CARACTERIZAÇÃO DE FITAS SUPERCONDUTORAS 2G NA PRESENÇA DE CAMPOS MAGNÉTICOS

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Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. CARACTERIZAÇÃO DE FITAS SUPERCONDUTORAS 2G NA PRESENÇA DE CAMPOS MAGNÉTICOS 1 FLÁVIO G. R. MARTINS, 1FELIPE SASS, 2GUILHERME G. SOTELO, 2DANIEL H. N. DIAS, 1RUBENS DE ANDRADE JUNIOR 1 Laboratório de Aplicação de Supercondutores, COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro Ilha do Fundão,CEP: 21945-970, Caixa Postal:68515, Rio de Janeiro RJ 2 Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Federal Fluminense Rua Passo da Pátria, 156, Bl. D, CEP: 242140-340, Niteroi RJ E-mails: flaviogrmartins@gmail.com, fsass.eng@gmail.com, gsotelo@id.uff.br, dhndias@id.uff.br, randrade@dee.ufrj.br Abstract This paper describes improvements in a characterization system for second-generation superconductor wires, under magnetic fields, by acquisition of voltage current curves. This characterization importance relies on the growing research for 2G wires applications on electromagnetic systems, making need for their properties in order to have best performance in such new developments. Keywords Automation assays, Superconductivity, 2G Wires, Electromagnetism, Magnetic fields. Resumo Este trabalho descreve os aprimoramentos em um sistema de caracterização de fitas supercondutoras de segunda geração, quando submetidas a campos magnéticos, através do levantamento de curvas de tensão corrente sobre elas. A importância dessa caracterização na presença de campos se deve à crescente pesquisa de aplicação de fitas 2G em sistemas eletromagnéticos, que faz necessário o conhecimento de suas propriedades para se ter o melhor aproveitamento de seu potencial nessas novas aplicações. Palavras-chave Automação de ensaios, Supercondutividade, Fitas 2G, Eletromagnetismo, Campos magnéticos. Introdução Em 2011 comemorou-se o centenário da descoberta do fenômeno da supercondutividade do mercúrio a temperaturas próximas ao zero absoluto (4,2 K), que abriu as portas para uma nova área de pesquisa. Um século depois, diversos materiais supercondutores a temperaturas críticas cada vez mais altas já foram desenvolvidos, bem como suas aplicações. Nos últimos anos deu-se início à fabricação em escala industrial das fitas supercondutoras e, em especial, a partir de 2005, as de segunda geração (Fitas 2G) (Lamas, 2009), foco deste trabalho. A difusão das Fitas 2G no mercado tem ampliado a aplicabilidade de supercondutores, permitindo a expansão de seu uso para construção de eletromagnetos de alto campo (Hazelton, 2009), mancais magnéticos (Sass, 2011), cabeamentos (Selvamanickam, 2009), aplicações em proteção de sistemas de transmissão (Lamas, 2009) e enrolamentos supercondutores para máquinas elétricas (Pei, 2009). Com tantas possibilidades de aplicações em desenvolvimento, fica clara a necessidade de se conhecer da melhor forma possível as propriedades eletromagnéticas das Fitas 2G a fim de se garantir um melhor aproveitamento de seu potencial em projetos futuros. Neste cenário promissor, o presente trabalho objetiva caracterizar tais parâmetros de amostras de Fitas 2G, refrigeradas em nitrogênio líquido, de acordo com a incidência de diferentes intensidades de campos magnéticos, relacionando a corrente elétrica e a tensão sobre elas. Tal processo usa um eletromagneto para produzir as diferentes intensidades de campo sobre a amostra de fita 2G, uma fonte de corrente contínua e um nanovoltímetro para executar a medição, controlados por um programa em Labview