Língua Portuguesa II: Morfologia I Autor Denilson Matos 2009
2008 IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. M433 Matos, Denilson. / Língua Portuguesa II: Morfologia I /Denilson Matos. Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2009. 168 p. ISBN: 978-85-7638-799-2 1. Língua Portuguesa Morfologia 2. Língua Portuguesa Formação de palavras 3. Língua Portuguesa Gramática. I. Título. CDD 469.5 Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. Todos os direitos reservados IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 Batel 80730-200 Curitiba PR www.iesde.com.br
Sumário morfologia 7 Conceito de morfologia 8 Estudos lingüísticos 9 Significação lexical e gramatical 10 Formas livres, presas e dependentes 11 Etimologia 12 Dupla articulação da linguagem 13 Morfema 19 Conceito de morfema 19 Análise mórfica 22 Tipos de morfema 25 Estrutura das palavras I 33 Estrutura das palavras 34 Estrutura das palavras II 45 Conceituação 45 Modo 45 Pessoa 47 Número 47 Estruturas do verbo 48 O acento tônico nos verbos 55 Processo de formação de palavras I 59 Afixos 60 Derivação 63 Processo de formação de palavras II 71 Composição 71 Outros tipos de processos 73
Criatividade lexical 79 O que é? 79 Neologismo 81 Considerações finais 88 Classes de palavras I 93 Algumas informações essenciais 93 Classes de palavras II 107 Artigo 107 O adjetivo 110 Numeral 114 Pronomes 121 Pronome 121 O pronome pode ser de seis espécies 123 Colocação pronominal 129 Locuções e interjeições 133 Locuções 133 Interjeição 136 Narração 141 Texto 141
Apresentação Nesta etapa de nosso estudo, abordam-se as diversas partes que constituem o léxico de nossa língua preferencialmente aquelas que determinam a formação e construção dos termos que a caracterizam e a identificam. Aqui, conheceremos os mecanismos de formação previstos no sistema da Língua Portuguesa, bem como aqueles que transcendem às expectativas do registro padrão. Na mesma direção, iniciaremos o estudo das classes de palavras que representa, indubitavelmente, conteúdo capaz de determinar o sucesso do estudante diante da constituição e análise da frase e da oração em Língua Portuguesa, a saber: a sintaxe. Desta feita, pretende-se apresentar, sob o amparo da gramática normativa, a língua enquanto sua formação, estrutura e classe de palavras. Mais especificamente, enquanto estudiosos da linguagem, devemos entender que todo indivíduo que pretenda estudar uma língua, seja ela qual for, deve atentar para certas considerações que determinam e auxiliam o reconhecimento dessa língua. Assim, o estudo da forma é uma das possibilidades de análise que traz à tona o entendimento de que as palavras se organizam não apenas numa frase, mas, também, internamente. Se por um lado, palavras quando combinadas podem constituir frases, textos, por outro, letras, morfemas, sílabas também podem formar palavras. Portanto, é neste espírito que se busca entender os procedimentos lingüísticos que participam e atuam efetivamente na morfologia das palavras.
Estrutura das palavras II Neste texto, trataremos de um dos mais importantes termos na construção dos sentidos e na formulação das orações: o verbo. Vale ressaltar que nossa perspectiva abordará, mais precisamente, as partes que o constituem. Antes, porém, vejamos alguns conceitos que se relacionam ao termo em estudo. Conceituação O verbo é uma classe de palavras muito rica, ou melhor, a mais rica em possibilidades flexivas. De acordo com Bechara (1999), verbo é a unidade que significa ação ou processo, organizada para expressar algo. Vejam-se a seguir alguns termos importantes para a caracterização do verbo: Modo O verbo toma diferentes formas para indicar atitudes de certeza, dúvida, suposição e ordem. Exemplo: Vou à feira. (certeza) Talvez eu vá à feira. (dúvida) Se eu pudesse eu iria à feira. (suposição) Vá à feira. (ordem) Três modos podem ser apresentados: indicativo, subjuntivo e imperativo.
