta Monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Juridicas, da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba,... de...de 2011.... Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná Orientador: Prof. Dr. WAGNER ROCHA D ANGELIS Universidade Tuiuti do Paraná Prof. Dr. Universidade Tuiuti do Paraná Prof. Dr. Universidade Tuiuti do Paraná

AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que de alguma forma e a sua maneira ao me ajudarem, tornaram isso possivel, não mencionarei nomes pois trata-se de muitas pessoas e, inclusive algumas delas já não vivem mais.

Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre, poder fazer escolhas. Assim todos nós temos uma escolha, a escolha de fazer o que é certo e tudo ao seu tempo. Afinal porque a pressa quando se constrói para sempre. Eu sou mais rápido que você, sou mais forte que você e com certeza, vou durar muito mais que você. Você pode pensar que eu sou o futuro, mas esta errado, você é o futuro. Se eu pudesse desejar alguma coisa, desejaria ser humano, para saber o que significa, ter sentimentos, ter esperanças, ter angustias, duvidas, amar. Eu posso alcançar a imortalidade, basta não me desgastar, voce também pode alcançar a imortalidade, basta fazer apenas uma coisa notável. Keep Walking Theandroid.com

RESUMO O objeto da presente monografia é traçar, definir o que é a diplomacia, como e quando a carreira diplomática surgiu, mostrando sua história ao longo dos séculos até os dias de hoje, haja vista a relevância do tema. Inicia-se com um breve histórico relatando que ainda na antiguidade, especificamente na Grécia e Roma, o papel da diplomacia já era utilizado, tendo sua ascensão e reconhecimento no Renascimento, sendo que somente no século XV surgiram os primeiros diplomatas residentes na Itália, e desenvolveu-se gradativamente até o século XIX, tornandose plena nos dias de hoje. Esta monografia apresentará quais as funções do pessoal diplomático, como ocorre o ingresso na carreira no Brasil, a origem e a classificação das imunidades, como são constituídas as missões diplomáticas, como ocorre o direito de legação, qual a finalidade e quais os privilégios dos agentes diplomáticos, conforme estabelece a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. Palavras-chave: Diplomacia; Direito Internacional Público; Privilégios e Imunidades da Diplomacia.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 09 2 A DIPLOMACIA NA HISTÓRIA...11 2.1 O INGRESSO NA CARREIRA DIPLOMATICA NO BRASIL...14 2.3 O que é a Diplomacia...15 2.4 Funções e Composição das Missões Diplomáticas...16 3 A PROTEÇÃO DIPLOMÁTICA - IMUNIDADES E PRIVILÉGIOS...22 3.1 TEORIAS DAS IMUNIDADES E PRIVILÉGIOS...25 3.2 Teoria do Caráter Representativo...25 3.3 Teoria da Extraterritorialidade...27 3.4 Teoria do Interesse e da Função...29 4 CLASSIFICAÇÃO DAS IMUNIDADES E PRIVILÉGIOS... 30 5 ASILO DIPLOMÁTICO...39 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...43 ANEXOS...45

9 1 INTRODUÇÃO A diplomacia originou-se em culturas estrangeiras e sempre foi de grande importância. Mesmo na antiguidade respeitava-se a idéia da imunidade, os embaixadores romanos eram respeitados e protegidos, qualquer espécie de violação era tida como uma afronta direta não apenas à pessoa do enviado, mas principalmente a quem o enviou, dando ensejo a uma guerra justificada. Com o passar do tempo, advinda a Idade Média a função de embaixador passou a ser exclusiva dos Chefes de Estado, pois era função destes tratar dos interesses extraterritoriais dos respectivos países, o que levou a uma preocupação ainda maior em se resguardar a pessoa dos agentes diplomáticos por meio do instituto da imunidade. O diplomata é um agente do estado, e neste sentido a imunidade é vista como um atributo dos agentes que representam um estado junto a outro, porém esta visão não é correta, pois a imunidade é exclusiva do estado servindo apenas como uma forma de proteger o agente enviado a cumprir as missões. Constata-se isso ao observarmos quando um agente pratica uma conduta ilícita alheia a sua função e o estado poderá renunciar a sua imunidade colocando-o a disposição da Polícia e do Judiciário. Observado isso, constata-se que os privilégios e as imunidades concedidas aos agentes diplomáticos são nada mais que a exteriorização da política adotada entre os estados, a fim de garantir a inviolabilidade e o sucesso das missões. Por isso, salvo exceções, os diplomatas munidos da imunidade gozam de uma série de benefícios, dentre eles, a imunidade da jurisdição civil e penal, do serviço militar obrigatório, da isenção de impostos, taxas e obrigações

10 públicas. Vale ressaltar que além da isenção de prestações pessoais, o diplomata é munido pela inviolabilidade da sede das missões, de seus bens particulares situados em sua residência, e também os que usa fora dela, como meio de transporte por exemplo, incluindo suas bagagens e correspondências. A palavra diplomacia é originária do grego, escrita como diploun, que traduzida significa dobrar, passaporte, documentação oficial, papel dobrado. A função de representar que a diplomacia exerce, definine-se como o dever e prerrogativa do diplomata de interar-se por todos os meios que lhe são permitidos, das condições e da evolução dos fatos a fim de detalhar todas as possibilidades ao estado que representa. A imunidade diplomática, além de ser uma forma de imunidade legal, é também uma política adotada entre os estados com o único objetivo de garantir a eficiência das missões diplomáticas através da inviolabilidade de seus agentes, conforme o preâmbulo da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, promulgada no Brasil pelo Decreto n 56.435/1965. Ainda, ante as convenções de Viena de 1961 e 1963, sob os auspícios da ONU, firmou-se um texto mais amplo, levando em conta o princípio da reciprocidade, consolidando as normas a fim de tornar a imunidade quase que absoluta frente à legislação de cada País. Buscou-se neste trabalho através da pesquisa e estudo do Direito Internacional Público demonstrar não somente as origens, mas qual o papel desempenhado pela diplomacia, munida pelos privilégios e imunidades os quais são indispensáveis ao seu desempenho nos dias de hoje, frente a globalização.

