MINERAIS PESADOS NA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA ADJACENTE AO LITORAL CENTRO-NORTE DE SANTA CATARINA

Documentos relacionados
ANÁLISE QUANTITATIVA DOS MINERAIS PESADOS NA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA ADJACENTE AO LITORAL CENTRO-NORTE DE SANTA CATARINA

PROPRIEDADES SEDIMENTOLÓGICAS E MINERALÓGICAS DAS BARREIRAS COSTEIRAS DO RIO GRANDE DO SUL: UMA ANÁLISE PRELIMINAR.

MINERAIS PESADOS DA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA FRONTAL À CIDADE DE CABO FRIO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO

BATIMETRIA E DISTRIBUIÇÃO DOS SEDIMENTOS DA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA PARANAENSE PARANÁ - BRASIL

Variações Granulométricas durante a Progradação da Barreira Costeira Holocênica no Trecho Atlântida Sul Rondinha Nova, RS

Causas Naturais da Erosão Costeira

DEPÓSITOS SEDIMENTARES RECENTES DA PORÇÃO SUPERIOR DA BAÍA DE MARAJÓ (AMAZÔNIA)

ESTIMATIVA DA COMPOSIÇÃO MINERAL DE ROCHAS SEDIMENTARES A PARTIR DE IMAGENS MICROTOMOGRÁFICAS DE RAIOS-X

Assembléia de Minerais Pesados da Plataforma Continental - Porção Oeste do Estado do Ceará, Brasil

O Emprego de Minerais Pesados como Indicador da Proveniência da Cobertura Pedológica do Arenito Caiuá na Região Noroeste do Paraná

Análise de agrupamento dos dados sedimentológicos da plataforma e talude continentais da Bahia

Serviço Geológico do Brasil CPRM

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E GEOQUÍMICA l DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Difratometria por raios X

EVOLUÇÃO BATIMÉTRICA DO COMPLEXO ESTUARINO DE PARANAGUÁ

Silva, M. G Dissertação de Mestrado

DENIS ROBERTO DE SOUZA

Estrutura Geológica e o Relevo Brasileiro

ESTUDOS GRANULOMÉTRICOS E DE MINERAIS PESADOS AO LONGO DE UM TRECHO DO RIO GUANDÚ

SEDIMENTOLOGIA E GEOFÍSICA NA PLATAFORMA INTERNA DO RIO GRANDE DO SUL: PRO-REMPLAC.

Geologia: Histórico, conceitos, divisão e aplicação da Geologia CCTA/UACTA/UFCG. Geologia, geomorfologia, origem do Universo e da Terra.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E GEOQUÍMICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

A Explotação de Areia

Proveniência de sedimentos da Bacia de Curitiba por estudos de minerais pesados

Marcus Vinicius Peralva Santos Altair de Jesus Machado Simone Souza de Moraes Maili Correia Campos

MORFOLOGIA E DINÂMICA DE SEDIMENTOS DA BAÍA DE GUARATUBA, PR

Densidade de Callichirus major (Say, 1818) nas praias do José Menino, Santos/SP, e Itararé, São Vicente/SP.

Geologia do Brasil. Página 1 com Prof. Giba

45 mm MORFODINÂMICA DA BARRA DO RIO ITAGUARÉ, BERTIOGA SP. UNESP; Praça Infante Don Henrique, s/n Bairro Bitarú. São Vicente, SP,

EVOLUÇÃO TEMPORAL DAS PIÇARRAS DESENVOLVIDAS SOBRE AS BARREIRAS HOLOCÊNINICAS DO LITORAL DE SANTA CATARINA

Gilberto Pessanha Ribeiro. UFRJ Museu Nacional Geologia do Quaternário Turma Orientador: prof. Dr. João Wagner de Alencar Castro

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DO SUB-MÉDIO SÃO FRANCISCO EM EVENTOS CLIMÁTICOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

ANÁLISE GEOCRONOLÓGICA DE CONCHAS DA PLANÍCIE COSTEIRA DE ITAGUAÍ-RJ E SUAS IMPLICAÇÕES

Comparação de Variáveis Meteorológicas Entre Duas Cidades Litorâneas

CALAGEM NA SUPERFÍCIE DO SOLO NO SISTEMA PLANTIO DIRETO EM CAMPO NATIVO. CIRO PETRERE Eng. Agr. (UEPG)

INVESTIGAÇÃO SOBRE A EVOLUÇÃO DO CLIMA DE ONDAS NA BACIA DE CAMPOS E A CORRELAÇÃO COM AS SITUAÇÕES METEOROLÓGICAS ASSOCIADAS.