46 Língua Portuguesa II: Morfologia I Modo subjuntivo Vê-se como a existência ou inexistência de um fato como incerto, duvidoso, eventual, ou mesmo, irreal. Composto de três tempos 1 : :: :: Presente Ex: Que eu chore, mas nunca desista de amar. :: :: :: :: Pretérito Imperfeito Ex: Se eu pudesse eu entregaria meu coração à razão. Futuro Ex: irei ao vosso encontro quando chegardes. Modo imperativo Utilizado com o intuito de exortar, aconselhar, convidar, comandar nosso interlocutor. Composto de dois tempos: :: :: :: :: Afirmativo Cale a boca! Negativo Não furtarás. (o modo imperativo negativo sempre vem auxiliado pelo advérbio não). Modo indicativo Exprime-se, em geral, uma ação ou estado considerados na sua realidade ou na sua certeza, é composto por seis tempos: :::: :::: Presente:: Anuncia um fato atual: Exemplo: Cai, cai balão...; :::: Expressa uma ação habitual ou faculdade do sujeito: Exemplo: Como pouquíssimo, em restaurante chinês. :::: Para marcar um futuro próximo e para impedir qualquer ambigüidade, geralmente, vem acompanhado de um adjunto adverbial: Exemplo: Amanhã vou para São Paulo. :: :: Para atenuar a rudeza do tom imperativo, emprega-se o presente do verbo querer seguido do infinitivo do verbo principal: Exemplo: Quer ouvir o que falei? :::: :::: Pretérito imperfeito:: passado não concluído. Encerra uma idéia de continuidade do processo verbal: Exemplo: O frio ia aumentando e o vento despenteava o cabelo de ambos. 1 Tempo verbal é a variação que indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Conforme Manoel Ribeiro (2003, p. 217), o tempo marca, na língua, por meio de lexemas (radicais), morfemas, perífrases (locuções), a posição que os fatos ocupam no tempo. Parte-se do chamado ponto dêitico da enunciação. Podemos enunciar o presente, o passado e o futuro, como também estabelecer outros pontos em que se subdivide o passado e o futuro.
Estrutura das palavras II 47 1. Pretérito perfeito ação completamente concluída: Exemplo: Comi, bebi e fiquei satisfeito. 2. Pretérito mais-que-perfeito indica uma ação que ocorreu antes de outra já passada: Exemplo: Vivera intensamente cada dia (vale dizer que esse é um tempo muito erudito e pouco utilizado atualmente). 3. Futuro do presente indica fatos certos ou prováveis, posteriores ao momento em que se fala: Exemplo: As aulas começarão amanhã. 4. Futuro do pretérito designa ações posteriores à época de que se fala; exprime incerteza sobre fatos passados e refere-se a fatos que não se realizaram e que, provavelmente, não se realizarão: Exemplo: Sem a sua interferência, eu estaria perdido. Duas outras considerações podem ser feitas sobre o verbo, são elas: pessoa e o número. Pessoa Relacionada diretamente com o termo gramatical que lhe serve de sujeito (eu, tu, ele(a), nós, vós, eles(as)). Sobre os usos das pessoas do verbo, vale acrescentar, conforme Infante (1995, p. 147), que no português atual do Brasil, as formas da segunda pessoa tu e vós têm uso limitado a algumas regiões ou à linguagem litúrgica, surgindo, às vezes, em textos literários. No entanto, como a língua é dinâmica, outra forma tem assumido o lugar do tu e do vós, difundindo-se amplamente. Tais formas são os pronomes você/vocês, respectivamente, levando o verbo automaticamente para a terceira pessoa. Número Singular e plural (primeira, segunda e terceira pessoas do singular (eu, tu e ele) e do plural (nós, vós e eles)). A partir da breve apresentação sobre os conceitos de modo, tempo, número e pessoa, seguiremos nosso estudo em direção às estruturas de palavras dos verbos. Embora possa parecer que trataremos de outro assunto, de fato, as estruturas verbais servem exatamente para indicar o modo, o tempo, o número e a pessoa do verbo. Assim, cada pedaço, morfema 2, de um verbo pode ter significação suficiente para indicar tais conceitos. 2 O morfema é a menor unidade de significação morfológica da palavra.