11 2 A DIPLOMACIA NA HISTÓRIA A diplomacia é uma das profissões mais antigas, constata-se sua existência mesmo em tempos onde não era reconhecida ou chamada como tal, mas o seu papel era desempenhado. A idéia de solidariedade entre os povos custou a firmar-se na consciência da humanidade. O isolamento hostil prevaleceu, inicialmente, como característica geral do comportamento social. Entretanto, procurou o homem romper esse isolamento e estabelecer, mediante regras, relações com outros agrupamentos que viviam sob uma ordem jurídica interna independente. Os povos primitivos, apesar de seu nível elementar de desenvolvimento social, teriam concebido procedimentos costumeiros aplicáveis a situações de guerra, ao estabelecimento da paz, à discussão de regras sobre comércio entre comunidades, bem como o envio de mensageiros que conduziam os negócios e eram reconhecidos como titulares de liberdade de movimento e imunidade pessoal. 1 Desde que os povos se organizaram em sociedade surgiu a necessidade da comunicação e sempre ante o surgimento de uma crise como a iminência de guerra, buscava-se em primeiro lugar por parte do invasor enviar um mensageiro ao povo que se pretendia dominar, alguém incumbido de levar e trazer a informação de uma possível rendição, o que muitas vezes não ocorria devido ao fato do enviado ser morto, o que em tal caso já se sabia qual era a resposta. O resultado desses estudos sobre as origens da diplomacia se assemelham aos de Nicolson 2, segundo o qual grupos primitivos cedo teriam 1 LIMA, Sérgio Eduardo Moreira. Privilégios e Imunidades Diplomáticos. Brasília: Instituto Rio Branco. Fundação Alexandre de Gusmão, 2002, p. 35. 2 NICOLSON, Harold. The Evolution of Diplomatic Method. Westport, Connecticut, Greenwood Press, 1977, p. 2.

12 compreendido que nenhuma negociação poderia chegar a bom termo se os emissários de uma ou outra parte fossem assassinados ao chegar. Assim o primeiro princípio a ser estabelecido com segurânça foi o da imunidade (inviolabilidade) diplomática. (LIMA, p. 35). Com o passar do tempo e evolução da sociedade, criaram-se os Estados, os quais, quando reconhecidos pelos já existentes, passavam a estabelecer relações mútuas, surgindo então de fato a necessidade do reconhecimento da atividade diplomática, sendo que pessoas ligadas diretamente ao governo de cada estado era enviado ao outro, para que fossem discutidos e firmados acordos. Somente no século XV, com o surgimento dos estados Italianos, a diplomacia tornou-se permanentemente reconhecida com a criação do posto de diplomatas residentes. Segundo Sergio Bath: 3 O sistema diplomático clássico desenvolveu-se gradualmente, do século XV ao XIX, chegando a plenitude no século XIX a época por excelêcia da diplomacia tradicional, regulamentada pela Convenção de Viena de 1815. Até então o exercício da diplomacia estava associado à classe aristocrática, um resíduo da ordem monarquica, em que o soberano escolhia um de seus cortesãos para representá-lo junto a outro monarca. Surge um diplomata residente, quando um estado envia um agente diplomático a uma cidade estrangeira na qual irá fixar-se, e tendo nesta cidade residência irá representar seu Estado pelo tempo que for necessário ou até que as relações se rompam. Nos dias de hoje utiliza-se o verbo acreditar, que significa para os 3 BATH, Ségio: O que é Diplomacia, São Paulo: Editora Brasilense, 1989, p. 14.

13 diplomatas credenciar. Em decorrência, fala-se em estado acreditante e estado acreditado, ou seja, o estado acreditante é aquele que envia um agente diplomático para uma missão e o estado acreditado é aquele que recebe o agente diplomático. 4 As mais importantes modificações que ocorreram nas missões diplomáticas foram depois da Segunda Guerra Mundial, onde constatou-se que o trabalho diplomático passou da pessoa do chefe da missão para a própria missão, isso só aconteceu com o estabelecimento das primeiras missões permanentes e a nomeação de secretários no qual a permanência no posto não dependia mais da permanencia do embaixador. 5 Com o aumento das responsabilidades das relações diplomáticas e de suas atribuições aumentou consequentemente também o número de funcionários, devido a política externa dos países estar em constante expansão, surgindo então a necessidade de se criar normas para regular as atividades diplomáticas. Ante tal necessidade foi Celebrado em Viena no dia 18 de abril de 1961, o texto da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, aprovado pelo Decreto Legislativo nº 103, de 1964. O depósito do instrumento brasileiro de ratificação na ONU ocorreu em 25 de março de 1965 e a sua entrada em vigor no Brasil, em 24 de abril de 1965, sendo promulgada pelo Decreto nº 56.435, de 8 de junho de 1965, publicada no Diário Oficial de 11 de junho de 1965. Com a assinatura da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, codificou-se satisfatoriamente o Direito Internacional, garantindo assim melhor eficiência e segurança não só para as missões diplomáticas, mas também aos agentes e todo o pessoal do corpo diplomático, e depois assegurando a estes uma 4 BATH, Ségio: O que é Diplomacia, São Paulo: Editora Brasilense, 1989, p. 15. 5 Em tal sentido, vide SILVA, G.E. do Nascimento: A Missão Diplomática, Rio de Janeiro: Companhia Editora Americana, 1971, p. 25, 26.

