Discussão e Julgamento da causa

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Transcrição:

Discussão e Julgamento da causa Hermínia Oliveira Susana Silveira VI Colóquio de Direito do Trabalho Supremo Tribunal de Justiça

O ARTIGO 72.º DO CÓDIGO DE PROCESSO DO TRABALHO O JUIZ DA 1.ª INSTÂNCIA O artigo 72.º, n.ºs 1 e 4, emanação do princípio da oficiosidade, consagra um poder-dever do juiz justificado pela natureza pública dos interesses que a lei adjectiva laboral procura acautelar com vista a uma melhor realização da justiça e da harmonia sociais. Distingue-se do disposto no art. 27.º, al. b), quanto ao momento do seu exercício e quanto ao seu âmbito. Os poderes inquisitórios consignados no art. 72.º estão sujeitos a limitações: os factos só poderão fundar a decisão se não implicarem uma nova causa de pedir, nem a alteração ou ampliação da causa de pedir iniciais.

«Artigo 72.º (Discussão e julgamento da matéria de facto) 1 - Se no decurso da produção da prova surgirem factos que, embora não articulados, o tribunal considere relevantes para a boa decisão da causa, deve ampliar a base instrutória ou, não a havendo, tomá-los em consideração na decisão da matéria de facto, desde que sobre eles tenha incidido discussão». 2 ( ) 3 ( ) 4 Findos os debates, pode ainda o tribunal ampliar a matéria de facto, desde que tenha sido articulada, resulte da discussão e seja relevante para a boa decisão da causa». Em comum, têm os dois números do preceito os factos a atender: podem ser factos essenciais, instrumentais, complementares ou concretizadores, desde que relevantes para a apreciação do objecto do litígio.

A DIVERSIDADE: O MOMENTO, A FORMA, A AMPLITUDE E O EXERCÍCIO DOS PODERES-DEVERES CONTIDOS NOS N.º 1 E 4, DO ARTIGO 72.º O poder-dever contido no n.º 1 é, necessariamente, exercido em sede de audiência de discussão e julgamento; O poder-dever contido no n.º 4 é exercido pelo juiz no momento em que consigna os factos (provados e não provados); A aquisição de factos pelo n.º 1 pressupõe a ampliação da base instrutória quando a haja ou a comunicação expressa pelo juiz no sentido de que oportunamente os irá tomar em consideração na decisão da matéria de facto; A aquisição de factos pelo n.º 4 pressupõe a ampliação da matéria de facto numa fase em que a mesma é já objecto de apreciação por parte do Juiz;

O exercício do poder-dever do n.º 1 abrange factos não articulados; O exercício do poder-dever do n.º 4, reporta-se, sempre, a factos já articulados das partes. O poder-dever do n.º 1 é de uso exclusivo pela 1.ª instância; O poder-dever do n.º 4 é susceptível de ser usado, também, pela 2.ª instância.

OS REQUISITOS DO USO DOS PODERES-DEVERES CONTIDOS NOS N.º 1 E 4, DO ARTIGO 72.º No n.º 1, impõe-se que o juiz amplie a base instrutória ou comunique, expressamente, às partes que os factos que estão a chegar ao seu conhecimento no desenrolar da produção da prova, porque relevantes, vão ser atendidos aquando da fixação da matéria de facto; Só com esta comunicação é cumprido, cabalmente, o princípio do contraditório, evitando-se que a decisão proferida venha a ser impugnada por constituir surpresa para as partes; No n.º 4, o contraditório terá sido já cumprido, no âmbito da recíproca resposta das partes aos articulados que apresentam, ou da prova produzida em sede de audiência de discussão e julgamento.

O poder-dever previsto no art. 72.º, n.º 1, mostra-se estruturado em ordem à sua utilização pelo juiz da causa. Omitindo o juiz o seu uso, nada obsta a que a parte o impulsione, requerendo, ela própria, a ampliação da matéria de facto. No nosso ver, o uso deste poder-dever, seja por iniciativa do juiz seja a impulso da parte, não deverá ser exercido nos casos em que a parte, expressamente notificada para o efeito, tenha já incumprido ou cumprido deficientemente o dever de aperfeiçoar o seu articulado.

O NÃO USO DOS PODERES CONTIDOS NO ART. 72.º, N.º 1 E 4 CONSEQUÊNCIAS - O não uso, pelo juiz, do poder-dever constante do n.º 1 do art. 72.º é susceptível de gerar nulidade, assim recortada: Trata-se de uma nulidade processual e não de uma nulidade da sentença; Tem que ser arguida, pela parte interessada, na própria audiência (art. 199.º, n.º 1, do Código de Processo Civil); Não sendo arguida, considera-se sanada. - O não uso, pelo juiz, do poder-dever constante do n.º 4 do art. 72.º só poderá ser suscitado no âmbito do recurso da sentença.

