O Caminho Sobremodo Excelente

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Transcrição:

O Amor O Caminho Sobremodo Excelente David Roper Nesta série de lições sobre o amor, estamos nos concentrando na palavra agape. O capítulo definitivo sobre o amor agape é 1 Coríntios 13, um dos capítulos mais desafiadores da Bíblia. A respeito dessa passagem, J. W. McGarvey, um estudioso da Bíblia, diz o seguinte: Esta passagem tem sido admirada por todas as gerações, mas, infelizmente, não tem sido observada por nenhuma. O famoso comentarista William Barclay observa: Este capítulo testa o homem bom mais severamente do que qualquer outro capítulo do Novo Testamento. A razão é que este capítulo investiga o que está por trás do que fazemos; ele vai até os nossos motivos. Inicio esta lição e a próxima com um pouco de apreensão. Certas afirmações, versículos e capítulos da Bíblia desafiam qualquer tentativa de se aprimorá-los; acrescentar algo a eles nada mais é do que depreciá-los. Assim como os maiores picos de montanhas, eles são praticamente inescaláveis 1. Primeira Coríntios 13 é um desses capítulos. Mas, sendo ele o texto básico do presente estudo, faremos o melhor possível. Devemos começar desvendando o pano de fundo do capítulo. A igreja coríntia estava atolada em problemas. Muitos desses problemas estavam relacionados a dons miraculosos. Esses dons foram dados pela imposição das mãos dos apóstolos (Atos 8:14 18; veja também Romanos 1:13; 2 Timóteo 1:6). Paulo, que era apóstolo, passara um considerável tempo em Corinto, para que aos coríntios não faltasse nenhum dom (1 Coríntios 1:7). Mas eles estavam utilizando mal os seus dons, o que exigiu a redação de uma seção especial na carta de 1 Coríntios para tratar do problema. Essa seção consiste de três capítulos: 12, 13 e 14. No 11 As duas últimas frases são adaptadas de Charles Hodge. capítulo 12, Paulo enumerou nove ou mais dos dons miraculosos (observe vv. 8 10) e ensinou a necessidade de serem unidos. No capítulo 13, Paulo salientou que eles não deveriam supervalorizar os dons miraculosos porque eles não eram tão importantes e eram apenas temporários. Finalmente, no capítulo 14, o apóstolo lhes disse como usar os dons enquanto os tivessem. O capítulo que nos interessa nesta lição é o 13. Como ponto de partida, vejamos o último versículo do capítulo 12. Depois de explicar os dons miraculosos, Paulo disse: E eu passo a mostrarvos ainda um caminho sobremodo excelente (1 Coríntios 12:31). A expressão traduzida por ainda um caminho sobremodo excelente significa literalmente uma estrada (ou caminho) correspondente a um plano superior (i.e., que é melhor). Hugo McCord diz que a expressão poderia ser traduzida por um caminho de excelência ou uma estrada de superioridade. A NVI traduz a expressão por um caminho ainda mais excelente. No contexto, Paulo está contrastando esse caminho com os dons miraculosos; ele mostrará um caminho que é melhor do que esses dons. Tenho certeza de que qualquer indivíduo racional quer o que é mais excelente. Não preferimos o inferior; gostaríamos de ter o melhor. Mas o que é esse caminho sobremodo excelente? Não havia as divisões por capítulos no texto original. Portanto, logo que Paulo disse: E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente, ele começou a falar desse amor, descrito no capítulo 13: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; 1

2 ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor (vv. 1 13). 2 Mas por que o amor é o caminho sobremodo excelente? Paulo expõe três razões: 3 A SUPERIORIDADE DO AMOR Paulo começa observando que o amor é superior aos dons miraculosos porque, sem a motivação do amor, esses dons seriam vazios e sem sentido. Era comum a crença de que os dons miraculosos eram um sinal do favor especial de Deus. Quando os setenta homens enviados por Jesus numa expedição evangelística voltaram, eles estavam alegres porque podiam expulsar demônios. Mas Jesus lhes disse: Alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus (Lucas 10:20). Em outras palavras, algumas coisas eram mais importantes do que o poder de