ESTUDO HIDROLÓGICO NA SEÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO ATÉ A UHE TRÊS MARIAS. Gabriella Duarte Silva 1 Ercília Torres Steinke 2



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Transcrição:

ESTUDO HIDROLÓGICO NA SEÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO ATÉ A UHE TRÊS MARIAS Gabriella Duarte Silva 1 Ercília Torres Steinke 2 RESUMO A configuração hidrológica de uma região sempre foi significativa na ocupação territorial, sendo as margens e áreas adjacentes atrativos para a formação de povoados e desenvolvimento de atividades econômicas. O presente artigo apresenta um estudo hidrológico de parte da bacia do rio São Francisco, a qual compreende de sua nascente até a usina hidroelétrica (UHE) Três Marias, sendo este parte de uma dissertação de mestrado em desenvolvimento no Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UNB). Para desenvolvimento do referido trabalho faz-se necessário, uma caracterização hidrológica para avaliar o balanço hídrico, conhecer a sua variabilidade sazonal e interanual das vazões e as demandas em recursos hídricos tendo em vista a necessidade de se definir a disponibilidade hídrica até a seção de interesse. Posteriormente, com esses resultados pretende-se estabelecer uma relação entre os recursos hídricos e o desenvolvimento dos municípios diretamente atingidos pelo reservatório, considerando-se o sistema de compensação financeira pela utilização dos recursos hídricos, aplicado para a referida UHE. Dessa forma, esse texto traz os resultados preliminares da primeira etapa de realização da dissertação que se referem à caracterização hidrológica a partir de dados de vazão, precipitação, bem como dados acerca dos usos da água. ABSTRACT The hydrological configuration of a region is very relevant for the territorial occupation. Therefore the margins and adjacent areas are attractive for urban settlements and economic activities development. This article presents a hydrological study of part of the São Francisco River Basin, from its source until the hydroelectric plant (UHE) of Três Marias, being part of a master dissertation in course at the Geographic Department of University of Brasilia (UNB). 1 Universidade de Brasília Depto. de Geografia da Universidade de Brasília (UnB) mestranda do programa de Pós-graduação em Geografia. Campus Universitário Darcy Ribeiro, mód. 23 subsolo. CEP: 70000-900 Brasília/DF, gabrielladuarte@unb.br; 2 Laboratório de Climatologia Geográfica (LCGea) do Depto. de Geografia da Universidade de Brasília (UnB). Campus Universitário Darcy Ribeiro, mód. 23 subsolo. CEP: 70000-900 Brasília/DF, (61) 32721909, ercilia@unb.br.

For the development of the mentioned work it is necessary a hydrological characterization to assess the water balance, investigate seasonal and interannual variability of the discharges and the water resources demand focusing the necessity to define the water availability in the cross-section of interest. Afterwards, with these results it is intended to establish a relation between the water resources and the development of municipalities directly affected by the Três Marias reservoir, considering the financial compensation system for the use of water resources that is applied for the mentioned UHE. Therefore, this text shows the preliminary results of the first stage of the dissertation development which refer to a hydrological characterization from discharge and rainfall data and also data related to water use. Palavras-chave : Hidrologia, Disponibilidade Hídrica, Reservatório. INTRODUÇÃO Devido a sua posição geográfica, características de relevo e dimensão territorial, o Brasil é constituído de uma diversificação climática e abundância pluviométrica na maioria das regiões, assim como ricas fontes de águas doces constituindo relevantes sistemas hídricos. Segundo Mendonça e Santos (2006), é essa interação entre esse quadro climático e as condições geológicas dominantes geram importantes excedentes hídricos. A quantidade de água corrente em um rio é em função dos fatores pluviosidade, evaporação, infiltração e vazão, sendo este último equivalente a somatória dos demais. A utilização das águas pode ter caráter consuntivo, no qual há perdas entre o que é derivado e o que retorna ao curso natural, ou não consuntivo, onde toda a água captada retorna ao curso d água de origem (ANEEL e ANA, 2001). O entendimento destas variáveis e a sua quantificação são considerados para elaboração da disponibilidade hídrica de um local. A longa extensão da região do São Francisco é caracterizada por heterogeneidade em termos de disponibilidade hídrica, com existência de recursos hídricos consolidados e vetores de desenvolvimento como é o caso da área em estudo, na qual, na década de 60 teve a implantação da UHE Três Marias, com 396 Mega Watts é uma área inundada de 1.110,54 Km 2, considerado um empreendimento de grande porte. A ocupação da região, tendo a conformação hídrica como um dos vetores de desenvolvimento, tanto pelos importantes tributários quanto pela posterior formação do reservatório da UHE Três Marias foi gerando questões complexas que se estabeleceram entre as atividades produtivas e um ambiente profundamente modificado que abriga espaço rural em transformação, um quadro urbano

