ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR

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Angiol Cir Vasc. 2015;11(4):199-203 ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR www.elsevier.pt/acv ARTIGO ORIGINAL Falsos aneurismas traumáticos da artéria renal - a nossa experiência Inês Antunes, Rui Machado, Luís Loureiro, Tiago Loureiro, Lisa Borges, Diogo Silveira, Sérgio Teixeira, Duarte Rego, Vitor Ferreira, João Gonçalves, Gabriela Teixeira e Rui de Almeida Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto, Porto, Portugal Recebido a 30 de junho de 2015; aceite a 19 de setembro de 2015 Disponível na Internet a 3 de novembro de 2015 PALAVRAS-CHAVE Falso aneurisma; Artéria renal; Complicação de procedimento; Tratamento endovascular; Resumo Introdução: Os aneurismas e as fístulas arteriovenosas (FAV) da artéria renal são entidades raras, geralmente assintomáticas, cujas manifestações clínicas podem ser variadas. Os falsos aneurismas da artéria renal estão normalmente associados a traumatismo prévio e apresentam maior tendência a rutura. A indicação de tratamento destas lesões não é consensual, assim o o método a ser utilizado. Material e métodos: Neste trabalho, os autores procederam à análise retrospetiva dos doentes diagnóstico de falso aneurisma da artéria renal tratados na instituição, no período de 2011-2015, incluindo manifestação clínica, diagnóstico, tratamento e seu resultado. Resultados: Foram tratados 6 doentes, 4 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, idade média de 59 anos. A manifestação clínica inaugural foi hematúria em 4 doentes, instabilidade hemodinâmica em um doente e queda do valor de hemoglobina em um doente. Em todos os casos, o diagnóstico foi feito por tomografia putadorizada () e confirmado por angiografia, que foi terapêutica no mesmo ato. Conclusão/Discussão: Em todos os casos havia história recente de algum procedimento urológico, podendo ser consideradas estas lesões iatrogénicas. Com o aumento do número de intervenções urológicas semelhantes às referidas neste trabalho, é expectável um aumento da incidência de lesões da artéria renal ou seus ramos, entre as quais se destacam os falsos aneurismas. Tratando-se na maioria dos casos de lesões intraparenquimatosas, envolvendo vasos de pequeno calibre, a cirurgia convencional tem poucas alternativas terapêuticas além da nefrectomia. Assim, o tratamento endovascular é o único que poderá minimizar a perda de tecido renal, sendo a embolização o mais frequentemente utilizado. Todos os nossos casos foram tratados sucesso, o demonstrado clinicamente e por de controlo. Assim, na nossa Neste trabalho procedeu-se ao estudo retrospetivo dos doentes tratados falsos aneurismas traumáticos da artéria renal na nossa instituição, no período de 2011-2015, incluindo manifestação clínica, diagnóstico, tratamento e resultado em posterior controlo. Autor para correspondência. Correio eletrónico: ines.antunes89@gmail. (I. Antunes). http://dx.doi.org/10.1016/j.ancv.2015.09.004 1646-706X/ 2015 Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Este é um artigo Open Access sob a licença de CC BY-NC-ND (http://creativemons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

200 I. Antunes et al. experiência, o tratamento endovascular mostrou-se um método de tratamento eficaz dos falsos aneurismas traumáticos renais intraparenquimatosos. 