especialmente desenvolvido para tal e uma rotina em Matlab para processar os dados oriundos dos ensaios. Além da caracterização em si, espera-se através da experimentação de diversas metodologias, seja por mudanças no aspecto da montagem experimental ou alteração nos padrões de medição, aprimorar a técnica de caracterização já existente para que se consiga resultados mais precisos e confiáveis. Fundamentos Teóricos A supercondutividade é um fenômeno em que a matéria subitamente muda algumas de suas propriedades físicas a partir de uma dada temperatura. Tal mudança justifica considerá-lo outro estado da matéria, com características e propriedades próprias. Há três valores críticos que delimitam o estado supercondutor de um material: a temperatura crítica (T c), o campo magnético crítico (Hc) e a densidade de corrente crítica (Jc), e ele será supercondutor apenas se estiver abaixo desses três valores críticos simultaneamente. Os parâmetros Tc e Hc são características intrínsecas de cada material, enquanto J c depende da forma como é confeccionado (Souza, 2011). Mesmo conhecidos por serem diamagnetos perfeitos, os supercondutores produzidos mais recentemente (Tipo II) permitem a penetração de parte do fluxo magnético externo de forma quantizada (BF) através de estruturas denominadas fluxóides, regiões normais no interior do supercondutor, circundadas por vórtices de correntes de blindagem que se organizam nas chamadas Redes de Abrikosov (Silva, 2642

2010). Se, além destes vórtices, o supercondutor for permeado por uma densidade de corrente, a interação entre eles induzirá uma Força de Lorentz (F L ) perpendicular à passagem de corrente, tendendo a mover a Rede de Abrikosov, se ela for maior que a força de aprisionamento de fluxo (pinning) F R, dissipando energia (Souza, 2011), como ilustrado pela Fig. 1. Seu movimento forçado com velocidade v d induz uma força eletromotriz e, equivalentemente, um campo elétrico, de acordo com (1). E L v B (1) d A direção de E L é paralela à densidade de corrente, associando uma tensão elétrica ao movimento dos vórtices e à dissipação de energia. Apesar de não ser da mesma natureza resistiva de um condutor normal, a dissipação da energia necessária para movê-los é também térmica, aumentando a temperatura do supercondutor e podendo levá-lo ao estado normal. Neste contexto, define-se a densidade de corrente crítica J c como a máxima densidade de corrente que um supercondutor pode transportar sem que haja movimento dos vórtices (Silva, 2010). F tensão crítica de uma dada amostra. Aplicando esses valores à relação de tensão corrente, tem-se uma curva de tensão normalizada corrente normalizada, como em (3), permitindo assim uma equivalência direta entre as duas relações e a caracterização de uma amostra de fita 2G (Souza, 2011). V ( I) I V c I c Equipamentos e Metodologia n (3) As medições sobre a Fita 2G foram feitas através de três conjuntos de equipamentos: os de contato e resfriamento, os do eletromagneto e os de medição e aquisição, cujo arranjo está esquematizado na Fig. 2, a seguir. Com a amostra da fita imersa em Nitrogenio líquido a 77 K, após um tempo para estabilizar termicamente, aplica-se campo magnético externo e a corrente que percorre a fita, enquanto é feita a leitura e controle via computador dos valores elétricos, até atingir I c. Figura 1. Ação de forças sobre um fluxóide devido a uma densidade corrente Fonte de Corrente 70 A Chiller Fonte de Corrente 220 A Nanovoltímetro GPIB É possível associar matematicamente a densidade de corrente J no supercondutor, o campo elétrico E, a