Abelhas Nativas na Educação Ambiental Native Bees in Environmental Education OLIVEIRA, Jovelina Maria de 1 ; FREITAS JÚNIOR, Eliel Souza 2, SILVA, Francimar Perez Matheus da 3, GOLZE, Vera Lúcia Oliveira 4, PERUCA, Ricardo Dias 5. 1 Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural, Campo Grande, MS, jovmarias@yahoo.com.br; 2 Associação Estadual de Cooperação Agrícola, Campo Grande, MS, elielfj@yahoo.com.br; 3 SEPAF - Secretaria de Produção e Agricultura Familiar, MS, fsilva@sepaf.ms.gov.br; 4 Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural, Anastácio, MS, vera_zoo@hotmail.com; 5 Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural, Campo Grande, MS, ricardoperuca@yahoo.com.br. Resumo: As abelhas nativas, além da sua importância ecológica, econômica, e social, desempenham um papel essencial nos processo de educação ambiental, criando condições para que diferentes públicos, tanto no meio rural quanto no meio urbano, possam conhecer, aprender, e valorizar as diferentes espécies de abelhas. Este trabalho está sendo desenvolvido como uma das estratégias do Núcleo de Agroecologia de Pesquisa, Ensino, Extensão e Saberes Tradicionais do Estado de Mato Grosso do Sul no componente meliponicultura, envolvendo nesta etapa a montagem de um meliponário matriz, a divulgação em três feiras agropecuárias, e duas oficinas de capacitação. O meliponário matriz está sendo instalado no Centro de Pesquisa e capacitação da AGRAER CEPAER, contando atualmente com cinco espécies: Frieseomelitta varia (Marmelada amarela), Tetragonisca angustula (jataí), Melipona favosa, Melipona marginata (Manduri), Plebéia sp. (Mirim) e Nannotrigona testaceicornes (Iraí). As atividades de divulgação aconteceram nas seguintes feiras: 17ª ExpoSidro, em Sidrolândia; 78ª Expogrande, em Campo Grande, e a 48ª Expoaqui, em Aquidauana. As oficinas de capacitação aconteceram durante a Agroecoindígena, em Miranda. Essa experiência demonstrou que a abordagem da educação ambiental, através do tema da meliponicultura, tem a capacidade de promover o conhecimento e conscientização das pessoas sobre a importância das abelhas nativas assim como criar condições para a inserção desta atividade como fonte alternativa de renda para a agricultura familiar. Palavras-chave: extensão rural, meliponicultura, conscientização, agricultura familiar, agroecologia. Abstract: Native bees, as well as their ecological, economic, and social, play an essential role in environmental education process, creating conditions for different audiences, both in rural and in urban areas, can meet, learn, and value different the bee species. This work is being developed as a strategy of Núcleo de Agroecologia de Pesquisa, Ensino, Extensão e Saberes Tradicionais do Estado de Mato Grosso do Sul in beekeeping component involving this stage assembly to a "matrix meliponary," the disclosure in three agricultural fairs, and two training workshops. The "matriz' meliponary" is being installed at the Centro de Pesquisa
e capacitação da AGRAER CEPAER, currently has five species: Frieseomelitta varies (yellow Marmalade) Tetragonisca angustula (jataí), Melipona favosa, Melipona marginata (Manduri), Plebéia sp. (Mirim) and Nannotrigona testaceicornes (Iraí). The dissemination activities took place in the following trade shows: 17th ExpoSidro in Sidrolândia; 78th Expogrande in Campo Grande, and the 48th Expoaqui in Aquidauana. The training workshops took place during the Agroecoindígena in Miranda. This experience has shown that the approach to environmental education, through the theme of beekeeping, has the ability to promote knowledge and awareness of people about the importance of native bees as well as create conditions for the inclusion of this activity as an alternative source of income for agriculture family. Keywords: rural extension, beekeeping, awareness, family farming, agroecology. Contexto A ação foi desenvolvida com o projeto Constituição do Núcleo de Agroecologia da Extensão, Pesquisa, Ensino e Saberes Tradicionais do Estado de Mato Grosso do Sul, proposto pela Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (AGRAER) e apoio financeiro do Ministério de Desenvolvimento Agrário em parceria com Conselho Nacional Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A inserção do componente abelhas nativas enquanto estratégia de ação do Núcleo de Agroecologia está ligada à compreensão de que a