OBJETIVO GERAL DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA



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Transcrição:

OBJETIVO GERAL DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA ARQUIDIOCESE DE FORTALEZA EVANGELIZAR A TODOS PARA CONSTRUIR COMUNIDADES QUE REAFIRMEM SUA ADESÃO À PESSOA E À MISSÃO DE JESUS CRISTO LIBERTADOR, NA SUA PAIXÃO PAI E PELOS POBRES, EDIFICANDO, A SERVIÇO DO RESGATE DA DIGNIDADE HUMANA, UMA IGREJA SAMARITANA, EM QUE TODOS SEJAM SUJEITOS DE UMA NOVA HISTÓRIA, A CAMINHO DO REINO DEFINITIVO. FUNDAMENTAÇÃO TEOLÓGICA 1. EVANGELIZAR A TODOS No Objetivo Geral do Plano Pastoral, aparece uma novidade que é desafiadora; como se pode perceber, daqui para frente, o objetivo é evangelizar a todos, o que vai exigir uma postura de diálogo muito maior do que aquela que já se exigia anteriormente. Se a esperança é que a mensagem evangélica possa chegar a todos os que se acham presentes em nossa Arquidiocese, distribuídos em nossas Paróquias e Áreas Pastorais, é necessário ter a capacidade de dialogar com o diferente, com uma metodologia que leve em conta o processo de apresentação da proposta de Jesus, tendo como modelo inspirador o próprio Jesus, que dialogou com seus interlocutores (a Samaritana, Nicodemos, Zaqueu...). Diálogos férteis. Assim, não estaremos mais falando para nós mesmos, e isto vai exigir novas posturas. Evangelizar é fazer chegar a Boa Nova a todos. E a Boa Nova, que Jesus anuncia, é o Reino de Deus e a salvação para toda a humanidade. Cristo realiza, em sua pessoa e em sua vida, o que os profetas preanunciaram: Cumpriu-se o tempo. "O Reino de Deus está no meio de vós". "Evangelho" não é apenas anúncio da salvação: é toda a existência de Jesus, desde seu nascimento até sua morte e ressurreição gloriosa. A Igreja deve cumprir sua missão seguindo os passos de Jesus e adotando suas atitudes (cf. Mt 9, 35-36). Assim, o discípulo experimenta que a vinculação íntima com Jesus no grupo dos seus é formar-se para assumir seu estilo de vida e suas motivações (cf. Lc 6,40b), correr sua mesma sorte e assumir sua missão de fazer novas todas as coisas (DA, 131). Neste sentido, no seguimento de Jesus Cristo, aprendemos e praticamos as bem-aventuranças do Reino, o estilo de vida do próprio Jesus. (DA, 139). Só evangeliza quem aceita e segue o caminho de Jesus: "Vem e segue-me" é o convite fundamental que o Senhor continua fazendo a todos os que querem participar da aventura do Reino. Para ser verdadeiro evangelizador, é necessário, antes de tudo, deixar-se evangelizar, sendo ouvinte atento ao que Deus fala, a exemplo da Virgem Maria. É necessário acolher a Palavra "com a alegria do Espírito Santo" e aceitá-la "não como palavra humana, mas como "verdadeiramente é: Palavra de Deus que está produzindo efeito entre vós". Só uma Igreja missionária e evangelizadora experimenta a fecundidade e a alegria de quem realmente realiza sua vocação. Assumir permanentemente a missão evangelizadora é, para todas as comunidades e para cada cristão, a condição fundamental para preservar e reviver o clima pascal de "alegria no Espírito" que animou a Igreja em seu nascimento e a tem sustentado em todos os grandes momentos de sua história. Por isso, o Apóstolo Paulo podia

afirmar com todo o vigor: "Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim. É, antes, uma necessidade que se me impõe. Ai de mim se não evangelizar! (1 Cor 9, 16). Somos movidos pelo mandato do próprio Jesus que, desde o início, enviou seus apóstolos: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura." (Mc 16, 17). O que é Evangelizar? Evangelizar é a primeira e contínua missão da Igreja. Evangelizar, como já dizia o Papa Paulo VI, "é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade... A Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da Mensagem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e coletiva dos homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são próprios.... a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação." (EN 18-19). Assim o Papa João Paulo II propôs no início do Novo Milênio uma ação evangelizadora nova que seja eficaz em levar o Evangelho ao mundo e a humanidade ao Evangelho. A uma nova evangelização é que somos convocados em toda a Igreja. 