SER ÉTICO É UMA ESCOLHA POSSÍVEL

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Transcrição:

SER ÉTICO É UMA ESCOLHA POSSÍVEL Ester Elisabete Copeinski Faculdade Sumaré Pós-Graduação Dr.ª Renira Appa FECAP e FIA reniraappa@uol.com.br

2 RESUMO: A relação entre as organizações e os públicos de interesse modificou-se profundamente nos últimos anos. Diante disso, as organizações começam a perceber que sua imagem pública depende da avaliação de um conjunto diversificado de públicos, despertando uma necessidade crescente nos gestores para criarem e respeitarem códigos de ética a fim de que, no longo prazo, a postura ética possa resultar em importantes vantagens competitivas decorrentes de uma imagem positiva projetada na comunidade. PALAVRAS CHAVE: Ética nas Organizações; Público-alvo; Postura Ética; Imagem Positiva. ÉTICA E MORAL A ética é algo inerente e permanente na pessoa ou está relacionada a fatos, situações, de caráter momentâneo? A ética é uma disciplina da Filosofia. Tem como objeto a moral, como prova de sua necessidade. É a persistência da moral, da realização de juízos sobre ações humanas, da sua bondade ou maldade, que dá sentido a ética. Ética na filosofia é o estudo dos assuntos morais, do modo de ser e agir dos seres humanos, além dos seus comportamentos e caráter. A ética na filosofia procura descobrir o que motiva cada indivíduo a agir de um determinado jeito, diferencia também o que significa o bom e o mau, bem como o mal e o bem. Ética é diferente de moral, pois moral fundamenta-se na obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos e a ética busca fundamentar o modo de viver pelo pensamento humano. Diversos filósofos como Sócrates, Aristóteles, Epicuro e outros, procuraram estudar a ética como uma área da filosofia que estudava as normas da sociedade, a conduta dos indivíduos e o que os faz escolher entre o bem e o mal. Um autor contemporâneo, Max Weber (2005), apresenta um pensamento que integra diversas correntes no seu discurso sobre os aspectos éticos. Weber (2005) constata que qualquer ação eticamente orientada pode ajustar-se a duas máximas que diferem entre si: de acordo com a ética da convicção ou com a ética da responsabilidade. A ética da convicção, segundo ele, apresenta a virtude como estando submetida ao respeito pelo imperativo categórico da lei moral. Regula-se por normas e valores já estabelecidos que pretendem aplicar na prática, independentemente das circunstâncias ou das consequências

3 daí resultantes. Trata-se, portanto, de uma ética do dever, entendendo que os seus princípios traduzem-se em obrigações ou imperativos aos quais se deve obedecer. É uma ética do absoluto, sem dúvidas, formal, na qual os seus princípios traduzem-se em imperativos incondicionais. O que define o bem ou o mal não é mais do que a tradução ou concordância de valores ou princípios em práticas adequadas. Ainda, de acordo com Weber (2005), a ética da responsabilidade apresenta um pendor mais utilitarista que orienta a sua ação a partir da análise das consequências daí resultantes. Essa análise levará em conta o bem que pode ser feito a um número maior de pessoas assim como evitar o maior mal possível. Espera-se, portanto, que uma ação se traduza na maior felicidade possível para o maior número de pessoas possível. A ética da responsabilidade pode apresentar também uma vertente que difere do utilitarismo e que se prende com a finalidade, ou seja, a bondade dos fins apresenta-se como justificativa para que se tomem as medidas necessárias à sua realização. Trata-se, assim, de uma ética centrada na eficácia de resultados, na análise dos riscos, na eficiência dos meios e procura conciliar uma postura pragmática com o altruísmo. Ao contrário da ética da convicção, não é uma ética de certezas, intemporal e formal, é uma ética contextualizada, situacional, que pondera várias possibilidades de ação, apoiada em certezas provisionais, sujeita ao dinamismo dos costumes e do conhecimento. No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas em cada sociedade. No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por construir as bases que irão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, ensinando a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade. ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES No âmbito organizacional, ética profissional é o conjunto de normas morais pelas quais um indivíduo deve orientar seu comportamento profissional. Nem é preciso afirmar que a Ética é importante em todas as profissões e para todo ser humano. Todos os códigos de ética profissional trazem em seu texto a maioria dos seguintes princípios: honestidade no trabalho, lealdade na empresa, alto nível de rendimento, respeito à dignidade humana, segredo profissional, observação das normas administrativas da empresa e