2015 Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Este é um artigo Open Access sob a licença de CC BY-NC-ND (http://creativemons. org/licenses/by-nc-nd/4.0/). KEYWORDS False aneurysm; Renal artery; Procedure plication; Endovascular treatment; Embolization False aneurysms of the renal artery - our experience Abstract Introduction: Renal artery aneurysms and arteriovenous fistulae are rare, generally asymptomatic, whose clinical manifestations can be varied. Renal artery pseudoaneurysms are usually associated with previous trauma and are more likely to rupture. The indication for treatment of these lesions is not consensual, as well as the method to be used. Material and Methods: In this study the authors have made a retrospective analysis of patients with the diagnosis of renal artery pseudoaneurysm treated in the institution in the period between 2011 and 2015, including clinical presentation, diagnosis, treatment and result. Results: Six patients were treated, four male and two female, with an average age of 59 years. The inaugural clinical manifestation was macroscopic haematuria in four patients, hemodynamic instability in a patient and decrease of the hemoglobin value in another patient. In all patients, the diagnosis was made by Computed Tomography (CT) and confirmed by angiography, which was therapeutic in the same act. Conclusion/Discussion: In all cases there was a recent history of a urological procedure, renal artery pseudoaneurysms may be considered iatrogenic lesions. With the rising number of urological interventions similar to those described in this study, it is expected a rising incidence of lesions of the renal artery or its branches, particularly pseudoaneurysms. As it includes in most cases small intra-parenchymal vessels, conventional surgery has few therapeutic alternatives and usually consists in nephrectomy. The endovascular treatment is the only one that can minimize the loss of kidney tissue, embolization is the preferred method. All our cases were successfully treated as clinically proven and on CT control. So in our experience, endovascular treatment was an effective method of treatment of these lesions. 2015 Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Published by Elsevier España, S.L.U. This is an open access article under the CC BY-NC-ND license (http://creativemons. org/licenses/by-nc-nd/4.0/). Introdução Os aneurismas e as fístulas arteriovenosas (FAV) da artéria renal são entidades raras. Geralmente, são assintomáticas, mas as suas manifestações clínicas podem ser variadas. Os falsos aneurismas (FA) da artéria renal estão normalmente associados a traumatismo prévio. Constituem plicações bem documentadas de cirurgia renal, nomeadamente da nefrectomia parcial, e de procedimentos percutâneos renais o biópsia, nefrostomia e nefrouretelolitotomia 1. Podem também estar associados a traumatismo abdominal aberto/penetrante; raramente surgem após traumatismo fechado/contusão abdominal 2. Estas lesões apresentam maior tendência a rutura, sendo potencialmente fatais. Os FA da artéria renal surgem após lesão da parede arterial, que origina uma hemorragia. Esta é inicialmente contida pelos tecidos envolventes, nomeadamente o parênquima e a cápsula renal, 3 e a pressão que as mesmas exercem, pela coagulação local e eventualmente por algum grau de hipotensão. Posteriormente, vai haver uma degradação do coágulo formado, podendo ocorrer recanalização entre os espaços intra e extravascular, e consequente formaçãodofa 4. Este pode crescer e erodir os tecidos envolventes, nomeadamente o sistema pielocalicial, o que se traduz clinicamente pelo aparecimento de hematúria. Esta pode constituir manifestação clínica isolada da lesão. Pode também causar erosão de uma parede venosa, estabelecendo-se assim uma unicação entre as duas circulações, isto é, uma FAV. O agravamento da função renal não é uma manifestação típica destas lesões. Quando ocorre, é pela presença de coágulos de sangue no sistema excretor (lesão renal aguda pós-renal) ou pela binação de hipotensão e hipovolémia (lesão renal aguda pré-renal). A indicação de tratamento destas lesões não é consensual, assim o o método a ser utilizado. Objetivo Faz-se a revisão de doentes tratados no nosso serviço, o diagnóstico de falso aneurisma da artéria renal, no período de 2011-2015. Material e métodos Estudo retrospetivo dos doentes tratados FA traumáticos da artéria renal, no período de 2011-2015, incluindo

