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Transcrição:

Da suspensão condicional da pena - Sursis (arts. 77 ao 82, CP) Conceito A suspensão condicional da pena, também conhecida por sursis, pode ser conceituada como a suspensão parcial da execução da pena privativa de liberdade, durante um determinado período de tempo (também denominado período de prova) e mediante certas condições. O sursis não alcança nem a multa tampouco as penas restritivas de direito, somente podendo ser empregado nos casos de penas privativas de liberdade. O sursis é uma medida judicial que determina a suspensão parcial da execução, uma vez que uma parte da pena deve ser obrigatoriamente executada, de maneira mais branda, como a prestação de serviços à comunidade ou a limitação de fim de semana. O juiz não tem a faculdade de aplicar ou não o sursis, pois se trata de um direito subjetivo do réu. Logo, caso estejam presentes os seus pressupostos, a sua aplicação é obrigatória. Com o advento da reforma penal de 1984, o sursis não pode mais ser visto como um privilégio do condenado, e sim como uma medida penal de natureza restritiva de liberdade de cunho repressivo e preventivo. Dessa forma, a execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 anos, poderá ser suspensa, de 2 a 4 anos, desde que presentes os seguintes requisitos: I o condenado não seja reincidente em crime doloso; II a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; III não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44, CP. É importante ressaltar também que anterior condenação à pena de multa não impede a concessão do benefício. Ao condenado beneficiado com o sursis será realizada uma audiência, denominada admonitória, na qual ele será advertido pelo juiz da condenação sobre as consequências da prática de nova infração penal. Espécies da suspensão condicional da pena O sursis apresenta três espécies: o etário, o simples e o especial. Sursis etário ou por motivo de saúde (art. 77, 2º, CP) De acordo com o 2º do art. 77, CP, a execução da pena privativa de liberdade, não superior a 4 anos, poderá ser suspensa, de 4 a 6 anos, desde que o condenado seja maior de 70 anos de idade, ou por razões de saúde que justifiquem a suspensão.

Deve ser ressaltado que, neste caso, o sursis só pode ser concedido desde que a pena não exceda a 4 anos, aumentando-se, por outro lado, o período de prova para um mínimo de 4 e um máximo de 6 anos. Sursis simples O sursis simples é aquele em que, preenchidos os requisitos mencionados, fica o réu sujeito, no 1º ano de prazo, a uma das condições previstas no art. 78, 1º, CP. Tais condições implicam o dever do condenado em prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana (consistente na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado). Sursis especial No sursis especial, o condenado fica sujeito a condições mais brandas previstas cumulativamente no art. 78, 2º, CP. Porém, para ser concedido este sursis, o sentenciado deve, além de preencher os requisitos necessários, também reparar o dano e ter as circunstâncias judiciais previstas no art. 59, CP, inteiramente a seu favor. Na prática, os requisitos para o sursis simples e para o especial acabam sendo idênticos. A diferença está apenas nas condições impostas. Em se tratando do especial as condições impostas são as seguintes: a) proibição de freqüentar determinados lugares; b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz; c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar as suas atividades. O período de prova O período de prova possui duração diferente em se tratando de sursis etário e simples, sendo que o máximo será de 6 anos. Tratando-se de sursis etário este período variará de 4 a 6 anos. Já se for o sursis simples este prazo cairá para 2 a 4 anos. Nas contravenções penais o período de prova também muda: poderá ser de 1 a 3 anos. É importante lembrar que durante este período de prova o condenado estará sujeito a algumas condições aplicadas pela lei (legais) e pelo juiz (judiciais), que se não cumpridas acarretarão a revogação da medida.

Revogação do sursis A revogação do sursis pode ser obrigatória ou facultativa. Será obrigatória quando o juiz for obrigado a procede-la, o que ocorre nos seguintes casos: a) superveniência de condenação irrecorrível pela prática de crime doloso; b) frustração da execução da pena de multa, sendo o condenado solvente; c) não-reparação do dano sem motivo justificado; d) não cumprimento de qualquer uma das condições legais do sursis simples. A revogação será facultativa quando o juiz não estiver obrigado a revogar a medida, podendo optar por advertir novamente o sentenciado, prorrogar o período de prova até o máximo ou exacerbar as condições impostas. Esta revogação ocorrerá nas seguintes hipóteses: a) superveniência de condenação irrecorrível pela prática de crime culposo ou de contravenção penal, exceto se imposta pena de multa; b) descumprimento das condições legais do sursis especial; c) descumprimento de qualquer outra condição não elencada em lei imposta pelo juiz. Do livramento condicional (arts. 83 ao 90, CP) O livramento condicional é a antecipação provisória da liberdade, desde que cumpridas determinadas condições, nos casos em que a pena privativa de liberdade for igual ou superior a 2 anos, desde que cumpridos os seguintes requisitos: I cumprida mais de 1/3 da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; II cumprida mais da metade da pena se o condenado for reincidente em crime doloso; III comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; IV tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; V cumprido mais de 2/3 da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir. As penas que estejam ligadas a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento. O sursis e o livramento condicional não se confundem: no primeiro a execução da pena é suspensa; já no segundo o sentenciado inicia o cumprimento da pena, obtendo, posteriormente, o direito de cumprir o restante em liberdade.

No sursis, a pena privativa de liberdade aplicada não pode ser superior a 2 anos (no máximo 2 anos); já o livramento condicional somente é concedido quando a pena privativa de liberdade aplicada for igual ou superior a 2 anos (no mínimo 2 anos). O livramento condicional, bem como o sursis, pode ser revogado de acordo com os arts. 86 e 87, CP. Efeitos civis da sentença penal A condenação é o ato do juiz por meio do qual é imposto, ao sujeito ativo da infração, uma sanção penal. A sentença condenatória irrecorrível possui efeitos principais e secundários. Em se tratando de efeitos principais podem ser citados a imposição de penas privativas de liberdade, restritivas de direito, pecuniárias e, em determinados casos de reconhecida inimputabilidade, a imposição de medidas de segurança. Em se tratando de efeitos secundários podem ser citados determinados efeitos da sentença. Nesse sentido a sentença: a) é pressuposto da reincidência; b) impede, via de regra, o sursis; c) causa a revogação do sursis; d) causa a revogação do livramento condicional; e) aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória; f) transitada em julgado, a prescrição da pretensão executória não se inicia enquanto o condenado permanece preso por outro motivo; g) causa a revogação da reabilitação; h) tem influência na exceção da verdade no crime de calúnia; i) impede o privilégio dos arts. 155, 2º, 170, 171, 1º, 180, 3º, 1ª parte, em relação ao segundo crime; j) aumenta a pena do crime de porte de arma; A sentença condenatória também possui efeitos secundários extra-penais, de natureza civil e administrativa, os quais são: a) a obrigação de reparação resultante do crime, prevista no art. 91, I, CP; b) o confisco, previsto no art. 91, II, CP; c) a perda do cargo, função pública ou mandato eletivo; d) incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela; e) a inabilitação para dirigir veículo. Quer saber mais sobre Direito e Processo Penal? Então acompanhe o!

fernandotadeu.marques Prof_Marques Prof_Marques Fernando Tadeu Marques fernandotmarques@hotmail.com www.aulaemminutos.com.br