4 muitos outros. O Código de Ética é um instrumento criado para orientar o desempenho das empresas, dos funcionários em suas ações e na interação com seus públicos. Além das empresas, a maioria das profissões possui seu próprio Código de Ética, principalmente em áreas da saúde e direito, as quais envolvem muitas questões éticas como vida e morte, no caso de médicos, enfermeiros, psicólogos, júris etc. Um dilema ético surge quando há necessidade de se fazer uma escolha difícil, desagradável, que implique um princípio moral. A forma de agir em sociedade determina o comportamento do indivíduo como ético ou antiético. Ser ético ou ter um comportamento ético refere-se a um modo exemplar de viver baseado em valores morais. É o comportamento definido socialmente como bom. Deve-se ter em conta que cada sociedade possui suas próprias regras morais resultantes da própria cultura. Um profissional ético é aquele que atua sem prejudicar terceiros regendo-se por valores e padrões éticos. O conceito central da ética empresarial mais recente é a ideia de responsabilidade social. O assunto em questão está em evidência e pode ser considerado como uma tendência no mundo, tanto nas instituições privadas quanto públicas. Na ótica de Maximiano (2004), a responsabilidade social das organizações e o comportamento ético dos administradores estão entre as tendências mais importantes que influenciam a teoria e a prática da administração no início do terceiro milênio. O debate sobre a ética e a responsabilidade social é muito antigo e acentuou-se devido a problemas como poluição, corrupção, desemprego e proteção dos consumidores, entre muitos outros que envolvem as organizações, públicas ou privadas. Arruda (2001) ressaltou que a boa empresa não é apenas aquela que apresenta lucro, mas a que também oferece um ambiente moralmente gratificante, no qual as pessoas podem desenvolver seus conhecimentos especializados e também suas virtudes. Atualmente, a ética empresarial é mais conhecida como responsabilidade social atrelada à sustentabilidade. Empresas debatem sobre esses assuntos e buscam formas de exercê-los. Tem-se que, os códigos de ética, cada vez mais presentes no seio das empresas, são os norteadores desse comprometimento empresa/funcionários/sociedade/meio ambiente. Assim, vemos que as empresas no mundo contemporâneo têm necessidade de buscar e praticar a ética. Por que isso é importante? Quais são as necessidades? Quais retornos virão? Quanto vale uma marca ou o próprio nome? Qual o custo de se perder a credibilidade? Perguntas como estas são comuns dentro das organizações. É percebido um movimento de mudança na mentalidade dos empresários: ética; responsabilidade-social; sustentabilidade;

5 balanço social; empresa cidadã, palavras estas que estão fazendo parte de um novo dicionário empresarial. Em geral, a tendência e o entendimento das pessoas sobre ética está fundamentada no fazer o bem, qualquer outra ação que se possa interpretar como fora desse conceito é considerada antiética. Criar o Código de Ética, a Comissão de Ética, punir fraudadores e ladrões não é suficiente para desenvolver a consciência ética. Os gestores esquecem que a reputação da empresa, a imagem construída em anos de altos investimentos em marketing pode ser destroçada devido a uma única decisão equivocada. O aumento da onda de consumidores antenados em políticas sociais e sustentáveis, a preocupação dos investidores com a imagem, fazem com que este assunto seja incorporado no dia a dia empresarial. A tarefa não é fácil, ainda existe um longo caminho a ser percorrido, mas isto garantirá às organizações a sobrevivência delas mesmas. ÉTICA NO BRASIL Como inserir consciência ética nas empresas em um país como o Brasil? Um país com histórico de enorme desigualdade social, onde uma grande porção dos cidadãos não tem acesso à educação de qualidade. Um país marcado pela discriminação social e cultural. Se considerarmos que a ética está relacionada à formação de valores de caráter pessoal de cada indivíduo, logo isso reforça ainda mais a problemática referente à inserção de conduta ética e autônoma dentro das empresas. Portanto, inserir conduta ética nas empresas brasileiras, numa contextualização pluralizada não é tarefa fácil, mas também não é impossível. Uma empresa que possui conduta ética verdadeiramente é aquela que reconhece e valoriza seus funcionários oferecendo ferramentas para que eles, independentemente de sua condição social e cultural, possam ter um pensamento ético e autônomo, desenvolvendo suas habilidades profissionais e virtudes, num ambiente saudável e moralmente compensador. O próprio processo de implantação do código de ética cria um mecanismo de sensibilização de todos os interessados, pela reflexão e troca de ideias que supõe. Entre os inúmeros tópicos abordados no código de ética, predominam alguns como respeito às leis do país, conflitos de interesse, proteção do patrimônio da instituição, transparência nas comunicações internas e com os stakeholders da organização, denúncia, prática de suborno e corrupção em geral.

