CONTRIBUTOS DA FEPICOP EM SEDE DE APRECIAÇÃO PÚBLICA DA PROPOSTA DE LEI N.º 270/X/4.ª



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Transcrição:

Associações Filiadas : AECOPS Associação de Empresas de Construção, Obras Públicas e Serviços AICCOPN Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas ANEOP Associação Nacional dos Empreiteiros de Obras Públicas CONTRIBUTOS DA FEPICOP EM SEDE DE APRECIAÇÃO PÚBLICA DA PROPOSTA DE LEI N.º 270/X/4.ª que aprova o Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social A FEPICOP, Federação que integra a AECOPS Associação de Empresas de Construção, Obras Públicas e Serviços, a AICCOPN Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas e a ANEOP Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas, tendo analisado, com o interesse que a matéria aconselha, a Proposta de Lei que visa aprovar o Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social, vem, com a legitimidade que lhe confere a representação de um Sector que assegura cerca de 550 mil postos de trabalho, apresentar os comentários que a proposta lhe suscita. Primeiramente, não podemos deixar de nos congratular pelo meritório objectivo que preside à proposta de lei do Governo de proceder à primeira sistematização na história da segurança social portuguesa dos actos normativos que regulam toda a relação jurídica contributiva entre os contribuintes e os beneficiários e o sistema previdencial de segurança social (cit. preâmbulo da proposta em apreço). A uniformização, sistematização e unificação da centena de diplomas legais dispersos nesta matéria era, há muito, necessária e desejável. Contudo, a proposta de lei em apreço não se limita a proceder à referida codificação de diplomas dispersos, introduzindo relevantes alterações à legislação vigente, algumas das quais se nos afiguram não só inoportunas face ao momento actual de crise global, mas manifestamente desajustadas às necessidades e especificidades dos diversos sectores de actividade, traduzindose num agravamento efectivo e directo do custo do factor trabalho. Reportamo-nos, quer ao princípio de adequação da taxa contributiva a cargo das entidades empregadoras em função da modalidade do contrato de trabalho celebrado, quer ao alargamento

da incidência contributiva no regime geral dos trabalhadores por conta de outrem, cujo impacto no Sector da Construção que, recorde-se, representa 11% do Emprego, se adivinha profundamente gravoso. É, pois, neste contexto que nos permitimos apresentar a nossa apreciação crítica relativamente aos dois aspectos acima enunciados: I. ALARGAMENTO DA BASE DE INCIDÊNCIA CONTRIBUTIVA Atentando ao objectivo proclamado de tornar o sistema de segurança social mais favorável ao emprego, parece-nos particularmente gravosa e totalmente inoportuna face ao momento actual, a oneração do factor trabalho pelo aumento substancial da base de incidência contributiva no regime geral dos trabalhadores por conta de outrem, conforme decorre do preceituado no artigo 46.º da proposta de lei em apreço. De facto, constata-se que as contribuições sociais das empresas e dos trabalhadores passam a estar decalcadas das respectivas contribuições fiscais em sede de imposto sobre o rendimento das pessoas singulares, sob o princípio de convergência com a base fiscal, quando se verifica que os próprios critérios de índole fiscal, aplicados para a sua determinação, se revelam por si só desadequados face à realidade do sector, o que agora é agravado pelo facto de passar a englobar diversas componentes retributivas que não eram objecto de descontos para a Segurança Social, como é o caso do abono para falhas, das importâncias atribuídas a título de ajudas de custo, abonos de viagem, despesas de transporte e outras equivalentes, dos montantes atribuídos aos trabalhadores a título de participação nos lucros da empresa e das despesas de transporte. Como resulta claro dos exemplos de componentes retributivas que citámos, este novo elenco das prestações que integram a base de incidência determina um aumento das contribuições sociais a cargo das empresas e dos trabalhadores, resultando num encarecimento do factor trabalho, com efeitos nefastos ao nível do emprego no nosso Sector. Por outro lado mas na mesma linha, não podemos deixar de assinalar como negativa a insistência do legislador na limitação da possibilidade de recurso ao subsídio de desemprego na sequência de cessação de contrato por mútuo acordo, conforme decorre do Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de Novembro, mais uma vez se denotando a já crónica rigidez da nossa legislação laboral. Aliás, esta situação é ainda mais agravada porquanto se pretende agora onerar mediante a sua sujeição a incidência contributiva para a Segurança Social a eventual compensação por cessação de contrato de trabalho por acordo, celebrado no âmbito do já citado diploma, medida que resulta 2