2. PARA CONSTRUIR COMUNIDADES Dentro do objetivo, a Assembleia teve a lucidez de reafirmar esta mediação no processo de evangelização, que deve se constituir numa radical e progressiva mudança em nosso modo de estruturar a vida eclesial, já que é impossível evangelizar, hoje, a partir de grandes estruturas, sobretudo no estilo de massa; estas devem ser substituídas por mediações menores, grupos menores, mas articulados entre si, tendo uma preocupação de se estabelecer um instrumento comum formativo que vise à unidade. No mundo urbano e do anonimato se faz cada vez mais necessário se fortalecer este tipo de mediação. Não pode existir vida cristã fora da comunidade (DA, 278 d). A identidade da Igreja é traçada no livro dos Atos dos Apóstolos, no cap. 2, 42-47, e completada com os traços de At. 4, 32-35. 5, 12-16. A comunidade primitiva é, portanto, inspiradora e normativa de um estilo de se construir a comunidade eclesial. No Novo Testamento não há contraposição e separação entre carismas que o Espírito confere a todos os ministérios, no seio da comunidade. A comunidade é toda ela ministerial; os ministérios se distinguem uns dos outros, mas não se separam. Além do mais, se fundamentam na vida trinitária, inspirando um modelo circular de se configurar a comunidade eclesial. A fé foi por demais privatizada e não poucos acreditam que religião é assunto meramente individual, particular. Nos anos que seguiram o Concílio Vaticano II, a Igreja no Brasil e na América Latina desenvolveu uma prática de reflexão em pequenos grupos, comunidades (CEBs), que sustentou a fé de inúmeros irmãos e irmãs, bem como tornou a Igreja muito mais próxima da realidade vivida pelo povo. As CEBs são escolas que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé. Abraçam a experiência das primeiras comunidades, como estão descritas nos Atos dos Apóstolos. Essas comunidades permitem ao povo chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus e a um compromisso social em nome do Evangelho (DA. 178). Em Aparecida, o espírito comunitário foi retomado e a perspectiva é construir e assumir uma configuração eclesial, baseada em comunidades e comunidade de comunidades. 3. QUE REAFIRMEM SUA ADESÃO À PESSOA E À MISSÃO DE JESUS CRISTO LIBERTADOR O Objetivo Geral aqui coloca em destaque a importância da adesão à pessoa e à missão de Jesus Cristo Libertador. Não basta só a comunidade em si, apesar de ser um valor o espírito

comunitário como espaço de superação do individualismo crescente de nossa sociedade. É imperativo que a comunidade vá crescendo na adesão a Jesus Cristo, aprofundando o conhecimento da sua pessoa e, ao mesmo tempo, da sua missão e da proposta de realização humana que ele vivenciou e deixou para nós como oferta gratuita presente nos evangelhos. O acréscimo do adjetivo libertador quer enfatizar a situação sócio-econômico-política e cultural de nosso povo, marcada, sobretudo, pela injustiça, exclusão social e falta de ética, e quer sinalizar qual o significado da presença da Igreja na sua relação com o mundo. Basta-nos olhar as páginas dos evangelhos e observar como Jesus realizou a sua missão e, de forma encarnada, fazer a sua memória, atualizando-a no prosseguimento e no seguimento de Jesus Cristo, em tudo que disse e em tudo que fez. A libertação é integral, ou seja, de todos os homens e de toda a forma de escravização que neles exista. Aqui mais uma vez o documento de Aparecida vai afirmar que a verdadeira promoção humana não pode reduzir-se a aspectos particulares: deve ser integral, isto é, promover todos os homens e o homem todo, e o processo de evangelização envolve a promoção humana e a autêntica libertação, sem a qual não é possível uma ordem justa na sociedade (DA, 399 e Discurso inaugural de Bento XVI na Conferência de Aparecida). Adesão aqui significa, concretamente, discipulado, que nasce de uma experiência pessoal e comunitária com a pessoa e a proposta de Jesus Cristo. 