6 Dentre os problemas éticos de maior conhecimento público estão aqueles referentes às relações com os consumidores, sujeitos aos enquadramentos da lei de defesa do consumidor, incluindo-se práticas de marketing, propaganda e comunicação, qualidade do atendimento e reparações no caso de serem causados danos. Há grandes processos de reflexão nacional sobre o papel das empresas em nossa sociedade, dando maior ênfase, não somente aos aspectos econômicos, mas principalmente, aos sociais e ambientais.. Em outras palavras, não se analisa somente o resultado econômico-financeiro, mas também a maneira como foi obtido, avaliando e premiando as empresas que possuem as melhores práticas nas relações com os seus interlocutores, públicos e privados, quer pela qualidade dos produtos e serviços, quer pela excelência no atendimento, quer pela transparência e retidão de comportamento. ENTREVISTA COM CONSULTORA EM ÉTICA Em entrevista realizada em São Paulo, no dia 16 de janeiro de 2013, com a Professora Maria do Carmo Whitaker, formada em Direito pela PUC/SP, consultora em ética nas organizações há mais de oito anos, e organizadora do site Ética Empresarial (www.eticaempresarial.com.br), pudemos discutir a respeito de como a ética, tão conceitual e ideal, pode passar a ser real no mundo em que vivemos. E, ainda, debater a ética nas questões Teoria versus Prática Ideal versus Real. Ética versus Empresa. Justo versus Lucro. De acordo com Whitaker, a ética, como uma ciência que vem da Filosofia, abrange aspectos teóricos, devido ao fato da Filosofia também ser teórica e abstrata. E a ética em si é uma ciência que trata da conduta humana, examinando os atos humanos em relação ao bem e ao mal. Isso é, ou pode ser feito, por meio de casos concretos, estudos concretos. Quando se discute alguma coisa a respeito de atitudes éticas, o mais importante não é tanto a solução que se dá ao problema, mas sim a riqueza de contribuições que cada pessoa traz ao analisar as facetas do problema. Deste modo, nota-se que a ética, apesar de estar em um patamar teórico e abstrato, é passível de ser analisada e percebida no dia a dia conforme as atitudes das pessoas, classificadas como sendo boas ou más. A questão não é, portanto, delimitar se algo é ético ou não, ou ainda, transformá-lo em ético. Mas sim detectar na conduta das pessoas suas intenções a priori e a posteriori de sua atitude. E, a partir de então, ter um bom material para avaliação e conclusões.

7 Ao ser questionada sobre como é possível, apesar da busca pelo lucro, a empresa ser ética e agregar valor, Whitaker disse que o correto não seria afirmar apesar do lucro, pois este não é algo que se deva olhar de forma negativa. O lucro é necessário. O que o torna não ético é a forma, a maneira como ele é auferido. Quais os meios usados para atingir aquele lucro. Se estão fazendo tudo corretamente, estão estabelecendo os preços de mercado e podem agregar alguma coisa a mais, como atração pela maneira de receber os clientes, pela maneira de agradá-los, pela facilitação dos cumprimentos dos prazos etc., procedimentos vistos como normal. Nessa sua fala, pode-se então perceber outro valor entre a relação empresa/ética, o respeito. Respeito entre empresa e clientes, respeito entre empresa e funcionários, por meio, inclusive, da clareza de métodos e informações dentro do varejo e no mercado. Whitaker lembrou da época, há mais ou menos quinze anos, em que se contestava o lucro astronômico alcançado pelos bancos e que saíra, na época, um artigo na imprensa sobre ser pecado ou não ter lucro. Então, alguns filósofos foram ouvidos e a conclusão a qual se chegou foi a seguinte: o que vai determinar o pecado é a forma pela qual se atingiu o lucro. O lucro, pois, é algo legítimo. Em seu livro Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica, 4ª edição, página 35, Whitaker versa sobre três aspectos que permitem identificar se uma ação é ou não ética. São os Critérios de Eticidade que diz: determina-se a moralidade ou a eticidade dos atos humanos baseado na consideração de seu objeto, das circunstâncias e da finalidade. Então, se um objeto é bom em si mesmo, as circunstâncias também, bem como sua finalidade, pode-se concluir que o ato é ou foi ético. Desta forma, para ser ético por completo, deve-se avaliar esses três critérios, cada um deles em relação à causalidade: o objeto: o quê? as circunstâncias: como? finalidade: para quê? Outra questão intrigante, levantada pela própria Whitaker, é por que, apesar de nós querermos ser éticos, cometemos ações não éticas?. Ela elencou três razões: por ignorância: às vezes, a pessoa está naquele dilema sobre o que é certo e o que é errado. E não sabe as respostas. por fraqueza: não é fragilidade mental, é fraqueza de vontade, a pessoa se propõe a alguma coisa que não consegue levar cabo.