14 série de privilégios e imunidades. 2.1 O INGRESSO NA CARREIRA DIPLOMATICA NO BRASIL No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores realiza anualmente, desde 1946, concurso para o ingresso de brasileiros na Carreira de Diplomata, através do Instituto Rio Branco. Com longa tradição, o Itamaraty tornou-se uma instituição respeitada dentro e fora do país. O concurso compreende três fases, sendo a primeira realizada simultaneamente em diversas cidades do país, que consiste em provas escritas. A segunda fase é realizada em Brasília, sendo fornecido aos candidatos transporte, alojamento e alimentação; esta fase consiste em três provas orais e três provas escritas classificatórias. Na terceira fase são realizados exames de sanidade, aptidão física e psíquica. Aprovado no Concurso de Admissão do Instituto Rio Branco (IRBR), o candidato entrará para a carreira diplomática como Terceiro-Secretário. As classes seguintes na carreira são: Segundo-Secretário, Primeiro-Secretário Conselheiro, Ministro de Segunda Classe e Ministro de Primeira Classe (Embaixador). Todos os diplomatas têm de ser aprovados no Concurso de Admissão, embora em outros países a forma de ingresso ocorra de outras maneiras. E ao longo de sua carreira realizarão cursos obrigatórios de aperfeiçoamento. A diplomacia brasileira elencou as seguintes atribuições principais aos seus membros, conforme segue: As funções principais de um diplomata são: bem representar o Brasil perante a comunidade de nações; colher as informações necessárias à formulação de nossa política externa; participar de reuniões internacionais e, nelas, negociar em nome do Brasil; assistir as missões no exterior de setores do governo e da sociedade; proteger seus compatriotas; e

15 promover a cultura e os valores de nosso povo. O diplomata será preparado para tratar tendo sempre como ponto de referência os interesses do país de uma série de temas, que vão desde paz e segurânça, normas de comércio e relações econômicas e financeiras até direitos humanos, meio ambiente, tráfico ilícito de drogas, fluxos migratórios, passando, naturalmente, por tudo que diga respeito ao fortalecimento dos laços de amizade e cooperação do Brasil com seus múltiplos parceiros externos. (Ministério das Relações Exteriores, 2009). 2.3 O que é a Diplomacia A diplomacia é um dos instrumentos da política externa de um determinado Estado, simbolizando a consciência geral de que existe uma sociedade internacional, que media o interesse nacional através da identificação dos interesses compartilhados pelas unidades políticas. É uma facilitadora da comunicação entre os líderes políticos dos Estados, reunindo informações relevantes sobre os mesmos em uma atividade de inteligência que é aceita e reconhecida como legítima no cenário internacional. Tal processo visa minimizar as fricções no relacionamento dos estados por meio da utilização das convenções que são um instrumento para estabelecer uma linguagem comum entre todos os envolvidos. É o meio pelo qual os governantes buscam atingir seus objetivos de obter apoio aos seus princípios. E é o processo político mediante o qual as posições políticas externas de um governo são inicialmente sustentadas e logo orientadas para o objetivo de influenciar as posições políticas e a conduta de outros governos. 6 Além do mais, ela engloba o conjunto das atividades dos estados, em suas relações exteriores, independentemente de considerações geográficas ou 6 BATH, Ségio: O que é Diplomacia, São Paulo: Editora Brasilense, 1989, p. 14.

16 temporais ou observada em momento histórico e relativo a uma área geográfica do mundo, conforme explica Soares. 7 No entanto, é necessário ressaltar que diplomacia é diferente de política externa dos Estados, pois a primeira é um dos meios pelo qual o chefe de estado executa e planeja a política externa do Estado, cujo desempenho é incumbido aos agentes diplomáticos. Já a política externa é o próprio chefe de Estado que elabora e a desenvolve. 2.4 Funções e Composição das Missões Diplomáticas No entendimento de Nascimento e Silva, as missões Diplomáticas no cenário nacional destinam-se a manutenção de boas relações entre o Brasil e os Estados em que se acham sediadas, bem como proteger os direitos e os interesses do Brasil e dos brasileiros. 8 É unânime o entendimento dos doutrinadores acerca das funções da Diplomacia, que consiste em: representar, informar e negociar. Neste sentido, Hildebrando Accioly explica que as missões diplomáticas destinam-se a assegurar a manutenção de boas relações entre o Estado representado e os Estados em que se acham sediadas, bem como a proteger os direitos e interesses do respectivo país e de seus nacionais. As funções da missão diplomática de hoje são precisamente as de outrora, como se pode verificar da comparação dos ensinamentos de antigos autores com o previsto na Convenção específica de 1961, no seu artigo 4. Assim, há o direito de representação, ou seja, 7 SOARES, Guido Fernando Silva. Das imunidades de jurisdição e de execução. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 260. 8 SILVA, G.E. do Nascimento: A Missão Diplomática, Rio de Janeiro: Companhia Editora Americana, 1971, p.177.

17 o agente diplomático fala em nome de seu governo com o Estado junto ao qual se acha acreditado e promove relações amistosas bem como o intercâmbio econômico, cultural e científico. Em decorrência do direito de representação, cabe à missão negociar com o Estado acreditado. O diplomata deve proteger os interesses de seu Estado bem como de seus nacionais junto às autoridades do país. De outra parte, o dever de observação consiste em inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes e da evolução dos acontecimentos no Estado acreditado e informar a esse respeito o respectivo governo. A Convenção de Viena ainda salienta que nada impede a missão diplomática de exercer funções consulares, prática esta que vem sendo adotada nas Capitais onde a criação de uma repartição consular não se justifica. 9 Assim estipula o artigo 3 da Convençao de Viena: As funções de uma missão diplomática consistem, entre outras, em: a) representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado; b) proteger no Estado acreditado os interesses do Estado acreditante e se seus nacionais, dentro dos limites permitidos pelo direito internacional; c) negociar com o Governo do Estado acreditado; d) inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes e da evolução dos acontecimentos no Estado acreditado e informar a este respeito o Governo do Estado acreditante; e) promover relações amistosas e desenvolver as relações econômicas, culturais e científicas entre o Estado acreditante e o Estado acreditado. 2. Nenhuma disposição da presente Convenção poderá ser 9 SILVA, Hildebrando Accioly G. E. do Nascimento; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 137-140).