fazer milagres. Aparentemente, os coríntios acreditavam que certos dons davam-lhes status espiritual. Alguns ainda acreditam nisto hoje. Certo líder e professor notável da atualidade proclama que os dons miraculosos poderiam resolver a maior parte 12 Se você tiver em mãos um exemplar da Edição Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida, verá a palavra caridade no lugar de amor nesta passagem. Mas a palavra no texto original é o termo grego agape. Geralmente, a ERC usa amor como tradução de agape, mas em treze ocorrências, metade delas em 1 Coríntios 13, ela usa a palavra caridade. Caridade vem do latim equivalente a querido, caro. 13 As três razões foram emprestadas de Avon Malone. dos problemas da igreja, senão todos, e que os dons miraculosos trazem fervor, vitalidade e espiritualidade à igreja e põem fim à apatia, à letargia e ao ritualismo. Mas Paulo diz que há uma coisa imensamente superior aos dons miraculosos o amor. Antes, porém, de analisar o raciocínio de Paulo nestes três primeiros versículos, eu gostaria de mencionar que Paulo não limita sua exposição aos dons miraculosos. Ele quer que os cristãos saibam que o amor é superior a todos os dons. Depois de mencionar três ou quatro dons miraculosos, ele fala dos dons não-miraculosos a capacidade de dar e sacrificar e frisa o mesmo ponto. Paulo quer que saibamos que o amor deve permear tudo o que fazemos! Paulo começa dizendo: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine (v. 1). Ele começa com o dom mais valorizado pelos coríntios: falar em línguas, a capacidade miraculosa de falar numa língua ou idioma jamais estudado ou aprendido. Falar em línguas era um dom impressionante e era visto com elevada apreciação. No capítulo 14, porém, Paulo salientou que falar em línguas era inferior a dons práticos como profetizar (observe vv. 18, 19, etc.). Há uma considerável especulação quanto ao significado de línguas dos anjos. Hoje, alguns usam essa expressão para justificar o que eles chamam de falar em línguas, algo que é pouco mais do que uma seqüência de sons ilógicos. Quando se argumenta que o que eles falam não é uma língua ou idioma conhecido (como eram as línguas de Atos 2; cf. Atos 2:4, 6, 8), eles replicam: Ah, estamos falando as línguas dos anjos. Mas toda vez que a Bíblia relata anjos falando, os sons eram inteligíveis, ou seja, as pessoas que os ouviam entendiam o que era dito. A assim chamada língua celestial produzida hoje é resultado da imaginação fértil e das cordas vocais altamente ativas de um indivíduo. Quando Paulo se refere a línguas dos anjos, o que provavelmente temos é uma figura de exagero retórica: a capacidade de falar em línguas num grau superlativo. Mesmo que fosse possível se falar todas as línguas, da terra ou do céu, se não houvesse amor, o resultado seria apenas o barulho produzido. Naqueles dias, a adoração pagã geralmente se caracterizava pelo retumbar de címbalos e o toque de trombetas. Talvez Paulo tivesse em mente esse cenário. De qualquer maneira, um barulho dissonante é a figura que ele usa como os sons produzidos

durante a afinação de uma orquestra. Embora hoje não vivamos na era dos milagres, ainda podemos fazer uma aplicação do texto. Poucos dons são mais valorizados hoje na era da comunicação do que o dom de falar bem. Muitas personalidades políticas são conhecidas como grandes comunicadores. Admiramos o homem que nos deixa fascinados com o seu discurso. Falar bem é útil para qualquer carreira profissional. Mas Paulo diz que sem amor, o discurso mais primoroso é simplesmente como vento. Essa idéia, para mim que sou pregador e professor, me deixa espantado. Ainda que eu consiga fascinar uma platéia e ainda que eu convença centenas a aceitarem a Cristo, se não houver amor no meu coração, permanecerei culpado perante Deus, o qual é amor. A seguir, Paulo diz: Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei (v. 2). Neste versículo, Paulo se refere a vários dons miraculosos. Esses dons eram essenciais naqueles dias enquanto a lei perfeita (completa) não vinha. Primeira Coríntios foi escrita aproximadamente no ano 57 