PRODUÇÃODE FRUTEIRAS IRRIGADAS COM ÁGUA DE CHUVA NA REGIÃO SEMIÁRIDA DO NORDESTE

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Transcrição:

PRODUÇÃODE FRUTEIRAS IRRIGADAS COM ÁGUA DE CHUVA NA REGIÃO SEMIÁRIDA DO NORDESTE Nilton de Brito Cavalcanti 1, Luiza Teixeira de Lima Brito 2 & Janaína Oliveira Araújo 3 Resumo: A busca pela água para o consumo no semiárido do Nordeste foi significativamente alterada pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC),que tem como meta construir um milhão de cisternas para coletar água dachuva. Todavia, em função do volume das precipitações da região semiárida, pode-se utilizar parte da água armazenada nas cisternas para produção de alimentos. Com esse objetivo foi avaliada a utilização da água de chuva captada em um telhado e armazenada em uma cisterna para produção de fruteiras. O trabalho foi realizado no período de agosto de 2006 a dezembro de 2011 com a construção de uma cisterna de 16 mil litros, um telhado de 78,6 m 2 e a implantação de um pomar com 36 fruteiras. Com os resultados obtidos podese concluir que a água da chuva armazenada em cisternas pode contribuir significativamente para melhoria das condições de vida dos pequenos agricultores da região semiárida. Palavras-chave: chuva, frutas, cisterna, semiárido. INTRODUÇÃO A água é, provavelmente, o único recurso natural que tem a ver comtodos os aspectos da civilização humana, desde o desenvolvimentoagrícola e industrial aos valores culturais e religiosos arraigados nasociedade. É um recurso natural essencial, seja como componentebioquímico de seres vivos, como meio de vida de várias espéciesvegetais e animais, como elemento representativo de valores sociaise culturais e até como fator de produção de vários bens de consumofinal e intermediário (Gomes, 2012). Neste contexto, está inserido o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC),que tem como meta construir um milhão de cisternas para coletar água dachuva com objetivo de atender as necessidades de água de beber dasfamílias. Atualmente, o P1MC contabiliza aproximadamente 494.909 milcisternas construídas, beneficiando diretamente as famílias que tem a garantia de água para consumo (MDS, 2012). Com o surgimento do programa uma terra e duas águas (P1 + 2) novas ações vem sendo desenvolvidas na região semiárida do Nordeste. O marco referencial do P1+2 é o Programa 1-2-1 desenvolvido na Chinaa partir dos anos 1990. Por meio do P1+2, a China alcançou a soberania alimentar,passando de uma agricultura anual de grãos para uma agricultura dehortaliças e frutas, de alto valor comercial, potencializou a criação depequenos animais - especialmente ovinos - além de assegurar água para omeio ambiente (Britoet al., 2010). Segundo a ASA (2012), através do Programa (P1+2), mais de 12 mil famílias, ou 60 mil pessoas, estão tendo acesso à água para produção de alimentos no Semiárido. Associadas ao processo de formação, as tecnologias sociais criam melhores condições para que agricultores e agricultoras fortaleçam seus sistemas de produção, gerando segurança alimentar e nutricional. Segundo Araújo et al. (2011), a inclusão de frutas na alimentação incrementa a qualidade nutricional das dietasfamiliares visto que elas oferecem quantidades significativas de micronutrientes. A proposta da cisterna, além de garantir variedade na produção de frutas para suprir asdeficiências nutricionais das famílias, contribui para melhoria na qualidade de vida, naprevenção de doenças e até mesmo na mudança dos hábitos alimentares dos agricultores da região semiárida do Nordeste. O objetivo deste estudo foi caracterizar o crescimento de fruteiras irrigadas com água de chuva armazenada em cisternas. 1 Administração de Empresas, M.Sc., Socioeconomia e Desenvolvimento Rural, Embrapa Semi-Árido - C.P. 23, CEP 56302-970 Petrolina PE. e-mail: nbrito@cpatsa.embrapa.br 2 Engenharia Agrícola, D.Sc., Recursos Naturais, Embrapa Semi-Árido Embrapa Semi-Árido. BR 428, km 152, C. Postal, 23. CEP-56.302-970. Petrolina, PE. e-mail: luizatlb@cpatsa.embrapa.br 3 Nutricionista, Bolsista FACEPE/Embrapa Semiárido, BR 428, Km 152, Zona Rural - Caixa Postal 23. CEP 56302-970 Petrolina, PE, e-mail: janaina.bolsista@cpatsa.embrapa.br