Instituto de Pesquisas Hidráulicas. IPH - UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. Av. Bento Gonçalves 9500, , Porto Alegre, RS, Brasil

CIÊNCIAS O CICLO DAS ROCHAS

Exame de seleção para mestrado em Geofísica (2º semestre de 2014) QUESTÕES DE MATEMÁTICA

CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA EM IMAGEM ALOS PARA O MAPEAMENTO DE ARROZ IRRIGADO NO MUNICÍPIO DE MASSARANDUBA SC

P. DINIS * A. GOMES * S. MONTEIRO-RODRIGUES (Coord.) PROVENIÊNCIA DE MATERIAIS GEOLÓGICOS: abordagens sobre o Quaternário de Portugal APEQ

AGREGADOS. Conceito AGREGADOS AGREGADOS

COMPORTAMENTO DO VENTO NO LITORAL SUL DO BRASIL

ANÁLISE SEDIMENTOLÓGICA DE PRAIAS ARENOSAS SITUADAS ENTRE A PONTA DO FAROL (CABO FRIO, RJ) E A PONTA DA EMERÊNCIA (BÚZIOS, RJ)

Sedimentação e Processos Sedimentares

O metamorfismo é caracterizado por: mudanças mineralógicas crescimento de novos minerais sem adição de novo material (processo isoquímico);

45 mm GEOMORFOLOGIA DA PLATAFORMA CONTINENTAL DA BACIA SERGIPE- ALAGOAS

CARTAS SEDIMENTOLÓGICAS DA BAÍA DA ILHA GRANDE. LAGEMAR, UFF

FREQUÊNCIA DE LINHAS DE INSTABILIDADE E CONVECÇÃO SOBRE A COSTA NORTE DO BRASIL

3 Aspectos Geológicos e Geotécnicos

Morfologia e Sedimentologia da Plataforma Continental Interna entre as Praias Porto de Galinhas e Campos - Litoral Sul de Pernambuco, Brasil

Palavras chave: Sedimentos Praias, minerais pesados, radioatividade, litoral norte de Pernambuco.

AVALIAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DO USO DO SOLO NOS BAIRROS ROQUE E MATO GROSSO EM PORTO VELHO RO

45 mm. Palavras-chave: Sistemas Laguna-Barreira, Sedimentação Lagunar, Terraços Lagunares, Evolução Costeira, GPR. 1. INTRODUÇÃO

è Reconhecer a importância das rochas no fornecimento de informações sobre o passado da Terra.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS. Patrícia Pereira de França

ESTUÁRIOS. - quando os rios encontram o mar...

Descrição Petrográfica

O que é tempo geológico

GEOLOGIA COSTEIRA DA ILHA DE SÃO FRANCISCO DO SUL/SC COASTAL GEOLOGY OF THE SÃO FRANCISCO DO SUL/SC ISLAND.

Oscilação Marinha. Regressão diminuição do nível do mar (Glaciação) Transgressão aumento do nível do mar (Inundação)

Climatologia de Cubatão

Geografia. Estrutura Geológica do Brasil. Professor Luciano Teixeira.

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO EM DIFERENTES INTERVALOS DE CLASSES PARA ITUPORANGA SC

NATUREZA E EVOLUÇÃO DE SISTEMAS DE CANAIS SUBMARINOS

A MORFOGÊNESE DE FORMAS DENUDACIONAIS NO SUDOESTE DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

CENTRAL COMISSION FOR THE NAVIGATION OF THE RHINE

SEDIMENTOLOGIA DA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA RASA NA PORÇÃO CENTRAL DA COSTA PARANAENSE.