constante J c, e o campo elétrico crítico E c, em que os fluxóides começam a se desprender da rede (Dias, 2009) em uma única equação (2): J E J ) Ec J c n E( J ) J Ec J c ( (2) Conforme uma densidade de corrente é aplicada ao supercondutor, o valor do campo elétrico induzido tende a aumentar, de forma que se chega à corrente crítica quando ele atinge o valor definido empiricamente como sendo 1 µv/cm. A normalização de E e J em função dos valores críticos permite uma análise adimensional dos resultados (Souza, 2011). Através de uma montagem experimental é possível fazer aquisição de valores de tensão e corrente sobre uma amostra de Fita 2G, de forma a organizálos em uma relação de tensão corrente. Sabendo-se o campo elétrico crítico padrão de 1 µv/cm e o comprimento de fita aferida, é possível determinar a n Figura 2. Esquemático ilustrando a montagem dos principais equipamentos. Tratamento da Fita 2G Os ensaios são feitos sobre segmentos de cerca de 150 mm do modelo 2G-HTS SCS4050 da Super- Power. As partes que entram em contato com os terminais da fonte de corrente devem ser estanhados previamente. Usou-se um ferro de soldar de temperatura controlada em 200 C, e uma solda de baixa temperatura de fusão (48%In-52%Sn). Antes de aplicar a solda, a superfície é limpa com fluxo de solda Alpha 260HF da Cookson Eletronics. A aplicação da solda é feita suavemente, usando uma ponteira chata no ferro, distribuindo a liga fundida o mais uniformemente possível ao longo da região, procurando-se também manter a camada fina. Equipamentos de contato e resfriamento Foram usadas duas topologias diferentes para este conjunto. A mudança se deu devido aos resultados 2643

Contato de cobre estanhado Contato de cobre estanhado Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, CBA 2012. obtidos primeiramente, que permitiu o levantamento de várias hipóteses de fatores de erro que poderiam causar alteração nos resultados, tais como problemas térmicos e contato elétrico ruim. 1- Primeira topologia Nesta topologia o contato elétrico entre as regiões estanhadas da fita supercondutora é feito por pressão entre duas chapas de cobre aparafusadas a uma placa de polímero (G10). A placa é então imersa em um recipiente, também de G10, cheio de nitrogênio líquido. Nas Figs. 3, 4 e 5 estão esquematizadas sua montagem e vista explodida, uma fotografia da montagem fora do recipiente de nitrogênio líquido e uma fotografia do ensaio pronto para ser executado, com os equipamentos devidamente posicionados, respectivamente. 2- Segunda Topologia O suporte de G10 foi substituído para uma barra de cobre, objetivando-se uma âncora térmica que ajude a manter a fita o mais próximo possível da temperatura do nitrogênio líquido (77 K). A barra é toda envolta em uma fina camada de material isolante elétrico Kapton. Para melhorar o contato elétrico entre a fita e o terminal de cobre, esta passou a ser soldada diretamente a ele, ao invés de somente pressionada. A soldagem é feita colocando-se as peças dos terminais num forno com temperatura controlada em 300 C por aproximadamente uma hora. Quando cada peça é retirada, a parte previamente estanhada da fita é posicionada sobre o cobre quente, de forma que a película de Índio-Estanho novamente se funda e faça a junção entre a fita e o cobre. A montagem final dessa nova topologia está esquematizada montada e em vista explodida na Fig. 6, fora do recipiente de nitrogênio líquido na Fig. 7 e é mostrada durante um ensaio, posicionada entre as peças polares do eletromagneto, na Fig 8. (a) (b) Figura 3. Esquema da montagem (a) e vista explodida (b) da primeira topologia. (a) Figura 6. Esquema da montagem (a) e vista explodida (b) da segunda topologia. (b) Amostra de Fita 2G Terminais do Nanovoltímetro Placa de G10 Âncora térmica de cobre Amostra de Fita 2G Figura 4. Montagem da primeira topologia fora do recipiente de nitrogênio líquido Terminais do Nanovoltímetro Figura 7. Montagem da segunda topologia fora do recipiente de nitrogênio líquido. Figura 5. Equipamentos da primeira topologia devidamente posicionados para a execução de um ensaio. Figura 8. Fotografia da segunda topologia durante um ensaio. 2644

Equipamentos do Eletromagneto As diferentes intensidades de fluxo magnético usados para a caracterização da amostra foram obtidas a partir do eletromagneto Lakeshore EM1295, que é controlado pela fonte de corrente Lakeshore 662, de 70 A e 35 V CC máximos. Devido ao aquecimento pelas altas correntes envolvidas, o sistema é arrefecido por um chiller a água Thermo Neslab série Merlin M75. A Fig. 9 mostra a disposição destes equipamentos. O eletromagneto possui duas peças polares de uma liga de Ferro-Cobalto em formato de tronco de cone (face menor com diâmetro de 2 ), que concatenam e homogeneízam o fluxo magnético sobre a amostra, e comprimento de entreferro ajustável. O controle de intensidade de campo magnético é feito pelo controle manual da fonte de corrente associado a um instrumento de medida de intensidade de fluxo magnético. Fonte de Corrente 70 A, 35 V CC Eletromagneto Chiller A alimentação da Fita 2G é feita através de uma fonte de corrente modelo Agilent 6671A, ligada à rede elétrica em 220 V. Esta fonte possui saída CC de 8 V e 220 A máximos. Para ligar a saída da fonte com os terminais de cobre foram usados dois cabos de 3 4,0 mm² e entre a extremidade posterior de cada cabo e cada contato de cobre é usado um segmento com 0,50 m de comprimento de cordoalha, envolta em isolante Kapton, que não perde sua flexibilidade quando resfriada em nitrogênio líquido. A aquisição dos valores de tensão foi feita através de um nanovoltímetro Keithley 2182A. Esses equipamentos estão conectados em cascata por uma interface GPIB e um adaptador Keithley KUSB-488B faz a conversão para a entrada USB do computador. 3- Controle dos equipamentos e processamento de dados Um programa em Labview foi desenvolvido para controlar os equipamentos e fazer aquisição dos dados. O usuário define parâmetros como largura e intervalos dos pulsos de corrente aplicados, taxa de variação de corrente, número de aquisições e critério de parada (tensão crítica) (Martins, 2012). A saída do programa é um arquivo em código ASCII contendo os valores de tensão (V), corrente (A) e tempo (ms). Em seguida, o arquivo de texto é processado por uma rotina em Matlab que extrai deles os valores de corrente crítica (I c ), tensão em corrente crítica (V c ), fator exponencial n e, a partir deste último, traça uma curva aproximada que rastreie os pontos do ensaio e caracterize a amostra através de (3) (Martins, 2012). Um exemplo de um gráfico resultante é mostrado na Fig. 10. I c = 52,53 A V c = 3,2 µv n = 18,982 Figura 9. Conjunto do eletromagneto, fonte de corrente e chiller Equipamentos de medição e aquisição 1- Medição do campo magnético Para esta tarefa foi usado um gaussímetro portátil F. W. Bell 5080, antes dos ensaios, para se conhecer a relação entre corrente na fonte e campo produzido. Para isso variou-se o controle de corrente da fonte do eletromagneto até medir os valores de campos desejados no gaussímetro, cuja ponteira estava posicionada na região central do entreferro de 36,5 mm do eletromagneto com peça polar de 2. Não é recomendável fazer a medição de campo durante um ensaio, visto que a imersão das ponteiras em nitrogênio líquido pode alterar suas propriedades, causando erros nas medidas. 