ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, CIVIS E MILITARES ( ): APONTAMENTOS DE PESQUISA

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O anticomunismo e a esquerda militar no Brasil: uma análise historiográfica.

Transcrição:

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, CIVIS E MILITARES (1961-1964): APONTAMENTOS DE PESQUISA RAFAEL PATRICK FLORES * O golpe de Estado em 1964 foi marcado por diversos elementos que antecederam este episódio. Entendemos que existiram ações que levaram os militares ao poder, uma campanha com interessescomponentes de um processo que culminou na ruptura democrática. Pensamos, como pressuposto principal, o estreitamento político entre camadas de civis e militares que ideologicamente desestabilizaram o governo de João Goulart (Jango). O presente texto parte dos dados preliminares de uma investigação de monografia para pensar o golpe de Estado que derrubou o presidente Goulart em 1964, partindo dos dados obtidos da bibliografia especializada, consecutivamente, investigaremos o material sobre a Escola Superior de Guerra (ESG) publicado na Folha de S. Paulo de 1961 a 1964. A ESG foi criada oficialmente em 1949 aos moldes das academias militares estadunidenses. Este período foi tomado pela ideologia da Guerra Fria entre o bloco de países que defendiam o capitalismo, liderados pelos Estados Unidos e o bloco de países adeptos ao sistema socialista, liderados pela União Soviética. A Escola brasileira foi responsável pela elaboração da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), ideologia em consonância do bloco capitalista que defendeu o país das forças subversivas provindas do comunismo da Guerra Fria. (FERRAZ apud SILVA, 2016, p. 17) Para compreender esta ideologia disseminada pela ESG e perceber a relação que teve com o golpe de 1964, o caminho da pesquisa, inicialmente, realizamos algumas leituras com autores que tratam este período da história do Brasil. É ponto comum na bibliografia consultada que a ideologia principal que uniu a oposição na derrubada de Jango foi a DSN, criada na ESG. Assim, houve um estreitamento intenso entre civis - compreendidos pela camada da classe média da sociedade, o empresariado nacional e a imprensa - com militares. Entender esta situaçãoé remontar a histórica relação entre civis e militares no Brasil. Este pressuposto é ponto de análise da pesquisa de Alfred Stepan, na obra Os Militares na Política: As Mudanças de Padrões na Vida Brasileira, em que destaca o papel dos militares como fundamental, pois cumpriam com a função histórica de moderadores em momentos de crise no país. Conforme Stepan: a * Graduando em História pela UFMS/CPAQ.

2 tendência usual do militar ver em si mesmo uma organização com a missão de defendero país. Este fato contribui para que julguem legítimoo seu arbitramento de eventos políticos em momentos de crise. (STEPAN, 1975, p.35) Neste sentido, será discutido a nova doutrina elaborada pela Escola Superior de Guerra que estreitou as relações entre civis e militares, pois partilhavam o anseio de modificar a esfera política e econômica no início da década de 1960. Assim, a Doutrina de Segurança Nacional, entendemos que foi uma nova conduta dentro das Forças Armadas, que esteve consonante dos interesses capitalistas, aproximando militares e empresários. A relação entre estas duas camadas da sociedade foi hipótese central na obra de René Armand Dreifuss, pelo qual contribuiu às pesquisas das atividadesque levaram ao golpe de 1964. (DREIFUSS, 1981) Ainda o autor destacou que da ação conjunta entre militares e civis culminou nas atividades de perseguição ideológica. Formando, assim, o bloco histórico de poder conforme analisou o autor: Discutiu-se e tentou-se mostrar nos capítulos anteriores, bem como neste capítulo, o que o próprio General Cordeiro de Farias reconheceu, que o movimento vitorioso de 1964 foi altamente político e civil em sua formação e execução. A elite orgânica, durante a presidência de João Goulart, havia ajudado a conduzir o Estado brasileiro para uma situação em que uma intervenção bonapartista pelas Forças Armadas poderia ser encarada por um grande número de militares como uma solução adequadapara as contradições da sociedade e do governo brasileiros. O complexo IPES/IBAD e os oficiais da ESG organizaram a tomada do aparelho do Estado e estabeleceram uma nova relação de forças políticas no poder. (DREIFUSS, 1981, p. 397) A Escola Superior de Guerra também passa pela análise da historiadora Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira (2011) em seu livro Nossos comerciais, por favor! : a televisão brasileira e a Escola Superior de Guerra: o caso Flávio Cavalcanti. A autora analisa como Flávio Cavalcanti, pelos seus discursos por meio de seu programa de televisão ao longo da década de 1970, comungava das mesmas ideias de Doutrina elaborada pela ESG, mesmo sem ser ligada à instituição militar. À partir de tais apontamentos, percebemos a influência da Doutrina de Segurança Nacional que transformou a esfera política e social no Brasil nas décadas iniciais da segunda metade do século XX, projeto encabeçado pela Escola Superior de Guerra.

