QUANTO AO EXTRAVASAMENTO D O M AT E R I A L O BT U R A D O R. Mariana Cavatoni* Maria Leticia Borges Britto** Abrão Rapoport***

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Transcrição:

AVALIAÇÃO IN VITRO DA QUALIDADE DAS OBTURAÇÕES TERMOPLASTIFICADAS : THERMAFILL E OBTURA II, Mariana Cavatoni* Maria Leticia Borges Britto** Abrão Rapoport*** QUANTO AO EXTRAVASAMENTO D O M AT E R I A L O BT U R A D O R. * Estagiária do Graduação do Curso de Odontologia da UNICSUL Profa do Curso de Especialização e Aperfeiçoamento em Endodontia pela UNICSUL Mestre em Ciências em Saúde pelo Hospital Heliópolis SP ** Profa Coordenadora Titular da Disciplina de Endodontia do Curso de Odontologia da UNICSUL SP Coordenadora do Curso de Especialização e Aperfeiçoamento em Endodontia pela UNICSUL Especialista, Mestre e Doutora em Endodontia pela FOUSP Professora do especialização em Endodontia em Rosário - Argentina *** Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde pelo Hospital Heliópolis HOSPHEL SP Livre-docência. Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Recebido: Novembro 2008 Aceitado: Fevereiro 2009 E. J. E. R. \\ Electronic Journal of Endodontics Rosario // Año 08// Volumen 01 // Abr. 2009. 204

Introdução As técnicas para obturação do sistema de canais radiculares são inúmeras hoje em dia, tendo todas elas um único propósito, o selamento hermético, de modo a eliminar qualquer comunicação do meio externo com a região do periápice, podendo garantir assim uma possível reparação biológica. O momento da obturação é um dos assuntos que gera muita controvérsia na endodontia, mas é consensual a idéia de que os canais devam estar desinfetados e modelados antes da obturação. Por eleição a guta percha tem sido aceita pelos endodontistas como o melhor material utilizado para a obturação do sistema de canais radiculares. Como salientado por Souza et al. 1, na escolha dos materiais obturadores, a estabilidade dimensional e a capacidade do vedamento são de fundamental importância para o sucesso da obturação, sustentando a desinfecção obtida na fase do preparo químico cirúrgica. Estudos apresentados por Cohen et al. 2 mostraram que o uso da guta percha sem o cimento obturador mostrou falhas no selamento completo do canal. Isto não ocorre quando do uso do cimento obturador, que é necessário para aderir a guta percha à dentina preenchendo possíveis irregularidades. Alguns autores como Ingle et al. 3 ; Lee et al. 4 complementaram a obturação com técnicas de condensação, principalmente a lateral, onde esta resultou no completo selamento apical, além de ser eleita, ainda hoje, uma das técnicas mais usadas na endodontia. Entretanto, outros estudiosos como Weller et al. 5 questionam esta técnica pela capacidade de replicar a superfície interna do canal já que foram observadas a presença de vácuos, fusão incompleta da guta percha e falhas na adaptação superficial após a obturação. A fim de sanar esses problemas Schilder et al. 6 descreveu uma técnica de condensação vertical aquecida com o intuito de preencher o canal com um material mais homogêneo, dizendo ainda que nenhuma outra técnica permitia uma obturação das ramificações do sistema de canais radiculares com tal freqüência como a guta percha aquecida. A partir daí, novas técnicas foram pesquisadas. Segundo Rapisarda et al. 7, as técnicas de obturação termoplastificadas foram introduzidas no mercado na busca de uma melhor homogeneidade, obturação tridimensional e adaptação superficial da guta percha. Porém, alguns estudos provaram que o selamento hermético apical tão esperado não foi ainda 2, 8, 9,10 atingido por esta técnica. O controle longitudinal da guta percha leve através do ápice tem-se apresentado um grande problema pelo extravasamento da mesma. Frente às vantagens e desvantagens apresentadas, o propósito deste estudo foi avaliar a qualidade das obturações termoplastificadas - in vitro - observando quanto de material foi extruído pelo ápice. 5 205