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na EstaçãoExperimental de Manejo da Caatinga, Embrapa Semiárido em Petrolina- PEno período de agosto de 2006 a dezembro de 2011. Nos meses de agosto a setembro de 2006 foi construída uma área de captação com 78,6 m 2 e uma cisterna de placas com capacidade para 16 m 3 na área do experimento. As telhas utilizadas na cobertura foram de fibrocimento em função do coeficiente de escoamento para esse tipo de telhas que é de 0,90%. Na Figura 1, pode-se observar a cisterna e a área de captação. Figura 1. Cisterna e área de captação Para instalação do experimento foram abertas 36 covas com dimensões de 0,4 m x 0,4 m x 0,4 m, no espaçamento de 5 m x 5 m. Em cada cova, foram colocados como adubação de fundação 10 kg de esterco de caprino curtido e 250 g de NPK, na formulação 10-10-12, de acordo com análise de solo. As covas foram abertas em linhas, sendo 6 covas por linha. Para irrigação das fruteiras foram instaladas mangueiras de polietileno com 12,7 mm com gotejadores em cada cova. As linhas de irrigação foram dispostas no sentido em que a declividade da área permitiu a aplicação da água por gravidade vindo diretamente da cisterna. A aplicação de água nas fruteiras foi realizada em função da disponibilidade deágua da cisterna,isto é, da capacidade de armazenamento e do período doano. Para facilitar o manejo da água, foi estabelecido três períodos de irrigação, sendo o primeiro período de janeiro a abril. Neste período foram aplicados 2 litros por planta três vezes por semana, sendo na segunda-feira, terçafeira e sexta-feira. Esse volume foi definido em função de que nestes meses são registrados os maiores volumes de precipitação. O segundo período de maio a agosto com a aplicação de 3 litros por planta. Neste período a estação chuvosa esta encerrando na região. Finalmente o terceiro período de setembro a dezembro com 5 litros por planta três vezes na semana. Esse aumento no volume aplicado visa suprir as necessidades das plantas no período de seca que ocorre na região. Quando da ocorrência de chuvas significativas em qualquer período, à irrigação era suspensa. As fruteiras utilizadas no experimento foram as seguintes: manga, acerola, limão, caju, pinha e mamão. Foram plantadas 6 mudas por linha, totalizando 36 plantas. As mudas de manga, limão, caju, e acerola eram enxertadas com idade aproximada de 120 dias. As mudas de pinha e mamão eram provenientes de sementes. Por ocasião da ocorrência de chuvas, sendo 8,2 mm no dia 17 de novembro e 22,4 mm no dia 22 de novembro foi realizado o plantio das fruteiras no dia 23 de novembro de 2006. Essas precipitações possibilitaram o acúmulo de 2.164 litros de água na cisterna que foi suficiente para irrigação das plantas até o início das chuvas em 2007.

