PARECER Nº 004/2008/JURÍDICO/CNM INTERESSADO:

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Transcrição:

PARECER Nº 004/2008/JURÍDICO/CNM INTERESSADO: PREFEITOS DE DIVERSOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS ASSUNTO: NEPOTISMO E SÚMULA VINCULANTE Nº 13 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. DA CONSULTA: Trata-se de consulta formulada por diversos Prefeitos Municipais diante da necessidade de atender ao entendimento expresso na Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal. DO PARECER: Estamos diante de matéria de ampla discussão considerando que os prefeitos dos municípios brasileiros, principalmente dos pequenos, que são maioria, enfrentam sérias dificuldades para atender aos mandamentos do caput do art.37 da Constituição da República, pois o parentesco entre as pessoas é bastante acentuado visto tratar-se de pequenas comunidades em sua maioria originárias de um tronco familiar comum. Há muito tempo o Ministério Público vem apontando a existência de nepotismo nas administrações públicas, cobrando reiteradamente posturas contrárias dos gestores, ao ponto de em alguns Estados da Federação ter requerido aos governantes, demonstrativos dos quadros de cargos em comissão e funções gratificadas e em outros, ter tentado aplicar nos Poderes Executivo e Legislativo as normas decorrentes da Resolução nº 7/2005 do Conselho Nacional de Justiça, indevidamente. Em verdade, a Constituição da República veda expressamente qualquer prática de favorecimento a parentes ou a quem quer que seja e o faz no caput do art. 37, ao elencar os princípios da administração pública, normativos para todo o gestor. O constituinte originário ao listar sucessivamente legalidade, moralidade, publicidade e impessoalidade, pretendeu claramente estabelecer os limites da discricionariedade do gestor público em qualquer esfera de poder e o

legislador derivado, ao acrescentar a eficiência como princípio, através da EC nº 19/98, ampliou estes controles, obrigando também a medição de resultados na administração. Presente na Constituição a regra que impede o favorecimento e obriga a impessoalidade nas práticas da administração pública, claro está que a nomeação de parentes para ocupar cargos de direção, chefia e assessoramento na administração, por parte da autoridade nomeante, configura descumprimento dos princípios e é, por conseguinte, conduta vedada. Ao editar a Resolução nº 7/2005, o Conselho Nacional de Justiça definiu o que deveria ser entendido como nepotismo. Embora a citada resolução alcançasse apenas ao Poder Judiciário, passamos a ter a partir de então, um parâmetro a ser seguido por todas as autoridades com poder de nomeação ou designação de pessoas para o exercício de cargos de natureza comissionada, visto que a conceituação de nepotismo passou a efetivamente existir de forma expressa. Na análise de julgamentos realizados pelo STF, sobre ações relacionadas com o texto da Resolução acima citada, encontramos afirmações esclarecedoras que merecem ser citadas, como segue: Ministro Gilmar Mendes: A vedação ao nepotismo é regra constitucional que está na zona de certeza dos princípios da moralidade e da impessoalidade. Ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha: O princípio da moralidade administrativa tem uma primazia sobre os outros princípios constitucionalmente formulados, por constituir-se, em sua exigência, de elemento interno a fornecer a substância válida do comportamento público. Toda atuação administrativa parte deste princípio e a ele se volta. Os demais princípios constitucionais, expressos ou implícitos, somente podem ter a sua leitura correta no sentido de admitir a moralidade como parte integrante do seu conteúdo. Assim, o que se exige, no sistema de Estado Democrático de Direito no presente, é a legalidade moral, vale dizer, a legalidade legítima da conduta administrativa.

Recentemente, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 579.951-4 do Estado do Rio Grande do Norte interposto em sede de apelação em ação declaratória de nulidade de ato administrativo em cuja sentença do Tribunal de Justiça daquele Estado, entendeu a inexistência de qualquer inconstitucionalidade na nomeação de secretário municipal, irmão de vereador e de motorista comissionado, irmão do vice-prefeito, o Supremo Tribunal Federal, assim se pronunciou, ao acompanhar por unanimidade o voto do Ministro Relator Ricardo Lewandowski cujos destaques transcrevemos a seguir: Assim, o argumento, data vênia falacioso, de que, se a Carta Magna não vedou expressamente a ocupação de cargos em comissão ou de confiança por parentes, essa prática seria lícita, não merece prosperar, pois totalmente apartada do ethos que permeia a Constituição-cidadã a que se referia o saudoso Ulisses Guimarães. De repelir-se, também, a artificiosa alegativa constante do acórdão recorrido segundo o qual não há nos autos qualquer particularidade que desqualifique os servidores ocupantes dos cargos apontados, ou mesmo referência de que os nomeados não estejam desempenhando suas funções de forma correta e capacitada, o que gera uma presunção de que o princípio da eficiência está sendo respeitado. É que o que está em causa não é o trabalho desempenhado por esses servidores-parentes,mesmo porque a obrigação de bem trabalhar constitui dever de todos os ocupantes de cargos públicos, sejam eles concursados ou não. O que está em debate, com efeito, não é a qualidade do serviço por eles realizado, mas a forma do provimento dos cargos que ocupam, que se deu em detrimento de outros cidadãos igualmente ou mais capacitados para o exercício das mesmas funções, gerando a presunção de dano à sociedade como um todo. E aqui surge mais um relevante aspecto a ser sublinhado, qual seja: o fato de que essa prática atenta não apenas contra o princípio da impessoalidade, como também o da eficiência, ambos inseridos no rol daqueles que devem nortear a ação dos agentes públicos. E o Ministro César Peluso, interessantemente, no julgamento da ADC 12 MC/DF, evidenciou a íntima relação entre esses dois conceitos, ao afirmar: (...) o princípio da impessoalidade está ligado à idéia de eficiência, porque constitui condição ou requisito