2- Fonte de corrente e nanovoltímetro Figura 10. Exemplo de gráfico resultante da rotina em Matlb. Ensaios Foram realizados diversos ensaios controlados pelo programa em Labview objetivando o levantamento de curvas de tensão corrente em amostras submetidas a intensidades predefinidas de campo magnético. Observou-se que, dentro dos limites da fonte do eletromagneto, podia-se conseguir até 1,1 T com as peças polares de 2 e um entreferro de 36,5 mm de largura. A partir das medições de campos supracitadas, submeteu-se as amostras a valores de campo desde zero (com o recipiente fora do entreferro do eletromagneto, evitando-se a interferência de magnetismo residual das peças polares) até 1,1 T com incrementos de 100 mt. A corrente circulante na fita 2G é controlada pelo programa, devendo ser em pulsos de largura e 2645

intervalos configurados pelo usuário. A corrente pulsada permite que seja possível a obtenção da progressão de seu comportamento elétrico ponto a ponto sem que a amostra seja submetida a um estresse térmico muito grande, que poderia comprometer sua qualidade em pouco tempo. Um exemplo da progressão no tempo dos pulsos de corrente é mostrado na Fig. 11, a seguir. Figura 11. Exemplo de progressão dos pulsos de corrente no tempo. Buscando-se desenvolver uma rotina de ensaios ideal, minimizando possíveis interferências térmicas e conseguindo-se uma boa resolução das regiões de maior interesse (em que a amostra perde o estado supercondutor) e prolongando o mínimo possível os ensaios, foram avaliados os resultados comparando também variações nos seguintes parâmetros de controle: Largura do pulso de corrente; Intervalo entre os pulsos de corrente (acomodação térmica); Taxa de variação da amplitude dos pulsos de corrente (refinamento); Número de pulsos por amplitude de corrente (repetibilidade); Critério de parada (ensaios de sobrecarga). Resultados Dos ensaios executados, 62 apresentaram resultados aproveitáveis, organizados em 53 gráficos. A partir dos resultados dos ensaios e gráficos, é possível identificar os termos V c, I c e n para cada aplicação de campo, de 0 T a 1,1 T. Um resumo dos principais ensaios realizados em cada topologia é descrito nas Tabelas 1 e 2, respectivamente para a primeira e segunda topologia. Descrições mais detalhadas de cada ensaio podem ser obtidas em (Martins, 2012). Na primeira topologia foram feitos 39 ensaios e 24 gráficos. As medições de tensão são sobre uma seção de 32 mm da amostra, sendo V c = 3,2 µv. Os gráficos que compilam todos os resultados, relacionando I c com densidade de fluxo magnético e n com densidade de fluxo magnético, respectivamente, estão dispostos na Fig. 12, a seguir. Figura 12. Relação entre Ic e campo magnético e entre n e campo magnético, respectivamente. Tabela 1. Informações básicas dos ensaios da primeira topologia Ensaios Corrente [A] Incremento [A] I c [A] n Sem campo (FC) 0 a 120 6 117,19 29,555 Sem Campo (a) Sem Campo (b) Sem Campo (c) 100 mt (a) 100 mt (b) 200 mt 300 mt 400 mt 500 mt 600 mt (a) 600 mt (b) 700 mt 800 mt (a) 900 mt 0 a 108 6 110 a 119,6 0,4 0 a 108 6 110 a 116,8 0,4 0 a 96 6 100,2 a 116,4 0,2 0 a 66 6 70 a 75,6 0,4 0 a 66 6 70 a 75,4 0,6 0 a 48 3 50 a 64,8 0,4 45 a 59,4 0,4 45 a 55,8 0,4 45 a 52,6 0,4 45 a 50,2 0,4 0 a 39 3 40 a 49,9 0,4 0 a 39 3 40 a 48 0,4 0 a 39 3 40 a 45,6 0,4 0 a 33 3 35 a 43,8 0,4 119,19 30,443 116.68 37.804 116,36 25.009 75,31 16,891 75,20 18,985 64.40 16,364 58,93 17,119 55,41 16,790 52,53 18,982 49,83 17,573 49,63 17,160 47,72 17,869 45,46 16,069 43,72 17,687 1000 mt (FC) 0 a 42 2 41,61 16,935 1000 mt (a) 1000 mt (b) 1100 mt 0 a 33 3 35 a 42,2 0,4 0 a 30 3 30 a 42,6 0,4 0 a 33 3 35 a 43,8 0,4 42,08 15,886 42,16 14,701 40,30 16,674 2646

