1.Celebramos, neste IV domingo da Páscoa e dia do Bom Pastor, a Festa de Nossa Senhora da Misericórdia, Padroeira da nossa Santa Casa da Misericórdia do Porto. A história da Santa Casa da Misericórdia do Porto é feita de vida, de fé, de oração, de trabalho, de dedicação e de generosidade de muitos, a quem nunca faltou a bênção e a proteção de Nossa Senhora da Misericórdia. Neste dia em que celebramos a nossa Padroeira somos necessariamente conduzidos a pensar na nossa cidade e nas pessoas, nos tempos, nos lugares, nas situações e nas iniciativas que fizeram desta Instituição uma Obra prestigiada, que há 514 anos foi necessária e hoje se tornou imprescindível. Ao olharmos para a história desta Instituição facilmente compreendemos a importância e a verdade da palavra do Papa Bento XVI na sua encíclica A caridade na verdade, ao afirmar que o amor é uma força extraordinária que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça, da misericórdia e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, amor eterno e verdade absoluta 1 / 5
. E continua o Santo Padre: A caridade é a via mestra da doutrina social da Igreja. As diversas responsabilidades e compromissos por ela delineados derivam da caridade, que é a síntese de toda a lei. (Car. in veritate -2). A caridade é a síntese de toda a lei na linha do Evangelho de Jesus Cristo, que nos ensinou a descobrir um irmão no nosso próximo e a amarmo-nos uns aos outros como Ele nos amou. E o Papa Francisco que tem a experiência do hemisfério sul, onde vivem dois terços dos católicos, muitos dos quais em pobreza, fez da misericórdia um dos aspetos centrais do seu pontificado. A misericórdia não é apenas um atributo de Deus mas é também a chave da existência cristã. Sejamos também nós misericordiosos como Deus é misericordioso connosco e assim estaremos a construir um mundo novo edificado no alicerce firme do amor misericordioso de Deus. 2. Quem ignora hoje o valor da intuição que levou a Rainha D. Leonor a ocupar-se dos pobres e dos mais desprotegidos e a criar, em 1498, a primeira Santa Casa da Misericórdia, para que o amor compassivo de Deus se fizesse dedicação, bondade e misericórdia a favor dos nossos irmãos? Quem seria capaz de imaginar nessa hora distante, que cinco séculos depois seriam tão graves e diferentes as dificuldades económicas, as provações humanas e as pobrezas do nosso tempo e que continuariam tão atuantes e imprescindíveis as Misericórdias? Celebrar a Festa de Nossa Senhora da Misericórdia, nossa Padroeira, significa abrir a memória do nosso coração ao imenso património de bem-fazer que a Santa Casa da Misericórdia do Porto realizou e ampliar os horizontes do futuro à criatividade da misericórdia e à ousadia da 2 / 5
caridade perante as dores acrescidas da Humanidade. Ao lermos as lições da história, unindo a tradição e a contemporaneidade, saberemos encontrar resposta clarividente e eficaz aos desafios da vida, assumindo os compromissos da fé e percorrendo os caminhos da misericórdia. Aqui estamos hoje, em tempo pascal e em hora de gratidão, por imperativo de compromisso com esta Instituição da Igreja, que sempre pautou o seu agir pelas catorze obras de misericórdia, formuladas e vividas segundo os critérios do Evangelho. A sociedade do nosso tempo carece de pessoas e instituições, de iniciativas e lugares onde a vida se acolha com a alegria, a dignidade humana se afirme sem ambiguidades, as famílias se consolidem no amor abençoado e os mais pobres e fragilizados pela doença ou pela idade avançada sejam cuidados com ternura e bondade. 3. Ajuda-nos nesta missão e ilumina-nos neste caminho a Palavra de Deus, hoje proclamada. Quando Pedro, no dia de Pentecostes, como nos diz a primeira leitura, partiu do Cenáculo ao encontro da multidão, que enchia por inteiro as ruas de Jerusalém falou ao povo e juntaram-se a ele muitas pessoas (Act 2, 1-41). Estas pessoas, habitantes de Jerusalém ou vindas da Galileia dos gentios ou de átrios diferentes e periferias distantes eram como ovelhas desgarradas mas agora voltadas para o pastor e guarda das suas almas, diz-nos Pedro na segunda leitura ((1 Ped 2, 20-25). O Pastor e Porta, de que nos fala o Evangelho, é Jesus Cristo, que a Si mesmo aplica estas belas imagens da cultura do seu tempo (Jo 10, 1-10). Ser pastor e ser porta significa abrir caminho e guiar o rebanho e cuidar com alegria, criatividade, paciência, perdão e misericórdia para que todos tenham vida e a tenham com abundância. O 3 / 5
xalá as portas da Igreja e do coração dos cristãos nunca se fechem diante daqueles que nos procuram ou daqueles que andam dispersos, desgarrados ou esquecidos, como nos lembrava hoje, em Roma, o Papa Francisco! A misericórdia, que consiste em saber voltar o coração para os pobres, é a face mais bela do cuidado e do desvelo do pastor segundo o Coração de Cristo, o bom e belo Pastor da Igreja. Esta tem sido uma preocupação constante da Igreja: ser rosto e protagonista das bem-aventuranças do reino, através da linguagem e do exercício das obras de misericórdia do evangelho. Essa é, também, a missão de todos nós! 4. Neste domingo do Bom Pastor, em que a Igreja celebra a conclusão da 51.ª Semana de oração pelas Vocações de consagração importa reconduzirmo-nos ao Coração de Cristo, o Bom Pastor, cheio de misericórdia e de bondade, para que continue a enviar servidores da Messe e mensageiros da misericórdia de Deus. As vocações são o testemunho da verdade de Deus, que continua a chamar, e da verdade da Igreja que quer e deve estar atenta aos jovens, às famílias, às escolas, aos movimentos apostólicos e às comunidades cristãs, para que a voz do Senhor encontre resposta generosa, decidida e feliz ao chamamento de deus. A semente da vocação continua a germinar na terra boa do povo fiel. Quem semeia com alegria colherá a seu tempo com abundância! 4 / 5
Quero agradecer a Deus os sacerdotes, seminaristas, diáconos e consagrados(as) da nossa Igreja do Porto. Que a todos Deus abençoe na alegria, na generosidade e na fidelidade. Que os saibamos sempre merecer, acompanhar e agradecer! 5. Que Nossa Senhora da Misericórdia, nossa Padroeira, nos ilumine na fé, nos anime na esperança e nos fortaleça na caridade para sermos construtores do bem comum e servidores na alegria e na esperança de um mundo melhor. Porto, Igreja da Santa Casa da Misericórdia, 11 de maio de 2014. António, Bispo do Porto 5 / 5