SAQUES NAS CONTAS DO FGTS INJETARAM R$ 10,8 BI NO VAREJO Do total de R$ 44 bilhões sacados das contas inativas entre março e julho deste ano, 25% chegaram ao varejo. De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, os recursos decorrentes dos saques nas contas inativas do FGTS geraram um impacto positivo de R$ 10,8 bilhões nas vendas do comércio varejista brasileiro entre os meses de março e julho deste ano. No acumulado de março a julho, esse valor correspondeu a 25% do montante sacado (R$ 44 bilhões, segundo informações preliminares da Caixa Econômica Federal). Esses R$ 10,8 bilhões mensurados pela entidade equivalem a 1,4% das vendas do varejo no período. Quatro dos oito segmentos do varejo positivamente impactados pela disponibilidade dos recursos oriundos do Fundo responderam por 86% dos recursos que se destinaram ao consumo no comércio, a saber: vestuário e calçados (R$ 4,1 bilhões), hiper e supermercados (R$ 2,8 bilhões), artigos de uso pessoal e doméstico (R$ 1,3 bilhão) e móveis e eletrodomésticos (R$ 1,2 bilhão). QUADRO 1 IMPACTOS DOS RECURSOS SACADOS DAS CONTAS INATIVAS DO FGTS SOBRE SEGMENTOS DO VAREJO ENTRE MARÇO E JULHO DE 2017 PARTICIPAÇÕES % O estudo da CNC se baseou no comportamento do volume de vendas e dos preços no varejo medidos através da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), em indicadores do mercado de trabalho disponibilizados mensalmente pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), além 1
do comportamento da concessão de crédito ao consumidor divulgado mensalmente pelo Banco Central. Com altas significativas em relação ao mesmo período do ano passado, o ramo de vestuário e calçados se destaca no processo de recuperação do varejo em 2017. Na comparação do primeiro semestre deste ano com o mesmo período do ano passado, o avanço do volume de vendas nesse segmento tem sido o mais expressivo entre os 10 ramos que compõem o varejo no conceito ampliado da PMC que apurou alta de 0,3%. Embora os hiper e supermercados segmento mais representativo do varejo ainda não tenham apresentado recuperação no ano (-0,6%), inegavelmente as vendas se comportaram de forma mais favorável ao longo do segundo trimestre. De abril a junho, o faturamento real nesse ramo cresceu, em média, 1,3% ritmo não visto desde o segundo trimestre de 2014 (+4,5%). O ramo de lojas especializadas na comercialização de móveis e eletrodomésticos tem liderado a ainda tímida recuperação do varejo neste ano. No primeiro semestre de 2017, houve avanço de 5,9% nesse segmento, destacando-se as fortes variações positivas verificadas em maio (+14,0%) e junho (+12,6%). Mesmo considerando o fraco desempenho das vendas em abril (-0,1%, na comparação com o mesmo mês de 2016), o segundo trimestre de 2017 foi o melhor (+8,8%) percebido por esse segmento desde o período compreendido entre julho e setembro de 2013 (também +8,8%). Assim como no caso dos hiper e supermercados, as lojas de artigos de uso pessoal e doméstico ainda acusam pequena queda nas vendas ao longo deste ano (-0,9%). Porém, desde abril, esse segmento vem experimentando taxas de crescimento de pelo menos 3,0% em relação aos respectivos meses de 2016. Especificamente em junho, o resultado apurado pelo IBGE (+4,2%) foi o melhor desde março de 2015 (+15,7%), nessa base comparativa. QUADRO 2 VARIAÇÕES % DO VOLUME DE VENDAS DO VAREJO EM RELAÇÃO AO MESMO MÊS DO ANO ANTERIOR SEGMENTOS SELECIONADOS Vestuário e Calçados Hiper e Supermercados 2
Móveis e Eletrodomésticos Artigos de Uso Pessoal e Doméstico Fonte: IBGE Apesar da ligeira melhora na performance anual do varejo, a recuperação parcial das vendas ao longo de 2017 não se deve, exclusivamente, ao impacto dos recursos provenientes das contas inativas do FGTS sobre as vendas. Ela se insere em contexto mais amplo de resgate das condições de consumo caracterizado por quedas sucessivas dos preços médios praticados por alguns segmentos do varejo, além do recuo no valor das prestações nas operações de crédito voltadas para pessoas físicas nos últimos meses. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, os preços médios dos bens de consumo duráveis apresentaram nove quedas mensais nos últimos 11 meses encerrados em julho deste ano. Já nos últimos 12 meses, esse grupo de produtos acumula variação de preços negativa de -1,7%. A despeito da alta sazonal de preços nos meses de abril (+0,41%) e, principalmente, maio (+0,81%), o grupo de bens de consumo semiduráveis, predominantemente formado por itens de vestuário, voltou a registrar queda de preços em julho (-0,31%), acumulando variação de 2,2% nos últimos 12 meses percentual significativamente abaixo daquele observado em julho de 2016 (+5,7%). Na média, o IPCA variou +2,7% no período. QUADRO 3 VARIAÇÕES % ACUMULADAS EM 12 MESES DOS PREÇOS MÉDIOS DOS BENS DE CONSUMO DURÁVEIS E SEMIDURÁVEIS: JULHO/16 A JULHO/2017 Bens de Consumo Duráveis Bens de Consumo Semiduráveis 3
Fonte: IBGE De forma complementar à evolução mais favorável dos preços, o recuo no valor médio das prestações de empréstimos e financiamentos contraídos pelas pessoas físicas tem favorecido a reação das vendas em segmentos mais dependentes das condições de financiamento. De acordo com cálculos realizados pela CNC, considerando-se a taxa e os prazos médios vigentes das operações com recursos destinados às pessoas físicas, houve recuo nominal de 7,8% no valor médio das parcelas dos empréstimos e financiamentos contraídos nos últimos 12 meses. Segundo dados do Banco Central, nos quatro últimos meses houve avanços na concessão de crédito com recursos livres destinados aos consumidores fato inédito desde outubro de 2014. QUADRO 4 EVOLUÇÃO MENSAL DAS CONCESSÕES DE CRÉDITO ÀS PESSOAS FÍSICAS E SIMULAÇÕES DE PRESTAÇÕES Var.% Mensal da Concessão de Crédito às Pessoas Físicas com Ajuste Sazonal Simulações de Prestação Média Nominal: Empréstimo de R$ 1.000 a preços de junho/17 Fontes: IBGE, Banco Central e CNC Finalmente, cabe ressaltar ainda a lenta reação do mercado formal de trabalho. De acordo com dados do Caged, a diferença entre admissões e desligamentos de trabalhadores celetistas tem gerado saldos positivos desde abril deste ano sequência inédita desde setembro de 2014. No ano, a base estatística do Ministério do Trabalho aponta uma geração líquida de +112,2 mil vagas contra saldos de -595,7 mil e -454,1 mil postos de trabalho nos seis primeiros meses de 2016 e 2015, respectivamente. Conclui-se, portanto, que embora os recursos oriundos dos saques nas contas inativas do FGTS venham cumprindo papel relevante na reativação do consumo de bens no Brasil, a recuperação parcial do varejo ao longo de 2017 se insere em um quadro mais amplo de desaceleração dos preços 4
e melhoria das condições de crédito. A consolidação da recuperação do setor como um todo passa, contudo, pela necessária reativação do nível geral de atividade econômica e seus reflexos benignos sobre as condições do mercado de trabalho. 5