Na segunda topologia foram feitos 23 ensaios e 27 gráficos. As medições de tensão são sobre uma seção de 50 mm da amostra, sendo V c = 5,0 µv. Os gráficos que compilam todos os resultados, relacionando I c com densidade de fluxo magnético e n com densidade de fluxo magnético, respectivamente, estão dispostos na fig. 13, a seguir. Figura 13. Relação entre Ic e campo magnético e entre n e campo magnético, respectivamente. Novamente, assim como na primeira topologia, é possível ver que existe uma relação bem definida entre a intensidade de campo aplicada sobre a amostra e a queda de I c, mas no que diz respeito ao fator n, os resultados são igualmente duvidosos. Mesmo com a âncora térmica, a sensibilidade da amostra a qualquer variação térmica impossibilita a garantia de avaliar n exclusivamente relacionando-o ao campo magnético. A Fig. 14 é a sobreposição dos gráficos de I c B e n B nas duas topologias, comparando as diferentes montagens a fim de se identificar alguma alteração a mais além das já observadas anteriormente. Observa-se um aumento na I c dos resultados para a segunda topologia, que se pode atribuir a uma melhor regulação da temperatura da amostra por meio da âncora térmica, no entanto, quaisquer relações envolvendo os resultados para o fator n continuam um mistério. Tabela 2. Informações básicas dos ensaios da segunda topologia Ensaios Corrente [A] Incremento [A] I c [A] n Sem campo (a) 0 a 156 2 125,7 26,160 Sem campo (b) 95 a 165 2,5 127,6 24,129 Sem campo (c) 120 a 166 2 126,2 23,159 Sem campo (d) 0 a 166 4 126,94 23,788 Sem campo (e) Sem campo (f) Sem campo (g) 0 a 128 4 130 a 164 1 0 a 80 2 80,5 a 154,5 0,5 0 a 128 5 81 a 110 1 110,5 a 120 0,5 120,2 a 165,4 0,2 126,94 22,097 125,70 26,605 126,29 22,794 100 mt (a) 0 a 85 5 83,59 15,895 100 mt (b) 100 mt (c) 200 mt (a) 200 mt (b) 200 mt (c) 300 mt (a) 300 mt (b) 300 mt (c) 300 mt (d) 400 mt (a) 400 mt (b) 500 mt 600 mt 700 mt 800 mt 0 a 60 5 60,5 a 83,5 0,5 0 a 75 5 76 a 82 1 60,5 a 73,8 0,5 60,5 a 73,8 0,5 5 a 65 5 66,5 a 72 1 60,5 a 68,5 0,5 60,5 a 69,3 0,5 50 a 60 5 61 a 66 1 50 a 60 5 61 a 66 1 60,5 a 61 0,5 5 a 55 5 55,5 a 61 0,5 5 a 45 5 45,5 a 57,4 0,5 5 a 45 5 45,5, a 54,5 0,5 5 a 40 5 40,5 a 50,5 0,5 5 a 40 5 40,5 a 49 0,5 Conclusões 83,50 15,694 81,63 20,195 73,53 13,323 73,64 18,091 71,42 19,223 68,06 15,535 68,81 17,390 64,96 19,433 65,06 19,816 60,45 15,627 60,86 15,685 57,44 18,616 54,47 19,560 50,46 22,250 48,95 15,275 A primeira conclusão a que este trabalho permite chegar é que nenhum dos métodos utilizados é capaz de garantir que o fator n possa ser definido isoladamente em função da variação da densidade de fluxo magnético aplicado sobre a amostra e percebe-se o quão sensível ele é a pequenas variações internas de temperatura. Sabe-se que o J c também depende da temperatura, mas este se mostrou bem menos sensível a pequenas variações. Apesar de não ter sido realizada medições de temperatura das Fitas 2G durante os ensaios, sabe-se que aferi-la na finíssima (1 µm) camada supercondutora no interior da amostra é inviável nas atuais condições. Além disso, os parâmetros dos supercondutores são extremamente sensíveis a qualquer variação na incidência de campos magnéticos, de forma que pequenas variações, imperceptíveis a olho nu, como na inclinação da amostra ou distância entre as peças polares, possam ter implicações significativas nas leituras. Para isso, é necessário um aprimoramento 2647