48 Língua Portuguesa II: Morfologia I Estruturas do verbo Apesar da aparente complexidade, a estrutura do verbo pode ser simbolizada por uma fórmula relativamente simples, a saber: R = radical VT = Vogal temática DMT = desinência modo temporal DNP: desinência número pessoal Verbo R + VT + DMT + DNP Andávamos and á va mos Vejamos pontualmente cada um desses morfemas: O radical é o responsável pelo léxico, presente em toda conjugação, sendo um dos quatro elementos que não pode faltar; ou seja, o radical é o morfema determinante para a estruturação de uma palavra. Por outro lado, a vogal temática, que nos nomes serve apenas para formar o tema e criar ambiente para inserção de novos morfemas, nos verbos tem a função de indicar a conjugação. Tradicionalmente, entende-se como vogal temática uma vogal que se agrega ao radical, formando o tema, definido como a base morfológica para a flexão. A vogal temática é, portanto, um elemento de definição flexional: define-se em oposição ao radical, caracterizando a base da flexão. Basílio (1993 p. 295). Assim, a vogal temática é o morfema categórico que distribui os verbos em três conjugações. Para confirmar se a vogal temática é de primeira, segunda ou terceira conjugação, basta identificar o infinitivo do verbo em questão, por exemplo: Exemplo Verbo no infinito Conjugação Vogal temática Ele cantava nas festas de fim de ano. Cantar Primeira a Se eu pudesse, eu venderia meu telefone para você vender Segunda e Se você sentisse o mesmo que eu, entender-me-ia sentir Terceira i A desinência modo temporal, conhecida por DMT, expressa modo e o tempo; já a desinência número-pessoal, DNP, representa, também de forma cumulativa, o número e a pessoa do verbo. A seguir, um exemplo de análise mórfica dos verbos cantar, comer e partir (um para cada tipo de conjugação), em todos os tempos verbais, inclusive nas formas nominais (gerúndio, particípio e infinitivo):
Estrutura das palavras II 49 Quadro geral dos morfemas verbais 3 Modo Indicativo Cantar Comer Partir Presente Presente Presente Cant Ø Ø o com Ø Ø o part Ø Ø o Cant a Ø s com e Ø s part e Ø s Cant a Ø Ø com e Ø Ø part e Ø Ø Cant a Ø mos com e Ø mos part i Ø mos Cant a Ø is com e Ø is part Ø Ø is Cant a Ø m com e Ø m part e Ø m Pretérito perfeito Pretérito perfeito Pretérito perfeito Cant e Ø i com Ø Ø i part Ø Ø i Cant a Ø ste com e Ø ste part i Ø ste Cant o Ø u com e Ø u part i Ø u Cant a Ø mos com e Ø mos part i Ø mos Cant a Ø stes com e Ø stes part i Ø stes Cant a Ø ram com e Ø ram part i Ø ram Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito Cant a va Ø com i a Ø part i a Ø Cant a va s com i a s part i a s Cant a va Ø com i a Ø part i a Ø Cant á va mos com i a mos part í a mos Cant á ve is com i e is part í e is Cant a va m com i a m part i a m Pretérito mais-que-perfeito Pretérito mais-que-perfeito Pretérito mais-que-perfeito Cant a ra Ø com e ra Ø part i ra Ø Cant a ra s Com e ra s part i ra s 3 O quadro foi criado a partir das informações das gramáticas de Ribeiro (2003) e Hildebrando (1923).
50 Língua Portuguesa II: Morfologia I Cant a ra Ø Com e ra Ø part i ra Ø Cant á ra mos Com ê ra mos part í ra mos Cant á re is Com ê re is part í re is Cant a ra m Com e ra m part i ra m Futuro do presente Futuro do presente Futuro do presente Cant a re i Com e re i part i re i Cant a rá s Com e rá s part i rá s Cant a rá Ø Com e rá Ø part i rá Ø Cant a re mos Com e re mos part i re mos Cant a re is Com e re is part i re is Cant a rã o Com e rã o part i rã o Futuro do pretérito Futuro do pretérito Futuro do pretérito Cant a ria Ø Com e ria Ø part i ria Ø Cant a ria s Com e ria s part i ria s Cant a ria Ø Com e ria Ø part i ria Ø Cant a ría mos Com e ría mos part i ría mos Cant a ríe is Com e ríe is part i ríe is Cant a ria m Com e ria m part i ria m Modo Subjuntivo Presente Presente Presente Cant Ø e Ø Com Ø a Ø part Ø a Ø Cant Ø e s Com Ø a s part Ø a s Cant Ø e Ø Com Ø a Ø part Ø a Ø Cant Ø e mos Com Ø a mos part Ø a mos Cant Ø e is Com Ø a is part Ø a is Cant Ø e m Com Ø a m part Ø a m