Na Tabela 1, pode-se observar os parâmetros de crescimento das mudas das fruteiras no dia do plantio. Tabela 1. Altura da planta (AP), diâmetro do caule ao nível do solo (DC), circunferência do caule ao nível do solo (CC), altura da copa (AC), maior diâmetro da copa (MDC), menor diâmetro da copa (NDC) das mudas de fruteiras no dia do plantio Espécies AP (cm) DC (cm) AC (cm) MDC (cm) NDC (cm) Manga 47,35 1,01 11,32 24,89 14,71 Mamão 35,33 0,93 8,25 24,16 12,49 Caju 28,52 0,81 7,53 20,39 9,22 Acerola 18,39 0,73 13,29 15,81 8,17 Limão 27,41 0,51 11,16 15,63 8,29 Pinha 44,81 0,62 18,72 22,44 16,39 As variáveis avaliadas foram às seguintes: a) altura da planta; b) diâmetro do caule ao nível do solo; c) quantidade de água aplicada; d) precipitação; e) quantidade de frutos produzidos; f) peso dos frutos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2, pode-se observar as ocorrências de precipitação na área do experimento durante o período de avaliação. Observa-se que os maiores volumes de precipitações são registrados nos meses de fevereiro e março. No período de avaliação a média de fevereiro foi de 142,6 mm. Para março e abril a média foi de 93,3 e 99,1 mm, respectivamente. No total, a média nos seis anos de avaliação foi de 531,3 mm. Tabela 2. Ocorrências de precipitações pluviométricas (mm) nos anos de 2006 a 2011, no Campo Experimental da Caatinga na Embrapa Semiárido, Petrolina, PE Anos Meses/precipitação JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Total 2006 0,0 101,7 94,1 125,3 8,6 27,8 4,0 0,0 5,6 3,5 36,9 3,3 410,8 2007 15,5 245,0 11,0 10,8 15,9 0,5 11,2 1,8 2,4 0,0 16,9 47,0 378,0 2008 29,6 125,3 143,4 121,0 3,8 3,4 1,9 0,5 0,5 0,5 0,0 87,5 517,4 2009 35,4 208,6 115,8 102,8 80,0 22,7 1,7 3,5 0,0 112,4 0,0 71,6 754,5 2010 26,2 39,2 119,3 60,1 13,0 24,5 22,5 0,4 9,6 40,4 0,0 57,9 413,1 2011 66,2 87,2 77,5 153,4 74,7 2,8 0,7 20,8 0,0 12,5 56,7 37,5 590,0 Média 38,0 142,6 93,3 99,1 27,3 13,1 6,7 3,9 3,0 29,8 18,4 56,1 531,3 Na Tabela 3, pode-se observar que no ano de 2007 foram aplicados 14.688 litros nas irrigações, sendo 2.304 litros nos meses de janeiro a abril. No mês de fevereiro em função das precipitações só foi realizada uma irrigação. Nos meses de maio a agosto foram aplicados 4.644 litros. De setembro a dezembro foram aplicados 7.740 litros. Como neste ano choveu um total de 378,0 mm na área do experimento foi possível captar 26.739 litros. Todavia, em função da capacidade da cisterna, só foram armazenados 16.000 litros. Assim, houve uma sobra de 1.312 litros de água na cisterna (Tabela 3). Tabela 3. Volume de água aplicada nas irrigações realizadas no período de 2007 a 2011 Dia/Mês JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Total (Litros/mês) 2007 864 720 576 792 1.080 1.404 1.188 972 2.160 2.520 1.980 1.080 14.688 2008 720 0 0 0 648 1.404 1.404 1.404 2.340 2.520 2.160 900 13.500 2009 720 0 360 0 0 972 1.512 1.296 2.340 1.260 2.340 1.260 12.060 2010 720 576 432 432 1.188 1.080 1.080 1.404 2.340 1.440 1.980 1.260 13.932 2011 648 576 576 0 108 1.188 1.404 1.296 2.340 2.340 1.440 1.440 13.356 Média 734,4 244,8 388,8 244,8 604,8 1.209,6 1.317,6 1.274,4 2.304 2.016 1.980 1.188 13.507,2

No ano de 2008 foram aplicados 13.500 litros nas irrigações. No quadrimestre de janeiro a abril foram aplicados somente 720 litros. Isso se deu em função das chuvas que ocorreram nestes meses que foram de 419,3 mm. No segundo e terceiro quadrimestres foram aplicados 4.860 e 7.920 litros, respectivamente. Neste ano com as chuvas de 517,4 mm foram captados 36.600 litros de água no telhado (Tabela 3). No ano de 2009 foram aplicados 12.060 litros nas irrigações. No quadrimestre de janeiro a abril foram aplicados 1.080 litros, sendo que nos meses de fevereiro e abril não houve irrigação. No segundo quadrimestre foram aplicados 3.780. No mês de maio não houve irrigação em função do volume de chuvas caídas na área do experimento. Nos meses de setembro a dezembro foram aplicados 7.200 litros. Neste ano choveu um total 754,5 mm que contribuíram para captação de 53.373 litros de água no telhado (Tabela 3). No ano de 2010 foram aplicados 13.932 litros nas irrigações das fruteiras. De janeiro a abril foram aplicados 2.160 litros. No segundo quadrimestre foram aplicados 4.752. Nos meses de setembro a dezembro foram aplicados 7.020 litros. Neste ano choveu um total 413,1 mm na área do experimento que contribuíram para captação de 29.222 litros de água no telhado (Tabela 3). No ano de 2011 foram aplicados 13.356 litros nas irrigações. De janeiro a abril foram aplicados 1.800 litros. Nos meses de maio a agosto foram aplicados 4.968. Nos meses de setembro a dezembro foram aplicados 7.560 litros. Neste ano choveu um total 590 mm na área do experimento que contribuíram para captação de 41.736 litros de água no telhado (Tabela 3). Na Tabela 4, pode-se observar que no período de avaliação as plantas apresentaram bom desenvolvimento, considerando os valores de 2006 que correspondem às dimensões das plantas no dia do plantio. A maior altura foi obtida pelas mudas de caju com média de 2,51 m. O diâmetro médio das plantas de caju ao nível do solo foi de 6,89 cm com circunferência média de 20,11 cm. As plantas de caju apresentaram uma altura da copa com média de 1,70 m e maior diâmetro da copa com média de 2,50 m. Essa mesma tendência ocorreu para as demais fruteiras no primeiro ano de crescimento. Tabela 4. Altura da planta (A), diâmetro do caule ao nível do solo (DC) das fruteiras do pomar no primeiro ano de crescimento Altura das plantas/anos Espécies 2006 2007 2008 2009 2010 2011 A (m) A (m) A (m) A (m) A (m) A (m) Manga 0,47 1,07 1,32 1,64 1,82 2,15 Mamão 0,35 1,21 1,49 1,87 2,08 2,79 Caju 0,28 1,05 1,28 1,56 1,78 2,28 Acerola 0,18 1,13 1,47 1,88 2,03 2,45 Limão 0,27 0,83 0,96 1,12 1,45 1,72 Pinha 0,44 0,67 0,88 1,09 1,39 1,85 Diâmetro do caule ao nível do solo/anos Espécies 2006 2007 2008 2009 2010 2011 D (cm) D (cm) D (cm) D (cm) D (cm) D (cm) Manga 0,98 6,13 10,03 11,23 12,56 13,87 Mamão 0,93 12,65 12,34 13,45 15,23 16,81 Caju 0,81 6,89 7,78 8,87 10,08 11,45 Acerola 0,73 4,30 8,25 9,46 11,03 12,66 Limão 0,51 3,15 6,89 8,79 10,67 12,47 Pinha 0,62 5,48 6,64 8,12 9,22 10,46 Na Figura 2, pode-se observar os aspectos do crescimento das plantas. Da esquerda para direita temo a acerola, a manga, o mamão, o limão, o caju e a pinha em diferentes períodos de avaliação. Na Tabela 5, pode-se observar os valores das produções obtidas em cada fruteira no período de avaliação. Os primeiros frutos colhidos foram de acerola no mês de março de 2007. Essa espécie também foi a mais produtiva durante os anos avaliados com um total de 154.725 frutos que pesaram 1.029,35 kg (Tabela 5).