4. NA SUA PAIXÃO PELO PAI E PELOS POBRES Fazendo uma leitura da Vida de Jesus nos Evangelhos descobrimos quais as suas duas grandes paixões: a intimidade que tem com o Pai e sua paixão pelos pobres. Neste particular, são inúmeros os textos que confirmam uma e outra paixão. Jesus se colocou freqüentemente, na realização de sua missão, diante do Pai, especialmente porque, sendo a revelação definitiva do que o Pai queria para a humanidade, colocou esta missão acima da sua pessoa. A Paixão pelos pobres se confirma na ação salvífica de Deus que se dirige prioritariamente aos pobres e excluídos. O amor de Deus pelos seres humanos tem preferências que devem ser respeitadas. O que quer Deus revelar com tal atitude? O que nos pobres poderia justificar esse gesto divino? Cabe-lhes um papel especial na economia salvífica querida por Deus? Na Bíblia encontramos na libertação do povo escravo no Egito o tema central da fé veterotestamentária (Dt. 26, 5-10). Esta fé distingue-se da que se encontrava nos povos vizinhos, pois este gesto de Deus se volta não para indivíduos em situações concretas, mas para um grande grupo social. Além disso, como esse povo se encontrava excluído do sistema social escravizante, Deus o leva a se constituir outra sociedade e, sobretudo, demonstra ser Ele próprio seu fundamento último. Dando continuidade à missão de Jesus na sua paixão pelos pobres, Ele se torna medida e modelo estrutural da nossa experiência de Deus. Ele se faz pobre. Convive com os pobres. Privilegia os pobres. Come com os pobres. Fá-los destinatários primeiros e principais da Boa Notícia (Lc. 4, 16-21.7,22; Mt. 11,15). Revela-nos, portanto, onde e como experimentar a Deus, seu Pai, na concretude da experiência com os pobres. O Deus do Reino só se atinge na experiência do Reino de Deus. E este Reino é dos pobres. A opção pelos pobres volta ao cenário da Igreja Latino-Americana e Caribenha na V Conferência. No texto conclusivo esta opção aparece como verdadeiramente evangélica, por se tratar de uma opção que está implícita na fé cristológica, nascendo, portanto, da nossa fé em Jesus Cristo (DA, 392) que nos impulsiona, como discípulos missionários de Jesus, a procurar caminhos novos e criativos a fim de responder a outros efeitos da pobreza (DA, 409). A novidade, no referido documento, é a explicação que dá do adjetivo preferencial. Ser preferencial implica que esta opção deve atravessar todas as nossas estruturas e prioridades pastorais (DA, 396), que não pode ser reduzida a uma prática das Pastorais Sociais e das CEBs, mas deve ser opção e prática de toda a comunidade eclesial. Experimentar Deus no pobre é imitar a Jesus na sua experiência de Deus.

5. EDIFICANDO, A SERVIÇO DO RESGATE DA DIGNIDADE HUMANA, UMA IGREJA SAMARITANA Aparecem aqui duas características eclesiológicas: Igreja Servidora e Igreja Samaritana. O Serviço é uma exigência da evangelização, como também uma das palavras-eixo para se compreender a Igreja pós-conciliar. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 1999-2002 afirmam: Por ele se reconhece a dignidade fundamental do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. Pelo serviço ao mundo, a Igreja se solidariza com as aspirações e esperanças da humanidade, levada, pela fome e sede de justiça, a colocar-se a serviço da causa dos direitos e da promoção da pessoa humana, especialmente, dos mais pobres em vista de uma sociedade justa e solidária (Doc. 61 da CNBB, nº. 92). Na Carta Apostólica de João Paulo II, no início do Novo Milênio, traduzindo o programa para o terceiro milênio em orientações pastorais às condições de cada comunidade, afirma o Papa: É de se esperar que o século e o milênio que estão começando hão de ver a dedicação a que pode levar a caridade para com os mais pobres. Se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo devemos saber vê-lo, sobretudo no rosto daqueles com quem ele mesmo se quis identificar (cf Mt. 25, 35-36). Esta página não é um mero convite à caridade, mas uma página de cristologia que projeta um feixe de luz sobre o mistério de