crescente, que modelam diversos subespaços dotados de estruturas econômicas modernas onde ocorrem as formas acentuadas de modificação do meio ambiente. A Figura 1 apresenta a bacia do rio São Francisco até a UHE Três Marias, incluindo a hidrografia, dentro do limite de Minas de Gerais. A área da bacia hidrográfica até essa seção é de 50.732 km², correspondente a 8% da área total da bacia do rio São Francisco, que é 638.576 km². Figura 1 Sub-bacia hidrográfica do rio São Francisco até a UHE Três Marias CARACTERIZAÇÃO HIDROLÓGICA Foram investigadas as informações hidrológicas de estações que apresentassem pelo menos 30 anos de dados. Com o intuito de comparar períodos comuns de dados, foram selecionados os anos com períodos correspondentes. As principais características das estações, correspondente às informações observadas, são apresentadas na Tabela 1 a seguir. Rio Nome Código Tabela 1 Estações Fluviométricas Área de Drenagem (km²) Período de dados Vazão Mínima (m³/s) Vazão Média (m³/s) Paraopeba Ponte da Taquara 40850000 8.720 1968 a 2005 17,8 124,5 527 Paraopeba Belo Vale 40710000 2.690 1968 a 2005 9 52,5 270 Paraopeba Alberto Flores 40740000 3.945 1968 a 2005 11,7 60,4 332 Vazão Máxima (m³/s) Pará Velho Taipa 40330000 7.350 1939 a 2005 8,64 35,75 142 Pará Carmo Cajuru 40150000 2.402 1939 a 2005 23,8 107,1 555 Indaiá Barra Funchal 40930000 881 1966 a 2005 1,24 18,07 121 São Francisco Vargem Bonita 40025000 299 1968 a 2005 1,85 8,46 41,8 São Francisco Ponte do Chumbo 40070000 9255 1967 a 2002 2,98 174,65 929

No rio Paraopeba selecionou-se como estações fluviométricas base as estações Ponte da Taquara, Belo Vale e Alberto Flores. No rio Pará, foram selecionadas as estações Velho Taipa e Carmo Cajuru. O rio Indaiá, importante contribuinte, tem poucos dados fluviométricos disponíveis, tendo como base para este trabalho apenas a estação Barra Funchal. Na calha principal do rio São Francisco foram selecionadas duas estações base, sendo estas: Vargem Bonita e Ponte do Chumbo. Os históricos de vazões demonstraram uma grande variabilidade, com picos e estiagens definidos. No local de estudo, a precipitação média anual nos dados disponíveis em estações da própria bacia é de 1.300mm. A seguir é apresentada a Tabela 2 com as principais características das estações pluviométricas Abaeté e Porto das Andorinhas. Tabela 2 Estações Pluviométricas Nome Código Período de dados Totais pluviométricos (mm) Abaeté 01945035 1974 a 2005 1.382 Porto das Andorinhas 01945038 1983 a 2004 1.275 Na área em estudo foram selecionadas três estações climatológicas: Pompeu, Bambuí e Ibirité, operadas pelo INMET, apresentadas a seguir. Na Figura 2 estão identificadas a sub-bacia hidrográfica até o barramento da UHE Três Marias as estações fluviométricas, pluviométricas e climatológicas utilizadas. Tabela 3 Estações Climatológicas Código Nome Latitude Longitude Altitude (m) Evaporação Ano (mm) 1945022 Pompéu -19:13:00-045:00:00 691 1432,5 2045023 Bambuí -20:00:00-045:59:00 661 1243,2 2044039 Ibirité -20:01:00-044:03:00 815 980,6 Figura 2 Estações fluviométricas, pluviométricas e climatológicas utilizadas