diversificação das atividades produtivas é uma das bases fundamentais da agroecologia. Esse fator é ainda mais relevante ao se considerar que com a implantação e expansão da agropecuária no estado, base de sua economia, grande parte das espécies apropriadas para nidificação das abelhas nativas foram ou estão sendo eliminadas. Muitas espécies de abelhas nativas já foram extintas e outras estão em processo de extinção em algumas regiões. Esse é um processo contínuo que coloca em risco a própria existência dos diversos biomas. Tendo como referência a importância da diversificação das atividades produtivas na promoção da agroecologia, é importante salientar que a área de abrangência do trabalho é composta por dois biomas ricos em biodiversidade, o Cerrado e o Pantanal. O Cerrado, segundo maior bioma do País (LIMA, 2011), é caracterizado por formas de vegetação com diferentes fitofisionomias que apresentam camadas herbáceas e arbustivas, as árvores geralmente possuem troncos retorcidos, com espessas cascas e frequentemente apresentam sinais de queima (FERRI, 1969). A degradação do bioma transformou o Cerrado em um grande emissor de CO2 na atmosfera, com níveis já equivalentes aos da Amazônia, além da perda de
biodiversidade e serviços ecológicos desse importante bioma (FERNANDES et al., 2010). Um estudo divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente aponta que nos últimos 6 anos o Cerrado perdeu, por ano, 21 mil km 2 de sua cobertura vegetal, o dobro do que foi registrado na Amazônia no mesmo período. De 2002 a 2008, o índice de desmatamento foi de 6,3%, aumentando de 41,9% para 48,2% as áreas desmatadas (MAGELA, 2009). O Pantanal ocupa uma área de 150.355 km², próximo de 1% do território nacional, é constituído principalmente por savana estépica alagada em sua maior parte. O Pantanal está presente em apenas dois estados brasileiros, no Mato Grosso ocupa 7% do território e Mato Grosso do Sul 25%. A região é uma planície aluvial influenciada por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai, onde se desenvolve uma fauna e flora de rara beleza e abundância. A fauna e flora do Pantanal são influenciadas pelos quatro biomas que o contornam, Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Chaco e Cerrado (FERNANDES et al., 2010). Dentro da planície pantaneira ocorrem cerca de 1.863 espécies de plantas superiores, 269 de peixes, 41 espécies de anfíbios, 177 de répteis, 470 espécies de aves e 124 espécies de mamíferos. Para tanto é necessário que sejam realizadas ações de preservação e recomposição de plantas e animais que são a chave para a conservação da biodiversidade (MENDONÇA et al.,1998). Ações de preservação e recomposição de plantas e animais são a chave para a conservação da biodiversidade uma vez que os polinizadores possuem importante papel no sucesso reprodutivo e fluxo gênico de muitos grupos importantes de plantas agrícolas e florestais e estas plantas, por sua vez, são importantes fontes de recursos alimentares para os visitantes. As abelhas nativas sem ferrão representam uma importante riqueza da entomofauna brasileira participando como forte preservadora do ambiente e manutenção das espécies ali existentes. Estas abelhas são os principais polinizadores das espécies florais tropicais, com participação em 40 a 90% na reprodução das plantas nativas (MATEUS, 1998), tendo grande importância econômica como agentes polinizadores, visando a manutenção de espécies vegetais, o equilíbrio ecológico nos ecossistemas, a produção de mel e geoprópolis garantindo a produção de frutos e sementes, que permitem a sobrevivência da fauna e flora e das comunidades que vivem de sua exploração (KERR, 1987). Neste sentido, a criação das abelhas nativas, meliponicultura, pode representar uma alternativa tanto do ponto de vista da preservação das espécies, por conseguinte dos principais polinizadores, mas também como fonte saudável de alimento e como fonte sustentável de renda, com a produção de mel e outros subprodutos, para as