Falsos aneurismas traumáticos da artéria renal - a nossa experiência 201 manifestação clínica, diagnóstico, tratamento e resultado em posterior controlo. Resultados Os resultados encontram-se apresentados na tabela 1. Foram tratados 6 doentes, 4 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, uma idade média de 59 anos (entre 42-80). Em todos os casos, havia história recente de algum procedimento urológico, nomeadamente nefrectomia parcial, nefrolitotomia percutânea ou biopsia renal. A manifestação clínica inaugural foi hematúria em 4 doentes, instabilidade hemodinâmica em um doente e queda do valor de hemoglobina em um doente. O doente 1 foi submetido a nefrectomia parcial esquerda por cirurgia convencional. Apresentou hematúria no 7. dia de pós-operatório, tendo realizado tomografia putadorizada () no próprio dia, na qual foi detetada lesão patível FA no polo inferior do rim esquerdo. Realizou angiografia que identificou um FA FAV associada, foi tratado no mesmo momento embolização. O doente 2 foi submetido a nefrectomia parcial direita laparoscópica. Por episódio de retenção urinária aguda no 8. dia de pós-operatório, por hematúria observada após introdução de sonda vesical, fez. Esta revelou imagem sugestiva de FA na dependência de ramo de artéria polar superior, sem sinais de sangramento ativo, e imagem patível urinoma infetado. Ao 16. dia de pós-operatório foi submetido a lombotomia exploradora rafia do excretor e do parênquima renal, resolução da sintomatologia. Por reaparecimento e manutenção de hematúria, realizou nova ao 42. dia de pós-operatório manutenção de FA. Realizou angiografia no próprio dia, identificação de FA e FAV associada, tratado no mesmo momento embolização, exclusão das lesões. O doente 3 (fig. 1) foi submetido a nefrolitotomia percutânea. Por hematúria persistente, realizou no 10. dia de pós- -operatório identificação de FA. No próprio dia realizou angiografia, que confirmou o diagnóstico, e procedeu-se a embolização no mesmo ato, que excluiu a lesão. O doente 4 foi submetido a nefrolitotomia percutânea e a manifestação clínica que motivou realização de foi manutenção de hematúria persistente no pós- -operatório. Estabelecido o diagnóstico de FA por, foi realizada angiografia que confirmou o diagnóstico de FA em artéria lobar distal e foi terapêutica no mesmo ato, recurso a embolização micropartículas. O doente 5 (fig. 2) foi submetido a biopsia renal. Por queda no valor de hemoglobina em hemograma de controlo necessidade de suporte transfusional, realizou ao 10. dia após intervenção. Esta revelou imagem patível FA no polo inferior do rim esquerdo. Foi realizada angiografia identificação do FA e o tratamento foi efetuado no mesmo momento, embolização que excluiu a lesão. O doente 6 foi submetido a biopsia renal, por instabilidade hemodinâmica realizou no próprio dia, que revelou volumoso hematoma retroperitoneal extravasamento de contraste. Realizou nova ao 2. dia após a intervenção, manutenção dos achados. Foi submetido a angiografia no próprio dia, que confirmou o diagnóstico de FA e na qual se procedeu a tratamento embolização. Assim, o diagnóstico foi feito por em todos os casos, posteriormente confirmado por angiografia, tendo sido realizado no mesmo ato embolização terapêutica. Dois doentes apresentavam falso aneurisma e FAV conitante. O tratamento foi feito por oclusão arterial em todos os doentes, 5 dos quais e um recurso a micropartículas. O acesso vascular foi obtido por punção da artéria femoral um direita em todos os casos. Para Tabela 1 Resultados. Legenda: M - Masculino, F - Feminino, - Tomografia Computadorizada, FA - Falso Aneurisma Número do doente Sexo Idade (anos) Procedimento urológico prévio 1 M 80 Nefrectomia parcial por lombotomia 2 M 58 Nefrectomia parcial laparoscópica 3 F 42 Nefrolitotomia percutânea 4 F 50 Nefrolitotomia percutânea Manifestação clínica 5 M 62 Biópsia renal Queda de hemoglobina 6 M 62 Biópsia renal Instabilidade hemodinâmica Exame plementar diagnóstico Diagnóstico Tratamento Resultado em controlo polar inferior FAV FA em arteríola distal FAV polar superior polar superior polar inferior lobar polo superior microcoils Angiografia- -oclusão por trombose