18 interpretada como impedindo o exercício de funções consulares pela Missão diplomática. Ora, representar consiste em um Estado fazer-se presente frente a outro, conforme estipula a alínea a, do artigo 3 da Convenção de Viena: representar o estado acreditante frente ao estado acreditado, por meio do diplomata em cerimônias e eventos internacionais, onde pode realizar a assinatura de tratados e contratos, assim promovendo o país perante os demais, pela promoção cultural, turística e divulgação de produtos nacionais dentre outras formas; tal função é tida pelos doutrinadores como a mais importante e tradicional. A função de informar é também uma atividade básica incumbida ao Diplomata, para trazer ao conhecimento de seu país tudo o que for relevante e que se mostre útil frente aos acontecimentos do estado acreditado, pois tais informações são de cunho fundamental para tomada de decisões do Estado que representa, bem como direcionar investimentos de empresas públicas e privadas. Negociar, por sua vez, é a função continua que o agente diplomático desempenha ao longo da missão diplomática, defendendo os interesses de seu Estado, sendo que uma negociação pode ser não somente bilateral, entre dois estados, mas também multilateral, sempre que os interesses exigirem. Para Nascimento e Silva, as atribuições das Missões diplomáticas brasileiras, resultam de leis, regulamentos, portarias e circulares baixados através dos anos, sendo que as principais se acham consignadas no Manual do Serviço (1971, p. 182).

19 Quanto à composição das Missões Diplomáticas, ressalte-se que a missão diplomática é composta do chefe da missão, dos membros do pessoal diplomático, do pessoal administrativo e técnico e do pessoal de serviço da missão (Convenção de Viena de 1961, art. l, alínea c). Assim, o pessoal diplomático abrange o chefe da missão, Ministro Conselheiro, secretários de embaixada ou de legação e adidos militares e civis. Ademais, a Convenção de Viena ainda se ocupa dos membros das famílias do pessoal das missões e dos criados particulares, que são pessoas do serviço doméstico de um membro da missão que não seja empregado do Estado acreditado. Na escolha e nomeação dos agentes diplomáticos, cada Estado determina as qualidades e condições de idoneidade que devem possuir os seus agentes no exterior, bem como o modo de sua designação. Em muitos países, como no Brasil, o pessoal diplomático constitui um corpo de funcionários de carreira. Em geral, os agentes diplomáticos são nacionais do país que os nomeia. Nada impede, porém, que pertençam a qualquer outra nacionalidade. Em todo caso, a prática internacional desaconselha a escolha de um nacional do Estado junto a cujo governo o nomeado deve servir. A razão disto deriva da dificuldade de se conciliarem os deveres do agente em relação aos dois Estados (o que o escolhe e aquele do qual é nacional e onde vai servir) e das complicações a que sua situação poderá dar lugar. Antes de efetuada a nomeação, o governo que resolve acreditar um agente diplomático junto a outro governo deve solicitar deste a aceitação da pessoa escolhida, ou, antes, deve informar-se confidencialmente, junto a esse outro governo, sobre se tal pessoa será bem recebida como representante diplomático, se ela será, como se costuma dizer, persona grata. A

20 essa consulta, dá-se comumente a designação de pedido de agrément ou de agréation. Ao partir para seu posto, leva o agente diplomático, além de outros documentos, um que o identifica e outro que o acredita. O primeiro é o passaporte diplomático, o segundo, a credencial. Esta última (também designada, freqüentemente, no plural: credenciais) tem geralmente a forma de uma carta de chancelaria, assinada pelo chefe do Estado a que pertence o agente e referendada pelo Ministro das Relações Exteriores. Termina sempre com o pedido de que seja dado crédito a tudo quanto disser o agente em nome de seu governo ou de seu soberano (ACCIOLY, 1985. p. 139 e 140). Assim dispõe o Artigo 1º, da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961: Artigo 1º Para os efeitos da presente Convenção: a) "Chefe de Missão" é a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade; b) "membros da Missão" são o Chefe da Missão e os membros do pessoal da Missão; c) "membros do pessoal da Missão" são os membros do pessoal diplomático, do pessoal administrativo e técnico e do pessoal de serviço da Missão;

21 d) "membros do pessoal diplomático" são os membros do pessoal da Missão que tiverem a qualidade de diplomata; e) "agente diplomático" é o chefe da Missão ou um membro do pessoal diplomático da Missão; f) "membros do pessoal administrativo e técnico" são os membros do pessoal da Missão empregados no serviço administrativo e técnico da Missão; g) "membro do pessoal de serviço" são os membros do pessoal da Missão empregados no serviço doméstico da Missão; h) "criado particular" é a pessoa do serviço doméstico de um membro da Missão que não seja empregado do Estado acreditante; i) "locais da Missão" são os edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da Missão, inclusive a residência do Chefe da Missão. Não existe norma geral quanto a organização interna das Missões Diplomáticas, pois o assunto é de natureza administrativa interna e foge ao controle do direito diplomático. Do ponto de vista internacional, pode-se apenas dizer que a Convenção de Viena admite a possibilidade de a Missão ocupar mais de um local, isto é, que todos os seus serviços não precisam ser obrigatoriamente estabelecidos em um mesmo local. A tendência brasileira é a de instalar a residência do Chefe da Missão e a Chancelaria em prédios distintos. Embora todos os Estados sejam iguais perante o Direito Internacional, a organização das Missões