3 Desta maneira, nosso objetivo inicial é ter contato com alguns estudos, pelo qual pretendemos refletir a relação da Escola Superior de Guerra e os sujeitos que tiveram papel ativo no envolvimento das forças que culminaram no golpe de 1964, pelo qual percebemos que a mídia foi um dos veículos que contribuiu para a derrubada de João Goulart. (MOTTA, 2006, p.179) O trabalho se inscreve, assim, na interconexão entre Escola Superior de Guerra e a mídia, por meio da qual procuraremos pensar a seguinte questão: como a Escola Superior de Guerra foi representada nas páginas do jornal Folha de São Paulo? Permitindo melhor entender como um veículo de comunicação de massas, que cumpre função em disseminar informações, se posicionou sobre a ESG neste período do início da década de 1960, momento que antecedeu o golpe de 1964. Assim como mostrou Motta: Os impressos são veículo fundamental na divulgação e disseminação dos valores das diferentes culturas políticas, e são usados propositadamente com tal fim. Nos textos dos livros e jornais, e também nas suas imagens visuais, desfilam heróis (e, tão importantes quanto esses, os desprezíveis inimigos), mitos, símbolos e os valores morais do grupo, e nessas publicações muitas pessoas encontraram motivação para identificar-se e aderir. (MOTTA, 2009, p.11) Baseados nas referências teóricas de Zicman (1985), a autora aponta algumas vantagens em pesquisar a História por meio da imprensa, ora como arquivos do cotidiano, ora como um documento que se pode ampliar os fatos dentro de um contexto. (ZICMAN, 1985, p.90) O trabalho com jornais permite refletir sobre as manifestações políticas do contexto que antecedeu ao golpe, pois: [...] a Imprensa é rica em dados e elementos, e para alguns períodos é a única fonte de reconstituição histórica, permitindo um melhor conhecimento das sociedades ao nível de suas condições de vida, manifestações culturais e políticas, etc. (Ibid, p.89). Portanto, sob a concepção teórica de Zicman, a contribuição principal de analisar a Escola Superior de Guerra nos jornais, entender como a imprensa veiculou esta instituição no período que antecedeu ao golpe de 1964 e perceber qual foi o posicionamento do jornal frente a esta instituição acadêmica militar, que conforme já mencionada foi a propulsora da ideologia que proporcionou a manutenção das frentes de pensamentos capitalistas na esfera política e social do país.

Consecutivamente do contato da bibliografia especializada, o levantamento das fontes deve seguir a metodologia sugestiva de Zicman (1985): 4 Para cada artigo pode-se elaborar uma ficha-de-caracterização condensando as principais informações necessárias à análise: nome do jornal, data, coluna ou seção, nº da página, título e tipo de matéria, jornalista/redator, distribuição especial da matéria (superfície do artigo, nº de colunas, presença/ausência na 1ª página do jornal, aspectos tipográficos, fotos ou ilustrações). (ZICMAN, 1985, p.98) A significativa contribuição deste método será da possibilidade de sistematizar as matérias jornalísticas, evidenciando melhor os elementos de análise, da mesma forma, possam ser apresentados os dados de forma organizada. Para que ao final deste trabalho, esta metodologia responda o problema de pesquisa. Apesar da importância dos três estudos citados, ainda parece possível refletir um pouco mais sobre a Escola Superior de Guerra, o golpe civil-militar de 1964 e a Doutrina de Segurança Nacional, sobremodo entender como o jornal Folha de São Pauloveiculou material sobre esta instituição acadêmica militar relacionando a Doutrina de Segurança Nacional em suas páginas. Neste sentido, esta pesquisa objetiva, sobremaneira, contribuir com os estudos acerca das ações que levaram ao golpe civil-militar de 1964. Para isto, almejamos apontaremos uma discussão historiográfica entre os autores que mostram dados construtivos dos sujeitos que foram elementares na campanha conspiratória contra o presidente João Goulart, como também destacaremos algumas referências que foram centrais para a formulação e, sobremaneira, o desenvolvimento desta pesquisa. Pode-se dizer que existem alguns estudos interpretativos acerca das ações que culminou na tomada do poder pelos militares em 1964, que marcou o episódico momento de ruptura democrática. Deste modo, pretendemos explanar um debate historiográfico, dentre a vasta bibliografia especializada, sejam eles: Bandeira (1978), Motta (2000) 1 e Dreifuss (1981). 1 Além da tese de Motta, outras referências das contribuições de pesquisas deste autor que podemos elencar nesta proposta de discussão historiográfica são: MOTTA, R. P. S. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2006;. Desafios e possibilidades na apropriação de cultura política pela historiografia. In ; Culturas Políticas na História: novos estudos. Argumentum, 2009. Disponível em <http://pensamiento.unal.edu.co/fileadmin/recursos/focos/comunicacion/docs/di a_1._desafios_e_posibilidade s_na_apropriac ao_de_cultura_poli tica_pela_historiografi a.pdf> Acesso em 21/05/2016. ;. O