Retração e Progradação da Zona Costeira do Estado do Rio Grande do Sul

Importância dos oceanos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS DA TERRA CURSO DE GEOLOGIA NOME DO ALUNO TÍTULO DO PROJETO

Estruturas geológicas e formas do relevo Brasileiro. Professora: Jordana Costa

PROPRIEDADES ESPECTRAIS DOS SOLOS

6. SUMÁRIO E CONCLUSÕES

DETERMINAÇÃO DA MEIA-VIDA DO CO-57 USANDO DADOS DA VERIFICAÇÃO DIÁRIA DE DETECTORES

Quaternary and Environmental Geosciences (2009) 01(1):10-15

INFLUÊNCIA PLUVIAL NA CULTURA DE TRIGO NA REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL.

Aula 10 OS DELTAS - quando os rios depositam mar-adentro

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE REGULAMENTAÇÕES PARA AVALIAÇÃO DE BALNEABILIDADE

FÁCIES SEDIMENTARES DA SUPERSEQUÊNCIA GONDWANA I NA BORDA LESTE DA BACIA DO PARANÁ, REGIÃO DE ALFREDO WAGNER/SC

Geografia. Claudio Hansen (Rhanna Leoncio) Água

GEOGRAFIA DO BRASIL Relevo e Solo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA UNIPAMPA CAMPUS CAÇAPAVA DO SUL GRADE CURRICULAR DO CURSO DE GEOLOGIA TURNO: DIURNO 1º SEMESTRE - 1º ANO.

Rio Guaíba. Maio de 2009

Adjectivador do tipo ou da escala das características em causa: por ex. litofácies, biofácies; microfácies, macrofácies.

45 mm ASPECTOS TEXTURAIS DOS SEDIMENTOS DA PRAIA DA ENSEADA, ILHA DO CAMPECHE, SANTA CATARINA, BRASIL

MÉTODO DE ANÁLISE DA VULNERABILIDADE COSTEIRA À EROSÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS UFG - PPGA

O que é hidrografia? É o ciclo da água proveniente tanto da atmosfera como do subsolo.

ESTUDO GRANULOMÉTRICO DA PLATAFORMA INTERNA N DO RN, ENTRE GALINHOS E PORTO DO MANGUE

Prova de Avaliação de Capacidade & Prova Específica de Avaliação de Conhecimentos

Gabrielli Teresa Gadens-Marcon 1 ; Iran Carlos Stalliviere Corrêa 2 1,2. UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul 1

Tremores de Dezembro de 2015 / Janeiro de 2016 em Londrina - PR

PLANIFICAÇÃO ANUAL. Disciplina: Ciências Naturais A TERRA EM TRANSFORMAÇÃO: Unidade Temática e. Conteúdos DINÂMICA EXTERNA DA TERRA

45 mm APLICAÇÃO DO RDE (ÍNDICE RELAÇÃO DECLIVIDADE-EXTENSÃO) NO CURSO PRINCIPAL DA BACIA DO RIO CLARO.

AGG00209 INTRODUÇÃO A PETROFÍSICA QUESTIONÁRIO 1 MINERAIS E ROCHAS

Geologia. Tecnologia de Informação e Comunicação. Escola Básica 2,3 Paulo da Gama. Amora, outobro Aluno: André Costa. Professor: Sérgio Heleno

Atributos de satisfação como determinantes da lealdade de clientes de academias no Brasil

OBJETIVO: MATERIAIS E MÉTODOS:

Transcrição:

MINERAIS PESADOS NA PLATAFORMA CONTINENTAL INTERNA ADJACENTE AO LITORAL CENTRO-NORTE DE SANTA CATARINA Denis Roberto de Souza 1 ; José Gustavo Natorf de Abreu 2 1 Mestrando em Geografia, UFSC (oceanodrs@yahoo.com.br); 2 CTTMar, UNIVALI Abstract. This work summarizes recent studies on the occurrence of heavy minerals in the superficial sediments of the continental shelf adjacent to the north coast of the Santa Catarina State (Brazil). The objective of the work was to identify the types of minerals, also considering their abundance and distribution. The main identified mineralogic species were: ilmenite, epidoto, tourmaline, augite, magnetite, diopside, zircon, hornblende, cyanite, estaurolite, hiperstene, garnet and rutile, among other minerals. In spite of the predominance of ilmenite, translucid minerals are more abundant than the opaque ones. The higher concentrations of heavy minerals were observed in the vicinities of fluvial mouths, especially at grain size class of 3 to 4 phi. According to these results, a tendency of distribution of unstable minerals and low ZTR index (zircon+tourmaline+rutile) associated to the form and density of grains was also observed. Furthermore, it was also detected that the influence of local currents in the spatial distribution of these minerals controls the dispersion patterns leading to concentration. On the other hand, the most stable minerals (high ZTR index) are associated to the sandy areas, reworked by coastal dynamics. Through the principal components analysis (PCA) it was possible to identify two mineralogical associations with different sources and forms from dispersion: Group 1 (augite, diopside and hornblende) and Group 2 (zircon, rutile and tourmaline). Thus, this study can contribute for the production of important bibliographical references for the South Brazilian Continental Shelf. Palavras-chave: Mineral Pesado, Sedimentologia, Plataforma Continental 1. Introdução Os minerais pesados são reconhecidamente importantes indicadores de processos sedimentares, uma vez que a sua presença em determinados depósitos, seja continentais, costeiros ou marinhos, sugere a intensidade e a duração do transporte sedimentar. Por isso a dispersão do material detrítico proveniente do intemperismo e erosão das rochas pode ser avaliada analisando-se a presença de assembléias de minerais pesados. A sua concentração e volume, por outro lado, são parâmetros importantes que se destacam quando o objetivo da pesquisa está focado na prospecção mineral. Importantes referências podem ser citadas nas quais os minerais pesados são utilizados como ferramentas na identificação da proveniência e direção preferencial de transporte, na reconstituição de ambientes antigos (Krumbein and Pettijohn 1938, Krumbein and Sloss 1956, Feo-Codecido 1956, Pettijohn 1957, Tomazelli 1978, Mezzadri and Saccani 1989, Calliari et al. 1990) e na análise de bacias sedimentares voltadas à exploração petrolífera (Addad 2001). Na Estratigrafia a distribuição dos minerais pesados pode descrever a evolução dos ambientes costeiros e marinhos já que a presença concentrada em estratos indica intensidade dos processos ambientais pretéritos (Palma 1979). Por estas razões são freqüentes os estudos a respeito