22 diplomáticas está na dependência de suas responsabilidades e interesses internacionais, pois dentro da organização diplomática de um mesmo país, as funções de suas Missões diplomáticas variarão segundo os objetivos visados no estado acreditado 10. 3 A PROTEÇÃO DIPLOMÁTICA - IMUNIDADES E PRIVILÉGIOS A palavra imunidade se origina do latim immunitas, immunitatis, qualidade de imune, isto é, livre ou isento de encargos, obrigações, ônus ou penas. A imunidade é a prerrogativa outorgada a alguém para que se exima de certas imposições legais em virtude do que não é obrigado a fazer ou a cumprir certos encargos ou obrigações determinados em caráter geral. É no campo das relações internacionais que este conceito goza de maior relevância. A imunidade diplomática consiste na soma de isenções e prerrogativas concedidas aos agentes diplomáticos para assegurar-lhes, no interesse recíproco dos Estados, a independência necessária ao perfeito desempenho de sua missão. A imunidade e os privilégios diplomáticos subtraem certas pessoas à autoridade e à competência jurisdicional do Estado acreditado, logo, considera-se que há imunidade quando alguém não está sujeito a uma norma de Direito interno ou à sua sanção; e que há privilégio quando uma regra especial de Direito interno substitui a norma ordinária. 11 10 SILVA, G.E. do Nascimento: A Missão Diplomática, Rio de Janeiro: Companhia Editora Americana, 1971, p. 119-120. 11 LIMA, Sérgio Eduardo Moreira. Privilégios e Imunidades Diplomáticos. Brasília: Instituto Rio Branco. Fundação Alexandre de Gusmão, 2002. p. 34.

23 Sabemos que os privilégios e as imunidades mesmo na antiguidade já eram usados. Os agentes diplomáticos gozam de tais prerrogativas e imunidades de relevante importância, que lhes são reconhecidas como condições essenciais para o perfeito desempenho de suas respectivas missões. Desde a época remota, foram os enviados diplomáticos cercados de grande respeito e consideração. De tal modo que o direito internacional contemporâneo, admitindo os aludidos privilégios, não faz mais, por assim dizer, do que consagrar uma tradição generalizada. Desde o tempo de Grócio até hoje, muito se tem invocado como fundamento das prerrogativas diplomáticas, um exemplo é a ficção da extraterritorialidade. A opinião mais corrente, porém, combate semelhante idéia, sustentando, com razão, que a importância das ditas prerrogativas está na real necessidade de se assegurar, aos que delas gozam, a independência necessária para a execução dos seus deveres oficiais; decorrendo, pois, do interesse recíproco dos Estados. 12 Estas prerrogativas desenvolveram-se gradualmente com o passar do tempo tornando-se codificadas e plenas nos dias de hoje pela Conveçao de Viena de 1961. Para que os agentes diplomáticos garantam com eficiência o desempenho de suas funções é indispensável a proteção garantida pelos privilégios, os quais são definidos como prestígio, e, pelas imunidades que são as garantias (MELLO, 1994, p. 1102). E de acordo com a história das instituições diplomáticas, tais privilégios versam sobre a dignidade do diplomata que oficialmente representa um país amigo. Para Sérgio Bath, a isenção da jurisdição local se baseia teoricamente na 12 ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. São Paulo: Saraiva, 1972. p.108.

24 alta dignidade do diplomata, representante oficial de um pais amigo todos queremos tratar da melhor maneira possível os hospedes ilustres que nos visitam (1989, p. 27). O principal objetivo é garantir a liberdade de movimentos e ação que parte do princípio da reciprocidade, sendo garantido devido ao fato de que todos o fazem seguindo esta prerrogativa. Adotada essa premissa, a regra da reciprocidade passa a funcionar assim: cada Estado tende a respeitar os privilégios diplomáticos inscritos na Convenção de Viena por interesse próprio, porque deseja assegurar igual liberdade de movimentos a seus representantes no exterior. Como já mencionado neste trabalho, o gozo de tais privilégios pelos agentes diplomáticos não pertence aos mesmos, nem por eles são beneficiados, mas ao Estado que representam. Assim sendo, o agente não possui a prerrogativa de abrir mão desses privilégios sem autorização prévia do governo pelo qual foi designado e, consequentemente, apenas desse modo poderá ser julgado no Estado acreditante por eventuais infrações a lei local. 13 Existe a imunidade, em toda a situação que alguém não se sujeita a uma determinada norma de Direito ou sanção que é imposta a todos, sendo que quanto ao privilégio, este é constatado frente a existência de uma regra especial de Direito que substitui uma norma ordinária. Assim a imunidade diplomática consiste na soma das isenções e prerrogativas concedidas ao pessoal diplomático a fim de garantir os interesses recíprocos dos Estados envolvidos. 14 Constatamos isso ao verificar a citação inicial do agente diplomático brasileiro que exerce suas funções no estrangeiro, onde o procedimento é 13 BATH, Ségio: Oque é Diplomacia, São Paulo: Editora Brasilense, 1989, p. 27. 14 LIMA, Sérgio Eduardo Moreira. Privilégios e Imunidades Diplomáticos. Brasília: Instituto Rio Branco. Fundação Alexandre de Gusmão, 2002, p. 34.

25 realizado através do Ministério das Relações Exteriores, pois não se pode recorrer às autoridades estrangeiras para que através de carta rogatória efetuem a citação dos referidos agentes diplomáticos, como ocorre via de regra nas demais situações, uma vez que estes possuem o privilégio da extraterritorialidade. Conforme dispõe o artigo 77 do Código Cívil, de 2002, ipsis literis : O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, ao país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve. (CC, art. 77) 3.1 TEORIAS DAS IMUNIDADES E PRIVILÉGIOS Ao longo do tempo a questão das imunidades e privilégios foi muito discutida, com objetivo de se encontrar uma justificativa plausível, o que atualmente é praticamente unânime no entendimento da maioria dos autores. Hoje resume-se em três as principais teorias que fundamentam as imunidades e os privilégios, sendo: teoria do caráter representativo, teoria da extraterritorialidade, e a teoria do interesse e da função. 3.2 Teoria do Caráter Representativo Surgiu entre o período Medieval e a Revolução Francesa, onde os Monarcas e os Príncipes se relacionavam em caráter pessoal, pois todos os