d.c. Nessa época, cerca de três ou quatro livros do Novo Testamento já haviam sido escritos, mas é provável que os cristãos coríntios não tivessem lido nenhum deles. Na ausência do apóstolo, eles precisavam ter os tipos de dons mencionados por Paulo para conhecerem a vontade de Deus. O primeiro dom mencionado no versículo 2 é o dom da profecia, um dom importante. Todos os judeus almejavam que seus filhos fossem profetas. A palavra profeta referia-se a um porta-voz de Deus aquele que falava como representante de Deus por inspiração. Primeira Coríntios 14 deixa claro que esse era um dos dons mais valiosos (veja v. 3, etc.). Mas Paulo diz que, sem amor, esse mesmo dom não tem sentido. Balaão disse palavras proféticas, mas lhe faltava o amor a Deus (Números 24:1ss.; 31:8). Caifás também disse palavras proféticas, mas isto não significa que ele seja um homem bom (João 11:51). Paulo também se refere a conhecer todos os mistérios. Talvez isto se refira ao dom da sabedoria (1 Coríntios 12:8), mas é mais provável que simplesmente faça parte do dom do conhecimento, mencionado a seguir no versículo. Dizia respeito a ter uma profunda percepção para coisas espirituais. Depois, Paulo fala de conhecer toda a ciência. Neste contexto, tratava-se de conhecimento sobrenatural conhecer a vontade de Deus, sem estudo, por inspiração. A seguir, Paulo se refere a ter tamanha fé, a ponto de transportar montes. Novamente, neste contexto, fé sobrenatural é o que está sendo considerado (1 Coríntios 12:9) não o tipo de fé que resulta de um estudo da Palavra de Deus (Romanos 10:17), não o tipo de fé sem o qual é impossível agradar a Deus (Hebreus 11:6). Este é um tipo especial de fé que provém diretamente de Deus e capacita o indivíduo a fazer coisas maravilhosas. A coisa maravilhosa específica citada no versículo é transportar montes. Os montes aqui poderiam estar no sentido literal; se transportar um monte era o que Deus queria, sem dúvida um homem revestido do poder de Deus poderia fazê-lo (observe Mateus 17:20). Mas, provavelmente, temos aqui outra hipérbole (figura de discurso que exprime exagero) para transmitir a idéia. Transportar montes era um coloquialismo naqueles dias, uma expressão idiomática usada pelos judeus para a solução de problemas. Paulo parece estar falando da capacidade de realizar milagres que edificam e fortalecem. Paulo enumera os dons miraculosos mais valorizados na igreja primitiva, sem dúvida, com a intenção de que eles simplesmente representassem todos os dons. Portanto, ele estava dizendo: Mas ainda que eu tenha esses dons, se não tiver amor, nada serei! Novamente, isto não tem algo a nos dizer hoje? Pode ser que gostaríamos de prever o futuro. Mas ainda que pudéssemos fazer isto, sem amor, nada seríamos. Pode ser que gostaríamos de poder entender todos os mistérios. São tantos os mistérios que nos fascinam: há especulações infinitas sobre coisas como OVNI, dinossauros, o triângulo das Bermudas. E há os mistérios que atingem todas as vidas: a morte, o sofrimento, as guerras, as tribulações. Mas ainda que tivéssemos a capacidade de entender tudo isto e muito mais, se não tivéssemos amor, nada seríamos. Tenho de admitir que eu gostaria de conhecer toda a ciência. Se eu tivesse todo o conhecimento científico, eu poderia melhorar a qualidade de vida. Se eu tivesse todo o conhecimento da medicina, poderia curar todas os doentes. Se eu tivesse todo o conhecimento financeiro, poderia acumular uma fortuna. Se eu tivesse todo o conhecimento político, poderia ser o conselheiro do Presidente. Se eu tivesse todo o conhecimento gramatical, poderia pregar e escrever melhor. Mas ainda que eu tivesse tamanho conhecimento, sem amor, eu nada seria. Paulo tinha o conhe- 3