Material e Métodos Foram selecionadas duas técnicas de obturação termoplastificada para realização deste estudo: o Thermafil (Maillefer. Ballaigues, Swiss) e o Obtura II (Spartan). O Sistema Maillefer Thermafil que oferece uma combinação única de uma haste padronizada recoberta uniformemente com guta percha. O núcleo do Maillefer Thermafil é uma haste flexível de 25 mm com 04 de conicidade feita em plástico, sendo esta biocompatível e radiopaca sendo aquecido no forno - Thermaprep Plus. (FIG.1 e 2) FIGURA 1: Thermaprep Plus FIGURA 2: Haste flexível de 25mm O sistema Obtura II é composto por uma unidade de controle que proporciona a energia elétrica de baixa voltagem que é necessária para aquecer a guta percha da pistola injetora, além de controlar a temperatura alcançada na câmara de aquecimento. Apresenta também a pistola injetora que é responsável por abrigar a câmara de aquecimento, na qual é termoplastificada a guta percha, e em segundo lugar proporcionar os meios mecânicos para injetar a guta percha no canal radicular. (FIG.3 e 4) 206

FIGURA 3: Unidade de controle FIGURA 4: Pistola Para este estudo foram utilizados 20 dentes, sendo 10 caninos superiores e 10 pré-molares inferiores permanentes do banco de dentes (Banco de dentes da FOUCCB-SP). Os mesmos foram armazenados depois em recipientes contendo soro fisiológico por 24 horas para hidratálos. Estes dentes foram selecionados por possuírem anatomia interna diferente, ou seja, anatomia interna elíptica e circular para os caninos superiores e os pré-molares inferiores respectivamente. O primeiro procedimento constituiu na realização de radiografias, em filme periapical de cada elemento dental. Foram realizados em seguida a cirurgia de acesso, a exploração do canal, odontometria (CRT 1 mm aquém do ápice radicular), sendo o mesmo obtido através do método radiográfico, e o preparo químico cirúrgico realizado foi o cérvico - apical acorde Machado (1993) 11 com auxílio das brocas Gates Glidden e sistema rotatório Profile até o diâmetro 25 com auxílio de Endo PTC e líquido de Dakin com constantes renovações. Dando prosseguimento ao trabalho as amostras foram divididas em dois grupos experimental sendo o grupo 1 composto por 10 dentes sendo eles 5 caninos superiores e 5 pré-molares inferiores obturados pela técnica termoplastificada com Sistema Thermafil e o grupo 2 contendo a mesma composição obturada pela técnica termoplastificada injetável do Sistema Obtura II, ambas seguiram os manuais conforme os fabricantes. As amostras tiveram seus canais secos com pontas de papel esterilizadas e como ambas as técnicas selecionadas preconizavam uma fina película de cimento nas paredes do conduto antes da obturação propriamente dita o mesmo foi levado ao interior dos canais com a ajuda de um lêntulo. O cimento de eleição para este estudo foi o Sealer 26 (Dentsply). 207