26 enviados eram a personificação de quem os enviou, logo qualquer ofensa ao enviado era considerada ofensa direta ao soberano. Portanto, essa teoria compreende que a imunidade diplomática decorre da extensão da imunidade do soberano. MONTESQUIEU, em O Espírito das Leis (Livro XXVI, cap.xxi), destaca: 15 (...) O Direito das Gentes quer que os príncipes enviem embaixadores, e a razão derivada da natureza das coisas não permite que estes dependam do soberano ante o qual são acreditados, nem de seus tribunais. Eles são a palavra do príncipe que os envia e tal palavra deve ser livre; nenhum obstáculo deve impedir-lhes da ação. Por falar como pessoas independentes, podem muitas vezes desagradar; poderia imputar-lhes crimes se fosse permitido prende-lhes por dívida. Um príncipe, naturalmente altivo, falaria assim pela boca de pessoas sujeitas a temer por tudo. É necessário, portanto, recorrer com respeito aos embaixadores a razões emanadas do Direito das Gentes e não as regras de direito político. Se abusam de seu caráter representativo, se deve dar por terminada sua missão e despedi-lhes; também os pode acusar ante seu amo a fim de que atuem como juízes ou cúmplice. Assim, de acordo com essa teoria, os privilégios e as imunidades diplomáticas têm como fundamento a idéia de que o agente diplomático representaria o soberano e que uma afronta àquele seria considerada como dirigida a este. A doutrina e a prática modernas deixaram de acolher essa tese e a Convenção de Havana sobre Funcionários Diplomáticos, de 02 de fevereiro de 1928, incluiu em seu preâmbulo que os funcionários diplomáticos não representam em caso algum a pessoa do Chefe de Estado, e sim o seu Governo. Há, todavia algumas monarquias que consideram o embaixador representante do soberano, assim como ocorre no caso dos núncios tidos como representantes pessoais do papa. (LIMA, Sérgio Eduardo Moreira, 2002. p.43). Esta teoria caiu em desuso ante o advento da Revolução Francesa, onde ocorreu a destruição da idéia de que o Estado fosse propriedade do seu príncipe 15 Cit., Rev. Jur., Brasília, v. 8, n. 79, p.62-72, jun./jul., 2006

27 ou soberano, bem como o caráter de representação que era personificado ao chefe da mesma hoje não é mais usado, haja vista que o chefe da Missão Diplomática representa o Estado como um todo e não apenas seu governante. 3.3 Teoria da Extraterritorialidade Foi exposta no Século XVII por Hugo Grocio 16. Esta teoria sustenta que o local da embaixada e seus agentes são uma extensão do Estado de origem, assim não estando sujeitos ou submissos à lei local. GROCIO, defendeu que: pelo direito das gentes, um embaixador representa, por uma espécie de ficção, a pessoa de seu senhor, e igualmente, por uma ficção, se considera que se encontra fora do território da potência ante a que exerce suas funções. Assim se depreende que não tenha que observar as leis civis do país estrangeiro onde permanece como embaixador. Esta teoria foi abandonada no século XIX, pelo fato de que ante a ocorrência de crimes comuns nas embaixadas, seria necessário um processo de extradição para possibilitar a entrega do autor do crime, o que na prática não ocorre. Além do que, a teoria está em desacordo com o que prevê o artigo 31 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, pois viola as imunidades conforme dispõe: 1. O agente diplomático gozará da imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e 16 Le droit de la guerre et de la paix. Amzterdam, 1724, livro II, cap. XVIII, p. 540, cit., Rev. Jur., Brasília, v. 8, n. 79, p.62-72, jun./jul., 2006.

28 administrativa, a não ser que se trate de: a) uma ação sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditante para os fins da missão; b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário; c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais. 2. O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha. 3. O agente diplomático não está sujeito a nenhuma medida de execução, a não ser nos casos previstos nas alíneas "a", "b" e "c", do parágrafo 1º deste artigo e desde que a execução possa realizar-se sem afetar a inviolabilidade de sua pessoa ou residência. 4. A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado não o isenta da jurisdição do Estado acreditante Na jurisprudência internacional são encontradas várias decisões de tribunais que rejeitam a teoria da extraterritorialidade. A mais antiga data de 1865, quando a Corte de Cassação da França recusou o pedido de extradição de um cidadão russo que penetrara na Embaixada da Rússia em Paris, tentara assassinar um secretário de mesma e acabara preso no local da missão pela polícia Francesa. O governo russo invocava a extraterritorialidade e arguia a incompetência das

29 autoridades francesas. Na sentença, o tribunal parisiense registrou que a regra da exceção da jurisdição territorial cobria os diplomatas estrangeiros, mas não um estrangeiro sem este caráter, que residia na França, e portanto, estava sujeito às leis francesas; e acrescentou que o local em que o crime fora praticado não podia ser considerado como fora dos limites do território francês. (LIMA, Sérgio Eduardo Moreira, 2002, p. 41. Apud ACCIOLY, Hildebrando, op. cit., p. 466). 3.4 Teoria do Interesse e da Função Esta teoria fundamenta modernamente as imunidades e privilégios, sendo aceita pela maioria dos doutrinadores e consagrada pela jurisprudência, bem como é a teoria adotada pelo Instituto de Direito Internacional. Com base no interesse recíproco dos Estados para o melhor desempenho da função diplomática, ela visa garantir o eficaz desempenho da atuação dos agentes diplomáticos, não sendo estes beneficiados pelas imunidades e privilégios além do que tange o estrito cumprimento das funções que lhes compete, conforme estabelece os preâmbulos da convenção de Havana (1928) e Viena (1961). José Alceu Cicco Filho 17, salienta que esta é a teoria que prima na intelectualidade, por ser eminentemente satisfatória. A imunidade dos agentes diplomáticos é de relevante necessidade, pois segundo tal ensinamento um representante diplomático não pode exercer suas funções se não estiver livre de toda ameaça bem como se não estiver plenamente independente do Estado receptor. 17 FILHO, José Alceu Cicco: Relevância da Imunidade Diplomática. In http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/rev_79/artigos/alceu_rev 79.htm, acesso em 23 de julho de 2011