14 Alguns escritores pensam que esta linguagem é forte demais e querem usar termos variantes, mas essa linguagem exagerada parece ser coerente com o argumento de Paulo de que nada tem valor sem a motivação do amor. cimento em mente quando disse: O saber ensoberbece, mas o amor edifica (1 Coríntios 8:1). Eu poderia desejar ter tamanha fé, a ponto de nada ser impossível. Mas, sem amor, eu teria poder sem sujeição. Judas tinha o poder de fazer milagres (Mateus 10:1), mas seu coração não era reto. Depois Paulo diz: E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará (v. 3). Posso vender o meu carro, vender minha casa e os móveis dentro dela, posso vender minha biblioteca e os recursos didáticos, esvaziar minha conta bancária e dar tudo para um orfanato ou para os sem-teto da rua ou para mendigos e vagabundos, mas se eu fizer isto com um rígido senso de dever e nenhum amor, nada disso me aproveitará. Ou eu poderia fazer o sacrifício supremo e dar o meu corpo para ser queimado 4. Os três moços judeus sabiam que estavam entregando seus corpos às chamas quando se recusaram a prostrar-se perante uma imagem pagã (Daniel 3:23). Nos primeiros séculos do cristianismo, os cristãos sabiam que seriam queimados vivos quando se recusassem a negar a fé em Jesus. Nero obrigava os cristãos a vestirem túnicas endurecidas de cera, amarrava-os a postes e depois as acendia como grandes velas e tochas. Eu estive no jardim de Nero, de onde ecoaram os gritos dos cristãos queimados naqueles dias. Mas ainda que eu fizesse tamanho sacrifício, sem amor, meu ato não teria valor algum. Que mensagem esses três primeiros versículos de 1 Coríntios 13 têm para nós, cristãos do século XXI! Hoje, Paulo poderia dizer aos que são religiosos: Ainda que vocês saibam e ensinem a verdade, ainda que leiam suas Bíblias e orem e freqüentem fielmente os cultos, ainda que se abstenham de tudo o que é errado se não tiverem amor, tudo será hipocrisia. Ou ele poderia dizer a cada um de nós em nosso viver diário: Ainda que você se exiba como um pai ou uma mãe excelente, um empregado honesto e esforçado, um vizinho e amigo prestativo se não tiver amor, tudo não passará de mero exibicionismo. Trabalhando diariamente num ambiente congregacional, devo fazer uma aplicação especial a igrejas. O que levamos em conta, hoje em dia, quando contratamos ou convidamos um pregador? Queremos ótimos oradores? Ótimos comunicadores? Ótimos motivadores? Ótimos organizadores? Ótimos construtores de prédios? Ou procuramos um homem que ame profundamente? E o que levamos em conta quando honramos nossos membros? Ele trabalha tanto Ela faz tantas coisas Ele é tão talentoso. Ou, ela sabe amar. Independentemente de onde vivemos ou do que fazemos, 1 Coríntios 13:1 3 deve nos fazer sondar nossos corações e nossas vidas. OS SUPERLATIVOS DO AMOR O segundo argumento de Paulo é que o amor é sobremodo excelente comparado aos dons miraculosos porque o amor, e não os dons miraculosos, é a fonte geradora de todas as virtudes cristãs. Atualmente, é comum a idéia de que a possessão de dons miraculosos está diretamente ligada a crescimento espiritual. Mas isto não é verdade. Os coríntios não ficavam para trás quando se tratava de possuir habilidades miraculosas (1 Coríntios 1:7), mas estavam totalmente carentes de maturidade espiritual. Paulo disse que ele ainda precisava falar com eles como a crianças em Cristo (1 Coríntios 3:1), apesar de serem cristãos havia muitos anos. O problema deles não era falta de dons miraculosos, mas falta de amor. Paulo, portanto, escreve na próxima seção as qualidades do verdadeiro amor (veja vv. 4 7). O evangelista George Bailey resume estes versículos da seguinte maneira: Num mundo de falta de compreensão, o amor é paciente. Num mundo de amargura, o amor é benigno. Num mundo de competição, o amor não arde em ciúmes. Num mundo de fama, honra e prestígio, o amor não se ufana. Num mundo de orgulho, o amor não se ensoberbece. Num mundo de indelicadezas, o amor não se conduz inconvenientemente. Num mundo de egoísmo, o amor não procura os seus interesses. Num mundo de raiva, mau-humor e violência, o amor não se exaspera. Num mundo de insinceridade, o amor não se ressente do mal. Num mundo de inveja, o amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Num mundo de covardia, o amor tudo sofre. Num mundo de desconfiança, o amor tudo crê. Num mundo de pessimismo, o amor tudo espera. Num mundo de perseguição, o amor tudo suporta. 5 15 David Roper, The Greatest Thing in The World ( A Maior Coisa no Mundo ), Preacher s Periodical, agosto de 1982, pp. 23ss. Este é um sermão de uma mini-série sobre Sermões Dignos de Serem Repetidos e é a minha versão de um sermão sobre 1 Coríntios 13 proferida por George Bailey na igreja da Faculdade de Abilene, Texas, no quarto trimestre de 1954. 4