Grupo 1: Thermafil Foi utilizado o verifer, ou seja, instrumento com um diâmetro especial de acordo com o sistema Maillefer Thermafil, para determinar o tamanho apropriado do obturador. Foi colocado o cimento nas paredes do canal, selecionado o obturador e calibrado na sua haste com o stop de silicone no comprimento desejado (CRT). O dispositivo é aquecido colocando o mesmo no forno, Thermaprep Plus, projetado para adaptar-se às condições de aquecimento dos obturadores. Uma vez transcorrido o tempo de aquecimento apropriado, o elevador sobe e remove-se o obturador, o mesmo foi inserido no comprimento de trabalho com uma pressão apical, sem ser torcido ou girado. Após estabilizar o cabo do obturador com o dedo indicador a haste foi cortada com uma broca esférica de alta rotação na altura da entrada do canal e o restante foi descartado. (FIG.5) FIGURA 5 : Obturação pelo THERMAFIL Grupo 2: Obtura II Com os dentes já preenchidos com cimento e após fixar a agulha na pistola injetora, o Obtura II foi ligado e ajustado a uma temperatura de 150 0 C, conforme manda o fabricante, quando da utilização da guta percha flow (leve). FIGURA 6: Obturação pelo OBTURA II Com um stop a agulha foi calibrada com uma distância de 3mm aquém do ápice conforme o comprimento de trabalho de cada dente, medida esta preventiva para controlar a obturação excessiva e limitar a quantidade de material colocado para estabelecer um tampão no ápice. A pistola foi carregada com um bastão de guta percha e em poucos segundos atingiu sua temperatura onde foi introduzido no conduto radicular e condensado imediatamente, em primeiro lugar com um condensador digital de menor calibre e em seguida com um condensador do tipo Paiva de calibre maior. (FIG.6) Uma nova radiografia foi tirada após a conclusão das obturações para a analise da qualidade das mesmas. 208

Resultados Os resultados foram realizados através da avaliação das radiografias pós-obturação pelos dois sistemas: Obtura II e Thermafil. (FIG 7 e 8) FIGURA 7 & 8: RX das Obturações As radiografias foram numeradas de 1 a 20, e, colocadas em cartelas radiográficas, onde foram avaliadas por 15 observadores. Estes eram alunos do curso de especialização de endodontia que por sua vez não sabia qual era o sistema que estava sendo avaliado para que não sugestionasse na avaliação. Somente havia um padrão de nota score a ser dado através de parâmetros pré-estabelecidos pelo operador. Os scores variavam de 0 a 5 que correspondiam em ordem crescente de qualidade. 209

Diante disto foi realizada uma tabela com a média dos scores achados de cada dente.. (GRAF.1 e TAB. 1) Média da qualidade da obturação 3,6 3,5 3,45 3,4 3,3 3,2 3,1 3 2,9 2,95 OBTURA THERMAFILL 2,8 2,7 2,6 GRAFICO 1: Média da qualidade de obturação TABELA 1: Média dos valores scores dos sistemas dente SISTEMA OBTURA dente SISTEMA THERMAFILL 1 3,8 11 2,8 2 1,7 12 1,8 3 2,9 13 3,5 4 3,1 14 4,4 5 1,9 15 4,1 6 4,0 16 3,1 7 4,2 17 4,3 8 2,2 18 3,7 9 2,8 19 3,5 10 2,9 20 3,3 MÉDIA 2,95 MEDIA 3,45 Através destes dados da TAB.1 foi realizada a aderência da curva de normalidade, resultando numa curva normal teste paramétrico. (TAB. 2), da onde foi realizado o teste ANOVA com α > 5%, do qual resultou não haver diferença estatística significante entre os dois sistemas. (TAB.3) 210

TABELA. 2: Teste de aderência a curva de normalidade Teste de aderência - curva normal: Valores originais A. Freqüências por intervalos de classe: Intervalos de classe: M-3s M-2s M-1s Med. M+1s M+2s M+3s Curva normal: 0.44 5.40 24.20 39.89 24.20 5.40 0.44 Curva experimental: 0.00 5.00 15.00 45.00 25.00 10.00 0.00 B. Cálculo do Qui quadrado: Interpretação Graus de liberdade: 4 Valor do Qui quadrado: 8.13 A distribuição amostral testada é normal Probabilidade de Ho: 8.7000 % TABELA 3: Análise de Variância Resultados do teste Amostra A: OBTURA ( 10 dados ) Amostra B: THERMA ( 10 dados ) Valor calculado de t: 1.33 Graus de liberdade: 18 Média da amostra (1): 2.40 Média da amostra (2): 3.00 Probabilidade de igualdade : 19.88 % Näo-significante, amostras iguais: Ó>0,05 211