no equipamento objetivando garantir o máximo de estabilidade e exatidão mecânica possível para os ensaios. Primeira topologia Segunda topologia Há também a possibilidade de a duração dos pulsos de corrente (2 s ou 3 s) estar sendo muito longa, de forma que seja suficiente para causar uma alteração na temperatura interna da amostra. Uma proposta de análise posterior é sobre resultados da realização de ensaios com pulsos de corrente menores, da ordem de fração de segundo. A Superpower indica na folha de dados da Fita 2G ensaiada que sua corrente crítica mínima sem presença de campo magnético é de 80 A. Como os resultados nessas condições são sensivelmente superiores, isso nos leva a crer que a metodologia de caracterização é eficiente. No geral, todo o sistema de caracterização de Fitas 2G desenvolvido atendeu às expectativas e, com as diversas experimentações com ele realizadas, foi possível compreender um pouco mais, não apenas do método de caracterização em si, mas também com relação à sensibilidade das fitas supercondutoras a uma série de detalhes e pequenas interferências externas, que devem ser estudadas mais atentamente a fim de se melhorar todo processo de caracterização e, através de resultados mais confiáveis, alcançar um desempenho cada vez melhor das Fitas 2G. Agradecimentos Agradecemos ao CNPq, CAPES e FAPERJ pelo apoio financeiro e toda a equipe do Laboratório de Aplicação de Supercondutores (LASUP) da COPPE UFRJ. Referências Bibliográficas Primeira topologia Segunda topologia Figura 14. Comparativos da relação entre Ic e campo magnético e entre n e campo magnético nas duas topologias, respectivamente. Dias, D. H. N., 2009, Modelagem de Mancais Lineares Supercondutores Considerando o Resfriamento na Presença de Campo Magnético, Tese de D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Hazelton, D. W., 2009, Selvamanickam, V., SuperPower s YBCO Coated High-Temperature Superconducting (HTS) Wire and Magnet Applications, Proceedings of the IEEE, v. 97, n. 11, pp. 1831-1836. Lamas, S. J., 2009, Projeto e Construção de Limitador de Corrente Supercondutor Utilizando Fitas de YBCO, Dissertação de M.Sc, EEL/USP, Lorena, São Paulo. Martins, F. G. R., 2012, Caracterização de Fitas Supercondutoras 2G na Presença de Campos Magnéticos, Projeto Final para o grau de Engenheiro Eletricista, DEE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Pei, R., Velichko, A., Hong, Z., et al., 2009, Numerical and Experimental Analysis of IC and AC Loss for Bent 2G HTS Wires Used in an Electric Machine, IEEE Transactions on Applied Superconductivity, v. 19, n. 3, pp. 3356-3360. Sass, F., 2011, Mancais Magnéticos Supercondutores Utilizando Fitas de Segunda Geração, Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Selvamanickam, V., Chen, Y., Xiong, X., et al., 2009, High Performance 2G Wires: From R&D to Pilot-Scale Manufacturing, IEEE Transactions on Applied Superconductivity, v. 19, n. 3, pp. 3225-3230. Silva, F. R., 2010, Efeito da Relaxação de Fluxo Magnético na Força de Levitação em Mancais Supercondutores. Projeto Final para o grau de Engenheiro Eletricista, DEE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Souza, W. T. B., 2011, Simulações e Ensaios com Limitadores de Corrente de Curto-Circuito Supercondutores do Tipo Resistivo, Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2648