5 Neste sentido, almejamos fomentar as investigações sobre a temática que ainda perdura discussões sobre os desdobramentos históricos do início da década de 1960. Para isto, parece ser fundamental a reflexão sobre as análises de alguns autores já consolidados no assunto. Evidentemente, por conta das limitações de um trabalho de monografia, não aprofundaremos o debate historiográfico por meio da pesquisa, mas sim apontaremos um panorama geral sobre o golpe de 1964 por três eixos dialogáveis: o golpe de classe precedida por manobras políticas, a influência estadunidense na campanha contra João Goulart e as ações anticomunistas que justificou a tomada do poder pelos militares. Os resultados das pesquisas de Rodrigo Patto Sá Motta sobre as ações anticomunistas durante o início da década de 1960 no Brasil contribuíram significativamente como um viés interpretativo aos estudos sobre o golpe de 1964. Desta forma, as suposições comunistas durante o governo do presidente João Goulart resultaram na tensão do cenário político, desencadeando uma engajada campanha ideológica planejada pelas camadas conservadoras receosas de uma possível tomada comunista no Brasil. (MOTTA, 2000, p.318-319) O autor é claro em sua tese ao mostrar que o anticomunismo foi um fenômeno marcante na história brasileira durante a maior parte do século XX (Ibid, p.342), que por embates ideológicos foram decisivos em direcionar os rumos políticos do Brasil. Motta entende que o recorte temporal entre 1961 e 1964, compreende como o momento do segundo grande surto anticomunista. (Ibid, p. 286 e 288) As contribuições da pesquisa da tese do cientista político uruguaio René Armand Dreifuss que resultou na obra 1964: A conquista do Estado Ação política, poder e golpe de classe, foram significativos para mostrar o golpe que levou os militares ao poder em 1964 que foi por meio da ação conspiradora de uma significativa parcela civil da sociedade, sobremaneira, na hipótese central do autor, suas investigações trataram analisar as atividades de uma elite orgânica na organização de seus interesses e constituição de sua força durante o período da década de 1960. O domínio dos EUA sobre os países da América Latina não se limitou por meio da Doutrina de Segurança Nacional, no contexto de Guerra Fria. No caso brasileiro, sua golpe de 1964 e a ditadura nas pesquisas de opinião. Revista Tempo. Minas Gerais. V.20. p.1-21. 2014. p.11. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413-77042014000100215&script=sci_arttext &tlng=pt >. Acesso em 16/02/16.

6 influência pode ser claramente percebida nas investigações de Moniz Bandeira, que por meio de sua obra O governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil: (1961-1964), permite-nos entender a presença de infiltrações estadunidenses que contribuíram aos estudos sobre o processo de conspiração da derrubada do governo populista de João Goulart. As atividades dos Estados Unidos e empresas estrangeiras, neste episódio de 1964 na derrocada do regime democrático no Brasil, podem ser apontadas por influências de sujeitos norte-americanos aos corifeus brasileiros da reação do golpe de Estado e o bloqueio financeiro daquele país contra o Governo reformista de Jango. Referências bibliográficas BANDEIRA, Moniz. O governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil, (1961-1964). 5. ed. São Paulo, SP: Civilização Brasileira, 1978. DREIFUSS, René Armand. 1964: A Conquista Do Estado Ação Política, Poder e Golpe de Classe. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1981. MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: O anticomunismo no Brasil (1917-1964). 2000. 315f. Tese (Doutorado em História Econômica) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo. Disponível em :<https://www.academia.edu/12851483/em_guarda_contra_o_perigo_vermelh O_O_ANTICOMUNISMO_NO_BRASIL_1917-1964 > Acesso em 18/08/2016.. Desafios e possibilidades na apropriação de cultura política pela historiografia. In ;Culturas Políticas na História: novos estudos. Argumentum, 2009. Disponível em <http://pensamiento.unal.edu.co/fileadmin/recursos/focos/comunicacion/docs/di a_1._desa fios_e_posibilidades_na_apropriac ao_de_cultura_poli tica_pela_historiografi a.pdf>ac esso em 21/05/2016

7. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2006. OLIVEIRA, Lúcia Maciel Barbosa de Nossos comerciais, por favor! : a televisão brasileira e a escola superior de guerra: o caso Flávio Cavalcanti. São Paulo: Beca Produções Culturais, 2011. SILVA, Êça Pereira da.o Centro de Altos Estudos Militares (Peru) e a Escola Superior de Guerra (Brasil) 1948-1968. 2016. 241f. Tese(Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-10032016-143622/pt-br.php > Acesso em 21/05/16. STEPAN, Alfred. Os Militares na Política: As Mudanças de Padrões na Vida Brasileira. Rio de Janeiro: Artenova S.A., 1975. ZICMAN, Reneé Barata. História Através Da Imprensa - Algumas Considerações Metodológicas. Projeto História. São Paulo, 1985. pp.89-102.disponível em <http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/12410> Acesso em 11/03/2016