8 por malícia mesmo, ou seja, a pessoa está procurando o mal e não se importa com as consequências. Conforme Whitaker, as pessoas propõem-se a fazer as coisas do modo mais correto possível, mas ninguém está livre de ir contra a ética ou ser induzido a fazê-lo. O ser humano tem ânsias de grandeza, e em algum momento pode se ver tomado por uma situação vil. O fato de conhecer e estudar sobre a ética não imuniza ninguém, muito pelo contrário, aí é que se fica muito mais sensível às questões dela e há muito mais preocupação a respeito. A consciência de cada um pode ser sua grande aliada ou vilã. Quanto aos códigos de ética, Whitaker alerta que não adianta uma matriz estabelecê-los se suas filiais não tiverem comprometimento também, daí o código de ética virará simplesmente um papel de gaveta. Foi questionado a Whitaker como ela vê a ética nas empresas no Brasil, um país onde a mídia divulga frequentemente que a corrupção corre solta, embora haja uma busca para combatêla, especialmente na política. De acordo com a entrevistada, a imprensa divulga muito mais aspectos negativos, antiéticos, do que aqueles aspectos morais de honra, de dignidade das pessoas etc. Citou o caso do carteiro que encontrou um dinheiro e devolveu e o Presidente da República disse que ele mereceria uma honraria especial. Para ela, isso é desnecessário, já que deveria ser normal que as pessoas tomassem essa decisão, que as pessoas tivessem atitudes dignas. Para a entrevistada, a medida estaria em: o que eu gostaria que fizessem comigo, devo fazer para os outros. Mas, infelizmente, nem sempre isso é o que fazemos, nem é nessa linha que atuamos. Whitaker questiona se a ética vem do berço. Se alguém que nasceu debaixo do viaduto pode, depois, ter contato com outras pessoas e adquirir princípios e valores. Para ela, as duas probabilidades existem. Uma pessoa, que vem de um berço ético, ou seja, possui uma boa formação, vai também depender de um acompanhamento na formação de sua consciência e do seu caráter, porque a formação do caráter dura uma vida toda. Então, é nesse sentido que as pessoas podem se relacionar com pessoas éticas e se aprimorarem, ou podem se relacionar com pessoas corruptas e mesmo assim, aprender a distinguir o certo do errado e não compactuar com valores antiéticos. Logo, o que está envolvido no ser ou não ético é a escolha. A questão da liberdade. Ser ético não se trata de uma questão permanente, se é ou não se é, mas sim de uma questão momentânea,