indispensável da eficiência operacional da administração pública. Eficiência, tal como ensina Odete Medauar, contrapõese a lentidão, o descaso, a negligência, a omissão, segundo a professora, características habituais da Administração Pública brasileira, e que permanecerão, permito-me acrescentar, enquanto perdurar a histórica confusão que os maus administradores públicos, com honrosas exceções, têm feito entre patrimônio público e privado. Por fim, observo que não se mostra razoável admitir que uma conveniente interpretação literal dos incisos II e V do art. 37 da Lei Maior possa contrariar o sentido lógico e teleológico do que se contém no caput do referido dispositivo, em flagrante dissonância com a idéia de unidade e harmonização que deve nortear a hermenêutica constitucional. Por tudo quanto até aqui exposto, entendo que carece de plausibilidade a exegese segundo a qual que o nepotismo seria permitido simplesmente porque não há lei que o proíba. Não vejo como, todavia, dar provimento integral ao pedido do recorrente, em especial quanto à segunda parte do pedido formulado no recurso extraordinário, ou seja, que o Município de Água Nova se abstenha de contratar ou nomear qualquer pessoa física que seja parente daquele ocupante de mandato eletivo ou cargo em comissão, estendendo-se a vedação também às pessoas jurídicas, cujos sócios mantenham alguma relação de parentesco com as citadas pessoas. Isso porque não cabe a esta Corte, conforme pacífica jurisprudência, atuar como legislador positivo, sendolhe vedado inovar o sistema normativo, função reservada ao Poder Legislativo. O provimento integral do RE, com efeito, revelaria flagrante extravasamento de competências, com ofensa ao princípio constitucional da separação dos poderes. Por todo o exposto, pelo meu voto, conheço do recurso extraordinário, dando-lhe parcial provimento, declarando nulo o ato de nomeação de..., considerando hígida a nomeação do agente político..., em especial por não ter ficado evidenciada a prática do nepotismo cruzado, acompanhando, nesse aspecto, o entendimento da douta maioria.

Percebe-se, portanto que a nomeação do Agente Político, no caso Secretário Municipal, foi entendida como lícita, não prevalecendo o mesmo entendimento à nomeação do servidor motorista para o exercício de cargo em comissão. Chamamos atenção para o fato de que a nomeação de motorista em cargo em comissão seria, independentemente do nepotismo, prática irregular pois trata-se de atividade técnica e para estas é indispensável o concurso público. Os cargos em comissão somente podem ser utilizados para o exercício de funções de direção, chefia e assessoramento como determina a Constituição da República ( art. 37, V). Esta decisão motivou o Supremo Tribunal Federal a editar a Súmula Vinculante nº 13, publicada em 28 de agosto do corrente ano e cujo inteiro teor segue: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SÚMULA VINCULANTE Em sessão de 21 de agosto de 2008, o Tribunal Pleno editou o seguinte enunciado de súmula vinculante que se publica no Diário da Justiça Eletrônico e no Diário Oficial da União, nos termos do 4º do art. 2º da Lei n. 11.417/2006: Súmula Vinculante n. 13 - A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. A publicação da Súmula possibilitará aos interessados, contestar junto ao próprio STF, por meio de reclamação, a contratação de parentes para cargos na administração pública direta ou indireta de qualquer dos poderes, executivo, legislativo e judiciário e em qualquer esfera de poder, União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

