Arachnideos do Rio Grande do Su l MELLO LEITÃ O Prof. de Zoologia do Museu Naciona l A fauna arachnologica do Rio Grande do Sul, esp ecialmente n o que se refere ás aranhas, é uma das mais bem estudadas do Brasil, gra,- ças ás colheitas feitas,em Taquara por Hermann von Ihering e remettidas ao conde de Keyserling. Cerca de 33 0;0 1 das especies referidas e m «Brasilianische Spinnen» de Keyserling e Marx são dessa procedencia. Eu mesmo já tenho recebido do prof. Rudolf Gliesch e do Sair. Antoni o Ronna algum material, sendo que do enviado por este ultimo só pudera m ser estudados os opiliões, pelo máo acondicionamento,em que semprd tem vindo, deteriorando-se completamente as aranhas. Agora recebo, por nimia ' gentileza do Prof. I)r. Gezar Pinto, uma pequena collecção, e m magnifico estado, com algumas novidades muito interessantes. Na collecção Cezar Pinto, agora incorporada ás do Museu Naciona l havia as seguintes especies de aranhas. Familia Actinopodida s 1-- Actinopus ceciliae sp. n. Pedras Altas. Familia Aviculariida s 2 Grammostola actacon Poc. Herval, Pedras Altas. Familia Pisaurida s 3 Treclialea cezariana sp. n. Rio Sta. Cruz. Familia Lycosida s -1 Lycosa auricomma Keys. ---- Pelotas. 5 Lycosa pintoi sp. n. --- Pedras Altas. 6 Lycosa sp. (jóven) Taquara. 1 Keyserling descreveu nas Aranhas brasileiras de tres collecções, feitas no Rio Grande por vo n lhering (33 o/o), no Rio e Espirito Santo por Goeldi (55 o o) e em Blumenau por Hetschko (12 o/o). 10
Agosto, 1931 Mello- Leitão : Arachnideos do Rio Grande do Sul Familia Sieariida s 1 1 7 Scytodes maculata Ilolmb. Pelotas. 8 Loxosceles hirsutus sp. Il. Pedras Altas. Familia Argiopida s 9 Araneus grayi (Bi.) --- Taquara. 10 Micrathena tucumana Simon Serro da Guarda. Familia Ctenidas 11 Ctenus vertebratus F. Cambr. S. Francisco de Paula. 12 Ctenus sp. (jóven) --- Taquara. Familia Sparassidas 13 Polybetes maculatus Keys.) Pedras Altas, Porto Alegre ; Herval. Familia Selenopidas 14 Selenops sp. (jóven) ---- Nerval. Familia Thomisida s 15 Misumenops pallidus ( Keys.) Pedras Altas. Dou a seguir a descripção das especies novas ou mal conhecidas : Actiüopus eeciliae sp. n. (Fig. 1 ) Macho 10 mm. Face dorsal negra, uniforme ; esterno pardo ; labio fulvo-negro ; ventre com uma grande mancha parda anterior. Olhos anteriores tem fila nitidamente procurva, os medios bem menores que os lateraes, separados entre si um diametro e a cerca de quatr o diametros dos lateraes. Olhos posteriores em fila recurva, menor que a anterior, os medios bem menores (quasi iguaes aos medias anteriores) e contiguos aos lateraes. Cheliceras pillosas, com o rastello formado por dentes longos, numerosos, muito unidos, occupando um terço da largura da chtelicera. Labio mutico. Pernas I e II : patellas muticas ; tibias com dois espinhos apicoes te alguns espinhos fracos, curvos, irregularmente dispostos ; pro - tarsos te tarsos muito espinhosos. Pernas III : patellas armadas de um rastello dorsal apical, de es - pinhos curtos te com uma fila posterior de espinhos semelhantes ; tibias tambem com um rastello apical, no qual os dentes médios são nitidament e menores. Pernas IV : patellas com u.ma fila anterior de dentes espinifor-
12 Boletim Biologic o mes : tibias de face dorsal rnutica e face inferior muito espinhosa. Abdomes densamente pilloso. Palpos longos, d'e patella dilatada para o apice, cerca de tres veze s mais longa que larga ; tibia duas vezes maior 'que a patell a, levement e dilatada 'em seu terço basal, de colorido uniforme ; tarso com grande bulbo, de estylete retorcido e triplice crista. HAB. : Pedras Altas. Municipio de Cacimbinhas. coi L. : D. Cecilia Assis Brasil. Trechalea cezariana sp. n. (Fig. 2 ) Femea 25 mm. Pernais : 51-61-49-64 mm. Patellas + tibias : 16-21-15-18 mm. Cheliceras com tres dentes na margem superior e tres, muito mai s fortes (os dois primeiros mais proximos ), na margem inferior. Clypeo mais de 5 vezes mais alto que o diametro dos olhos medios anteriores. Olhos medios anteriores bem maiores que os lateraes e arca dos olhos medios mais alta que larga, bem mais 'estreita adiante. C'e,phalothorax fulvo escuro uniforme, ennegrecendo para a arc a ocular. Cheliceras quasi negras. Pernas anneladas de fulvo-negro e fulv o nos femures, patellas 'e tibias ; protarsos e tarsos quasi negros. Abdome n pardo-negro, de abundante pubescencia cervina, sem nenhum desenho. Peça labial e laminas maxillares fulvo-negras. Esterno pardo-f ulvescente,, bem como as ancas. Ventre pardo em sua região central e ennegrecid o dos -lados. Epigyno fulvo escuro, mais largo que longo, de lingueta median a mais longa qu'e larga, muito dilatada no apice ; de cada lado ha uma apophyse, logo adiante da porção apical