202 I. Antunes et al. Figura 1 Doente 3, angiografia antes e após embolização de FA em ramo da artéria renal direita. cateterização da artéria renal foi preferencialmente utilizado o cateter guia RDC 6 French (6 F), a cateterização seletiva do ramo arterial pretendido foi feita recurso ao cateter Cobra 5 French (5 F), posterior embolização microcateter. Após se conseguir a cateterização suprasseletiva do ramo aferente ao falso aneurisma, procedeu-se à oclusão arterial, nomeadamente recurso a embolização. O tamanho dos utilizados variou entre 3-4 mm. O número utilizado variou entre os procedimentos, até obtenção de bom resultado final, resolução do falso aneurisma. Em nenhum dos casos houve agravamento da função renal em estudo analítico de controlo. Em todos os doentes foi obtido sucesso. Discussão/Conclusões Em todos os doentes avaliados, um procedimento do aparelho renal/excretor antecedeu o evento, podendo estabelecer-se uma relação causal e entender-se as lesões o iatrogénicas. Os FA da artéria renal são lesões graves, potencialmente fatais. Estão bem documentadas o plicações possíveis de alguns procedimentos urológicos, o a nefrectomia parcial, a nefrolitotomia e a biopsia renal. Relativamente à nefrectomia parcial, há que salientar o número crescente deste procedimento. Em parte, pela maior incidência de tumores renais, constituindo muitas destas lesões incidentalomas, e, por outro lado, pelo esforço no sentido de preservar a função renal, o que é conseguido recurso à nefrectomia parcial em detrimento da total. Sendo a tendência atual a cirurgia laparoscópica, ainda a referir a maior incidência de FA da artéria renal após nefrectomia parcial laparoscópica parativamente à cirurgia convencional 5. Várias explicações possíveis são apontadas, entre elas, a pressão exercida pelo pneumoretroperitoneu, que poderá impedir hemorragia de alguns vasos lesados durante o procedimento que irão posteriormente sangrar, e também a maior laxidão dos pontos de sutura. Ainda assim, o balanço é a favor do procedimento laparoscópico, pelo que a tendência será o aumento deste procedimento e, ele, das suas plicações. É ainda importante referir que os FA da artéria renal podem representar plicações de procedimentos endovasculares, podendo surgir após angioplastia ou stenting das artérias renais, assim o na sequência de procedimentos plementares no tratamento de aneurismas próteses ramificadas ou fenestradas, e a nossa instituição não tem experiência nestes casos. Deste modo, é expectável um aumento da incidência de FA da artéria renal. Figura 2 Doente 5, angiografia antes e após embolização, de artéria polar inferior.

Falsos aneurismas traumáticos da artéria renal - a nossa experiência 203 O aparecimento de hematúria ou a sua manutenção prolongada após procedimentos renais, por vezes apanhada por dor no flanco, deve levar à suspeição de doença renovascular. Geralmente, estas manifestações surgem nas primeiras semanas após a cirurgia, mas podem ocorrer várias semanas a meses depois. A é o exame de eleição para o despiste destas lesões, sendo a angiografia o gold standard para o diagnóstico, devendo ser terapêutica no mesmo ato. No caso de grande suspeita clínica e um estudo de imagem por negativo, deve ser realizada angiografia. A história natural destas lesões varia desde resolução espontânea até rutura 6. Deste modo, a indicação de tratamento não é consensual. Se para lesões em expansão em doentes hemodinamicamente instáveis a necessidade de tratamento se impõe, para lesões estáveis em doentes, sem qualquer repercussão hemodinâmica, a indicação de tratamento da lesão está ainda longe de consenso. Relativamente às opções de tratamento, tratando-se na maioria dos casos de lesões intraparenquimatosas, envolvendo vasos de pequeno calibre, a cirurgia convencional tem poucas alternativas terapêuticas para além da nefrectomia. Assim, o tratamento