Deixemo-nos olhar por este olhar do Senhor Santo Cristo e procuremos olhar o mundo à luz deste mesmo olhar de Jesus!

Transcrição

1 1. Saúdo-vos, irmãs e irmãos peregrinos desta Região Autónoma, distribuídos pelas nove Ilhas dos Açores ou repartidos pelos caminhos da emigração, que levaram milhares de pessoas deste coração do Atlântico e de Portugal para todos os recantos do mundo. Celebramos esta Eucaristia em comunhão com o Santo Padre, o Papa Francisco, e unimo-nos às suas intenções, nesta peregrinação à Terra Santa. Estão connosco, também, quantos nos acompanham através dos meios de comunicação social. Fixemos o olhar do nosso coração nos sinais da fé desta multidão de peregrinos do Senhor Santo Cristo dos Milagres, neste Santuário de Ponta Delgada, nos Açores. Deixemo-nos inundar de ternura e de bênção que sobre nós derrama o olhar terno e sereno, olhar de mansidão e de misericórdia, do Senhor Santo Cristo dos Milagres. O Seu olhar é um olhar que aconchega o nosso coração, um olhar que acolhe as nossas preces, um olhar que abençoa as nossas famílias, um olhar que abraça o mundo! Deixemo-nos olhar por este olhar do Senhor Santo Cristo e procuremos olhar o mundo à luz deste mesmo olhar de Jesus! 2. Assim nos queres, aqui, Senhor Santo Cristo, como Teus discípulos, para aprendermos o Teu modo de ser e de estar e celebrarmos hoje o memorial da última Ceia. Assim nos queres, Senhor Santo Cristo, como servidores da alegria do evangelho, para sermos toalha cingida do lava-pés, feita toalha de Verónica para as suas lágrimas, ombro de Simão, o cireneu, para aliviar a cruz dos que sofrem. Ajoelho diante deste Teu olhar que nos revela o amor que vives pela Humanidade e a abundância da misericórdia que por todos nós repartes. 1 / 5

2 Cruzo o meu olhar com os olhares confiantes de tantos peregrinos e da multidão que enche por inteiro este Campo de S. Francisco e as ruas da nossa Cidade. 3. Dou-Te graças, Senhor Santo Cristo, por todos os que semeiam palavras de estímulo e de bondade no caminho dos homens, anunciam a alegria do evangelho e correm ao encontro da esperança, como afirma o lema pastoral deste Santuário para este ano. Dou-Te graças, Senhor Santo Cristo, pelos que acreditam que o perdão é a força mais sublime do amor e, por isso, mandam acolher o filho, o marido, a esposa ou o irmão que regressam a casa de mãos cansadas pelas derrotas da vida mas de alma purificada pela abundância da divina misericórdia. Dou-Te graças, Senhor Santo Cristo, pela Tua Mãe e pelas nossas mães que não se afastam da cruz dos seus filhos doentes e nas vigílias dolorosas da noite velam por nós para que amanheçam em madrugadas de Páscoa novos dias da nossa vida. Dou-te graças, Senhor Santo Cristo, por quantos aliviam o peso que aflige os seus irmãos e fazem da pobreza de espírito,, da pureza de coração, da misericórdia, da mansidão da justiça e da paz a alegria partilhada no adro do encontro com as bem-aventuranças do evangelho. Dou-Te graças, Senhor Santo Cristo, porque em solene procissão percorreremos logo à tarde, Contigo, as ruas desta bela Cidade, neste recanto abençoado do nosso País, voltado para o Atlântico. Dou-Te graças, Senhor Santo Cristo, porque vi, ontem aqui, crianças e jovens das catequeses e das escolas a espalhar flores no chão sagrado da nossa Terra, para que passes em tapetes de vida acolhida no amor de tantas famílias, abençoadas pelo Teu olhar. Dou-te graças, Senhor Santo Cristo, por todos quantos, a partir deste Santuário, se sentem 2 / 5