incompreensível na actual conjuntura legislativa, em que um dos objectivos do novo Código do Trabalho era precisamente permitir uma maior flexibilidade nas relações laborais. Em face de todo o exposto, a FEPICOP expressa a sua discordância com o alargamento da base contributiva nos termos propostos, por entender que prestações como as ajudas de custo e o subsídio de transporte não devem ser objecto de contribuição para a Segurança Social. Aliás, e muito concretamente no que às ajudas de custo se refere, não podemos deixar de reiterar que todo o enquadramento legal, mormente fiscal, carece de um regime que salvaguarde e acolha a especificidade do Sector da Construção, que há muito vimos reclamando. Na verdade, a natureza específica da actividade de Construção pressupõe, necessariamente, a deslocação de trabalhadores em função da localização das diversas obras a seu cargo, seja no território nacional ou mesmo, quando necessário, no estrangeiro. Desta forma, é evidente que a atribuição de ajudas de custo aos trabalhadores deslocados da sua residência/local de trabalho habitual se destina, única e exclusivamente, à satisfação de necessidades acrescidas de alojamento e alimentação, não podendo ser conferida a tais quantias a natureza de retribuição, tal e qual como este conceito é definido legalmente (cf. art. 260º, n.º 1, alínea a), do Código do Trabalho). Ora, a inclusão, em particular, das despesas com viaturas no conceito de remuneração estável, para efeitos de pagamento de taxa social única, afigura-se-nos perfeitamente desajustada, na medida em que não tem em conta as especificidades de vários sectores de actividade económica, incluindo aquele que nos compete representar. Na verdade, cumpre desde logo assinalar que o documento disponibilizado não delimita claramente conceitos como o de utilização pessoal das viaturas automóveis e, mais ainda, não esclarece a forma como será efectuada a destrinça face à utilização profissional de tais veículos. Por outro lado, certo é que a utilização de viaturas automóveis no nosso sector não configura, na esmagadora maioria dos casos, a atribuição de uma regalia para os trabalhadores, porquanto os aludidos automóveis assumem a qualidade de verdadeiros instrumentos de trabalho. Na verdade, saliente-se que o próprio Contrato Colectivo de Trabalho aplicável ao Sector da Construção Civil e Obras Públicas determina, na sua Cláusula 82ª, que o empregador obriga-se a colocar à disposição dos trabalhadores as ferramentas indispensáveis ao exercício das respectivas funções, pelo que a atribuição de viaturas de empresa aos funcionários pode, legitimamente, enquadrar-se no domínio desta obrigação a cargo das entidades patronais. 3

Por outro lado, é inegável que a generalidade dos trabalhadores do sector da construção civil, pelas próprias especificidades que lhe são inerentes, têm local de trabalho não fixo, exercendo por isso as suas funções indistintamente nas diversas obras a cargo das suas respectivas entidades patronais. Assim, é óbvio que para o cabal exercício da sua actividade laboral, tal implica, necessariamente, a realização de deslocações diárias por parte dos funcionários, a que de resto os mesmos estão adstritos por força da Clª 27ª do já citado Contrato Colectivo de Trabalho. É neste enquadramento, pois, que se deve atender e valorar a utilização dos veículos que as empresas disponibilizam aos se trabalhadores. Pense-se, desde logo, e a título meramente exemplificativo, no caso dos técnicos de segurança e higiene, encarregados ou engenheiros, para quem o uso de veículo da empresa é indispensável para o seu desempenho, nomeadamente para supervisionar o andamento dos trabalhos que estejam em curso, contactar clientes, fornecedores ou entidades oficiais ou, ainda, o caso de trabalhadores com determinada categoria profissional (que não especificamente a de motorista de ligeiros/de pesados), a quem é cometida a incumbência adicional de transportar, em veículos próprios da empresa, os seus colegas para os diversos locais de trabalho. Nesta medida, caso persista a intenção de considerar, para efeitos de incidência de taxa social única, as despesas resultantes da utilização, pelos trabalhadores, designadamente membros de órgãos sociais, por força do alargamento feito pelo artigo 62º do Projecto, de viatura da empresa, tal importará um aumento de encargos financeiros para as entidades patronais que se considera injustificável porquanto, repete-se, os referidos veículos são verdadeiros instrumentos de trabalho e, por tal motivo, não faz sentido englobar as despesas inerentes à sua respectiva utilização no conceito de remuneração estável. Assim sendo, é fundamental que seja perfeitamente balizado o conceito de utilização pessoal dos veículos das empresas, por contraposição à utilização de carácter profissional, admitindo-se a tributação de tal uso apenas e tão só quando do mesmo resulte um benefício económico para o trabalhador, que possa subsumir-se no conceito legal de retribuição. II. AUMENTO DA TAXA CONTRIBUTIVA NOS CONTRATOS A TERMO Como medida de combate à precariedade e a segmentação no mercado de trabalho, o diploma em análise propõe a introdução do princípio de adequação da taxa contributiva a cargo das 4