populações rurais. É também uma atividade que pode ser integrada ao manejo florestal, ao plantio de fruteiras e culturas de ciclo curto, contribuindo para o aumento da produção. Este fator se torna ainda mais relevante ao constatar que na região de abrangência do Núcleo de Agroecologia existe um grande número de agricultores/as familiares. Boa parte dos municípios está inserida do Território da Reforma, uma política pública articulada no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário. No Território existem atualmente 33 (trinca e três) assentamentos de reforma agrária onde estão assentadas aproximadamente 4.400 (quatro mil e quatrocentas) famílias. Desta forma, as práticas desenvolvidas estão em acordo com o objetivo do Núcleo de Agroecologia, ao promover o resgate, a preservação e a disseminação de conhecimento, práticas produtivas, culturas e criações de base agroecológica nos meios técnico, científico e tradicional e comunidades rurais; Gerar tecnologias adaptadas à realidade local para produção de alimentos em sistemas agroecológicos; e Promover a sistematização, a socialização e a disseminação de informações, conhecimentos, práticas e espécies, como forma de consolidação da agroecologia. Descrição da Experiência A experiência foi iniciada em julho de 2015, após a aprovação do projeto, com a implantação do meliponário matriz, seguido das ações de disseminação da experiência nas feiras agropecuárias, e da capacitação de produtores. A seguir detalhamentos cada uma das ações desenvolvidas até o momento. Implantação de um meliponário matriz : consiste na aquisição e/ou captura de enxames nidificados em cortiços, sua transferência para caixas racionais para abelhas nativas, e a multiplicação (divisão) dos enxames para posterior distribuição, sendo que com cada espécie é usado um tipo de caixa apropriado. As caixas racionais são de dois padrões, a comum, com todas as suas repartições em madeira, e a didática, onde parte da caixa é construída com material transparente (vidro e pvc rígido). O meliponário matriz está sendo instalado no Centro de Pesquisa e capacitação da AGRAER CEPAER, e conta com cinco espécies: Frieseomelitta varia (Marmelada amarela), Tetragonisca angustula (jataí), Melipona favosa, Melipona marginata (Manduri), Plebéia sp. (Mirim) e Nannotrigona testaceicornes (Iraí). No desenvolver do projeto será instalado outro meliponário matriz no Centro de Pesquisa da AGRAER em Anastácio.
Imagem 1. Caixa didática utilizada para Plebéia sp. (Mirim) Ações de disseminação da experiência: Consiste na montagem das caixas didáticas em locais de eventos públicos, para promoção da educação ambiental. Como tem uma das partes visível, é possível observar o trabalho da colônia dentro da caixa de abelha, dando maior visibilidade sobre a biologia e a fisionomia de cada espécie. Com as caixas montadas, um técnico ligado ao núcleo vai expondo para as pessoas que visitam o local cada um das características de cada espécie. Até o momento foram feitas estas ações nos seguintes eventos: 17ª ExpoSidro, em Sidrolândia, entre os dias 01 setembro e 06 setembro de 2015; 78ª Expogrande, em Campo Grande, entre os dias 07 e 17 de abril de 2016, e a 48ª Expoaqui, em Aquidauana, entre os dias 12 a 16 de agosto de 2016. Imagem 2. Apresentação durante a 78ª Expogrande
Capacitação de produtores: Consiste na realização de oficinas teóricas e práticas. Foram realizadas até o momento duas oficinas para o público da Agroecoindígena, no dia 3 de Julho de 2016, em Miranda. Cada oficina teve a duração de 4 horas, sendo facilitada por uma técnica da Agraer, abordando os seguintes conteúdos: organização social, importância, biologia e ecologia da abelha, técnicas de produção, multiplicação e manutenção dos enxames, colheita, processamento, e comercialização dos produtos das abelhas nativas. Resultados Imagem 3. Oficina realizada na Agroecoindígena A experiência de trabalhar com abelhas nativas com diferentes públicos, urbanos e rurais, tem possibilitado ao grupo envolvido uma série de aprendizados e trocas de experiências. A implantação do meliponário matriz é estratégico para proteger e ampliar o banco genético das abelhas nativas nas comunidades rurais e estimular o desenvolvimento de políticas públicas que contemplem ações para esta atividade. Promoção da educação ambiental através do tema da meliponicultura junto ao público que circulou nas Feiras Agropecuárias de Campo Grande, Sidrolândia e Aquidauana contribui para a disseminação da prática de criação de abelhas nativas. A meliponicultura potencializa a consciência ambiental das pessoas envolvidas, tanto á medida que passam a compreender sua importância na natureza, quanto com a possibilidade de obter retorno econômico com a comercialização de seus produtos (mel, própolis, colônias, entre outros).