Cristo. Nela, não menos do que o faz com a vertente da ortodoxia, a Igreja mede a sua fidelidade de Esposa de Cristo. Segundo as palavras inequívocas do Evangelho a que o texto do Papa se refere, há na pessoa dos pobres uma especial presença de Cristo, obrigando a igreja a ser servidora. É hora de uma nova fantasia da caridade, que se manifeste não só, nem sobretudo, na eficácia dos socorros prestados, mas na capacidade de pensar e ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto de ajuda seja sentido, não como esmola humilhante, mas como partilha fraterna. Entretanto este texto deve ser complementado e relido à luz de um outro documento do magistério universal: A Igreja na América (J. Paulo II). O serviço aos pobres, para que seja evangélico e evangelizador, deve ser um reflexo fiel da atitude de Jesus, que veio 'para anunciar aos pobres a Boa Nova' (Lc. 4,18). Essa constante dedicação pelos pobres e excluídos da sociedade se reflete no Magistério social da Igreja, que não se cansa de convidar a comunidade cristã a comprometer-se, a superar toda forma de exploração e opressão. Tratase, de fato, não só de aliviar as necessidades mais graves e urgentes através de ações individuais ou esporádicas, mas também de pôr em evidência as raízes do mal, sugerindo iniciativas que dêem às estruturas sociais, políticas e econômicas uma configuração mais justa e solidária. Dessa forma, a paixão pelos pobres acontece na comunidade eclesial para resgatar a dignidade humana, imagem e semelhança de Deus, tendo como horizonte eclesial o simbolismo de uma Igreja Samaritana, que se preocupa com os que estão à margem e deles prioritariamente se ocupa; são percebidos por ela, que toma atitudes de acolhimento, de cuidados. Diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas que clamam ao céu, a Igreja tem uma missão bem peculiar: ser advogada da justiça e defensora dos pobres (DA, 395 e 533). Dessa forma, ela estará contribuindo para o resgate da dignidade humana aviltada. 6. EM QUE TODOS SEJAM SUJEITOS DE UMA NOVA HISTÓRIA Aqui o destaque se dá na pedagogia, na metodologia de trabalho. Se os destinatários privilegiados, não os únicos, da nossa ação evangelizadora são os pobres, eles não podem ser vistos como objetos, mas valorizados como pessoas que têm uma história, valores, carismas e que, portanto, merecem ser respeitados, valorizados e, constantemente, envolvidos em todo o processo da ação evangelizadora, em vista de seu crescimento, bem como da construção de

uma Igreja - Comunhão. Nosso testemunho deve ir na contramão da história em que os pobres não são valorizados, não contam e, o pior, são manipulados. Nosso testemunho se expressa num jeito de quem está do lado deles, com eles. Eles devem ser os construtores da história, não de uma história qualquer, mas de uma nova história, que tem como horizonte a realização antecipada do Reino de Deus. 7. A CAMINHO DO REINO DEFINITIVO Sem dúvida, a nova história já está se gestando e são inúmeros os seus sinais. Não devemos ser pessimistas, já que o nosso alimento é a esperança de que a situação dada não se constitui o fim da história. Pode ser diferente. O alimento do cristão é a fé na ressurreição, que é motor de vida nova. A caminho do reino definitivo, os cristãos são reconfortados pela certeza da esperança na difícil luta pela libertação integral da pessoa humana e pela construção de uma sociedade justa, solidária e fraterna. O cristão tem consciência de seu compromisso na edificação da cidade terrena, mas sempre com os olhos voltados para a Jerusalém celeste, para o triunfo final de Deus, quando todas as coisas lhe serão submetidas e quando Deus será "tudo em todos" (1 Cor 15,28). É o desfecho glorioso da História da salvação, com a vitória absoluta e definitiva de Deus (Doc. 61 da CNBB, nº. 28). Afinal de contas, o mundo novo irrompeu com Jesus de Nazaré e o seu Evangelho é carregado de sentido vital, pois é o anúncio da vitória de Deus sobre tudo o que esmaga o ser humano. Na experiência da cruz irrompe a proclamação da ressurreição, antecipação da Vida Plena. Pe. Almir Magalhães