9 se escolhe ou não, naquele momento, isso será determinado pelas ações enfim executadas, pela escolha de seus métodos e para qual finalidade. Maria do Carmo Whitaker, em sua entrevista, citou alguns casos relatados na mídia e outros vivenciados por ela, que vale a pena serem citados aqui como exemplo de dilemas, ou não, éticos. Lembrou que nas empresas é muito comum, nas áreas de vendas e compras, trocarem-se presentes com fornecedores ou com clientes. Na hora em que aquela pessoa tiver que cortar um crédito, diminuir a quantidade de material fornecido etc., vai se sentir pressionado pelo presente já recebido e aceito, ou seja, vai encontrar-se envolvido emocionalmente com a empresa. O favorecimento, em si, é muito questionável, porém bastante comum na política e nas empresas, conforme nos mostra a mídia diariamente. Outro exemplo, os juízes de um tribunal recebem estadias com suas famílias em um hotel no fim de semana para descansarem, estadias estas patrocinadas por certas empresas, logo esses juízes estariam absolutamente impedidos de julgar qualquer causa em relação a essas empresas, presos que são numa teia de favores. Uma vez, relata Whitaker, Fábio Barbosa, presidente do Banco Real, depois Santander, disse que o Banco tinha milhares de pessoas trabalhando pelo Brasil todo, e que ele não podia ver a atitude de cada uma delas, mas que ele podia determinar os critérios que guiassem as atitudes empresarias de seus subordinados. Trata-se de um respaldo para os diversos níveis de diretoria que chega até o chão de fábrica. Realmente é difícil controlar uma grande empresa e, por tabela, seus funcionários a agirem corretamente. Ter critérios, regras, códigos bem embasados e exequíveis é importante, mas mais importante que isso é fazer os funcionários agirem como tal. É com base em suas atitudes que prevalecerá e ocorrerá da ética. Uma vez, num determinado evento, um dos responsáveis disse que havia um problema ético a ser resolvido. O material que eles haviam encomendado para usar no evento iria demorar a ser liberado pela alfândega a ponto de impedir seu uso naquele momento. Então, questionou-se se deveria pagar algo ao funcionário da alfândega para liberar. Ora, o que está escrito no código de ética? É permitido subornar pessoas? Então, não se vê problema de ética algum, simplesmente a resposta já está lá, isso não deveria ser um dilema. Simplesmente teriam que usar criatividade para suprir os materiais faltantes e usá-los numa ocasião futura. Só desta vez iriam abrir mão do que é certo, só desta vez. Se há que ser ético sempre, então não existe o só desta vez. Mesmo porque, se há a consciência do que é errado, então simplesmente não faça.

10 A revista Seleções Reader s Digest encomendou uma pesquisa ao Instituto Gerp, realizada em dez capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba, Recife e Belém. Em cada uma, 140 pessoas, com pelo menos 18 anos, foram confrontadas com 12 situações do dia a dia, para testar sua noção de certo e errado. A publicação está em sua edição de agosto de 2005. Quanto ao fato, já mencionado pela professora Maria do Carmo Whitaker, de que a formação do caráter dura para sempre, Seleções Reader s Digest teve um resultado interessante em uma de suas pesquisas: encontraram pelo país, jovens (de 18 a 35 anos) que não acreditam ser menos honestos do que os mais velhos. Diego Barbosa, promotor de vendas em Curitiba, tem 19 anos e afirma que esta não é uma questão ligada à idade: Honestidade depende da criação da pessoa. Tem jovem que faz tudo direitinho, e gente mais velha que é bem malandra, explica. No entanto, em Recife, 25% dos jovens levariam canetas e envelopes do trabalho para usar em casa, enquanto apenas 6% daqueles de mais de 45 anos o fariam. Caso típico, sonegação de impostos. Foi perguntado aos entrevistados de Seleções se esconderiam parte do seu rendimento para sonegar imposto de renda. A média nacional de respostas positivas foi de 29%. Em Curitiba, porém, 39% sonegariam. No Rio de Janeiro, um funcionário da UFRJ de 45 anos explica as razões que teria para sonegar o imposto: Sou funcionário público e a tributação sobre o meu salário é muito alta. Mas a principal razão é que a gente não vê o retorno desse dinheiro em serviços públicos. Se as pessoas vissem o imposto de renda sendo investido, pagariam com satisfação. Ele não é o único que pensa assim: no Brasil, a sonegação de impostos é vista como reação à atitude dos políticos. Apesar de nunca ter pensado em sonegar impostos, considero o imposto de renda muito injusto. O dinheiro é meu, fui eu que trabalhei. Se, mesmo com as disparidades, o dinheiro fosse utilizado para a educação e a saúde pública, eu até pagaria sem reclamar, mas na verdade vai tudo para o bolso dos políticos, revolta-se Simone, 39 anos, psicóloga do Rio de Janeiro. Esse caso é curioso, as pessoas, inclusive aquelas de boa formação intelectual, usam o erro dos políticos e do Estado para justificar seu próprio. Porém, nem tudo está perdido. Situação clássica: no supermercado, você percebe que a caixa lhe deu troco a mais. Você devolve? Três quartos dos brasileiros responderam que sim, e os moradores do Rio de Janeiro e de Salvador alcançaram marca ainda mais expressiva: 93%. Uma analista de sistemas do Rio de Janeiro de 35 anos pensa no funcionário que errou na conta. Devolvo o troco a mais porque sei que é o atendente que vai ter de repor o dinheiro. Esse também é o argumento da estudante Fabiane Lopes, de Brasília. Isso aconteceu comigo uma