Capacitação de produtores indígenas que participaram da Agroecoindígena, realizada em Miranda e em novos eventos é uma ferramenta fundamental para geração e transmissão de conhecimento sobre o a produção sustentável da atividade de meliponicultura. Ao trabalhar com a capacitação de grupos de agricultores/as familiares no tema da meliponicultura o desenvolvimento de materiais didáticos e paradidáticos e abordagens do conteúdo de forma participativa, envolvendo atividades práticas, fortalece a fixação e aproximação do público em questão para conservação da biodiversidade local. A realização de atividades lúdicas contribui para o aprendizado, transmitindo as informações sobre as abelhas nativas de forma interativa e relacionada à realidade local, promovendo-se o conhecimento de sua importância para a manutenção do ecossistema, contribuindo para a preservação das abelhas. É essencial, para o fortalecimento e consolidação da meliponicultura do Mato Grosso do Sul, a criação de normas estaduais específicas para o processamento e comercialização dos produtos das abelhas nativas, gerando condições para que ela possa atender aos requisitos de qualidade e segurança alimentar exigidos pelos órgãos fiscalizadores e pelo mercado atual, técnicas racionais de manejo, extração, processamento e conservação de seus produtos e que contemplem as Boas Práticas de Produção BPP devem ser desenvolvidas. A experiência evidencia ainda que muitas pessoas, inclusive técnicos, desconhecem a importância das abelhas sem ferrão e o potencial da meliponicultura enquanto atividade com fins econômicos, o que evidencia o quanto é essencial fortalecer e disseminar as experiências de resgate, multiplicação, criação e disseminação das práticas com abelhas nativas. Referências FERNANDES, I. M., SIGNOR, C. A., PENHA, J (organizadores). Biodiversidade no Pantanal de Poconé. Centro de Pesquisas do Pantanal CPP, Cuiabá, 2010. FERRI, M. G. Plantas do Brasil: espécies do cerrado. São Paulo: EDGARD BLÜCHER. 239p, 1969. KERR, W. E. Abelhas indígenas brasileiras (Meliponíneos) na polinização e na produção de mel, pólen, geoprópolis e cera. Informe Agropecuário n 13, p 15-22. 1987.
LIMA, J. E. F. W. Situação e perspectivas sobre as águas do cerrado. Ciência e Cultura, v. 63, n. 3, p. 27-29, 2011. MAGELA, Geraldo, O alerta que vem do cerrado, 2009, disponível em: http://www.wwf.org.br/informacoes/?21400/o-alerta-que-vem-do-cerrado. Acesso em 10/11/ 2015. MATEUS, S. Abundância relativa, fenologia e visita as flores pelos Apoidea do cerrado da Estação Ecológica de Jataí, Dissertação (Mestrado Entomologia). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 1998.168p. MENDONÇA, R. C. FELFILI, J. M., WALTER, B. M.T & JÚNIOR, M. C. S. 1998. Flora vascular do Cerrado. In: Sano, S. M. & Almeida, S. P. (eds) Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: Embrapa CPAC, p. 289 306.