USOS DA ÁGUA Segundo informações da ANA, as principais finalidades do uso consuntivo de recursos hídricos do Alto Rio São Francisco são: - a agricultura irrigada (pivô central) é o principal uso, existindo também culturas também irrigadas por aspersão, principalmente de soja, capim e feijão, às margens do Reservatório de Três Marias; - no trecho do rio à montante do Reservatório de Três Marias, a Companhia Industrial e Agrícola Oeste de Minas (Coinbra - Luciânia), usina de refino de açúcar e álcool e agricultora de cana irrigada em larga escala, destaca-se como o grande consumidor de água bruta. - consumo de água para fins de abastecimento humano das sedes municipais à montante da barragem de Três Marias é quase que exclusivamente provido por águas subterrâneas - somente a cidade de Três Marias consome águas do reservatório homônimo -, como também o é o consumo para abastecimento humano e dessedentação de animais na zona rural de todos os municípios atravessados pelo rio. Também foram utilizadas, na avaliação de usos da água, o relatório final sobre Estimativa das vazões para atividades de uso consuntivo da água nas principais bacias do Sistema Interligado Nacional SIN (ONS, 2003), do qual são apresentados os dados por setor usuário, a seguir. Tabela 4 - Usos consuntivos da água na bacia do rio São Francisco até a UHE Três Marias 2002 Urbano Rural Irrigação Animal Indústria Total Retirada 4,49 0,43 3,86 1,68 7,64 18,1 Consumo 0,9 0,22 1,35 1,35 1,51 7,07 CONSIDERAÇÕES FINAIS A região em estudo dispõem de um bom monitoramento hidrológico e climático, tendo estações em operação com até cinqüenta anos de dados. Os dados avaliados demonstram uma significativa afluência de vazões e precipitação elevada, associada e uma baixa evaporação, se comparar-se com os trechos alto, médio e sub-médio da bacia do rio São Francisco. No entanto, as vazões apresentam picos e estiagens definidos, com grande variação. Vale ressaltar que com isso, o reservatório da UHE Três Marias muito contribui para a regularização das vazões a jusante. Por meio da avaliação a respeito dos usos da água aqui apresentados, verifica-se que a retirada de água bruta pela área industrial é considerável, porém pequena diante do consumo na agricultura,

somando-se os usos rural e irrigação. Existem outros usos não contemplados, como por exemplo, aqüicultura e lazer, que correspondem a portos de areia, criações de peixes em tanques-rede e terrafirme e intervenções no leito e margens do rio, de interesse de alguns clubes de pesca. Conforme mencionado, a configuração hidrológica da região foi significativa na ocupação regional. A presente caracterização hidrológica é parte constituinte da dissertação de mestrado em desenvolvimento no Departamento de Geografia da UNB, e visa associar a disponibilidade hídrica à configuração atual dos municípios que foram diretamente atingidos pela formação do reservatório, tentado verificar a relação entre os recursos hídricos e o desenvolvimento considerando-se a compensação financeira pela utilização dos recursos hídricos. REFEREÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS/GEF/PNUMA/OEA. Projeto de Gerenciamento Integrado das Atividades Desenvolvidas em Terra na Bacia do São Francisco. Subprojeto 4.5C Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco PBHSF (2004-2013). Brasília, 2004. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Caderno de Recursos Hídricos. Disponibilidades e Demandas de Recursos Hídricos. Brasília, 2005. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA; AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Introdução ao Gerenciamento de Recursos Hídricos. Brasília, 2001. FHAMA-DREER. Estimativa das Vazões para Atividades de Uso Consuntivo da Água nas Principais Bacias do Sistema Interligado Nacional - SIN, ANA/NOS/ANEEL. Relatório Final. Brasília, 2003. MENDONÇA F. e SANTOS L. J. C. Gestão das águas e dos recursos hídricos no Brasil: avanços e desafios a partir das bacias hidrográficas uma abordagem geográfica. Boletim de Geografia Teorética. Rio Claro: AGETEO. Volume 31, Número 1, Janeiro a Abril 2006.