Germinação de sementes de imbiruçú em diferentes condições de luz. Elaine da Silva Ladeia 1 ; Maria de Fátima Barbosa Coelho 2 1,2 UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso. Departamento de Fitotecnia. Av. Fernando Correa da Costa s/n. Cuiabá-MT CEP: 78060-900 E-mail: coelhomf@terra.com.br RESUMO O imbiruçú - Pseudobombax longiflorum (Mart. et. Zucc.) A. Robyns) é uma das espécies medicinais do cerrado e sua casca é usada para o tratamento da pneumonia. A germinação de P. longiflorum foi avaliada sob diferentes condições de luz em delineamento inteiramente casualizado no esquema fatorial 2x4, com quatro repetições de 20 sementes. As sementes foram coletadas em Cuiabá e Rondonópolis e as condições de luz as seguintes: ausência de luz; luz branca; luz vermelha e luz vermelha escura. Verificou-se que as sementes de P. longiflorum são fotoblásticas neutras. As sementes de Cuiabá apresentaram maior percentagem de germinação nas diferentes condições de luz. Palavras chave: Pseudobombax longiflorum, fotoblastismo, cerrado, planta medicinal ABSTRACT Seed germination of imbiruçu under different light conditions. P. longiflorum is one of the savanna medicinal species, and its bark is used for pneumonia treatment syrups. The germination of P. longiflorum was verified at different light conditions. The experimental design was entirely randomized using the fatorial scheme 2x4, with four replications of twenty seeds. The seeds were collected in Cuiabá and Rondonópolis and the light conditions were: light, darkness, extreme red and red. It was verified that P. longiflorum seeds was light insensitive. The Cuiabá seeds presented a larger germination percentage under different light conditions. Keywords: Pseudobombax longiflorum, photoblastism, savana, medicinal plant A sensibilidade das sementes à luz varia com a espécie. Em algumas espécies, a presença da luz aumenta a capacidade e a velocidade de germinação das sementes, efeito este designado por fotoblastismo positivo. Sementes de outras espécies germinam melhor no escuro - fotoblastismo negativo (Damião Filho, 1993). Existem também espécies cujas sementes germinam independentes da presença ou ausência de luz, classificadas como fotoblásticas neutras, não-fotoblásticas ou indiferentes à luz (Silva et al., 1997).
Não foram encontrados registros na literatura sobre a influencia da luz no comportamento germinativo de sementes de P. longiflorum. Esta espécie tem importância para as populações que habitam o cerrado, destacando-se o uso da entrecasca em xaropes para pneumonia (Vallete, (s/d) e da paina como inseticida, bactericida e isolante térmico (Pott & Pott, 1994). O objetivo deste trabalho foi verificar a percentagem e a velocidade de germinação de sementes de Pseudobombax longiflorum imbiruçú, sob diferentes condições de luz. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Sementes da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) durante o período de 05 de janeiro a 03 de fevereiro de 2001. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado no esquema fatorial 2x4, com quatro repetições de 20 sementes, acondicionadas em caixas plásticas do tipo Gerbox, em substrato de terra preta + vermiculita (1:1). As sementes foram coletadas em Cuiabá e Rondonópolis e as condições de luz foram as seguintes: ausência de luz, obtida através de caixas plásticas do tipo gerbox preta; luz branca, obtida com o uso de caixas plásticas transparentes do tipo gerbox; luz vermelha, obtida com caixas plásticas transparentes do tipo gerbox revestidas com celofane vermelho e luz vermelho escuro, conseguida utilizando-se duas folhas de celofane, sendo uma azul e uma vermelha, revestindo caixas plásticas transparentes do tipo gerbox. Foram avaliados a percentagem de sementes germinadas e o índice de velocidade de germinação ( IVG), calculado pela fórmula de Maguire (1962): contagem. IVG = ( G1/T1 + G2/T2...+ Gi/Ti), onde: G1 até Gi = percentagens de germinação diárias desde a semeadura, T1 até Ti = tempo em dias da semeadura à 1ª, 2ª... e à última As sementes não germinadas foram submetidas ao teste de tetrazólio conforme Brasil (1992). Foi realizada a análise de variância dos dados e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para fins de análise estatística, os dados originais de percentagem de germinação e IVG foram transformados em Raiz (x + 0.5), para a percentagem de sementes viáveis, duras e mortas utilizou-se arco seno ( x/100 + 0.5).