Estrutura das palavras II 51 Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito Pretérito imperfeito Cant a sse Ø com e sse Ø part i sse Ø Cant a sse s com e sse s part i sse S Cant a sse Ø com e sse Ø part i sse Ø Cant á sse mos com ê sse mos part í sse mos Cant á sse is com ê sse is part í sse is Cant a sse m com e sse m part i sse m Futuro Futuro Futuro Cant a r Ø com e r Ø part i r Ø Cant a r es com e r es part i r es Cant a r Ø com e r Ø part i r Ø Cant a r mos com e r mos part i r mos Cant a r des com e r des part i r des Cant a r em com e r em part i r em Modo Imperativo afirmativo afirmativo Afirmativo - - - - - - - - - - - - Cant a Ø Ø com e Ø Ø part e Ø Ø Cant Ø e Ø com Ø a Ø part Ø a Ø Cant Ø e mos com Ø a mos part Ø a mos Cant a Ø i com e Ø i part Ø Ø i Cant Ø e m com Ø a m part Ø a m Negativo Negativo Negativo - - - - - - - - - - - - Cant Ø e s com Ø a s part Ø a s
52 Língua Portuguesa II: Morfologia I afirmativo afirmativo Afirmativo Cant Ø e Ø com Ø a Ø part Ø a Ø Cant Ø e mos com Ø a mos part Ø a mos Cant Ø e is com Ø a is part Ø a is Cant Ø e m com Ø a m part Ø a m Formas nominais Infinitivo pessoal Infinitivo pessoal Infinitivo pessoal Cant a r Ø com e r Ø part i r Ø Cant a r es com e r es part i r es Cant a r Ø com e r Ø part i r Ø Cant a r mos com e r mos part i r mos Cant a r des com e r des part i r des Cant a r em com e r em part i r em Infinitivo impessoal Infinitivo impessoal Infinitivo impessoal Cant a r - com e r - part i r - Gerúndio Gerúndio Gerúndio Cant a ndo - com e ndo - part i ndo - Particípio Particípio Particípio Cant a do - com i do - part i do - Obviamente, não há necessidade de fazer-se para todos os verbos uma tabela como a aqui apresentada. Nosso objetivo precípuo é o de explicitar as possibilidades mórficas dos verbos. Embora na escola perca-se muito tempo em conjugar-se vários verbos a partir, exclusivamente, dos morfemas verbais. Assim, de forma mais sucinta, apresentamos um quadro de morfemas que certamente vai ajudá-los na identificação dos verbos, principalmente no que se refere aos verbos regulares (que possuem uma regularidade nas suas flexões):
Estrutura das palavras II 53 Quadro das desinências modo-temporais (indicam modo e tempo) Modo indicativo Tempos 1ª CONJUGAÇÃO 2.ª e 3.ª CONJUGAÇÕES Presente Pretérito perfeito Pretérito imperfeito va / ve a / e Pretérito mais-que-perfeito ra / re (átonas) ra / re (átonas) Futuro do presente ra / re (tônicas) ra / re (tônicas) Futuro do pretérito ria / rie ria / rie Modo subjuntivo Presente e a Pretérito imperfeito sse sse Futuro r r Tempos Gerúndio Iinfinitivo Particípio Formas nominais Desinências ndo r do, to Quadro das desinências número-pessoais (indicam o número (singular/ plural) e as pessoas (1ª, 2ª, 3ª) dos verbos) Tempo / Modo Pessoas: 1.ª, 2.ª, 3.ª do singular e 1.ª, 2.ª, 3.ª do plural Presente do indicativo o / s / / mos / is / m Pretérito perfeito do indicativo i / ste / u / mos / stes / ram Pretérito imperfeito do indicativo / s / / mos / is / m Pretérito mais-que-perfeito do indicativo. / s / / mos / is / m Futuro do presente do indicativo i / s / / mos / is / o Futuro do pretérito do indicativo / s / / mos / is / m Presente do subjuntivo / s / / mos / is / m Pretérito imperfeito do subjuntivo / s / / mos / is / m Futuro do subjuntivo / es/ / mos / des / em
54 Língua Portuguesa II: Morfologia I Então, a partir do quadro somos capazes de, através dos paradigmas verbais, identificar o tempo, o modo, e número e a pessoa dos verbos. Observações: :: :: :: :: :: :: para podermos trabalhar com a análise mórfica, convém que sigamos o princípio da fórmula básica dos verbos: R + VT + DMT + DNP outro ponto importante é respeitar a ordem da fórmula quando for procurar os morfemas, ou seja, primeiro procuramos o radical, depois a VT, a DMT e a DNP (só partimos para o morfema seguinte quando já tivermos procurado o morfema anterior). podem faltar quaisquer dos morfemas, exceto o radical. Vamos fazer um teste? A partir do verbo em destaque, diga quais os morfemas e o que eles indicam. Todos queriam que corrêssemos mais do que podíamos. Primeiro identificamos o radical: corr- Em seguida, verificamos se a letra seguinte coincide com a vogal temática para esse verbo. Lembrando que a vogal temática indica a conjugação do verbo. No caso de corrêssemos, o infinitivo é: correr. Assim, a vogal temática é o e. Coincide também com a conjugação do verbo correr que é de segunda conjugação, assim como o e representa a vogal temática da segunda conjugação. Vogal temática: e- Agora procuraremos a DMT. No caso do verbo corrêssemos o conjunto de letras que mais se assemelha como nosso quadro de DMT é o -sse-: Quadros das desinências modo-temporais (indicam modo e tempo) Modo Indicativo Tempos 1.ª Conjunção 2.ª e 3. ª Conjugações Presente Pretérito perfeito Pretérito imperfeito va / ve a / e Pretérito mais-que-perfeito ra / re (átonas) ra / re (átonas) Futuro do presente ra / re (tônicas) ra / re (tônicas) Futuro do pretérito ria / rie ria / rie Modo subjuntivo Presente e a Pretérito imperfeito sse sse Futuro r r