30 Este mesmo autor, ao citar Vattel 18 e Oppenheim 19, demonstra porque esta teoria é a mais aceita: Os embaixadores e outros ministros públicos são instrumentos necessários para manter esta sociedade internacional, esta correspondência mutua das nações. Mas sua função não pode lograr o fim para o qual foi designado se não se encontram providos de todas as prerrogativas necessárias para assegurar o êxito legítimo, permitindo-lhes exercer com toda segurança, liberdade e fidelidade. O mesmo Direito das Gentes que obriga as nações a aceitar os ministros estrangeiros, as obriga também manifestadamente a receber estes ministros com todos os direitos que lhes são necessários e todos os privilégios que asseguram o exercício de suas funções. As razões pelas quais estes privilégios devem ser outorgados radicam em que os enviados diplomáticos são representantes de seus Estados e da dignidade destes ademais de não poder exercer suas funções adequadamente se não desfrutam de semelhantes privilégios. Resulta obvio que, se estivessem sujeitos a interferências comuns de ordem política ou jurídica como qualquer outro indivíduo, e conseqüentemente fosse mais ou menos dependentes da boa vontade do governo, ficariam sujeitos a serem influenciados por considerações de ordem pessoal relativas a sua segurança ou comodidade, a um gral tal, que materialmente lhes dificultaria o exercício pleno de suas funções. É igualmente claro que se em sua relação livre e plena com seus Estados, através de cartas, telegramas e correios, estivessem sujeitos a interferências, os objetivos de sua missão não poderiam ser cumpridos. Neste caso lhes resultaria impossível o envio de informações independentes e secretas a seus Estados, e o recibo de instruções similares de seus próprios países. Da consideração destas e várias outras razões análogas, seus privilégios parecem ser atributos inseparáveis da existência mesma dos enviados diplomáticos. 4 CLASSIFICAÇÃO DAS IMUNIDADES E PRIVILÉGIOS São três as formas em que os privilégios e as imunidades podem ser classificados: pela isenção do pagamento de impostos, pela inviolabilidade e imunidade de jurisdição. São estendidos não somente ao Diplomata, mas a todos os funcionários que compõe a missão, embora a estes sejam concedidos de maneira restrita. 20 18 Emerich de Vattel. Lê Droit de Gens. París, 1830. tomo II, lib IV, cap. VIII, pp.364-365. 19 OPPENHEIM, L. op. cit., p. 706 20 MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Publico. 5ª ed. Rio de Janeiro:

31 Quanto à isenção de impostos, estabelece a Convenção de Viena de 1961, no artigo 23, parágrafo 1, que O Estado acreditante e o Chefe da Missão estão isentos de todos os impostos e taxas, nacionais, regionais ou municipais, sobre os locais da Missão de que sejam proprietários ou inquilinos, excetuados os que representem o pagamento de serviços específicos que lhes sejam prestados. No entanto, tais isenções não se aplicam para quem contratar com o chefe da missão, pois conforme o artigo 23, parágrafo 2 da Convenção, dispõe A isenção fiscal a que se refere o artigo não se aplica aos impostos e taxas cujo pagamento, na conformidade da legislação do Estado acreditado, incumbir às pessoas que contratem com acreditante ou com o Chefe da Missão. Conforme dispõe o artigo 36 da Convenção de Viena de 1961: de acordo com leis e regulamentos que adote, o Estado acreditado permitirá a entrada livre do pagamento de direitos aduaneiros, taxas e gravames conexos, que não constituam despesas de armazenagem, transporte e outras relativas à serviços análogos: dos objetos destinados ao uso oficial da Missão; dos objetos destinado ao uso pessoal do agente diplomático ou dos membros de sua família que com ele vivam, incluídos os bens destinados à sua instalação. Dentre as isenções mencionadas há exceções, que são previstas no artigo 34 da Convenção de Viena Sobre Relações Diplomáticas, assim disposto: Artigo 34 - O agente diplomático gozará de isenção de todos os impostos e taxas, pessoas ou reais, nacionais, regionais ou municipais, com as exceções seguintes: a) os impostos indiretos que estejam normalmente incluídos no preço Freitas Bastos, 1976, p. 224.

32 das mercadorias ou dos serviços; b) os impostos e taxas sobre bens imóveis privados, situados no território do Estado acreditado, a não ser que o agente diplomático os possua em nome do Estado acreditante e para os fins da Missão; c) os direitos de sucessão percebidos pelo Estado acreditado salvo o disposto no parágrafo 4º do artigo 39; d) os impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua origem no Estado acreditado e os impostos sobre o capital, referente a investimentos em empresas comerciais no Estado acreditado; e) os impostos e taxas cobrados por serviços específicos prestados; f) os direitos de registro, de hipoteca, custas judiciais e imposto de selo relativos a bens imóveis, salvo o disposto no artigo 23. Tal isenção, descrita no referido artigo, não engloba os impostos pessoais que são cobrados diretamente da pessoa do agente diplomático, haja vista ser um rol taxativo, que descreve os únicos casos em que ocorre a cobrança de impostos. O beneficiário deste privilégio diplomático, de todo modo, deverá arcar com os impostos indiretos, normalmente incluídos no preço de bens ou serviços, assim também com as tarifas correspondentes a serviços que tenha efetivamente utilizado. E óbvio que possuindo, acaso, imóvel particular no território local, pagará os impostos sobre ele incidentes. 21 A inviolabilidade da sede da missão é considerada a prerrogativa mais importante, pois abrange a residência pessoal dos agentes, como também todos os 21 REZEK, Francisco. Direito internacional Público Curso Elementar. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 161.