deste constituinte sedimentar havendo citações para várias regiões do Brasil. Na plataforma do Rio Grande do Sul e Uruguai, Corrêa et al. (2002) e Ayup-Zouain et al. (2002) caracterizaram recentemente, a ocorrência e distribuição de minerais pesados e suas respectivas áreas fonte, o que desenvolveu ainda mais o estado da arte a respeito da mineralogia da plataforma continental sul-brasileira. Comparativamente aos outros Estados da Região Sul, a plataforma continental catarinense tem ainda poucos resultados no que diz respeito à mineralogia do sedimento. Por esta razão foi desenvolvido um estudo na plataforma continental adjacente ao litoral Norte do Estado de Santa Catarina tendo como objetivo identificar as principais espécies de minerais pesados e mapear a sua distribuição. Desta maneira, os resultados obtidos contribuem com o atual conhecimento a respeito dos processos sedimentares e a conseqüente distribuição de fácies, bem como para a avaliação do potencial mineral de interesse econômico da Plataforma Continental Interna de Santa Catarina e da Margem Continental Brasileira. 2. Metodologia A área de estudo corresponde ao trecho da Plataforma Continental Interna adjacente ao litoral Norte do Estado de Santa Catarina, compreendendo a região localizada entre a foz do rio Itapocu (26 30' 00") e do rio Tijucas (27 20' 00"), e a isóbata de 50 metros a leste (Fig. 1). O método de análise constou, inicialmente, em separar a fração leve e pesada do sedimento através de líquido denso (Bromofórmio d=2,86) nos intervalos de classe granulométrica de 1-2, 2-3 e 3-4 phi, em 38 amostras coletadas entre 10 e 50m de profundidade. Após a concentração da fração pesada, foi obtido o peso e os percentuais calculados em cada fração de tamanho. Por fim, se procedeu a contagem de 300 grãos (Galehouse 1971) e a identificação das espécies minerais para a classe 3-4 phi, intervalo de maior concentração de pesados. Estatisticamente os dados foram tratados através de Análise de Componentes Principais (ACP) nos minerais translúcido da classe 3-4 phi para identificar as assembléias de minerais pesados e avaliar os padrões de transporte dos sedimentos em relação as suas diferentes fontes (Cascalho 2000). 3. Resultados Destacam-se dois locais de maior ocorrência de minerais pesados ambos situados próximo à costa. Um deles localiza-se ao largo do rio Itapocu e o outro situa-se ao Norte da desembocadura do rio Itajaí-Açu (Fig. 2). Neste local a concentração é de 1,57% do sedimento, considerando as três classes que mais concentraram a fração pesada, ou seja, o intervalo de 1-4 phi. Analisando apenas a fração 3-4 phi, nestas mesmas áreas, a concentração aumenta consideravelmente chegando a cerca de 6% de pesados no sedimento (Fig. 3). As principais espécies mineralógicas encontradas foram: ilmenita (31,79%), epidoto (16,96%), turmalina (10,12%), augita (8,76%), magnetita (3,36%), diopsídio (2,66%), zircão (1,91%), hornblenda (1,61%), cianita (1,53%), estaurolita (0,97%), hiperstênio (0,84%), granada (0,52%), rutilo (0,47%), entre outros minerais (18,50%). Apesar da maior ocorrência ser de ilmenita, os minerais translúcidos (54,11%) são mais abundantes que os opacos (43,20%).

O índice ZTR, relacionado a maturidade dos minerais (Pettijohn 1957), mostrou que os mais instáveis (augita, hornblenda e hiperstênio) distribuem-se a partir da desembocadura do rio Itajaí-Açu, em direção Norte. Por outro lado, os minerais mais estáveis (maturos) como zircão, rutilo e turmalina, ocorrem com mais freqüência nas amostras coletadas à Noroeste, na porção central da área de estudo e, principalmente, ao Sul, próximo a Ilha do Arvoredo. A Análise das Componentes Principais (ACP) estabeleceu duas associações de minerais ou assembléias mineralógicas determinadas por dois fatores ou cargas que, juntos, explicam 72,75% da variância dos dados: O fator 1, relacionado à maturidade, é influenciado por um grupo de minerais formado pela augita, diopsídio e hornblenda (Grupo 1) e por zircão, rutilo e turmalina (Grupo 2). O fator 2, relacionado à forma dos minerais, é também influenciado pelos mesmos minerais que constituem o Grupo 1, cujos formatos são prismáticos e/ou alongados. O fator 2 é ainda fortemente influenciado pelo epidoto, o mineral mais abundante depois da ilmenita e que ocorre em grãos arredondados. A assembléia mineralógica representada pelo Grupo 1 predomina nas proximidades da costa especialmente junto às desembocaduras fluviais, enquanto que o Grupo 2 ocupa a porção central e Sul da área de estudo (Figs. 4 e 5). 4. Discussões e Conclusões De acordo com o índice de maturidade obtido os minerais mais instáveis, imaturos, ocorrem nas proximidades da desembocadura do rio Itajaí-Açu distribuindo-se a partir dali, segundo a direção NNE coincidente com a direção de dispersão da pluma estuarina daquele rio. Este padrão confirma a influência do aporte sedimentar do rio Itajaí-Açu e a sua atual contribuição para a cobertura sedimentar da plataforma continental. Quanto aos minerais considerados estáveis, com alto índice ZTR, estes se relacionam a áreas de deposição arenosa, mais antigas, presentes na porção mais externa da área de estudo. O resultado do sucessivo retrabalhamento destes é a abrasão prolongada e o intenso ataque químico sobre a fração leve (Suguio 1980) refletindo-se o fato sobre a concentração da fração mais pesada do sedimento. As associações mineralógicas foram, basicamente, determinadas em função da forma e do grau de maturidade dos minerais. A densidade, apesar de ser um fator a ser considerado principalmente para a concentração em determinadas classes granulométricas, não teve influência significativa para a formação das assembléias mineralógicas identificadas. A ACP concordou com o índice ZTR uma vez que os dois elementos de análise utilizados determinaram as mesmas assembléias de minerais estáveis e instáveis presentes e com o mesmo padrão de distribuição pela área de estudo. 5. Referências ADDAD JE. 2001. Minerais Pesados: uma ferramenta para prospecção, proveniência, paleogeografia e análise ambiental. São Paulo: Imprensa Universitária. Centro Gráfico da UFMG, 80p. AYUP-ZOUAIN RN, CORRÊA, ICS, TOMAZELLI LJ, and DILLEMBURG SR. 2002. Área fonte e dispersão dos minerais pesados nos sedimentos superficiais da plataforma continental