Acerola Manga Mamão Limão Caju Pinha Figura 2. Aspectos do crescimento das plantas Tabela 5. Quantidade de frutos (F) e peso total dos frutos (P) das fruteiras no período de avaliação Espécies Acerola Manga Limão Mamão Caju Pinha 2007 Frutos (kg) 2.422 17,21 2 0,32 26 3,23 28 8,58 16 1,74 8 1,26 2008 Frutos (kg) 18.855 105,9 25 7,37 136 9,67 135 29,51 34 4,12 29 5,06 Produção de frutos/anos 2009 2010 2011 Frutos (kg) Frutos (kg) Frutos (kg) 32.123 189,21 50.716 357,84 50.609 359,17 34 9,23 70 16,42 402 131,85 345 23,53 899 58,61 2.523 176,34 142 33,78 168 87,92 262 146,63 75 9,04 96 11,85 149 131,95 76 12,09 248 38,59 417 66,75 Total Frutos (kg) 154.725 1.029,35 533 165,19 3.929 271,38 735 306,42 370 158,70 778 123,75 CONCLUSÕES A água da chuva armazenada em cisternas pode contribuir significativamente para melhoria das condições de vida dos pequenos agricultores da região semiárida do Nordeste com a produção de frutas. As plantas apresentam um crescimento linear para todos os parâmetros avaliados. Em anos de muita chuva há uma redução significativa na aplicação de água. Em função do tamanho do telhado, a cisterna de 16 mil litros não é suficiente para armazenar a água das chuvas na região semiárida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araújo, J. O.; Brito, L. T. L.; Cavalcanti, N. B. Água de chuva armazenada em cisterna pode incrementar qualidade nutricional da dieta das famílias. Cadernos de Agroecologia, Cruz Alta, v. 6, n. 2, p. 1-6, dez. 2011. p. 1-5. Edição dos Resumos do 7 Congresso Brasileiro de Agroecologia, Fortaleza, dez. 2011. Articulaçãono semiárido - ASA. Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). Disponível em: <http:// http:/ /www.asabrasil.org.br>. Acesso em: 10 jun. 2012.

Brito, L. T. L.; Cavalcanti, N. B.; Pereira, L. A.; Gnadlinger, J.; Silva, A. S. S. Água de chuva armazenada em cisterna para produção de frutas e hortaliças / Luiza Teixeira de Lima Brito [et al...]. Petrolina: Embrapa Semiárido, 2010. 30 p.: il. (Embrapa Semiárido. Documentos, 230). Gomes, M. A. F. Água: sem ela seremos o planeta Marte de amanhã. Disponível em: <http:// www.cnpma.embrapa.br> Acesso em: 10 de jun. 2012. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A FOME MDS. Cisternas. Disponível em: http://www.mds.gov.br/cisternas. Acesso em: 10 de jun. 2012.