33 bens e meios de locomoção ali situados, estendendo-se inclusive às correspondências e às comunicações dos diplomatas. Neste sentido, Rezek explica: São fisicamente invioláveis os locais da missão diplomática com todos os bens ali situados, assim como os locais residenciais utilizados pelo quadro diplomático e pelo quadro administrativo e técnico. Esses imóveis, e os valores mobiliários neles encontráveis, não podem ser objeto de busca, requisição, penhora ou medida qualquer de execução. Os arquivos e documentos da missão diplomática são invioláveis onde quer que se encontrem. (2009, p. 161). Tal inviolabilidade significa que não poderá o Estado acreditado utilizar-se de qualquer meio de coação (ex: força de policial), exceto com expressa permissão do chefe da missão diplomática 22. Eis o que dispõe a respeito o artigo 22 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas: Artigo 22. 1. Os locais da Missão são invioláveis. Os agentes do Estado acreditado não poderão neles penetrar sem o consentimento do Chefe da Missão. 2. O Estado acreditado tem a obrigação especial de adotar todas as medidas apropriadas para proteger os locais da Missão contra qualquer instrução ou dano e evitar perturbações à tranqüilidade da Missão ou ofensas à sua dignidade. 22 SILVA, Geraldo Eulalio do Nascimento: Convençao Sobre Relaçoes Diplomaticas: a codificaçao do Direito Internacional, 3ª Ediçao. Rio de Janeiro: Forence Universitaria, 1989, p. 141.

34 3. Os locais da Missão, seu mobiliário e demais bens neles situados, assim como os meios de transporte da Missão, não poderão ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução. Na Missão Diplomática, há necessidade de que seus agentes tenham jurisdição Civil e Criminal do Estado acreditado, para que no desempenho de suas funções, estas alcancem o objetivo esperado. Em relação ao tema, Rezek explica: No âmbito da missão diplomática, tânto os membros do quadro diplomático de carreira (do embaixador ao terceiro-secretário) quanto os membros do quadro administrativo e técnico (tradutores, contabilistas etc.) estes últimos desde que oriundos do Estado acreditante, e não recrutados in toco gozam de ampla imunidade de jurisdição penal e civil são, fisicamente invioláveis, e em caso algum podem ser obrigados a depor como testemunhas (1998, p. 160). No mesmo sentido, explica Moreno Pinho 23 : a imunidade de jurisdiçao não se baseia no principio da igualdade soberana dos Estados onde se desprende que nenhum Estado pode exercer jurisdiçao sobre o outro pr im parem non habet imperium, mas sim que há uma necessidade de outorgar as missões diplomaticas e seus membros as liberdades necessarias para que possam levar a cabo sua missão com independencia. A imunidade de jurisdiçao ampara os agentes diplomaticos contra ações civis ou penais que possam atrapalhar o desenvolvimento de sua incumbência E mais, a imunidade de jurisdição está prevista no artigo 31 da Convenção de Viena de 1961, comportando as exceções descritas nas alineas a, b e c, conforme segue: 23 PINO, Ismael Moreno: La Diplomacia. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 2001, p. 231.

35 Artigo 31. 1. O agente diplomático gozará da imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e administrativa, a não ser que se trate de: a) uma ação sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditante para os fins da missão; b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário; c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais. 2. O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha. 3. O agente diplomático não está sujeito a nenhuma medida de execução, a não ser nos casos previstos nas alíneas "a", "b" e "c", do parágrafo 1º deste artigo e desde que a execução possa realizar-se sem afetar a inviolabilidade de sua pessoa ou residência. 4. A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado não o isenta da jurisdição do Estado acreditante. Contudo, a referida imunidade não garante ao agente diplomático estar acima da lei, bem como não o exime de respeitar as leis e os regulamentos locais.

36 Conforme se depreende da doutrina consagrada nesta questão, os diplomatas e integrantes do pessoal administrativo e técnico da missão diplomática gozam de imunidade penal ilimitada, que se projeta, de resto, sobre os membros de suas famílias. Outrossim, até mesmo um homicídio passional, uma agressão, um furto comum estarão isentos de processo local. Porém, os diplomas de Viena lembram que isso não livra o agente da jurisdição de seu Estado pátrio. O que se espera, por natural, é que retornando à origem o diplomata responda ali pelo delito praticado em território estrangeiro. E, ainda, registre-se que a imunidade não impede a polícia local de investigar o crime, preparando a informação sobre a qual se presume que a Justiça do Estado de origem processará o agente beneficiado pelo privilégio diplomático. Neste sentido, Lima sintetiza com propriedade que a imunidade de jurisdição penal não significa impunidade, assim como a imunidade de jurisdição civil não e sinônimo de irresponsabilidade. (2002. p. 53). Assim, tem-se que a finalidade da imunidade de jurisdição é garantir com efetividade e segurança o cumprimento das funções desempenhadas pelos agentes diplomáticos, sem que haja impunidade no caso da prática de atos ilícitos, principalmente aqueles alheios às missões. Cabe ressaltar, também, que a prática predominante, apesar de contar com algumas exceções, é no sentido de somente admitir a imunidade de jurisdição dos governos reconhecidos, pois do contrário estar-se-ia violando o princípio par

37 in parem non habet imperium". No entanto, os tribunais norte-americanos reconhecem imunidade de jurisdição a governos não reconhecidos. 24 Neste ponto, resta ainda discorrer sobre a possibilidade de renúncia à imunidade diplomática. De plano, observa-se que este dispositivo de renúncia à imunidade está previsto no artigo 32 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, conforme se observa: Artigo 32. 1. O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus agentes diplomáticos e das pessoas que gozem de imunidade nos termos do artigo 37. 2. A renúncia será sempre expressa. 3. Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos termos do artigo 37 inicia uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção diretamente ligada à ação principal. 4. A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações cíveis ou administrativas não implica renúncia à imunidade quanto às medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária. Sobre esse aspecto explicam Mello (1994, p. 1132) e Hee Moon Jo (2000, p. 138), que o Estado acreditante e somente ele pode renunciar, se entender conveniente, às imunidades de índole penal e civil de que gozam seus 24 MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Publico. 12ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 360.