É muito importante considerar que no voto do RE motivador da Súmula, ficou claramente estabelecida a diferenciação que os Ministros do Supremo fizeram entre cargos administrativos e cargos políticos e claro ficou ainda que a vedação é para os primeiros. Cargos administrativos são aqueles criados por Lei do Ente Público para serem providos por concurso público ou em comissão e funções gratificadas e para estes é absolutamente vedada a contratação de parentes da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo em comissão ou função de confiança. Cargos Políticos são aqueles exercidos por Agentes Políticos e para estes não há vedação à nomeação de parentes, claro que isto deverá ocorrer atendendo a princípios da moralidade e da impessoalidade. Não cabe, por exemplo, o prefeito nomear um irmão para secretário da fazenda, um filho para secretário da saúde e a esposa para secretária da assistência social. Isto seria imoral e antiético, No entanto, em um pequeno município onde há um único médico e este é irmão do prefeito, não será antiético ou imoral, nomeá-lo secretário da saúde. Em comentário á época da edição da súmula, o Ministro Carlos Ayres Britto afirmou que: somente os cargos e funções singelamente administrativos são alcançados pelo artigo 37 da Constituição Federal, mas isto não significa que os princípios da moralidade e da impessoalidade não se aplicam aos dirigentes políticos. Fica claro, portanto, que os prefeitos deverão atuar no sentido de eximirem-se da responsabilidade de manter na administração, parentes seus, dos seus secretários, de vereadores, do vice-prefeito ou mesmo parentes de servidores que detenham também funções de direção, chefia ou assessoramento. Para tanto, sugerimos que o prefeito municipal deve através de ordem de serviço, determinar ao setor de recursos humanos do município que faça levantamento pormenorizado, indicando todos os casos de parentesco (por consangüinidade ou afinidade) até terceiro grau existentes na administração e indique quais os que exercem funções de direção, chefia ou assessoramento para que o gestor possa efetivar as ações de cumprimento das diretrizes constantes da Súmula Vinculante nº 13. Imediatamente a isto, determinar a exoneração de todos aqueles que sejam parentes do prefeito, do vice-prefeito, de qualquer secretário, diretor, chefe ou assessor da administração do ente público município, ou de vereador no exercício do mandato.

Cumpre-nos chamar atenção para o fato de que o não atendimento ao disposto na súmula viola mandamento Constitucional e faz com que o infrator incorra em crime de responsabilidade ou improbidade administrativa. Sobre isto, apresentamos a seguir interpretação do eminente jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, como segue: (...) violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Ora, tendo em conta a expressiva densidade axiológica e a elevada carga normativa que encerram os princípios abrigados no caput do art.37 da Constituição, não há como deixar de concluir que a proibição do nepotismo independe de norma secundária que obste formalmente essa reprovável conduta. Vejamos então para maiores esclarecimentos, quem o prefeito não pode nomear para o exercício de funções de direção, chefia ou assessoramento na administração pública municipal. O mesmo vale para a Câmara Municipal: Não podem ser nomeados o cônjuge e os seguintes parentes por consangüinidade: filho (a); pai e mãe; avô e avó; neto (a); irmão e irmã; bisavó e bisavô; bisneto (a); tio (a); sobrinho (a), bem como os seguintes parentes por afinidade: sogro (a); padrasto e madrasta; genro e nora; enteado (a); cunhado (a). Cumpre-nos ainda lembrar que na linha reta a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável, portanto exconjuge, e seus parentes, encontram-se na mesma situação. Para ratificar as informações descritas até aqui, trazemos ao texto, a decisão do Ministro César Peluso que concedeu liminar na reclamação nº 6650 que versou sobre a criação de uma secretaria por titular de Poder Executivo para nomear irmão, até então diretor de departamento, para o exercício da função de secretário estadual. No julgamento em sede de liminar, afirmou o Ministro:

os secretários estaduais são agentes políticos, os quais entretêm com o Estado vínculo de natureza igualmente política, razão por que escapam à incidência das vedações impostas pela Súmula Vinculante 13. Esse mesmo entendimento vale, por exemplo, para os ministros de Estado. Logo, podemos entender que, em decorrência da afirmação de que os secretários têm com o município um vínculo eminentemente político, não incidirão sobre estes as regras definidas na súmula vinculante nº 13. Por isso, é possível ao prefeito nomear para o exercício das funções de secretários municipais, parentes de prefeito, vice-prefeito, vereadores e secretários. Por outro lado cumpre-nos chamar atenção para o fato de que os cargos de secretário substituto, coordenador, vice-secretário, diretor de secretaria e outros assemelhados, não estão contemplados com essa natureza de vínculo eminentemente político, pois a Constituição ao identificar aqueles que são caracterizados como agentes políticos, refere na esfera administrativa municipal, apenas os secretários que são remunerados exclusivamente por subsídios estabelecidos por lei de iniciativa da Câmara Municipal. Este nosso parecer. Brasília, 13 de novembro de 2008. Elena Garrido - OAB/RS nº 10.362 Assessora Jurídica da CNM.

DA LEGISLAÇÃO APLICADA: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País; II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores;(redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de1997) III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de janeiro do ano subseqüente ao da eleição; V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, 4º, 150, II, 153, III, e 153, 2º, I; (Redação dada pela Emenda constitucional nº 19, de 1998) Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) V as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão a serem preenchidos por servidores de

carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento. X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Regulamento) XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li-mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o sub-sídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tri-bunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, 4º, 150, II, 153, III, e 153, 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 2º - A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei. 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante de cargo ou emprego da administração direta e indireta que possibilite o acesso a informações privilegiadas. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração.(incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. (Vide ADIN nº 2.135-4) 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)