A AMPLIAÇÃO DE FACTOS E A OMISSÃO DO CONTRADITÓRIO Se o juiz, no uso do poder dever contido no art. 72.º, n.º 1, amplia a matéria de facto mas omite o cumprimento do princípio do contraditório ou, em caso paralelo, serve-se de factos, na fundamentação de direito, que apenas constam da fundamentação de facto, viola o princípio do contraditório. Esta violação gera nulidade da sentença que tem, necessariamente, de ser arguida em sede de recurso que dela venha a ser interposto.

O uso, pelo juiz, do poder-dever contido no n.º 4 do art. 72.º só assume relevância material nas situações que exista base instrutória (ou, agora, selecção dos temas da prova) pois só nelas se verifica uma ampliação «expressa» da base instrutória ou dos temas da prova. Nos demais casos, a resposta à matéria de facto constitui o primeiro momento de definição material dos factos relevantes e articulados pelas partes pelo que o juiz acabará por se pronunciar acerca de todos eles. Ou seja, consignará todos os factos que, tendo sido alegados e relevando para a boa decisão da causa, foram objecto de discussão e prova em sede de julgamento. Releve-se, ainda, a possibilidade de o juiz ordenar a reabertura da audiência a fim de inquirir testemunhas ou ordenar as diligências que tiver por necessárias, sempre que entenda não estar suficientemente esclarecido relativamente a determinados pontos da matéria de facto (art. 607.º, n.º 1, do Código de Processo Civil).

Uso dos poderes-deveres contidos no artigo 72.º, n.º 1 e 4, pelo Tribunal da Relação Os poderes de conhecimento de facto pelo Tribunal da Relação estão condensados no artigo 662.º, do Código de Processo Civil, não contendo, nesta sede, o Código de Processo do Trabalho, qualquer especificidade ou especialidade no domínio do julgamento de facto em 2.ª instância. Mesmo os poderes, de uso oficioso, atribuídos à Relação, elencados nas várias alíneas do n.º 2 do art. 662.º, circunscrevem-se, sempre, à matéria de facto já definida pela 1.ª instância ou à sindicância sobre os meios de prova que a sustentam.

Uso dos poderes-deveres contidos no artigo 72.º, n.º 1, pelo Tribunal da Relação Por sua iniciativa, o Tribunal da Relação não pode usar dos poderes consentidos pelo art. 72.º, n.º 1, ainda que se aperceba, no decurso da audição do registo da prova produzida em sede de audiência de discussão e julgamento, de factos novos, relevantes e discutidos pelas partes. Constatado o incumprimento desse poder-dever pelo Juiz a quo, ao Tribunal da Relação apenas assiste a possibilidade de, havendo recurso do despacho que tenha indeferido a arguição atempada da nulidade processual pela parte, ordenar o reenvio dos autos à 1.ª instância, a fim de que seja aquele preceito cumprido. Não tendo sido arguida a nulidade perante o juiz de 1.ª instância, considera-se a mesma sanada e os factos ainda que relevantes e discutidos em sede de audiência de discussão e julgamento não poderão ser atendidos para a decisão do litígio.

Uso dos poderes-deveres contidos no artigo 72.º, n.º 4, pelo Tribunal da Relação O exercício, pelo Tribunal da Relação, dos poderes ínsitos no n.º 4 do art. 72.º estará dependente do âmbito do recurso que venha a ser interposto. Se o juiz omitir pronúncia sobre factos articulados, discutidos e relevantes para a boa decisão da causa, e a parte, no recurso que venha a interpor da matéria de facto, requeira ao Tribunal da Relação que sobre eles se pronuncie, poderá este Tribunal emitir pronúncia, acrescentando-os se for caso disso; Se o juiz omitir pronúncia sobre factos articulados, discutidos e relevantes para a boa decisão da causa e a parte nada diga no recurso que venha a interpor, o Tribunal da Relação a eles não poderá atender, porquanto não foi impugnada a matéria de facto, nesse concreto âmbito. Neste caso, entendendo a Relação que faltam factos relevante e tenham sido alegado nos autos, nos termos do disposto na al. c) do n.º 2 do art. 662.º NCPC, deve reenviar o processo ao Tribunal de 1.ª instância a fim de ser ampliada a matéria de facto.

O SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA O STJ tem, por regra, funções de estrita aplicação do direito aos factos, tal-qual vêm fixados pelas instâncias. Excepcionalmente, pode o STJ intervir no apuramento da matéria de facto casos expressamente referidos no art. 674.º, n.º 3 e 682.º, n.º 3 do NCPC, sendo que, mesmo neste âmbito, apenas pode decidir, directamente, nos casos em que verifique que na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa tenha existido ofensa de uma disposição expressa de lei que exija certa espécie de prova para a existência do facto ou que fixe a força de determinado meio de prova (podendo eliminá-los ou acrescentá-los). Nos restantes casos ampliação da matéria de facto ou supressão de contradições também o STJ tem de reenviar o processo para as instâncias. Fora do âmbito destas excepções legais, o STJ não pode sindicar a matéria de facto, tanto mais que as decisões que nesse domínio forem tomadas pela Relação no uso dos poderes contidos no art. 662.º são insusceptíveis de ser objecto de recurso de revista.