3 enviados em missão para anunciar por toda a parte a alegria da Tua ressurreição e a certeza da Tua misericórdia. 4. Irmãos e irmãs, façamos deste Santuário e da fé da multidão que aqui acorre uma profecia de um mundo melhor. Rezemos para que no coração humano e na vida das sociedades haja lugar para Deus e tempo para a oração. Lembro como particular imperativo pastoral o dever da Igreja de ir ao encontro dos que mais sofrem em momentos de doença ou de pobreza e de estar atenta e próxima dos que vivem situações de dor ou de provação. Em horas de passos magoados pela dureza do caminho devemos lembrar a voz dos profetas e abraçar a missão da Igreja com renovada coragem e novo vigor. Os Santuários são oásis espirituais e escolas das bem-aventuranças do evangelho. A pressa com que hoje se percorre a viagem da vida, que é a vida de cada um de nós, da família, do trabalho e da convivência social, da cultura e da fé quase não nos deixa tempo para parar, para rezar, para celebrar, para decidir o futuro, para contemplar o Teu rosto e para acolher o Teu olhar, Senhor! É necessário parar neste Santuário. Aqui a pressa não tem lugar. Cruzam aqui os caminhos de Portugal, da sua história, da sua fé e do seu futuro! No murmúrio dos silêncios calados e na atenção dada às palavras de Jesus no Calvário ouve-se a alma de todos os que vivem no nosso tempo, sente-se o coração de todos os que sofrem e percebe-se que Deus está perto de todos nós para nos mostrar que a vida reencontra sentido e recupera valor sagrado, à luz da ressurreição de Cristo. O mundo precisa deste silêncio que nos fala de Deus, que nos traz Deus, através deste olhar de Jesus, o Senhor Santo Cristo. 3 / 5

4 Uma das missões primeiras da Igreja é trazer de volta a alegria e a esperança que o mundo perdeu. Em Cristo, vivo e ressuscitado, encontramos a esperança que salva, a força que redime, a palavra que ilumina e o alimento espiritual que fortalece. 5. Dizei-nos, Senhor Santo Cristo, onde se podem sentar os pobres, sem casa e sem pão, sem trabalho e sem esperança, à mesa dos cristãos que se alimentam da Eucaristia? Ensinai-nos, Senhor Santo Cristo, que lugar devem ocupar as crianças, os jovens, as famílias, os doentes ou os idosos no coração dos que se reúnem à volta do Altar? Sentamo-nos, hoje e aqui, à Tua mesa, Senhor, escutamos a Tua Palavra e alimentamo-nos do Pão da Eucaristia. Queremos mobilizarmo-nos para a missão de multiplicar este Pão e de levar a alegria do evangelho ao mundo, como nos pede o Papa Francisco. Um pouco por toda a parte são estes os dias em que centenas de crianças, acompanhadas das suas famílias, comungam pela primeira vez. Quero saudá-las com particular afecto e grande alegria. Elas são os sacrários vivos onde Cristo vive e são o rosto onde o olhar de Cristo se espelha com mais beleza e maior encanto. Vim como peregrino e rezo para que esta Festa do Senhor Santo Cristo de 2014 seja para os Açores, para as Bermudas, cujo Bispo aqui está connosco, para Portugal, para a Europa, a viver um dia de eleições, e para o Mundo uma contínua profecia onde o encontro com a esperança seja possível. Rezo para que aqueles que não se revêem na Igreja ou não acreditam em Deus se interpelem sobre as razões da nossa esperança e se interroguem sobre o testemunho da devoção desta multidão de peregrinos. 4 / 5

5 Senhor Santo Cristo dos Milagres, ouvi a nossa oração e acolhei as nossas preces. Protegei-nos e abençoai-nos nesta missão que aqui nasce e daqui parte. Obrigado Senhor Santo Cristo, por estares connosco e seres o nosso Salvador, ontem, hoje e sempre! Ponta Delgada, Açores, 25 de maio de 2014 António Francisco dos Santos, Bispo do Porto 5 / 5