da lingueta. Differe das outras 'espécies do genero pelo colorido uniforme e pela dilatação apical da lingueta mediana do epigyno. HAB. : Rio Santa Cruz, proximo de Gramado. Municipio de Taquara. COLL. : Gezar Pinto. Lycosa pintoi sp. n. (Fig. 3). Fem'ea 5 mm. Olhos anteriores iguaes, 'equidistantes, em fila procurva. Olhos da 2a. fila separados um diametro,_ 'e arca dos olhos das duas ultimas fila s quadrada, os quatro' olhos iguaes. Pernas I e II com as tibias armada s d'e 2-2 espinhos inferiores, e com densa,escopula que se estende dos tarsos até o meio das tibias. Gephalothorax fusco, com larga faixa mediana fulvo-clara, havendo, na porção fusca, linhas radiantes de pellos brancos. Olhos orlados de pellos brancos. Pernas pardas, com as 'escopulas quasi (negras. Abdomen de dorso fusco-negro, com duas linhas longitudinaes, levemente divergen-
Agosto. 1 931 Mello Leitão : Arachnideos do Rio Grande do Sul -13 tes, de pellos cremes, na metade anterior do dorso ; lados cinzentas ; ventre negro., com grande triangulo mediano, muito alongado, d.e apice quasi sobre as fiandeiras, cinzento-claro. Fiandeiras negras. Externo fusco. Cheliceras fulvas. Peça labial, laminas maxillares e ancas pardas. HAB. : Pedras Altas. Municipio de Cacimbinhas. COZI.. : Cezar Pinto. Loxosceles hirsutus sp. n. Femea S mm. Cephalothorax amarello claro, com fina pubescencia escura e cerdas deitadas, formando, de cada lado, duas linhas irradiantes, sendo as cerdas deitadas com a ponta para a linha mediana ; cerdas semelhantes, deitadas para diante, formam uma larguissima faixa longitudinal mediana, que vae do sulco mediano, aonde vêm ter as linhas irradiantes, até o clypeo. Pernas muticas, com abundantes penas erectos. Abdome u pardo-acinzentado, densamente pubescente. Esterno de colorido igual ao do cephalothorax, com abundantes cerdas entrecruzadas. Cheliceras fulvo escuras. Peça labial avermelhada ; laminas maxiilares do mesmo colo rido, com as pontas esbranquiçadas. HAB. : Pedras Altas. Municipio de Cacimbinhas. coll. : Cezar Pinto. Ctenus vertebratus F. Cambridge, 1903 (Fig. 3 ) Macho 20 mm. Conhecia-se desta especie a femea, descripta igualmente do Ri o Grande do Sul. O macho é novo para a sciencia. Olhos da 2a. fila em linha procurva. Area dos olhos medios de comprimento e largura iguaes, levemente estreitada adiante. Margem inferior das cheliceras com 4 dentes. Colorido e desenho como na femea. Palpos : femur levemente curvo ; patella cylindrica, duas vezes mai s longa que larga, com um espinho dorsal ; tibia maior que a patena, dilatada para o apice, armada de curta apophyse apical externa e de um dent e apical inferior mediano ; tarso pouco maior que a tibia, d.e bulbo ellyptico, cone duas apophyses. HAB. : S. Francisco de Paula. COLL. : Cezar Pinto. Na mesma collecção havia uma interessante forma de opiliáo, d a f amilia dos Phalangodidas : Gephyropachylus g. n. ('t'r'lcommati,nas ) Comoro ocular com alto espinho mediano. Areas I e IV dividida s por um sulco longitudinal mediano ; arcas I, II e V e tergitos livres inermes ; arcas 111,e IV com dois tuberculos.
14 Boletim Biologico Femur dos palpos com um espinho apical interno. Tarsos I de seis segmentos, os outros de mais. Typo : Gephyropaehylus marginatus sp. n. Macho 5,5 mm. Pernas : 7-11-9-14 mm. Femures : 2-3- 3-4 mm. Borda anterior do cephalothorax com pequena elevação mediana. Cephalothorax finamente granuloso. Comoro ocular com altissimo espinho ponteagudo, erecto, levemente obliquo. Escudo dorsal fina e irregularment e granuloso ; areas I e II da porção mesotergal inermes ; areas III e IV com dois pequenos tuberculos medianos ; areas II e III inteiras, I e I V divididas por um sulco longitudinal mediano. Area marginal posterio r (V), com 2 filas de granulações pequenas e 1 fila de granulações maiores, do mesmo tamanho dos tuberculos das areas III e IV. Areas marginaes lateraes e tergitos livres com 2 filas de granulos ; sternitos livres com uma. Ancas muito finamente granulosas. Todos os femures curvos, muito granulosos. Ancas IV com um espinho apical externo, inclinado para cima e para traz. Palpos : trochanter inerme ; femur com um espinho apical interno ; patella inerme ; tibia,e tarso com 2 espinhos de cada lado. Tarsos das pernas de 6-9-7-7 segmento. Corpo fusco-negro, com estreita orla marginal lateral, no escud o abdominal, amarello-queimado ; trochanteres pardo-amarel:lados ; pernas fusco-negras ; cheliceras pardas, lavadas de negro ; face ventral pardo - queimada, uniforme. IIAB. : Caracol (cascata) Municipio 'de Taquara. COLL. : Cezar Pinto. Rio Maio de 1931.
1 Palpo de Actinopus cecillae. 2 Epigyno de Trechalea cezariana. 3 IJpigyno de Lycosa pintoi. 4---Palpo de Ctenus vertebratus.