É difícil expressarmos como essas qualidades do amor são realmente superlativos. Visto que Deus é amor (1 João 4:8, 16), essas qualidades podem ser usadas para mostrar a natureza de Deus: Deus é paciente, é benigno; Deus não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; Deus não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; Deus tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Deus jamais acaba. Mas Jesus disse: Quem me vê a mim vê o Pai (João 14:9), de sorte que estas palavras também podem se aplicar a Jesus: Jesus é paciente, é benigno; Jesus não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; Jesus não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; Jesus tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Jesus jamais acaba. Mas o cristão é desafiado a ser como Deus (Mateus 5:48) e a seguir o exemplo de Jesus (Filipenses 2:5). Então devemos ser capazes de também aplicar a palavra cristão a esse texto. Se quiser, leia o trecho novamente, usando a palavra cristão no lugar de amor. Mas eu devo ser um cristão e você deve ser um cristão então nós devemos ser capazes de substituir a palavra amor pelos nossos próprios nomes. Leiamos o texto novamente. Usarei o meu nome nos lugares que você deve usar o seu próprio nome: David Roper é paciente, é benigno; David Roper não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; David Roper não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; David Roper tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. David Roper jamais acaba. Não sei que sensação este exercício desperta em você, mas posso dizer como eu me sinto: ele me faz reconhecer quanto tenho de progredir para me tornar uma pessoa espiritualmente madura, uma pessoa que realmente sabe em que consiste o amor! Na próxima lição, focalizaremos esses quatro versículos enquanto discorremos acerca da Resposta de Deus para Muitos Problemas. Não deixe de acompanhar a seqüência deste estudo. A ESTABILIDADE DO AMOR O último argumento de Paulo é que o amor é sobremodo excelente comparado aos dons miraculosos porque o amor é permanente em contraste com a natureza temporária dos dons miraculosos. A capacidade de operar milagres era obtida de uma das seguintes maneiras na época do Novo Testamento: os apóstolos receberam essa capacidade mediante o batismo do Espírito Santo (Atos 2). Todos os outros receberam essa capacidade pela imposição das mãos dos apóstolos (Atos 8:18ss.). Portanto, quando morreram os apóstolos e todas as pessoas sobre as quais eles impuseram as mãos, a capacidade de operar milagres cessou. Mas o amor continuou. É tentador empreender muito tempo discutindo a cessação dos dons miraculosos, um estudo necessário nos dias atuais, mas este é um sermão sobre o amor, e não sobre esses dons específicos. Vamos dar uma olhada rápida nos seis últimos versículos do capítulo 13 e fazer, em seguida, a aplicação de sua mensagem para as nossas vidas. O versículo 8 diz: O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará. Novamente Paulo está se referindo aos dons miraculosos enumerados anteriormente: o dom de falar por inspiração, o dom de falar em línguas ou idiomas jamais estudados pelo falante, e o dom do conhecimento sobrenatural (1 Coríntios 12:8). O amor nunca acaba, mas esses dons miraculosos cessariam. O versículo 9 diz: Porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. Enquanto o Novo Testamento estava incompleto e tudo o que eles sabiam era transmitido por meio desses dons, eles só tinham um conhecimento parcial, um ensino parcial. O versículo 10 diz: Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado. Este é um versículo chave. O que é o que é perfeito? Muitas sugestões já foram dadas: Cristo, o céu, o amor. Mas há grandes problemas com cada uma delas. A que melhor se encaixa no contexto é o cânone completo, a completa palavra de Deus. Quando vier a revelação perfeita [completa], a revelação parcial [aquela transmitida por meio de dons mi- 5