Estrutura das palavras II 55 Assim, podemos intuir que o sse, de corrêssemos, é a DMT do verbo. Logo, pertence ao modo subjuntivo e ao pretérito imperfeito. DMT: -sse- Por fim, verificamos se mos pode ser uma DNP. A partir de nosso quadro de DNP, podemos verificar que mos sempre será DNP de primeira pessoa do plural (nós). DNP: mos Enfim, eis as estruturas do verbo corrêssemos e o que indicam tais estruturas: Corr + e + sse + mos Verbo de segunda conjugação, pertencendo ao pretérito imperfeito do subjuntivo, primeira do plural. Acabamos. Porém, observem um pequeno e importante detalhe. Feita tal análise, podemos afirmar que quaisquer verbos que possuam DMT + DNP iguais as do verbo corrêssemos, terão modo, tempo, número e pessoa iguais também. Por exemplo: vivêssemos, cantássemos, chorássemos, partíssemos corrigíssemos, chorássemos etc. Isso significa dizer que é muito mais fácil e produtivo sabermos as estruturas verbais do que decorar a conjugação de cada verbo. Para concluir, observem outra classificação dos verbos, conforme a sílaba tônica nele contida. O acento tônico nos verbos Rizotônicas É a forma verbal cujo acento tônico se acha no radical: Que-ro / radical = quer- Can-to / radical = cant- Ven-dem / radical = vend- Arrizotônicas É a forma verbal cujo acento tônico se acha fora do radical: vi-ve-rá / radical = vivven-di-do / radical = vend-
56 Língua Portuguesa II: Morfologia I Na Língua Portuguesa, conforme Manoel Ribeiro (2003), predominam as formas rizotônicas, normalmente encontradas nas três pessoas do singular e a terceira do plural do presente do indicativo e do presente do subjuntivo, e as correspondentes do imperativo. Particípios irregulares e 1.ª e 3.ª pessoas do singular do pretérito perfeito dos verbos irregulares: fiz, fez. Nos verbos defectivos 4, em geral, faltam as formas rizotônicas. Texto complementar Histórico do verbo Havia, no latim clássico, quatro conjugações: (COUTINHO, 1976, p 272-275) A primeira conjugação latina possuía aproximadamente 3 620 verbos e, essa é a que ainda se conserva em português. Além de mais produtiva, oferece mais resistência à transformação: torrere (torrar) / fidere (fiar) / mollire-molliare (molhar); A segunda conjugação resultou da fusão da segunda com a terceira com um pouco mais de 2400 verbos em -ere na língua clássica. A capacidade criadora desta conjugação em latim limitouse à formação de verbos incoativos: anoitecer (noite), empobrecer (pobre), entristecer (triste), florescer (flor), enrijecer (rijo), amolecer (mole), entardecer (tarde); Quanto à terceira conjugação, aconteceu algo no mínimo interessante, com a passagem dos verbos da terceira conjugação para a segunda; as quatro, do latim ocidental, foram reduzidas a três conjugações. No curso histórico da língua, muitos verbos arcaicos transformaram-se: aduzer (aduzir), caer (cair), correger (corrigir), traer (trair), confoder (confundir), onger (ungir). Convém assinalar que os verbos latinos em -êre, de introdução mais recente no português passaram à conjugação em -ir: affluere ( afluir), contribuere (contribuir), discernere (discernir), instituere (instituir), illudere (iludir), obstruere (obstruir), retribuere (retribuir). A quarta conjugação latina foi absorvida pela terceira em Português por terem as mesmas terminações, com exceção do verbo poer, que sendo de quarta passou à segunda, apesar da contração sofrida em seus fonemas, o verbo anômalo pôr. Outro ponto interessante diz respeito aos tempos verbais, pois embora a maioria dos tempos da conjugação latina tenham se conservado no idioma português outros desapareceram. Vejamos as relações a seguir: Verbos que passaram a novos empregos: 4 Verbos em que não se pode conjugar todas as pessoas.