norte do Atlântico Sul-Ocidental. An XLI Cong Brás de Geol, João Pessoa, PB, p-121. CALLIARI LJ, FISCHLER CT and BERQUIST CR. 1990. Heavymineral variability and provenance of the Virginia inner shelf and lower Chesapeake Bay, Virginia, EUA. Virginia Div of Min Res, 103: 124 p. CASCALHO JPVR. 2000. Mineralogia dos Sedimentos Arenosos da Margem Continental Setentrional Portuguesa. Lisboa, Portugal. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa. CORRÊA ICS, AYUP-ZOUAIN RN, TOLDO Jr. EE, and TOMAZELLI LJ. 2002. Minerais pesados nos sedimentos superficiais da plataforma continental Sul-brasileira, Uruguaia e Rio-Platense. An XLI Cong Bras de Geol., João Pessoa, PB, p-83. FEO-CODECIDO G. 1956. Heavy mineral techniques and their application to Venezuela stratigraphy. Am. Assoc. Petroleum Geologists, 40: 985-1000. GALEHOUSE JS. 1971. Point counting. In: PROCEDURES IN SEDIMENTARY PETROLOGY. Carver, R.E. (ed.) New York: Wiley- Interscience, p. 385-407. KRUMBEIN WC. and PETTIJOHN F. 1938. Manual of Sedimentary Petrography. New York: Appleton-Century Crofts. 549 p. KRUMBEIN WC. and SLOSS LL. 1956. Stratigraphy and Sedimentation. San Francisco. W. H. and Freeman and Co. MEZZADRI G. and SACCANI E. 1989. Heavy mineral distribution in late quaternary sediment dispersal in sedimentary basins at active margins. Jour of Sed Petr, 59:(3) 412-422. PALMA JJC. 1979. Depósitos de Minerais Pesados. In: SÉRIE PROJETO REMAC, 10., Rio de Janeiro. PETROBRÁS/DNPM/CPRM/DHN/CN Pq, p.33-50. PETTIJOHN FJ. 1957. Sedimentary Rocks, 2nd ed., New York: Harper & Brothers, 718 p. SUGUIO K. 1980. Rochas Sedimentares. São Paulo: Editora Blücher, 500p. TOMAZELLI LJ. 1978. Minerais Pesados da Plataforma Continental do Rio Grande do Sul. Unisinos, Acta Geológica Leopoldensia, 5, vol.ii, 159 p.

Fig. 1. Localização da área de estudo juntamente com os pontos amostrais. Fig. 2: Mapa de concentração total de minerais pesados. Fig. 3: Mapa de concentração de minerais pesados na classe 3-4 phi.

Fig. 4: Mapa de distribuição das cargas do fator 1: maturidade (Grupo 1 augita, hiperstênio e diopsídio e Grupo 2 zircão, turmalina e rutilo). Fig. 5: Mapa de distribuição das cargas do fator 2: forma (Grupo 3 epidoto e Grupo 4 augita, hiperstênio e diopsídio).