raculosos] será aniquilada. Tiago referiu-se às Escrituras como a lei perfeita, lei da liberdade (Tiago 1:25). Romanos 12:2 fala da perfeita vontade de Deus. Em João 16:13, Jesus disse que os apóstolos seriam guiados a toda a verdade. Nos dois versículos seguintes, Paulo ilustra o que pretendeu dizer. O versículo 11 diz: Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Ele compara os dons miraculosos a coisas de menino como bonecos e cavalos de pau, apropriados para crianças, mas inapropriados para adultos. Os dons miraculosos eram para a infância da igreja. Eles cumpriram um propósito especial naquela fase, mas já não são necessários para esse propósito 6. Eles eram somente temporários. O versículo 12 diz: Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido. Nos dias do Novo Testamento, os espelhos eram feitos de metal polido, os quais rapidamente ficavam manchados; e então a única coisa que se podia ver neles era algo vago, indistinto. A linguagem usada aqui é semelhante àquela usada em relação à volta de Jesus Cristo, mas Paulo não mudou de assunto; ele ainda está enfatizando a natureza temporária dos dons espirituais. Tiago compara a Palavra de Deus com um espelho (veja Tiago 1:23 25). O máximo que os dons miraculosos podiam fazer era oferecer um conhecimento parcial, comparável a um espelho enfumaçado pelo vapor do chuveiro, cuja imagem refletida é ofuscada. Mas o Novo Testamento completo pode ser comparado a um espelho não embaçado. Quando olho para a Palavra de Deus, talvez eu não consiga saber tudo sobre eu mesmo, mas se eu for sincero comigo mesmo, posso me ver como Deus me vê. Chegamos então a grandiosa afirmação de Paulo no versículo 13: Agora, pois, permanecem 16 O propósito primordial dos milagres era confirmar a Palavra (Hebreus 2:4ss., Marcos 16:20). Uma vez confirmada a Palavra, não era preciso (e não é) constantes reconfirmações. a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor. Observemos que Paulo diz que há muitas qualidades permanentes em contraste com os dons temporários. Em outras palavras, na lista de Paulo de coisas importantes, os dons miraculosos não estavam em segundo lugar, logo após o amor. Eles vinham mais ao final da lista 7. Neste versículo, em contraste com a natureza temporária dos dons miraculosos, Paulo diz que a fé, a esperança e o amor são qualidades ainda em vigor, contínuas. Mas a maior delas, diz o apóstolo, é o amor. Até a fé e a esperança um dia acabarão. Quando Cristo voltar, a fé se transformará em conhecimento. A esperança se transformará em realidade. Mas o amor continuará por toda a eternidade. O amor é permanente. Isto é estabilidade; algo com o que se pode contar! CONCLUSÃO Charles Hodge, um pregador texano, sugere que podemos ter firmes convicções sobre o amor. Em economia, fazemos três perguntas: 1) Eu preciso disto? 2) Isto vai funcionar? 3) Quanto tempo vai durar? Podemos aplicar todas essas perguntas ao amor descrito em 1 Coríntios 13: Precisamos do amor? Os versículos 1 a 3 declaram que sem amor, qualquer coisa que fizermos na vida não tem sentido. O amor vai funcionar? Os versículos 4 a 7 nos dizem que o amor produz todas as qualidades que têm real valor. Quanto tempo vai durar o amor? Os versículos 8 a 13 anunciam que o amor perdura, o amor é permanente. Deus, ajude-nos a ver a importância de desenvolvermos o amor, o verdadeiro amor, em nossos corações e em nossas vidas! Vamos agora entoar um cântico de convite. Enquanto cantamos, dividiremos os presentes em dois grupos: os que amam Jesus e os que não O amam. Jesus disse que quem O ama, guarda os Seus mandamentos (João 14:15). Se você precisa responder ao convite de Jesus e não o faz então você não O ama. É simples assim! 17 Nas listas das virtudes cristãs (Gálatas 5:22, 23; 2 Pedro 1:5 7; etc.), os dons miraculosos nunca aparecem. Copyright 2005, 2006 by A Verdade para Hoje TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 6