Discussão Foi observado na literatura um enorme número de técnicas de obturação, que na verdade eram variações da técnica convencional, que foram desenvolvidas para favorecer a inserção do material obturador, respeitando as particularidades anatômicas existentes nas raízes dentárias. Sendo a obturação do canal radicular a complementação da tríade endodôntica (abertura coronária, desinfecção do sistema de canais radiculares e obturação dos mesmos), existe uma grande preocupação em relação a mesma por dois motivos: 1) sem uma boa obturação todo o seu trabalho realizado anteriormente estarão comprometidos, não que uma boa obturação seja sinônimo de sucesso; 2) A qualidade do tratamento endodôntico é avaliado pelo aspecto radiográfico da obturação, onde a radiografia final gera um documento. A partir de 1967, procurando uma obturação mais homogênea do sistema de canais radiculares, várias técnicas foram desenvolvidas 6. As técnicas onde se utilizou guta - percha termoplastificada conseguiu-se uma melhor homogeneidade, obturação tridimensional e adaptação superficial. 7 Em contrapartida outro estudo mostrou diferenças altamente significantes entre as técnicas de obturação termoplastificadas quanto a capacidade de replicar a superfície interna do canal permitindo uma obturação tridimensional; além de relatar também a falta do controle longitudinal da guta percha leve como sendo um grande problema para essas técnicas 5 Nas técnicas termoplastificadas haveria a necessidade da utilização de cimento obturador para diminuírem as falhas no momento da obturação permitindo que um melhor selamento total fosse atingido. 2, 8 A técnica de obturação convencional (condensação lateral) conseguiu praticamente os mesmos resultados quanto ao selamento apical que as técnicas termoplastificadas usadas, classificando-se como superior as demais por não ter ocorrido extravasamento de material para fora do ápice. 1. Houve unanimidade entre os autores revisados quanto ao relatarem que a única desvantagem da técnica convencional, quando bem realizada, em relação às técnicas termoplastificadas seria o tempo despendido para a realização da técnica convencional, sendo este muito maior. Porém em relação à desobturação alguns autores mostraram que a remoção da guta percha e o preparo do interior do canal radicular teriam sido comparativamente mais fáceis e rápidos na técnica convencional do que na técnica do Thermafil. 12,13,14 212

Outros estudos mostraram que a técnica Thermafil havia tido uma maior expulsão de material além do ápice que quando comparada à técnica convencional ou a técnica termoplastificada 9, 10 por injeção. Algumas técnicas possuem dificuldades quando da utilização em canais curvos, pela dificuldade de acesso da agulha injetora de guta percha como no Sistema Obtura II, podendo ocasionar uma obturação curta ou a quebra dessa agulha quando forçada. As técnicas que utilizam guta percha termoplastificada possuem limitações, mas se obtém sucesso em todas elas se utilizadas dentro de suas indicações. A metodologia utilizada foi in vitro para que se pudesse avaliar visualmente nas radiografias, simulando o que acontece clinicamente com o material obturador plastificado juntamente com o cimento obturador. Onde muitas vezes o material é extruído pelo ápice pela perda do controle longitudinal da guta percha nas obturações termoplastificadas. Neste trabalho pode-se verificar que as técnicas de obturação termoplastificadas são mais rápidas e possuem execução mais simples que a técnica de condensação lateral. Mesmo para estas técnicas de obturação foi provada a necessidade do uso do cimento obturador que auxilia na diminuição das falhas da obturação. Essas técnicas precisam ser mais estudadas, pois ao se conseguir controlar o extravasamento do material pelo ápice ajudaria a diminuir uma variante que é a habilidade do profissional ao realizar a obturação já que a condensação lateral é de execução mais complexa e demorada. Conclusão Diante da metodologia e dos resultados pode-se concluir que: Não houve diferença estatística significante entre as duas técnicas de obturação termoplastificada, frente ao quesito analisado qualidade. 213

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