endovascular é o único que poderá minimizar a perda de tecido renal, sendo a embolização o mais frequentemente utilizado. Vários agentes estão disponíveis para embolização, sendo os coils e os preferidos para tratamento destas lesões 7. Nos casos apresentados, procedeu-se a embolização em 5 casos e micropartículas em um caso, uma vez que se tratava de uma artéria de menor tamanho (artéria lobar distal). A embolização recurso a coils mostrou-se um método seguro e efetivo para o tratamento deste tipo de lesões 8. Tratando-se de circulação terminal, a oclusão de um ramo proximal é um método eficaz de tratamento. Sendo um método minimamente invasivo, a morbilidade associada é menor quando parada à cirurgia convencional 9. As plicações da embolização incluem dissecção acidental da artéria renal, síndrome pós-embolização e agravamento da função renal. A função renal pode ser adversamente afetada pela nefrotoxicidade do material de contraste usado e pela desvascularização de uma porção do parênquima renal saudável o consequência direta da embolização, tanto maior quanto mais proximal for a mesma. A embolização suprasseletiva recurso a minimiza este último efeito sobre o parênquima renal. A cateterização suprasseletiva do ramo arterial pretendido, por vezes laboriosa, foi conseguida recurso ao material já referido. Dos doentes apresentados, em nenhum ocorreu agravamento da função renal provavelmente reflexo da presença de rim contralateral funcionante e traduzindo a perda mínima de tecido renal, associada a embolização suprasseletiva. O tratamento endovascular é normalmente realizado no mesmo ato, imediatamente após a realização da angiografia diagnóstica. Em FA de artérias de maior calibre, o tratamento poderá ser feito recurso a stents recobertos. Todos os nossos casos foram tratados sucesso, o demonstrado clinicamente e por de controlo. Assim, na nossa experiência, o tratamento endovascular mostrou-se um método de tratamento eficaz dos FA traumáticos renais intraparenquimatosos. Responsabilidades éticas Proteção de pessoas e animais. Os autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais. Confidencialidade dos dados. Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo. Direito à privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo. Conflito de interesses Os autores declaram não haver conflito de interesses. Referências 1. Cohenpour M, Strauss S, Gottlieb P, et al. Pseudoaneurysm of the renal artery following partial nephrectomy: Imaging findings and coil embolization. Clin Radiol. 2007;62:1104-9. 2. Yamaçake K, Lucon M, Lucon A, et al. Renal artery pseudoaneurysm after blunt renal trauma: Report on three cases and review of the literature. Sao Paulo Med J. 2013;5:356-62. 3. Ghoneim T, Thornton R, Solomon S, et al. Selective arterial embolization for pseudoaneurysms and arteriovenous fistula of renal artery branches following partial nephrectomy. J Urol. 2011;185:2061-5. 4. Antunes-Lopes T, Pinto R, Morgado P, et al. Intrarenal artery pseudoaneurysm after blunt abdominal trauma: A case report of successful superselective angioembolization. Res Rep Urol. 2014;6:17-20. 5. Pan H, Xia D, Wang S, et al. Embolization of renal artery pseudoaneurysm following laparoscopic parcial nephrectomy for central renal tumor: a report of two cases [Journal]. Oncol Lett. 2014;7:2118-20. 6. Shapiro E, Hakimi A, Hyams E, et al. Renal artery pseudoaneurysm following laparoscopic partial nephrectomy. Urology. 2009;74(4):819-23. 7. Beig J, Hafeez I, Tramboo N, et al. Transcatheter ablation of an iatrogenic renal artery pseudoaneurysm with absolute alcohol: a rare case report. Indian Heart J. 2014;66:719-22. 8. Sfakianos J, Thorner D, Sullivan R, et al. Segmental renal artery pseudoaneurysm after partial nephrectomy. J Urol. 2011;185:281-2. 9. Tinto H, Primio M, Tselikas L, et al. Selective arterial embolization of life-threatening renal hemorrhage in four patients after partial nephrectomy. Diagn Interv Imaging. 2014;95:601-9.