11 vez. Voltei e devolvi para a caixa do supermercado porque no fim do dia o dinheiro ia estar faltando e isso a prejudicaria no emprego. Isso é algo que nunca tinha passado pela cabeça de Isabela do Nascimento, advogada de Fortaleza, que já ficou uma vez com o troco a mais. Acho errado ficar com o dinheiro, mas uma vez já fiquei, confessa. Existe uma grande diferença entre o que a gente diz e o que faz na hora. Foi bom responder a essas perguntas, porque tive a chance de parar para pensar no assunto. Eda Zanatta, 35 anos, é uma dentista de Porto Alegre que usa uma situação semelhante para ilustrar sua opinião sobre honestidade. Estava no caixa de uma loja de roupas e a vendedora retirava as etiquetas de proteção que apitam quando você passa pela porta. Ela tirou a etiqueta de uma jaqueta, mas esqueceu de registrar o valor. Avisei à vendedora e, na mesma hora, senti um chute na perna. Era o meu marido me repreendendo por ter avisado e por ter deixado de levar uma roupa de graça. Hoje ele é meu ex-marido. Isso prova que honestidade é algo que faz parte de cada pessoa. Esses exemplos fomentam ainda mais a questão de que, pode-se tentar ser ético, mas isso vai depender da situação em que se encontra (objeto), como vai agir e para quê. CONSIDERAÇÕES FINAIS Existe uma preocupação quanto à classificação de ético e não-ético, como se isso fosse algo pertencente ao ser, ao permanente; ou se é ou se não é. Porém, isso se trata de uma maneira radical de ver e analisar as coisas. Não se é ético para sempre e não se é não-ético para sempre. Os indivíduos vivem em sociedade, em constante transformação de espaço, de tempo e convivências com pessoas diferentes, ambientes diferentes. O fato de nascer em determinada família não vai lhe determinar o tipo de pessoa que será para todo sempre. Visto que se relacionará em e com vários outros ambientes e tipos de pessoas. Saber o que é certo e errado vem de valores familiares, de estudos e aprendizados cotidianos. Escolher qual medida irá tomar, depende de cada um. Ora, uma empresa é formada de pessoas, pessoas com origens, valores e conhecimentos distintos e divergentes. Porém, uma empresa deseja ter a ética atrelada ao seu nome, porque isso lhe traz resultados satisfatórios. Uma empresa com fama de ética vai atrair clientes, consumidores, apoio deles e de outras empresas, do governo, inclusive. Uma empresa que prega a ética vai exigir tal atitude de seus funcionários e, se estes forem leais, as chances de se encontrar desfalques serão menores.

12 O que se pode salientar é que a ética está envolvida em um emaranhado de teias e redes que se interligam e dependem umas das outras. No caso, a empresa para ter ética precisa de ferramentas e critérios, de diretrizes, de códigos de ética bem elaborados no sentido de serem bons e de serem executáveis. Precisa de pessoas que se comprometam e realizem eticamente. Precisa que o público externo (sejam bancos que dependem de financiamentos e investimentos, concorrentes, clientes e sociedade em geral) também acredite na sua idoneidade. Claro ficou na entrevista concedida pela Profa. Maria do Carmo Whitaker, que, mesmo no Brasil, a Ética é sim possível. Só depende da vontade e decisão de cada um. E utilizar-se da ética é um caminho favorável para ser feliz. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, M. C. C.; WHITAKER, M. C. Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica. São Paulo, Atlas, 2001. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo: Editora Atlas, 2004. MOREIRA, J. M. A Ética Empresarial no Brasil. São Paulo: editora Pioneira, 1999. 246 páginas. SELEÇÕES READER S DIGEST. Como manter o seu cérebro jovem, você é honesto? Saiba como os brasileiros se saíram... Rio de Janeiro: 2005. 160 páginas. WEBER, M. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Barcarena, Editorial Presença, 2005. WHITAKER, M. C. Ética Empresarial. São Paulo, 16 de janeiro de 2013. Entrevista concedida a Ester E. Copeinski.