RESULTADOS E DISCUSSÃO A maior percentagem de germinação nas sementes de Rondonópolis ocorreu sob luz vermelho escuro, e nesta condição de luz não houve diferença entre as sementes procedentes de Rondonópolis e Cuiabá. As sementes de Cuiabá apresentaram índices de germinação superiores a 70% em todas as condições de luz utilizadas, superando os valores obtidos pelas sementes de Rondonópolis (Tabela 1). Tabela 1. Valores médios da percentagem e Índice de Velocidade de Germinação (IVG) de sementes de P. longiflorum sob diferentes condições de luz. Cuiabá. UFMT. 2001. Rondonópolis Cuiabá Rondonópolis Cuiabá Condição de Luz G% IVG Ausência 32.50 (5.55)Ba 90.00 (9.51)Aa 0.740Aa 1.254Aa Presença 45.00 (6.67)Ba 71.25 (8.45)Aa 1.284Aa 0.886Aa Luz Vermelha 48.75 (6.95)Ba 80.00 (8.95)Aa 1.035Aa 1.135Aa Vermelho Escuro 53.75 (9.24)Aa 85.00 (7.30)Aa 0.927Aa 1.269Aa CV (%) 12.33 11.52 Valio & Joly (1979) verificaram que nas sementes de Cecropia glaziovii Senethlage (embaúba) a luz vermelha promoveu a germinação; o vermelho longo e o escuro inibiramna; e a luz filtrada do dossel pode inibir a germinação, mas não o crescimento das plântulas dessa espécie. No presente trabalho, todas as condições de luz, promoveram a germinação das sementes de P. longiflorum, indicando que são fotoblásticas neutras. Esse tipo de comportamento de acordo com Seghese et al. (1992), é característico das espécies dos estádios mais avançados da sucessão florestal, como das clímax, cujas sementes possuem condições de germinar tanto a pleno sol como à sombra do dossel da floresta. As sementes de Cuiabá e Rondonópolis apresentaram percentuais de sementes viáveis inferiores a 5%, e isto implica num baixo vigor das sementes que não germinaram. Entretanto, as sementes de Cuiabá apresentaram maior qualidade pelo teste de tetrazólio (Tabela 2). As sementes de Cuiabá apresentaram maiores percentuais de sementes duras, no entanto não houve diferenças estatísticas entre as condições de luz e as localidades testadas.
Houve alta percentagem de ocorrência de fungos nas sementes de Rondonópolis ( = 25%) em relação às sementes de Cuiabá (= 5%) o que mostra a melhor qualidade das sementes de Cuiabá (Tabela 3). Os maiores valores de germinação verificados nas sementes de Cuiabá em relação as de Rondonópolis podem ser devidos a melhor qualidade de suas sementes, com menor infestação por fungos endógenos dos gêneros Fusarium e Rhizoctonia. Tabela 2. Valores médios da percentagem de sementes de P. longiflorum ainda viáveis e duras, pelo teste de tetrazólio aos 30 dias após a semeadura, em diferentes condições de luz. Cuiabá. UFMT. 2001. Sementes Viáveis (%) Sementes Duras (%) Condição de Luz Rondonópolis Cuiabá Rondonópolis Cuiabá Ausência 0Aa 2.5 Aa 1.25(0.79)Aa 1.25 (0.79)Aa Presença 0Aa 3.75 Aa 8.75 (0.87)Aa 2.5 (0.81)Aa Vermelha 0Aa 2.5 Aa 12.5 (0.91)Aa 2.5 (0.81)Ba Vermelha escura 0Aa 2.5 Aa 8.75 (0.87)Aa 2.5 (0.81)Aa CV (%) 6.64 7.25 Tabela 3-Percentagem de sementes com fungos e mortas, durante a germinação de sementes de P. longiflorum sob diferentes condições de luz. Cuiabá. UFMT. 2001. Sementes com fungos (%) Sementes Mortas(%) Condição de luz Rondonópolis Cuiabá Rondonópolis Cuiabá Ausência 62.50 (0.82)Aa 1.25Ab 5.00 (0.82)Aa 5.00Aa Presença 36.25 (0.88)Ba 0Ab 10.0 (0.88)Aa 22.5Aa Vermelha 25.00 (0.92)Ba 0Ab 13.7 (0.92)Aa 15.0Aa Vermelho Escura 27.50 (0.88)Ba 5.00Ab 10.0 (0.88)Aa 5.00Aa CV (%) 10,7 8.84 LITERATURA CITADA DAMIÃO-FILHO, C. F. Morfologia vegetal. Jaboticabal, FUNEP/UNESP, 1993. 243p.
MAGUIRE, J. B. Speed of germination-aid in selection e evaluation for seedling emergence vigor. Crop Science, Madison, v.2, n.2, p.176-177, 1962. POTT, A.& POTT, V. J. Plantas do Pantanal. EMBRAPA CPAP; Corumbá : EMBRAPA SPI, 1994. 320 p. SEGHESE, F.; ISSHIKI, K. & VITTI, A.P. Ecofisiologia da germinação de espécies arbóreas. Série Técnica IPEF, Piracicaba, v.8, n. 25, p.9-11, 1992. In: SILVA, A.da. & AGUIAR, I. B de. Germinação de sementes de canela-preta (Ocotea catharinensis Mez - LAURACEAE) sob diferentes condições de luz e temperatura. Revista do Instituto Florestal, São Paulo, v. 10, n. 1, p.17-22, 1998. SILVA, A.da. & AGUIAR, I. B de. Germinação de sementes de canela-preta (Ocotea catharinensis Mez - LAURACEAE) sob diferentes condições de luz e temperatura. Revista do Instituto Florestal, São Paulo, v. 10, n. 1, p.17-22, 1998. SILVA, A.da.; CASTELLANI, E. D.; AGUIAR, I. B. de.; SADER, R. & RODRIGUES, T. de J. D. Interação de luz e temperatura na germinação de sementes de Esenbeckia leiocarpa Engl. (Guarantã). Revista do Instituto Florestal, São Paulo, v.9, n.1, p.57-64, 1997. VALLETE, Frei C. Riquezas medicinais da flora brasileira. São Paulo.Cupolo, s.d. 139p VALIO, I. F. M. & JOLY, C. A. Light sensitivity of seeds on the distribuition of Cecropia glaziovii Senethlage (Moraceae).1979. In: RIBEIRO, J. F. (ed.) Cerrado: matas de galerias. Planaltina: EMBRAPA CPAC, 1998. p.106.