entidades empregadoras em função da modalidade do contrato de trabalho celebrado, no âmbito do regime geral dos trabalhadores por conta de outrem. Na concretização de tal medida, o artigo 55.º da proposta de lei em apreço vem estabelecer o aumento, em três pontos percentuais, da parcela da taxa contributiva a cargo da entidade empregadora nos contratos de trabalho a termo resolutivo. Não podemos estar mais em desacordo com os propósitos da lei. Na verdade, entendemos que o aumento da taxa contributiva nos contratos a termo vem combater não a precariedade, conforme anuncia o preâmbulo do diploma, mas sim o emprego, não a segmentação do mercado de trabalho, mas sim a competitividade do tecido empresarial. Esta medida de desincentivo à contratação a termo não tem, em nosso entender, qualquer justificação plausível, sendo para esse efeito indiferente o diferimento da respectiva entrada em vigor para o dia 1 de Janeiro de 2011, uma vez que não é este adiamento que vai resolver a questão de fundo subjacente a esta oneração da contratação a termo. Uma vez mais, não podemos deixar de assinalar que esta penalização da contratação a termo desconsidera em absoluto as especificidades de determinados sectores de actividade e, muito concretamente, as especificidades inerentes ao Sector da Construção. Como é sabido, trata-se de um Sector marcado pela mobilidade dos trabalhadores e pela acentuada dispersão dos locais de trabalho e, bem assim, pela constante flutuação da carteira de encomendas de cada empresa e consequente variação da mão-de-obra necessária em cada momento, porque estritamente dependente das adjudicações de obras. Aliás, é esta a razão pela qual a execução, direcção e fiscalização de trabalhos de construção civil é, precisamente, uma das situações que expressamente tem consagração legal, enquanto motivo justificativo para a contratação a termo, ainda assim com limitações e constrangimentos que consideramos irrealistas. Não podemos, pois, aceitar que, verificando-se os requisitos e condicionalismos legais que permitem a contratação a termo e atendendo às características da actividade desenvolvida pelas empresas de construção, estas venham a ser penalizadas pela aplicação das referidas regras. Uma tal medida vem inviabilizar que as empresas adaptem o seu volume de mão-de-obra de acordo com as suas perspectivas negociais e terá significativos impactos ao nível do emprego nacional, uma vez que este Sector representa 11% do mesmo. O impacto negativo desta medida no País será tanto mais gravoso se atentarmos aos elevados efeitos multiplicadores que caracterizam a actividade do Sector da Construção, quer a montante quer a jusante. 5

Questionamos se estes aspectos, que temos por essenciais, terão sido convenientemente equacionados quando se propôs esta medida. Julgamos que não. Em face de todo o exposto, a FEPICOP rejeita de forma veemente o agravamento da taxa contributiva dos trabalhadores por conta de outrem com contrato a termo, solicitando a respectiva eliminação do texto legal ou, caso assim não se entenda, que uma tal previsão tenha aplicação em situações bem delimitadas. 4 de Junho de 2009 6