Chuva de mais de 100 mm causa estragos em Lajedinho - BA em dezembro de 2013 Uma chuva torrencial registrada por volta das 22h (hora local) do dia 07/12/2013, causou muitos estragos no município de Lajedinho, no centro da Bahia, na região da Chapada Diamantina. A forte enxurrada arrastou carros, casas, estabelecimentos comerciais. Prédios públicos, inclusive a prefeitura, também ficaram parcialmente demolidos. A Polícia Militar do município confirmou a morte de 11 pessoas, além de muitos feridos e centenas de desabrigados. O município de Lajedinho é um dos menores da Bahia, com aproximadamente quatro mil habitantes e fica a cerca de 350 km da capital Salvador. Há anos não chovia forte na região, o local enfrentava uma situação de seca. Figura 1. Localização de Lajedinho-BA. A força da enxurrada chegou a arrastar carros por mais de cinco quilômetros do local da tragédia. O evento foi bastante localizado e as estações meteorológicas automáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mais próximas de Lajedinho, em Lençóis e
Itaberaba, não aferiram precipitação acumulada. A administração municipal de Lajedinho, no entanto, informou que em apenas duas horas, foram registrados mais de 120 milímetros de chuva em propriedades do município. O solo, sem vegetação por causa da forte estiagem que assolou a região, contribuiu para a enxurrada de grandes proporções. A estiagem prolongada deixou o solo impermeável, bloqueou a entrada da chuva e a água escorreu pelos vales, atingindo a cidade em cheio, contou o prefeito. Fonte: De Olho No Tempo Meteorologia (Crédito das imagens: Marcos Antônio Oliveira)
Fazendo uma breve análise sinótica, o que se nota na carta de superfície (Figura 2) referente às 00Z do dia 08/12/2013, ou seja, 21 horas local, é a presença de um cavado no Atlântico, na altura do sul da BA e uma área de baixa pressão neste oceano fechada em torno de 28S/27W, este é um resquício de um sistema frontal que se deslocou pelo leste da Região Sudeste do Brasil no dia anterior. Tal padrão sinótico provocou uma convergência de umidade direcionada para a BA. Figura 2. Carta sinótica de superfície elaborada pelo grupo de previsão de tempo do CPTEC/INPE referente às 00Z do dia 08/12/2013. Na carta sinótica do nível de 850 hpa referente às 18Z do dia 07/12/2013, ou seja, da tarde deste dia (15 hora local), é possível notar o predomínio da circulação anticiclônica pela faixa norte do Brasil associado ao anticiclone subtropical do Atlântico em superfície e que se reflete neste nível. Esta circulação transporta umidade do Atlântico para o continente e, através da linha de corrente, observamos que na borda oeste/noroeste deste sistema há forte convergência exatamente sobre o centro da BA, inclusive, neste setor há uma área de baixa pressão (representada pela letra L). Este, sem dúvida, foi um fator muito importante para a instabilidade nesta área.
Figura 3. Carta sinótica do nível de 850 hpa elaborada pelo grupo de previsão de tempo do CPTEC/INPE referente às 18Z do dia 07/12/2013. Na carta de altitude (Figura 4) observa-se que o Estado da BA estava em uma área de transição entre um amplo anticiclone que se centrava sobre o MT e um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) centrado no Atlântico, na altura do norte do Estado do RN. A combinação da circulação anticiclônica e ciclônica gerou entre o norte de MG e parte da BA uma área com forte difluência no escoamento. Esta difluência, por sua vez, gera divergência de massa neste nível e a conseqüente convergência para a camada baixa da troposfera, padrão que aliado a termodinâmica favorável (calor e umidade) favorece o levantamento do ar e o desenvolvimento de nuvens e a chuva.
Figura 4. Carta sinótica de altitude elaborada pelo grupo de previsão de tempo do CPTEC/INPE referente às 00Z do dia 08/12/2013. Abaixo a seqüência de imagens realçadas do satélite GOES -13 para o período entre às 21h (hora local) do dia 07 às 03h (hora local) do dia 08 de dezembro de 2013. Nota-se que uma célula convectiva bastante intensa, com topo de nuvem onde a temperatura atingiu, aproximadamente, -80C (tom rosa na imagem de satélite) se desenvolveu nas proximidades de Lajedinho por volta das 21h. Esta célula se uniu nas horas subseqüentes a nebulosidade que foi se desenvolvendo pelo centro da BA, mas perdendo intensidade no início da madrugada. Esta célula foi responsável pela chuva intensa que castigou o município de Lajedinho.
Figura 5. Seqüência de imagens realçadas do satélite GOES-13 para o período entre às 21h do dia 07/12/2013 às 03h do dia 08/12/2013, no intervalo de meia hora. Em síntese, o que se nota, é que não havia nenhum sistema relevante de escala sinótica atuando na região em questão. Com isso, o que se conclui é que a forte instabilidade que atingiu o município de Lajedinho - BA foi provocada basicamente pelo alto teor de umidade, aquecimento diurno, ou seja, pela termodinâmica favorável, aliada a forte convergência de umidade e massa na camada baixa da troposfera. Elaborado pela Meteorologista Naiane Araujo