Aquisição da matéria de facto no Processo Laboral Comum Por regra, os factos necessários e pressupostos para apreciação do litígio são alegados pelas partes nos respectivos articulados. Quando o Tribunal entende que os factos alegados são insuficientes para apreciação dos pedidos formulados, pode e deve, convidar as partes a carrear para os autos a matéria de facto pertinente. Podendo fazê-lo: Na audiência de partes Em despacho próprio para aperfeiçoamento Na audiência prévia Na audiência de julgamento (logo no início ou no decurso da mesma) Após a audiência de julgamento

Artigo 72.º, n.º 1 Os factos não são alegados pelas partes mas são trazidos no âmbito da produção da prova Não se contêm nos limites da causa de pedir e do pedido Contêm-se nos limites da causa de pedir e do pedido Não podem ser atendidos pelo Tribunal (Nem se deve permitir a sua discussão) Podem, e devem, ser atendidos pelo Tribunal

O Tribunal deve atender aos factos Atende-os e cumpre o contraditório. Atende-os e não cumpre o contraditório. Não atende aos factos. As partes pronunciam- se e produzem prova para a sua demonstração; o juiz incluí-os na matéria de facto para proferir decisão de Direito. Verifica-se a nulidade da sentença por se fundamentar em factos sobre os quais não incidiu contraditório. Há uma omissão do dever de cumprir o disposto do n.º 1 do art. 72.º CPT, gerador de nulidade processual. A parte não concorda, recorre da sentença nos termos gerais, verificados que sejam os pressupostos legais para o efeito. A parte tem de recorrer e arguir a nulidade da sentença, nos termos gerais. A parte tem que arguir a nulidade no próprio acto (nulidade processual sanável). Como o juiz não atendeu aos factos, não os considerou na sentença, não se gera a nulidade desta.

O Art. 72.º, n.º 1 e os Poderes da Relação O poder-dever constante do art. 72.º, n.º 1, não é susceptível de, directamente, ser exercido pelo Tribunal da Relação Se a 1.ª instância adita factos O Juiz da 1.ª Instância Se o Juiz da 1.ª Instância novos e não cumpre o contraditório adita os factos e cumpre não inclui os factos o contraditório A parte tem que arguir a nulidade Como os factos não constam da sentença, por violação do princípio O Tribunal da Relação, da sentença, a Relação não os do contraditório, devendo o Tribunal da havendo recurso da matéria pode conhecer. Mesmo que, Relação ordenar a baixa dos autos à 1.ª de facto, reaprecia os factos perante ela, seja arguida, Instância a fim de que aquele princípio nos moldes normais a nulidade processual já se seja observado encontrará sanada. Não poderá ordenar a baixa dos autos para apreciação desses factos porque não alegados.

O Art. 72.º, n.º 4 e os Poderes da Relação O poder-dever constante do art. 72.º, n.º 4, é susceptível de, diretamente, ser exercido pelo Tribunal da Relação. Se a 1.ª Instância não se pronunciou em relação a factos articulados e sobre os quais incidiu discussão, a Relação, desde que haja impugnação pelas partes, pode adquiri-los para os autos, no âmbito da apreciação dessa impugnação.

Poderá a Relação suprir a falta de exercício do poder-dever do art. 72º, n.º1? O disposto no art. 712º do CPC, e no atual art. 662º, n.º 2 do NCPC, não é susceptível de aplicação em relação a factos novos que poderiam ser adquiridos pelos mecanismos do art. 72º, n.º 1 porquanto aqui se tratam de factos que não foram alegados pelas partes. A Relação só pode reapreciar a matéria de facto adquirida nos autos e o procedimento realizado pelo juiz para os adquirir. O poder de ampliação da matéria de facto atribuído à Relação tem de se reportar apenas aos factos articulados pelas partes

Conclusão A possibilidade de aquisição, conformação e delimitação dos factos novos trazidos ao conhecimento do Tribunal no âmbito da audiência e discussão de julgamento consubstancia-se no poder-dever único estabelecido no n.º 1 do art. 72.º do CPT, traduzindo o paradigma e a excelência, no âmbito da decisão da matéria de facto, dos poderes exclusivamente atribuídos ao juiz da 1.ª Instância. Este poder-dever visa satisfazer o princípio da verdade material e o seu exercício impõe um equilíbrio, balanceado, dos princípios do dispositivo e do inquisitório, sempre com observância do contraditório.