Estrutura das palavras II 57 a) O imperfeito do subjuntivo, que provavelmente se tornou o nosso infinitivo pessoal: b )O mais- que- perfeito do subjuntivo, passando a ser usado como imperfeito do mesmo modo; c) O futuro perfeito do indicativo, que fundido com o perfeito do subjuntivo tornou-se nosso futuro do subjuntivo; d) O presente do subjuntivo, que, além do emprego próprio, forneceu ao imperativo positivo a 3ª e todas as pessoas ao negativo; e) O gerúndio que no ablativo, substituiu em parte o particípio presente. Não passaram ao português: a) O futuro imperfeito do indicativo; b) O futuro do imperativo; c) O perfeito do infinitivo; d) O particípio presente deu apenas ao português alguns substantivos e adjetivos: acidente, poente, doente, valente, regente, crente. No idioma antigo, todavia, era empregado com força verbal; e) O particípio do futuro ativo, de que conservamos raros vestígios nas formas cultas futuro, nascituro; f) O gerundivo, que se encontra representado, em português, por alguns substantivos e adjetivos: merenda, oferenda, fazenda, memorando, lenda, moenda. Vai se vulgarizando entre nós a terminação ndo com valor de substantivo verbal numa série de palavras cultas: examinando, educando, graduando, professorando, doutorando. Análise lingüística 1. Em todas as palavras a vogal sublinhada é temática, exceto em: a) correr b) casa c) comeu d) comprar 2. Na palavra desgovernarão só não encontramos: a) prefixo b) vogal temática c) desinência modo-temporal d) desinência de gênero
58 Língua Portuguesa II: Morfologia I 3. Apresente a fórmula estrutural dos verbos a seguir: a) Eu canto b) Viveremos felizes para sempre c) Cantavas muito quando criança d) Comprarei duas camisas de frio e) Seguindo meus conselhos, serás feliz 4. A partir do exercício anterior, diga o modo, tempo, número, pessoa dos verbos analisados. 5. Encontre no caça-palavras: a) Verbo na 1.ª pessoa do presente do indicativo. b) Verbo no infinitivo. c) Verbo na 3.ª pessoa do futuro do pretérito. d) Verbo na 3.ª pessoa do imperativo negativo. Z E R M A E B L J G E H V B N O N F G O U N Q A E R L N P T P A A T F T A U L C V R S T A J O D E I X O J R U B C H S B L P M N Z C P A R A T H R H U V R R V E R R P U D E O S S E C O H H S E O V I R B V R I A H C T B S U C I P U D E S S E L U F R E H U V I R A R I A P R K J U O R F K R E A C L N O E P A R A R V N P T R N S X Q I T L D E I O X G H R T Z S
Gabarito Estrutura das palavras II 1. C 2. d 3. a) cant + o = RAD + DNP. b) viv + e + re + mos = RAD + VT + DMT + DNP. c) cant + a + va + s = RAD + VT + DMT + DNP. d) compr + a + re + i = RAD + VT + DMT + DNP. e) segu + i + ndo = RAD + VT + DMT. 4. a) presente do indicativo, primeira pessoa do singular. b) futuro do presente do indicativo, primeira pessoa do plural. c) pretérito imperfeito do indicativo, segunda pessoal do singular. d) futuro do presente do indicativo, primeira pessoa do singular. e) gerúndio. 5. a) Verbo na 1.ª pessoa do presente do indicativo; b) Verbo no infinitivo c) Verbo na 3.ª pessoa do futuro do pretérito; d) Verbo na 3.ª pessoa do imperativo negativo Caça-palavras: deixo, fizesse, pudesse, chover, parar, viraria, não procure.